terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Por que Putin "permite" que Israel bombardeie a Síria?

18/1/2018, The Saker, Unz Review e The Vineyard of the Saker


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




Informationclearinghouse postou recentemente um artigo assinado por Darius Shahtahmasebi intitulado "Israel Continua a Bombardear a Síria e Ninguém Faz Nada para Impedir". Depois da publicação, recebi e-mail de um leitor, que me fazia a mesma pergunta:


"Putin permitindo que Israel bombardeie a Síria – por quê? Estou confuso com as ações de Putin – Putin apoia a entidade sionista, como faz parecer? Apreciaria qualquer resposta sua sobre o assunto. Também – ouvi, mas não consegui confirmar , que imigrantes judeus russos que vivem na Palestina Ocupada são os mais ferozes atormentadores dos palestinos. É preciso muito trabalho para enfrentar gente da laia de Netanyahu. Por favor, comente".

Embora no artigo Darius Shahtahmasebi estranhe que o mundo nada faça para deter os israelenses ("Por que Irã, Síria e/ou Hezbollah no Líbano não respondem diretamente?"), meu leitor é mais específico, e estranha que Putin (ou a Rússia) especificamente, não só "permitam" que Israel bombardeie a Síria, mas que possivelmente estejam até "apoiando" a Entidade Sionista.

A questão surge com frequência em e-mails e comentários, e gostaria de, hoje, tratar disso.

Primeiro, temos de examinar alguns pressupostos críticos implícitos nessa pergunta. Esses pressupostos são:


1.      Que a Rússia pode fazer algo para deter os israelenses; e 


 2.     Que a Rússia deve (ou até que está moralmente obrigada a) fazer alguma coisa.

Permitam-me dizer desde já que discordo categoricamente desses dois pressupostos, especialmente do segundo. Examinemos ambos, um a um.

Pressuposto #1: a Rússia poderia deter os ataques israelenses contra a Síria

Como? Entendo que a lista de opções é aqui bem óbvia. As opções russas vão de ação diplomática (como protestos e condenações privados ou públicos, esforços para fazer aprovar uma Resolução do Conselho de Segurança da ONU) até ação militar direta (derrubar aviões israelenses, "pintá-los" como alvos de radares de ataque para tentar assustá-los e fazê-los ir embora, ou, no mínimo, tentar interceptar mísseis israelenses).

Tentar a via racional ou conseguir que respeitem a ONU são meios já tentados por muitos países há décadas, e se há coisa da qual não se pode duvidar é de que os israelenses não dão bola nenhuma ao que qualquer pessoa ou entidade tenha a dizer. Falar com eles, portanto, é só desperdício de oxigênio. E quanto a ameaçá-los. Na verdade, acho que pode funcionar, mas a que preço e com que risco?

Para começar, por mais que eu sempre tenha dito que as forças em campo do exército de Israel [chamado oficialmente "Forças de Defesa de Israel" (ing.Israel Defense Forces, IDF)] são muito ruins. Mas não se pode dizer o mesmo das forças aéreas. De fato, o currículo delas é bem bom. Mas se você olha para onde as forças russas estão, logo verá que estão concentradas em torno de Khmeimim e Tartus. Sim, um S-400 tem alcance muito longo, mas esse alcance depende de muitas coisas, inclusive do tamanho do alvo, do corte coberto pelo radar, das capacidades para guerra eletrônica, da presença de aviões equipados para guerra eletrônica, altitude, etc. Os israelenses são pilotos de boa qualidade, que não buscam riscos doidos e são muito cuidadosos quanto ao que fazem. 

Finalmente, os israelenses são muito claramente conscientes de onde estão os próprios russos e seus mísseis. Acho que se pode dizer com segurança que os israelenses sempre cuidarão de manter distância segura entre eles e os russos, no mínimo para que não haja mal-entendidos.

Mas não esqueçamos que os russos tiveram oportunidade para derrubar uma aeronave israelense – qual seria a provável reação dos israelenses a esse evento? No seu artigo, Darius Shahtahmasebi escreve: "É porque Israel tem sabidamente bem mais de 200 bombas atômicas" todas "apontadas para o Irã"e há pouco que Irã e aliados possam fazer contra tal ameaça? Não acho que os israelenses usem bombas atômicas contra forças russas, mas isso absolutamente não significa que os russos, nas relações com Israel, não devam considerar que Israel é potência nuclear armada governada por megalomaníacos racistas. 

Em termos práticos significa o seguinte: "Deveria a Rússia (ou qualquer outro país) arriscar confronto militar com Israel por causa de uns poucos caminhões quebrados ou um depósito para descarte de armas e munição imprestáveis"? Entendo que a resposta óbvia é claramente 'não'.

Por mais que esse seja o tipo de cálculo estratégico que os EUA simplesmente ignoram (pelo menos oficialmente – vide o eterno tom de provocação contra a República Popular Democrática da Coreia, RPDC), a Rússia é governada por um homem responsável, que absolutamente não é doido e não se porá a brincar com o risco de uma guerra. Daí a decisão dos russos de não retaliar como seria o caso contra a derrubada do SU-24 russo pelos turcos. Se os russos não retaliaram contra os turcos que haviam derrubado um avião russo [os dois pilotos foram resgatados sem ferimentos (NTs)], com certeza não atacarão israelenses quando ataquem alvos não russos!

E há também questões factuais simples a considerar: mesmo que algumas defesas aéreas russas sejam realmente avançadas e possam derrubar número determinado de aeronaves israelenses, nem por isso teriam quantidade suficiente para impedir ataque de saturação lançado por toda a força aérea israelense. De fato, Israel e CENTCOM simplesmente têm vantagem numérica sobre o contingente russo relativamente pequeno, e poderiam, ambos, superar as defesas russas, mesmo que o processo lhes custe perdas.

Assim sendo, sim, os russos provavelmente podem deter um ou uns poucos ataques israelenses, mas se os israelenses decidirem engajar-se em campanhas aéreas sustentadas contra alvos na Síria não há o que os russos possam fazer, que não seja ir à guerra contra Israel. Assim, também aqui, outra vez, um princípio estratégico muito básico aplica-se integralmente: ninguém jamais desejará iniciar um processo de escalada que não se possa nem controlar nem vencer. Dito em termos simples, significa que, se os russos revidarem o fogo –, os russos perdem e os israelenses ganham. É simples assim, e os dois lados sabem disso (só os estrategistas de sofá parecem que não sabem).

Com isso, somos levados a um exame crítico do segundo pressuposto:

Pressuposto #2: Rússia teria alguma obrigação moral de deter os ataques israelenses contra a Síria

É o que mais me irrita. Por que alguém no mundo pensaria que a Rússia deve a todo o planeta algum tipo de proteção?! Para começar, quando foi a última vez que alguém acorreu a ajudar a Rússia? Não me lembro de alguém no Oriente Médio que tenha oferecido ajuda à Rússia na Chechênia, na Geórgia ou, claro, na Ucrânia! Quantos países do Oriente Médio reconheceram Ossetia Sul ou Abkhazia (e compare isso e o caso do Kosovo!)? Onde estava a "ajuda" ou a "amizade" de muçulmanos ou árabes a favor da Rússia, quando foram impostas sanções contra o país, e caiu o preço do óleo? Digam lá – quantos "amigos" da Rússia ofereceram apoio no caso, digamos, do Donbass ou da Crimeia?

Pode alguém me explicar por que a Rússia teria alguma obrigação moral com Síria ou Irã ou Hezbollah, quando nenhum país muçulmano ou árabe jamais fez coisa alguma para ajudar o governo sírio a combater contra os Takfiris? Que fim levou a Liga Árabe!? Onde está a Organização de Cooperação Islamista?!

Não é fato que a Rússia fez mais na Síria, que todos os países da Liga Árabe e da OCI somados?!

De onde árabes e muçulmanos do Oriente Médio tiram a ideia de que um país distante que luta com incontáveis problemas políticos, econômicos e militares, teria algum dever de fazer mais do que fazem os vizinhos contíguos da Síria?!

Putin é o presidente da Rússia e é o primeiro a ter de prestar contar ao povo russo, povo ao qual ele tem de explicar cada baixa, e até cada risco que ele assuma em nome do país. Parece que Putin está absolutamente certo quando age primeiro e sobretudo na defesa dos russos que o elegeram, não na defesa de qualquer outro povo ou interesse.

Vale repetir – Putin sempre foi muito claro sobre as razões pelas quais ordenou uma intervenção (muito limitada) militar na Síria: para proteger interesses nacionais russos; por exemplo, matando na Síria o maior número possível de doidos takfiris, para não precisar dar-lhes combate no Cáucaso e no resto da Rússia. Em momento algum e de nenhum modo algum oficial ou funcionário russo fez referência a algum tipo de obrigação que a Rússia teria com a Síria ou com qualquer outro país da região. Sim, a Rússia pôs-se decididamente ao lado do presidente Assad, mas não porque tivesse alguma obrigação com o presidente ou o país, mas porque os russos sempre insistiram em que al-Assad é o único presidente legítimo da Síria e só o povo sírio tem o direito de substituí-lo ou mantê-lo, pelo voto. 

E, claro, é do interesse nacional da Rússia mostrar que, diferente dos EUA, a Rússia nunca abandona seus aliados. Mas nada disso significaria que a Rússia seja hoje responsável por proteger a soberania do espaço aéreo ou do território sírio.

No que me diga respeito, o único país que fez ainda mais que a Rússia pela Síria é o Irã e, em lugar de gratidão, países árabes 'agradecem' aos iranianos conspirando contra eles com EUA e Israel. Hassan Nasrallah acerta completamente quando chama esses países de traidores e colaboradores aliados do Império Anglo-sionista.

Há algo de profundamente imoral e hipócrita nesse resmungar eterno de que a Rússia deveria fazer mais, quando na verdade Rússia e Irã são os únicos dois países (além do Hezbollah, claro!) que fazem algo realmente significativo para ajudar os sírios.

Agora vejamos algumas das perguntas que mais aparecem:

Pergunta #1: mas Síria, Irã e o Hezbollah não são aliados dos russos?

Sim e não. Objetivamente – sim. Formalmente – não. Significa que, ao mesmo tempo em que essas três entidades tem, sim, objetivos comuns, são simultaneamente independentes e todas têm alguns objetivos que não partilham com os demais. Além disso, não mantêm tratados de mútua defesa, e eis porque nem Síria, Irã nem o Hezbollah retaliaram contra a Turquia quando os turcos derrubaram o SU-24 russo. Por mais que haja quem discorde, meu ponto aqui é que essa ausência de tratado de mútua defesa é ótima coisa, no mínimo porque impede que forças russas ou iranianas na Síria convertam-se em 'linhas de transmissão' as quais, se atacadas, determinariam resposta imediata. Numa situação tão altamente perigosa e explosiva, como no Oriente Médio, a flexibilidade que advém de não haver alianças formais é grande vantagem para todos os partidos envolvidos.

Pergunta #2 : significaria isso que a Rússia estaria fazendo nada ou mesmo apoiando Israel?

Claro que não! De fato, Netanyahu chegou a ir a Moscou, para fazer todos os tipos de ameaça, mas voltou para casa com as mãos abanando (fontes russas informam até que os israelenses terminaram aos berros contra seus contrapartes russos). Vale reafirmar aqui algo que já deveria ser óbvio para todos: a intervenção russa na Síria foi absoluto, total, irremediável desastre para Israel (expliquei isso em detalhe em outro artigo). 

Se os russos tivessem qualquer preocupação por interesses israelenses, eles nunca teriam intervindo na Síria, em primeiro lugar! Contudo, essa recusa a admitir que Israel dite políticas russas no Oriente Médio (ou em qualquer lugar) absolutamente não significa que a Rússia possa ignorar o poder muito real dos israelenses, não só por causa das bombas atômicas dos sionistas, mas também por causa do controle de fato que a entidade sionista tem sobre o governo dos EUA.

Pergunta #3: Assim sendo, o que se passa realmente entre Rússia e Israel?

Como expliquei em outro artigo, o relacionamento entre Rússia e Israel é muito complexa e tem vários estratos, e nada entre esses dois países é realmente branco ou preto. Por um lado, há um poderoso lobby pró-Israel na Rússia, com o qual Putin lida sem parar há muitos anos, mas só avança a passos pequenos e cumulativos. A chave de que Putin se serve é fazer o que tenha de ser feito para promover interesses russos, mas sem disparar crises políticas internas ou externas. Eis por que os russos fazem algumas coisas, mas sempre com extrema calma.

Primeiro, estão modernizando as forças aéreas sírias, já antiquadas, não só com atualização dos softwares, mas também com novos equipamentos. Também, claro, estão treinando tripulações sírias. Não significa que os sírios possam fechar o próprio espaço aéreo às aeronaves israelenses, mas que os riscos de Israel atacar a Síria cairão sempre, a cada mês. Primeiro, não perceberemos nada disso, mas confio que uma análise cuidadosa dos tipos de alvos que os israelenses atacarão verificará que cairão em valor, sempre mais, o que significa que os sírios vão-se tornando mais e mais capazes de defender seus ativos mais importantes.

Segundo, é bem óbvio que Rússia, Irã e Hezbollah estão trabalhando em sinergia. Por exemplo, os russos e sírios integraram suas defesas aéreas, o que significa que agora os sírios podem "ver" muito mais longe do que lhes permitiriam os próprios radares. Além disso, considerem o número de mísseis cruzadores dos EUA que jamais alcançaram a base aérea síria que Trump queria bombardear: é hoje já mais ou menos aceito que tudo isso é resultado das contramedidas de ciberguerra que os russos implantaram.

Por fim, os russos estão claramente dando "cobertura" política ao Hezbollah e ao Irã, ao se recusar a considerá-los como párias, que é o que Israel e os EUA nunca param de 'exigir'. Eis porque o Irã é tratado como ator chave em todo o processo de paz patrocinado pelos russos, ao qual EUA e Israel não foram sequer convidados.

Assim se vê que o xis da questão é simples: os russos não se oporão diretamente aos israelenses, mas não pararão de, discretamente, fortalecer o Irã e o Hezbollah – medida que é não só muito mais segura, mas também muito mais efetiva.

Conclusão

Vivemos numa sociedade desgraçada e disfuncional que segue décadas de dominação violenta pelos EUA que visa sempre a mais e mais guerra e agressão, que aceita implicitamente a noção de que "o grande país" é país que avança numa espécie de surto de violência e sempre recorre à força militar para retaliar contra qualquer ataque. Minha ideia é que os líderes russos e iranianos são muito mais sofisticados que isso. E o mesmo vale, sim, para a liderança do Hezbollah, sem dúvida alguma. 

Lembram-se de quando os israelenses (com a cumplicidade óbvia de alguns membros do regime sírio, por falar disso) assassinaram Imad Mughniyeh? O Hezbollah prometeu retaliar, mas até hoje, passada já quase uma década, ainda não retaliaram (não, pelo menos, oficialmente). Haverá que diga que as ameaças do Hezbollah são palavras vazias. Discordo completamente. 

Quando Hassan Nasrallah promete, você pode confiar irrestritamente. Mas os líderes do Hezbollah são suficientemente sofisticados para só retaliar no momento certo e nos seus próprios termos. E pensem nos iranianos que desde a Revolução Islâmica de 1979 estão no olho do alvo de EUA e Israel e jamais deram a qualquer deles pretexto para atacarem.

Quando você é muito mais poderoso que seu oponente, você pode ser estúpido e reagir pela via estúpida da força bruta. Pelo menos no curto e no médio prazo. Mais dia menos dia, como vemos acontecer com os EUA hoje, esse tipo de estupidez agressiva sai pela culatra e acaba por ser contraproducente. 

Mas quando você é menor, mais fraco ou mesmo se está no processo de recuperar o próprio potencial, você tem de agir com muito mais cuidado e sofisticação. Eis por que todos os opositores do Império Anglo-sionista (incluindo Hezbollah, Síria, Irã, Rússia, China, Cuba, Venezuela) fazem o máximo possível para evitar o uso de força contra os anglo-sionistas, mesmo quando os anglo-sionistas muito mereçam. 

A única exceção a essa regra é Kim Jong-un, que escolheu uma política de ameaças superinfladas a qual, embora possivelmente efetiva (até aqui parece que já passou a perna em Trump), é também muito perigosa e política com a qual nenhum dos países da Resistência deseja ter qualquer coisa a ver.

Russos, iranianos e Hezbollah são todos "adultos criados" (em termos políticos), e Assad está aprendendo muito depressa, e todos compreendem que estão lidando com um "macaco com uma granada na mão" (que chamei de "drone ideológico") – o que se aplica aos dois líderes, de Israel e dos EUA), que combina personalidade perversa, temperamento incendiário, cérebro primitivo e granada na mão suficientemente grande para matar todos que estiverem na sala. A tarefa de russos, iranianos, Hezbollah e Assad é conter e incapacitar o macaco alucinado, sem ter de puxar o pino da granada. Caso os israelenses ataquem na Síria, a responsabilidade primária para responder de algum modo recairá ou no alvo dos ataques (quase sempre o Hezbollah) ou na nação cuja soberania foi violada (a Síria). E ambos podem, em teoria, retaliar (usando, por exemplo, mísseis táticos). Mas escolhem não retaliar, e essa é a abordagem inteligente e correta. Quanto aos russos, nada disso, claramente e simplesmente, tem a ver com eles.

Adendo 1:

Mais uma coisa. Que ninguém se engane – a propensão de Israel (e dos EUA!) para usar a força em vez da diplomacia é sinal de fraqueza, não de força. Mais especificamente, o uso da força ou a ameaça de usar a força é resultado da incapacidade diplomática. Se para a mente sem sofisticação o uso sistemático de força pode talvez parecer manifestação de poder, a história mostra que a força bruta pode ser derrotada quando enfrentada não diretamente, mas por outros meios. Claro que é processo necessariamente lento, muito mais lento que "vitória rápida" (principalmente quando é só teórica), mas muito mais inapelável. Em termos puramente teóricos, o uso da força pode levar a qualquer dos seguintes resultados: derrota, empate, vitória caríssima e alguma vitória relativamente sem dor. 

Esse último caso é extraordinariamente raro, e o uso da força quase sempre leva a algum dos demais resultados. Às vezes usar a força é realmente a única possibilidade, mas é minha opinião que o líder político sábio só recorrerá à força depois de as demais vias terem falhado e quando estejam em jogo interesses vitais. Em todas as demais situações, "paz ruim é melhor que boa guerra".

Adendo 2:

Ao contrário das alucinações dos neoconservadores, a Rússia absolutamente não é uma "URSS ressurgente", e Putin não tem vontade alguma de reconstruir a União Soviética. Além do mais, não há apoio eleitoral na Rússia para qualquer desses planos "imperiais" (ok, sempre há alguns poucos lunáticos em qualquer lugar, mas na Rússia são, graças a Deus, uma minoria impotente). 

Além do mais, a nova Rússia absolutamente não é "anti-EUA" no sentido de tentar contraditar todo e qualquer movimento imperial norte-americano ou hegemônico. É possível que seja óbvio para muitos, mas recebo tantas perguntas sobre por que a Rússia não está fazendo mais contra os EUA na África, na América Latina ou na Ásia, que sinto que ainda é importante, infelizmente, relembrar todos de um princípio básico da lei internacional e do bom-senso: problemas no país X devem ser enfrentados pelo país X. A Rússia – e tampouco os EUA! – não tem coisa alguma a ver com "resolver" problemas do país X.

Além do mais, problemas do país X são em geral enfrentados com mais eficácia por vizinhos imediatos do país X, não por superpotências megalomaníacas messiânicas que sentem que deveriam "projetar poder" porque seriam "indispensáveis" ou por algum "destino manifesto" que lhes teria dado a "responsabilidade" para "liderar" o mundo. Toda essa terminologia é só manifestação de um modo de pensar patológico e delirante que custou à Rússia e à União Soviética são preço absolutamente horrendo em dinheiro, energia, recursos e sangue (por exemplo, a intervenção soviética no Afeganistão foi justificada em termos do "dever internacionalista" do povo e da URSS, de ajudar "nação fraterna").

Embora esse tipo de sandice seja 100% atual e presente nos infelizes e pobres EUA, é absolutamente rejeitada na Rússia moderna. Para a própria credibilidade pessoal de Putin com o povo russo, nem pensar em agir como policiais do mundo, a menos que algum interesse russo vital seja ameaçado (a Crimeia foi um desses casos raríssimos). Muitos lamentarão que assim seja. Pessoalmente acho ótimo. Em todos os casos, a verdade é que "os russos absolutamente *não estão* chegando".*****



2 comentários: