quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Rússia sem SWIFT*

4/1/2018, Kakaouskia, para o blog do Saker


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




Saudações à comunidade Saker e leitores.

Já há algum tempo, os EUA e seus estados vassalos estão envolvidos numa guerra econômica contra a Rússia. O primeiro tiro foi quando VISA e MasterCard – que são instituições bancárias com sede nos EUA – foram forçadas a parar de aceitar transações com possuidores de cartões de alguns bancos russos. A mais recente indicação do ataque, como Saker mencionou há pouco tempo é que o governo dos EUA está pensando em bloquear o acesso da Rússia ao sistema SWIFT.

O que é SWIFT[1]

Basicamente, SWIFT é um sistema cooperativo de troca de mensagens. Opera entre bancos, empresas de investimento, corretores de dinheiro, basicamente entre qualquer pessoa ou entidade que precise passar dinheiro de A para B. Para usar o sistema, você declara que deseja participar; se for aceito, você ganha um código SWIFT e algumas ações da cooperativa SWIFT, paga sua taxa de adesão e dali em diante você paga por mensagem [também chamada "transação"] ou por arquivo enviado; paga outras taxas de serviços e processamento e mais uma taxa anual de apoio ao sistema. O custo de taxas e outras despesas depende do nível do sistema no qual você se inscreva e seja aceito. Os lucros da sociedade são distribuídos de modo semelhante.

O sistema SWIFT também oferece relatórios e outros documentos analíticos para ajudar os membros a gerar mais negócios.

A razão do sucesso do sistema SWIFT é o fato de que ele oferece um modo padronizado, seguro e confiável de movimentar dinheiro pelo planeta. Os serviços que o sistema presta (e a disciplina que exige dos membros) são caros, dado que exigem mão de obra constante, dedicada e altamente qualificada para monitorar, desenvolver, implementar, testar e pôr em operação mudanças nos sistemas e redes comunicação por Internet e também dos processos negociais. Dadas essas dificuldades, bancos e outras instituições financeiras preferem passar essas tarefas a um terceiro confiável.

O impacto de expulsar a Rússia do sistema SWIFT

O efeito imediato será impedir qualquer troca de mensagens SWIFT entre membros russos do sistema, e os demais membros. Considerem que o sistema SWIFT não facilita a transferência real do dinheiro; só faz trocar ordens de pagamentos [em linguagem bancária, faz "a compensação" das ordens de pagamento]. – A transferência de fundos tem de acontecer por mecanismos e conforme acordos e leis que rejam as duas instituições que estejam pagando e recebendo dinheiro. Assim sendo, se a Rússia for expulsa do sistema SWIFT, tornar-se-á mais difícil e menos seguro para o país, além de mais caro, transferir dinheiro e pagar e receber contas no exterior – porque de modo algum o país poderá parar completamente todas essas atividades. 

Essas dificuldades levarão os investidores russos a buscar destinatários mais amistosos que queiram receber o dinheiro deles; o que implica dizer que a União Europeia também será gravemente atingida – porque deixará de ser local considerado amistoso a investimentos russos. Considerem o seguinte cenário: você tem 1 milhão que quer investir. Vai ao seu banco, diz que quer transferir o tal milhão para o país X. O corretor volta e diz que "podemos transferir, mas é operação considerada de alto risco. Assim, por favor, assine essa declaração pela qual, se alguma coisa acontecer ao seu milhão, nosso banco aqui estará isento de qualquer responsabilidade". Você pode até assinar e insistir na transferência, mas a maioria das pessoas escolherá destino menos eivado de perigos contra o próprio dinheiro.

A sociedade SWIFT também perderá. Comunicação é rua de mão dupla, o que implica que as mensagens saem e chegam à Rússia. Se se assume que 10 milhões de mensagens relacionadas à Rússia circulam por dia entre membros da sociedade SWIFT, ao preço de €0,01 por mensagem, são €36,5 milhões ao ano, só em taxa paga por transação. É alta a chance de que grande número de instituições russas sejam ou removidas ou decidam retirar-se, depois de concluir que não há sentido algum em se manterem associadas à sociedade SWIFT. Com isso a sociedade perderá também várias outras taxas, sem falar das batalhas judiciais para resolver os impasses entre contratos.

A Rússia pode construir sistema alternativo ao SWIFT?

Tecnicamente falando, sim. Como resposta ao boicote que lhe fizeram VISA e MasterCard, a Rússia lançou seu NSPK [ru. Sistema Nacional Russo de Cartões de Pagamento] como esquema substituto de cartão bancário de pagamento.

Permitam explicar alguns detalhes do NSPK:

– No ponto em que existe hoje, é um sistema de cartão de pagamentos e resposta direta à coerção que o governo dos EUA impôs às empresas VISA e MasterCard, para que não honrassem os acordos que tinham com bancos russos e parassem de aceitar os seus próprios cartões pelos quais os bancos russos pagaram taxas de licenciamento pelo privilégio de emitir. Os seis primeiros dígitos de qualquer cartão bancário que você tenha no bolso são o "número BIN"; o logotipo que se vê no cartão (VISA, AMEX, MasterCard etc.) mostra a qual esquema (a "bandeira") pertence aquele número BIN. O seu banco – emissor – paga àquele esquema uma taxa de licenciamento para usar com exclusividade aquele específico BIN e, assim sendo, o esquema deve honrar a parte que lhe compete no acordo; noutras palavras, garantir que o cartão seja aceito em todos os terminais que exibam o mesmo logotipo. Pouca gente sabe que VISA et al. são, na verdade, instituições bancárias.

– O esquema NSPK está operando já há alguns anos; já vários bancos russos o usam. Por enquanto, só opera dentro da Rússia.

– A primeira interação é um clone 'russianizado' do esquema de pagamento de China UnionPay, o qual é baseado nas especificações de VISA (devidamente licenciadas). Sempre acho engraçada a ironia de em vez de VISA fazer dinheiro com transações por cartão feitas por russos, VISA está perdendo dinheiro, porque agora a Rússia está usando a seu próprio favor, o modelo que VISA concebeu.

A Rússia pode decidir repetir o mesmo movimento e aprimorar o sistema NSPK para que opere como sistema alternativo ao SWIFTNSPK poderia usar com SWIFT os mesmos mecanismos e formatos de arquivo com cabeçalhos diferentes para adequada identificação – o que diminuiria a necessidade de muitas mudanças no sistema, e beneficiaria os usuários. Grande plus nesse esforço é que as mensagens do sistema SWIFT usam hoje um padrão ISO, chamado ISO20022. Isso facilitará muito o desenvolvimento e, dado que o padrão ISO20022 é padrão aberto, ninguém poderá alegar direitos decopyright para deter a solução alternativa.

A seguir vem a questão da efetiva comunicação entre os usuários do novo sistema. Por mais que todo mundo use hoje a rede Internet, pouca gente dá-se contra de que a Internet depende de uma espinha dorsal de espinhas dorsais: uma série de cabos de alta capacidade – a maioria dos quais submarinos – e satélites conectados a roteadores de altíssimo nível que utilizam o protocolo BGP para definir as rotas para a conexão intra-county. Embora já bem poucas entidades empresariais possam possuir seu próprio satélite ou um cabo submarino, ainda menos têm o know-how e a expertise para criar essa infraestrutura. 

Pode acontecer de os EUA enlouquecerem completamente e forçarem os proprietários desses elementos da espinha dorsal (por exemplo, AT&T) a bloquear algumas mensagens que se originem na Rússia. Felizmente, a Rússia é perfeitamente capaz de construir, instalar e operar seus próprios satélites e cabos. Custará tempo e dinheiro, mas pode ser feito. De início, pode-se usar a infraestrutura já existente para estabelecer comunicações entre importantes parceiros econômicos, principalmente na Ásia.

Por fim, a grande pergunta é quem aceitará qualquer alternativa ao sistema SWIFT? Aqui é que as coisas ficam feias. Os EUA sem dúvida tentarão e consumarão todos os tipos de chantagens e abusos contra outros países, em tom de "ou ficam no sistema SWIFT ou o inferno desabará sobre vocês!" 

Pode ser feito até pela via "ética", como já foi feito, quando Google declarou que haveria pressão da sociedade e dos cidadãos para que a empresa "promovesse a democracia e a liberdade de expressão" – no momento em que lhe interessou ser dispensada de obedecer a lei chinesa nos negócios que mantinha... na China! 

Usuários em países como a China provavelmente não se deixarão intimidar – quem desejará perder investimentos chineses? –, e podem mesmo ser autorizados a contornar os limites (por exemplo, manter a entidade SWIFT principal, e fundar uma subsidiária exclusivamente para comunicações com a Rússia). A subsidiária como tal é descartável e, se alguém reclamar, pode ser dissolvida e substituída em questão de dias). 

Mas estados pequenos ou estados vassalos (alô, alô União Europeia!) podem ser abusados e chantageados até um ponto inimaginável, e ser forçados a agir contra os próprios interesses nacionais. Já aconteceu no passado entre as empresas VISA e China UnionPay, e foram necessários anos de litígio na Organização Mundial do Comércio para resolver o impasse. A diplomacia russa terá de ser muito eficiente e criativa para enfrentar e superar um monopólio global.*****



* Society for Worldwide Interbank Financial TelecommunicationSWIFT (ou, em tradução direta, "Sociedade para as Telecomunicações Financeiras Interbancárias [Compensações] Mundiais").
[1] Sobre "SWIFT", embora em outro contexto, mas com informações também interessantíssimas, Romulus Maya, do Programa Duplo Expresso, explicou em seu blog, em Traição: Moro & “DD" rifam Aécio (e até Huck!) para abafar Tacla Durán – e via Globo!]:


Esse número/documento é EXATAMENTE o número/documento que NENHUM jornal ou jornalista NUNCA publica nas matérias sobre asfake-investigações de 'kurrupção' à moda Moro&Dallagnol no Brasil do golpe. Por que não aparece? Porque com o comprovante SWIFT de cada uma e de todas as transações, todos conheceríamos OS BANCOS sem os quais nem dinheiros lícitos nem dinheiros ilícitos conseguem andar pelo mundo.

Dinheiro não tem asas. Dinheiro não voaTodos os dinheiros, o dinheiro limpo, mas também até o último vintém de qualquer falcatrua que envolva 'paraísos fiscais' e 'contas no exterior' viajam entre bancos, de um banco a outro. Planilhinha de excel' + 'extratinho' de 'banquinho' em ilhota do Caribe, sem o código SWIFT, vale tanto quanto dinheirinho colorido de joguinho de criança". Grande Romulus! [NTs].
Esse número/documento é EXATAMENTE o número/documento que NENHUM jornal ou jornalista NUNCA publica nas matérias sobre asfake-investigações de 'kurrupção' à moda Moro&Dallagnol no Brasil do golpe. Por que não aparece? Porque com o comprovante SWIFT de cada uma e de todas as transações, todos conheceríamos OS BANCOS sem os quais nem dinheiros lícitos nem dinheiros ilícitos conseguem andar pelo mundo.
Dinheiro não tem asas. Dinheiro não voaTodos os dinheiros, o dinheiro limpo, mas também até o último vintém de qualquer falcatrua que envolva 'paraísos fiscais' e 'contas no exterior' viajam entre bancos, de um banco a outro. Planilhinha de excel' + 'extratinho' de 'banquinho' em ilhota do Caribe, sem o código SWIFT, vale tanto quanto dinheirinho colorido de joguinho de criança". Grande Romulus! [NTs].

3 comentários:

  1. Mesmo nas transferências entre empresas financeiras e não financeiras, ou, apenas, entre empresas não financeiras há a obrigatoriedade dos códigos de todos os bancos participantes na operação. Mesmo se uma empresa não financeira ( ou financeira, mesmo ) não tiver banco correspondente no cadastro do sistema SWIFT, não há como "escapar",ou seja, terá que abrir uma conta num banco com código SWIFT. Portanto, é "fácil" mapear e seguir........

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  2. A propósito do sistema SWIFT: http://blogdoalok.blogspot.com.br/.../russia-sem-swift.html

    Referência da tradução do Coletivo Vila Vudu, no Blog do Alok, a um texto que versa sobre SWIFT ( original no blog The Saker ). Data de 04.01.2017. MENCIONA O PROGRAMA DUPLO EXPRESSO.

    Sem o código SWIFT dos bancos pagadores e recebedores, e dos números das contas, também, de ambos, as operações não podem ser liquidadas, ou seja, não gera ACK.
    As transferências entre bancos são feitas tão somente e exclusivamente via MT 202.
    Por isso, há 100% de possibilidade do "follow the money"....

    """ Sobre "SWIFT", embora em outro contexto, mas com informações também interessantíssimas, Romulus Maya, do Programa Duplo Expresso, explicou em seu blog, em Traição: Moro & “DD" rifam Aécio (e até Huck!) para abafar Tacla Durán – e via Globo!]:

    "SWIFT é um número que, hoje, identifica TODAS e quaisquer transações financeiras internacionais.

    Esse número/documento é EXATAMENTE o número/documento que NENHUM jornal ou jornalista NUNCA publica nas matérias sobre asfake-investigações de 'kurrupção' à moda Moro&Dallagnol no Brasil do golpe. Por que não aparece? Porque com o comprovante SWIFT de cada uma e de todas as transações, todos conheceríamos OS BANCOS sem os quais nem dinheiros lícitos nem dinheiros ilícitos conseguem andar pelo mundo.

    Dinheiro não tem asas. Dinheiro não voa. Todos os dinheiros, o dinheiro limpo, mas também até o último vintém de qualquer falcatrua que envolva 'paraísos fiscais' e 'contas no exterior' viajam entre bancos, de um banco a outro. Planilhinha de excel' + 'extratinho' de 'banquinho' em ilhota do Caribe, sem o código SWIFT, vale tanto quanto dinheirinho colorido de joguinho de criança". Grande Romulus! [NTs].
    Esse número/documento é EXATAMENTE o número/documento que NENHUM jornal ou jornalista NUNCA publica nas matérias sobre asfake-investigações de 'kurrupção' à moda Moro&Dallagnol no Brasil do golpe. Por que não aparece? Porque com o comprovante SWIFT de cada uma e de todas as transações, todos conheceríamos OS BANCOS sem os quais nem dinheiros lícitos nem dinheiros ilícitos conseguem andar pelo mundo.
    Dinheiro não tem asas. Dinheiro não voa. Todos os dinheiros, o dinheiro limpo, mas também até o último vintém de qualquer falcatrua que envolva 'paraísos fiscais' e 'contas no exterior' viajam entre bancos, de um banco a outro. Planilhinha de excel' + 'extratinho' de 'banquinho' em ilhota do Caribe, sem o código SWIFT, vale tanto quanto dinheirinho colorido de joguinho de criança". Grande Romulus! [NTs].

    Postado por Dario Alok às 13:56
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    Marcadores: Geopolítica, Kakaouskia, Russia, SWIFT, The Vineyard of the Saker

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  3. Muito, muito instrutivo! Ha ha ha, mais argumentos para se combater a farsa a jato....

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