quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Por que Alexis Tsipras venceu as eleições parlamentares

Entreouvido na Vila Vudu:

Nosso amigo vudu-grego 
Μένων
, chegado da Grécia, trouxe notícias:

"Em Atenas diz-se, em todas as casas e em todas as ruas, bares e praças, que errada, mas errada MESMO, é a tal da "democracia": "Democracia" é a única coisa em que o povo não consegue, faça o que faça, por mais que se esforce, dar jeito" [pano rápido].


As recentes eleições parlamentares reafirmaram a hegemonia política do Syriza e de Alexis Tsipras pessoalmente no sistema político grego. O partido da esquerda obteve 35% dos votos e formou um governo de coalizão com um pequeno partido de direita. 




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


À primeira vista, o resultado pode parecer estranho: o capital que tudo controla na Grécia feriu ainda mais profundamente a economia grega já arruinada; o desemprego só cresce; e muitos altos quadros do partido Syriza desertaram, para criar partido próprio, "Unidade Popular", pregando a reintrodução da dracma. Nesse quadro, seria de esperar que os eleitores gregos tivessem votado no partido conservador "Nova Democracia", o qual, enquanto governou, conseguiu repor a economia de volta sobre os próprios pés. Apesar disso, e apesar das pesquisas que indicavam corrida muito apertada entre os dois partidos, o Syriza venceu com diferença de 8 pontos percentuais.


Orwell na ONU: Para Obama, só há "democracia" em país que apoia a política dos EUA




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu






Em seu discurso Orwelliano de 28/9/2015 na ONU, o presidente Obama disse que, se houvesse democracia na Síria, nunca teria havido revolta contra Assad. Por "revolta contra Assad", Obama entende: o ISIL. Onde há democracia, disse ele, não há violência ou revolução. Foi a mais violenta, embora velada, ameaça, feita dentro da ONU, de que os EUA continuarão a promover revoluções, golpes e violência contra qualquer país que não seja... "democracia". 

Nessa ameaça, afinal nem tão velada assim, Obama redefiniu o vocabulário da política internacional. 

"Democracia" existe onde a CIA derrube Mossadegh, no Irã, para lá instalar o Xá. "Democracia" há onde os EUA patrocinem os Talebã, contra a Rússia, para derrubar o governo secular do Afeganistão. "Democracia" há na Ucrânia do golpe para pôr no poder "Yats" e Poroshenko. "Democracia" é os EUA instalando Pinochet no governo do Chile. Democráticos, só "os nossos felás-da-puta", como disse Lyndon Johnson referindo-se aos ditadores que a política externa dos EUA instalou no poder na América Latina.

Preparados para a coalizão de duas cabeças?

29/9/2015, Pepe Escobar, RT


ATUALIZAÇÃO: 
Pepe Escobar, 30/9/2015, 14h51 (hora de Brasília), pelo Facebook: "Estou em Berlin, berlinense por enquanto, mas não consigo parar de pensar na Nova Hidra: a coalizão de duas cabeças, na Síria. O Excepcionalistão está fora de si, 'explicando' e repetindo enlouquecidamente, para todos os lados, que não há "desconflitação" [orig., "deconfliction"] do tipo nós-podemos-bombardear-manchas-de-deserto, mas não podemos bombardear realmente o falso "Califato"; mas os Sukhois podem, eles sim, atacar coisas "perigosas". Preparem-se para estupidez extrema na guerra de informação nos próximos alguns dias e semanas."
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Jogo de decisão na ONU. Um muito alardeado cara a cara depois de dois longos anos. O momento máximo desse "está falando comigo?" geopolítico. 

E então o presidente Putin da Rússia disse que é imperativo que se constitua ampla coalizão internacional contra o terror – especialmente o terror do tipo ISIS/ISIL/Daesh –, como se fez na 2ª Guerra Mundial para lutar contra Hitler.

E o presidente Barack Obama dos EUA, como se podia prever, piscou.


terça-feira, 29 de setembro de 2015

O Poder Mundial e Nós

Adriano Benayon * - 25.09.2015 (distribuído por e-mail, aqui repassado)


Defino o capitalismo como um sistema econômico e político no qual capitais privados vão sendo cada vez mais concentrados nas mãos de poucos oligarcas dominantes.  Isso lhes permite conquistar não só as grandes empresas financeiras e produtivas, mas também o Estado.


2. Isso acontece sob regimes abertamente fascistas e também sob regimes aparentemente democráticos, em que o dinheiro e a mídia, a serviço dos oligarcas, controlam o sistema político e o resultado das eleições.


3. O capitalismo nos países centrais, mercê notadamente de guerras que envolveram os aspirantes à hegemonia, tornou-se, ao longo dos últimos 350 anos, um sistema de poder mundial, sob a hegemonia do capitalismo britânico, que depois consolidou sua associação com o norte-americano, formando o império angloamericano.

4. Atualmente, restam duas potências não subordinadas ao império, China e Rússia, capazes de propiciar equilíbrio na balança do poder mundial. Sem esse equilíbrio, não há como país algum, no mundo, desenvolver-se.

Pepe Escobar: Xeque-mate!


A mensagem do presidente russo Vladimir Putin à Assembleia Geral da ONU foi clara; ou estados soberanos unem-se numa coalizão ampla contra todas as formas de terror, e respeita-se a soberania dos estados como determina a Carta da ONU – ou será o caos. 


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Essa Assembleia Geral da ONU revelou que a perpétua novilíngua do governo Obama já virou faca sem fio. Assistir lado a lado os discursos de Putin e de Obama é experiência quase fisicamente dolorosa. Putin falou e agiu como estadista global sério que se dá ao respeito. Obama, como amador com medo de ser reprovado em teste para o cinema.

Os pontos-chaves para discussão do discurso de Putin foram todos perfeitamente acessíveis ao público do Sul Global – sua audiência principal, muito mais que o público do ocidente industrializado.

1) Exportar revoluções 'coloridas' – ou monocromáticas –, nunca mais.

2) A alternativa ao primado do Estado é o caos. Implica que o sistema Assad na Síria pode até ser imensamente problemático, mas é o único jogo que há na cidade. A alternativa é o barbarismo dos ISIS/ISIL/Daesh. Não há "oposição moderada" – nem tampouco há ou algum dia houve alguma "Líbia-libertada-pela-OTAN".

3) Só a ONU – com falhas e máculas que tenha – é instituição garantidora de alguma paz e segurança em nosso ambiente realpolitik geopolítico imperfeito.

domingo, 27 de setembro de 2015

Indulgência papal para o terrorismo de Washington





Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


O papa Francisco dos Católicos Romanos foi saudado por sua coragem diante do Congresso dos EUA, por ter tocado em várias questões caras às 'esquerdinhas' light. O pontífice merece, afinal, algum crédito, sim, por ter falado de justiça social, redução da pobreza e da falta de moradias, alertado contra impactos ambientais deletérios e pregado políticas mais humanas de imigração. Mas há uma omissão gritante no discurso do papa ao Congresso: nenhuma palavra do papa aos políticos norte-americanos e, tampouco, nenhuma palavra na audiência privada que tivera, antes, com o presidente Obama. 


Alguém ouviu do papa Francisco qualquer condenação explícita e clara às guerras sem fim promovidas por Washington em todo mundo e ao patrocínio que os EUA dão ao terrorismo global?


O Bispo de Roma não disse uma palavra, que fosse contra o serviço de fazer guerras e gerar conflitos em todo o mundo, ao qual os EUA dedicam-se. Silenciar aí é consentir, talvez seja até tornar-se cúmplice. E quando um dos mais destacados líderes religiosos do mundo cala-se e se omite, é como se tivesse absolvido os doentios pervertidos fazedores de guerras.

Washington perdeu o Oriente Médio





Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Não é surpresa, de modo algum, exceto pela rapidez do processo. Em pouco mais de uma década, desde a facinorosa decisão do governo Bush de invadir e ocupar o Afeganistão e depois o Iraque em março de 2003, os EUA só fizeram perder influência e aliados em todo o Oriente Médio. Não só os iranianos xiitas, que o presidente Obama crê que sejam gratos a Washington, mas também, pela primeira vez, a Arábia Saudita e os estados do Golfo e o Egito, todos em processo de unir-se a novos aliados ou parceiros colaborativos, que encontram no oriente, não no ocidente.

Dia 11/9/1990, em discurso numa sessão conjunta do Congresso, o então presidente George Herbert Walker Bush falou triunfantemente dos EUA como a única superpotência, para criar o que ele chamou de Nova Ordem Mundial. A União Soviética acabava de se autodissolver em caos. Sob as presidências de Bush e adiante, de Clinton, e até o dia de hoje, a política de Washington consistiu exclusivamente em avançar contra, para desvalorizar, destruir, desconstruir e desmembrar a Federação Russa, praticamente como Washington fez contra a Líbia de Gaddafi depois da guerra de Hillary Clinton, lá, em 2011.


Durante os anos 1990s, o presidente Bill Clinton apoiou a "terapia de choque" econômico financiada pelos EUA, com pesado apoio do seu amigo bilionário e corretor financeiro George Soros e das Fundações Sociedade Aberta [orig.Open Society Foundations] de Soros. Soros trouxe pessoalmente vários Harvard-boys, como Jeffrey Sachs, para a Rússia, logo depois de eles terem devastado a Polônia, a Ucrânia e outros estados ex-comunistas no leste da Europa. O regime corrupto de Yeltsin, que só queria saber de encher a cabeça de vodka e os bolsos de dólares, pouco se incomodava com o que acontecesse aos demais russos.

Mas... Como as coisas mudaram, para Washington, desde aqueles dias de depois de 1990! 

Putin e Xi: Quebrando tuuuuuudo em New York

25/9/2015, Pepe Escobar, Asia Times
 


 
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


O papa Francisco pode ser o rock star. Mas mais uma vez o verdadeiro coração da ação só tem a ver, tudo, com Rússia e China — as tais principais "ameaças" ao Excepcionalistão, segundo o Pentágono.

Onde se mete o Anjo da História, de Benjamin, quando se precisa dele? Com certeza, está agora com os olhos postos na terra dos livres e lar dos valentes. Francisco pode ter posto a casa abaixo em DC, mas é Xi quem realmente está quebrando tuuuuuudo na Costa Oeste, enquanto Putin prepara-se para ser coroado novo Rei de New York. Quem imaginaria que o Novo Grande Jogo na Eurásia pudesse ser assim tão divertido?

E entra Frank Underwood

Já antes de Putin falar do negócio geopolítico de nova ordem mundial a sério na ONU, Xi Jinping da China falou do negócio do Vale do Silício com, ora... Com toda a elite do Vale do Silício. Vê-se na foto deliciosamente descontruída pelo South China Morning Post.




Chineses navegam para a Síria

25/9/2015, Maxfux (trad. ru.-ing. Kristina Rus), Fort Rus

Lembram-se dos exercícios militares conjuntos de Rússia e China no mar e em terra? Com exercícios de desembarque e combate contra terroristas em áreas litorâneas? Pois aqui está a resposta de por que treinaram juntas.

 

 
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




Rusvesna: "Veículo árabe [Al Masdar News] noticia que um contingente militar da República Popular da China está a caminho de Latakia, esperado a qualquer momento em portos sírios. Um navio chinês de transporte, com carga militar foi avistado na 3ª-feira pela manhã, cruzando o canal de Suez.

Informações sobre especialistas militares chineses a caminho de Tartus foram confirmadas pelo comandante do Exército Sírio. A matéria conclui que Moscou criará na Síria uma coalizão antiterror que será versão alternativa da aliança que os EUA formaram para abastecer e armar os terroristas do ISIS.

A entrada da China na luta pela Síria será importante acréscimo à declaração de hoje, do Ministério de Relações Exteriores do Irã. Em conferência de imprensa com RT, o vice-ministro de Relações Exteriores do Irã Hossein Amir Abdollahian declarou que o Irã se integrará à coalizão organizada pela Rússia, para combater contra o ISIS. Significativamente, Amir não falou de uma "aliança", mas de se criar ampla coalizão militar.


"Consideramos bem-vinda a proposta do presidente russo para o estabelecimento de uma frente comum na luta contra o terrorismo, e estamos prontos para a iniciativa de operações conjuntas e cooperação" – disse o vice-ministro iraniano de Relações Exteriores.


Que Rússia e Irã combaterão juntos contra os terroristas, fontes russas já anunciavam há uma semana. E a chegada da China para contribuir como mais uma força no grupo de apoio é mais do que se poderia ter imaginado. A presença da coalizão internacional altera a favor de Moscou o equilíbrio de poder – deixando livres as mãos russas para ação militar direta no Oriente Médio.

Parece que a Rússia está voltando a se integrar ao Oriente Médio."*****

sábado, 26 de setembro de 2015

Tiranias e ditaduras


Entreouvido na Vila Vudu:

Franceses são enrolados,
mas quando eles pensam, eles pensam mesmo [pano rápido].



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




Jacques Sapir


As concepções anti-Estado, fantasiem-se elas com cores de direita ou de esquerda, pregam igualmente não só ao fim da sociedade, mas, também o estabelecimento de uma tirania. A negação da organização social, que carrega nela todas as tentativas para dar às sociedades traços de fenômeno da natureza, leva sempre a resultados funestos. Mas a tirania também pode ser imposta de fora para dentro; foi o que os gregos fizeram. Assim, estamos diante do problema inescapável de saber por quais meios deve-se lutar contra essa tirania.


É assim que se vê que a União Europeia não foi concebida, nem na superfície nem a fundo, para proteger povos contra as influências da globalização. Insistir nisso é insistir numa desavergonhada mentira. 

A União Europeia foi concebida, isso sim, na vanguarda do movimento que desmontou Estados, para maior lucro das grandes empresas multinacionais. 

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Rússia vai desmontando as mentiras ocidentais sobre a Síria




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

© REUTERS/ Bassam Khabieh

Não há como discordar: nas semanas recentes, a cada um dos movimentos de Moscou relacionados à crise na Síria, um depois do outro, quase se pode ouvir um "Xeque! Feito!" – o que deixa Washington e sua coorte de vassalos completamente desorientados, sem saber como reagir aos movimentos russos.


No centro da desorientação do 'ocidente', o que aparece aí, à frente de todos, são as espantosas, quase inacreditáveis mentiras e falsidades que se repetem sobre a Síria.

Essa semana, a porta-voz do ministério de Relações Exteriores da Rússia Maria Zahkarova desmontou a base de toda a argumentação do ocidente relacionada à Síria, com uma única proposta que, mais clara, impossível.

Zahkarova disse que, se Washington pretende continuar a insistir em que o presidente Bashar al-Assad da Síria deixe o governo, nesse caso, os EUA que providenciem para retirar sua assinatura do Comunicado Genebra 2012. E o mesmo ultimatum vale para Grã-Bretanha e França. Bingo! Xeque!

O Comunicado Genebra 2012, assinado há três anos por governos e também pela ONU, União Europeia e Liga Árabe, claramente dispõe que "o futuro político da Síria será determinado pelo próprio povo sírio".

Esse é documento oficial, que cria obrigações para todos os signatários, resultado de demoradas negociações entre Rússia, China e as potências ocidentais, e foi assinado em Genebra no verão de 2012 sob os auspícios do então secretário da ONU Annan. Na ocasião, Hillary Clinton ocupava a Secretaria de Estado dos EUA.



"Em lugar algum daquele documento fala-se ou menciona-se qualquer cláusula que determine que Assad da Síria teria de renunciar."


Aquele documento endossa um processo político de diálogo entre partidos políticos sírios, cujo resultado final terá, necessariamente, de ser decidido pelo povo sírio. E efetivamente, dois anos depois de o Comunicado ser assinado, o povo sírio votou; e, por larga maioria, reelegeu o presidente Assad para governar a Síria.


Pois atropelando a assinatura de sua própria secretaria de Estado... há quem ainda insista que "Assad tem de sair".

Moscou: Presidente Putin inaugura a maior mesquita da Europa

23/9/2019, Moscou, Kremlin
Discurso transcrito e traduzido e vídeo legendado em francês

Muito obrigado a Sayed Hasan
(
http://sayed7asan.blogspot.fr/ ) pela tradução (fr.) e pela 'dica'.


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Mesquita-catedral de Moscou reabre após reconstrução


23/9/2015, 12h25. MOSCOU – Vladimir Putin, o presidente do Cazaquistão Noursoultan Nazarbaïev, o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas e o presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan assistiram à reabertura da mesquita-catedral de Moscou, que passou por reconstrução.


A mesquita está sendo reaberta depois de grandes trabalhos de reconstrução concebidos para ampliar a capacidade do templo, que agora passou a poder acolher até 10 mil fiéis por cerimônia.



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Discurso de Vladimir Putin (vídeo legendado em fr., aqui traduzido)

(Imperdíveis as imagens 1, 2, 3)[1]

Presidente Vladimir Putin: Caro presidente Erdogan, presidente Abbas, caros dignitários religiosos, convidados estrangeiros, amigos,


Permitam que os felicite, de todo o coração, nessa inauguração da mesquita-catedral reconstruída de Moscou. É grande acontecimento para todos os muçulmanos da Rússia.


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Ao vivo, de New York, "Putin o Grande"!

24/9/2015, Pepe Escobar, RT

É o suspense geopolítico máximo da temporada: será que o presidente Barack Obama dos EUA finalmente decidirá conversar com o presidente Vladimir Putin da Rússia, ou nessa 6a-feira ou durante a Assembleia Geral da ONU, semana que vem em New York?


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




O dramático movimento dos russos na Síria, que virou o jogo – não só entrega de armas, mas a real possibilidade de real intervenção pela Força Aérea da Rússia – deixou todos zonzos na área da Avenida Beltway.



O ministro de Relações Exteriores da Síria Walled Muallem disse claramente ao jornal RT que o envolvimento direto dos russos na luta contra ISIS/ISIL/Daesh e os tais "moderados" (como os neoconservadores dos EUA os tratam) da Frente al-Nusra, codinome Al-Qaeda na Síria, é ainda mais importante que as armas fornecidas.


Washington, entrementes, permanece enredada num buraco negro geopolítico, para tudo que tenha a ver com a estratégia de Putin. A resposta do governo Obama está conectada como os dois lados de uma dobradura a como será recebido em todo o mundo o discurso de Putin na ONU, e a como se desenrolará a diplomacia frenética relacionada ao teatro de guerra na Síria.

É ingenuidade interpretar o avanço militar dos russos como mero show de força, convite aos norte-americanos para que afinal se sentem e discutam tudo, do sudoeste da Ásia à Ucrânia.

Também é ingenuidade interpretar o movimento como desespero, em Moscou, por algum diálogo, no sentido dequalquer diálogo. Não há ilusões no Kremlin. Obama e Putin trocaram umas poucas palavras em Pequim, ano passado – e foi só; nada de visitas oficiais, nada de encontros detalhados.

O que é certo é que a mais recente jogada do xadrez de Putin tem potencial para reduzir a cacos a 'estratégia' do governo Obama pós-Maidan de isolar a Rússia. Daí o medo previsível, o ranger de dentes e a paranoia que tomou conta de toda a área da Avenida Beltway.

EUA aceitarão a boia salva-vidas que Putin lhes oferece?

22/9/2015, Robert Parry, Consortium News


Exclusivo: A obsessão dos neoconservadores com 'mudança de regime' na Síria está empurrando outro 'grupo de pensamento' da Washington oficial a 'aconselhar' que os EUA rejeitem a oferta russa para ajudar a estabilizar a Síria e pôr fim à terrível torrente de refugiados que buscam a salvação na Europa – escreve Robert Parry.


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


O presidente russo Vladimir Putin jogou, aos estrategistas políticos dos EUA o que equivale a uma boia salva-vidas, para ajudar a arrancá-los do poço de areia movediça que é a guerra síria. Mas os neoconservadores da Washington oficial e os veículos da grande mídia-empresa nos EUA puseram-se agora a latir contra "a audácia" de Putin, lançando dúvidas sobre os seus motivos.

Por exemplo, o 
principal editorial do The New York Times na 2a-feria acusava Putin de estar "aprofundando perigosamente a presença militar russa" na Síria, apesar de Putin já ter dito que seu objetivo é ajudar a enfrentar para derrotar os jihadistas sunitas no Estado Islâmico e em outros movimentos extremistas.

Por sua vez, o Times resmunga que Putin usará seu discurso na Assembleia Geral da ONU "para defender a formação de uma coalizão internacional contra o Estado Islâmico, aparentemente ignorando a coalizão que já existe para essa finalidade liderada pelos EUA."

Na sequência, o Times retoma o bizarro argumento dos neoconservadores de que a melhor maneira de resolver a ameaça do Estado Islâmico, Al Qaeda e outras forças jihadistas seria derrubar o presidente sírio Bashar al-Assad e todo o seu exército – precisamente as duas forças político-militares que há quatro anos impedem uma vitória arrasadora dos grupos sunitas terroristas naquela região.

Síria: Fim do embuste dos tais "rebeldes seletos"

22/9/2015, Moon of Alabama



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Eis aí o que o London Times publicou ontem. Por alguma estranhíssima razão, nenhum dos veículos da grande mídia-empresa nos EUA tomou conhecimento dessa notícia:


"Uma tentativa dos EUA para relançar seu muito criticado programa de treinamento para rebeldes enfrentou ontem grave revés, quando uma segunda 'remessa' de combatentes treinados no ocidente foi capturada por outros grupos rebeldes no norte da Síria.
Cerca de 70 elementos do grupo de combatentes treinados pelos EUA, chamada "30ª Divisão" [orig. 30th Division], haviam entrado pela passagem de Bab al-Salama na fronteira, ao norte de Aleppo, num comboio de 12 veículos pesadamente armados e com cobertura aérea dos norte-americanos – como noticiou o Observatório Sírio de Direitos Humanos."

O 'seleto grupo' de rebeldes do Pentágono parece ter sido detido por uma milícia de turcomenos patrocinada pela Turquia. Durante o dia de ontem, surgiram boatos ainda mais ensandecidos sobre o destino do grupo; mas agora a situação parece ter sido esclarecida. 


A verdade parece ser que os rebeldes cuidadosamente selecionados e treinados pelo Pentágono não foram "detidos": eles mudaram de lado minutos depois de terem sido introduzidos na Síria:

"Segundo novas notícias, os rebeldes selecionados e treinados pelo Pentágono traíram os EUA e entregaram as armas a um grupo afiliado da al-Qaeda, imediatamente depois de pisar na Síria.
Combatentes da "30ª Divisão" renderam-se e entregaram "todas as suas armas" à Frente al-Nusra na Síria, reportam as fontes, na 2ª-feira.
...
"Forte bofetada [na cara] dos EUA (...) O novo grupo da "Divisão 30" que entrou ontem, rendeu-se e entregou todas as armas à Frente al-Nusra logo depois de ser autorizado a passar" – tuitou Abu Fahd al-Tunisi, que diz ser membro do grupo afiliado da al-Qaeda.

O [Czar da Guerra do Estado Islâmico de Obama] general Allen acaba de ser demitido – provavelmente por causa do incidente acima. Ele foi o gênio que deu carta branca à Turquia para bombardear os curdos, em troca de livre acesso à base aérea de Incirlik, na Turquia. (E se o general Petraeus, eternamente azarado e ainda despencado em poço fundo de vergonha pública, for nomeado para substituí-lo?)

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Europa pressiona EUA sobre a Síria

É tempo de mais ação (séria) e menos palavreado (oco) 

21/9/2015, MK Bhadrakumar, Indian Punchline

Entreouvido na Vila Vudu:


O embaixador MK Bhadrakumar é 'fã' incondicional de Obama, que, para ele, seria um gênio estratégico. É a posição também de Alfred McCoy, exposta em detalhes em "Maintaining American Supremacy in the Twenty-First Century", 15/9/2015, em TomDispatch (que não traduzimos nem traduziremos, mas que talvez tenha boas informações para especialistas que leem inglês). 

O postado aqui traduzido é um aplicado esforço para reconhecer a clara evidência de que o presidente Bashar Al-Assad sempre teve integral razão, nas incontáveis vezes que disse que estava lutando contra forças terroristas criadas e sustentadas pelo 'ocidente', mas sem expor a TOTAL DESMORALIZAÇÃO da 'política' do governo Obama para a Síria (herdada, sim, da secretária Clinton-Nuland-Powers, mas que Obama não alterou e, sim, manteve e aprofundou). Nesse sentido deve-se interpretar a ideia segundo a qual Obama teria "optado" pela trilha diplomática. 

Em fim de mandato, acossado pelos próprios fracassos em ano pré-eleitoral, verdade é que Obama não está "optando" muito, nem pela diplomacia nem, de fato, por coisa alguma. Está reagindo como pode – e contando com 'interpretadores' solidários. O título do postado dizia "nudges", aproximadamente e juvenilmente, "cutuca". Corrigimos, por nossa conta, para "pressiona", porque é o que é, e não temos nenhum compromisso com a 'isenção' – que é indiferença – dita 'diplomática'.
  
Decidimos traduzir o postado do emb. Bhadrakumar porque, apesar do inescapável viés obamista, em vários sentidos esse é, sim, um postado histórico, que provavelmente marca o início do fim do Império Anglo-Sionista como o ocidente o conheceu desde o final da 2ª Guerra Mundial. A luta continua [NTs].






Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



O que o secretário de Relações Exteriores da Grã-Bretanha Philip Hammond e o secretário de Estado dos EUA John Kerry, em visita a Londres, disseram aos jornais e televisões depois de se reunirem no sábado, deixou a impressão de que há uma redução geral nas tensões entre o ocidente e a Rússia. A distensão há de ter algum efeito 'colateral' na busca de solução para o conflito na Síria.

É preciso algum tempo para que a tendência positiva apareça fidedignamente refletida na retórica 'Leste-Oeste', porque dos dois lados há que superar algum orgulho ferido. Mas a tendência é visível nos comentários de Hammond e Kerry. Numa virada interessante no discurso 'Leste-Oeste', a Ucrânia parece ter sido extraída da relação dos pontos do planeta onde há confronto ou conflito entre o Ocidente e a Rússia. Nem Hammond nem Kerry serviram-se do palavreado duramente cenográfico de sempre, para criticar a Rússia.


De fato, os dois evitaram todo e qualquer comentário crítico contra a Rússia. Ninguém repetiu a conversa de sempre de que haveria presença russa em solo no Donbass, nem ninguém citou a Crimeia, nem ninguém ameaçou a Rússia com sanções ocidentais. Bem ao contrário, Kerry deixou bem claro, para que Kiev entendesse, que os acordos de Minsk são o único pôquer que há na cidade, e conclamou todos a se aplicarem para implementar integralmente o acordo. Chegou a elogiar a influência moderadora da Rússia sobre os separatistas no Donbass. O que Kerry fez foi endossar o Formato Normandia, e disse que "a total implementação de Minsk é a via para resolver tensões que existiram entre Rússia e o Ocidente”.