01.04.2017 - Tyler Durden, Zero Hedge
Tradução btpsilveira
O Banco Central da Rússia abriu seu primeiro escritório fora de suas fronteiras em Pequim, em 14 de março, dando um passo decisivo para a construção de uma aliança Pequim/Moscou, a qual visa substituir o dólar dos EUA no sistema monetário mundial, e introduzir gradualmente um padrão de comércio baseado em ouro.
Conforme o jornal South China Morning Post o novo escritório estava previsto em acordos celebrados entre os dois vizinhos “para fortalecer os laços econômicos” desde quando o ocidente introduziu sanções contra a Rússia por causa da crise ucraniana e a economia russa foi prejudicada pela súbita baixa nos preços de petróleo.
De acordo com Dmitry Skobelkin, alto funcionário do Banco Central da Rússia, a abertura de um escritório de representação em Pequim pelo Banco Central da Rússia é um movimento “muito oportuno” para auxiliar áreas específicas de cooperação, entre as quais a emissão de títulos, operações contra a lavagem de dinheiro e medidas antiterroristas entre China e Rússia.
O novo escritório do Banco Central foi inaugurado no momento em que a Rússia está se preparando para emitir seus primeiros títulos da dívida pública denominados na moeda chinesa, o Yuan. Funcionários do Banco Central da China e comissões das autoridades financeiras estiveram na cerimônia da embaixada russa em Pequim, a qual foi instituída em outubro de 1959, no apogeu das relações entre China e União Soviética. A emissão de títulos denominados nas moedas domésticas dos dois países foi objeto de acordo em maio passado pelas autoridades financeiras dos aliados, um movimento amplamente considerado como destinado a eventualmente testar o status de moeda de reserva mundial do dólar (norte)americano.
Ao falar sobre os futuros laços com a Rússia, o Premier Chinês Li Keqiang disse em meados de março que os laços comerciais entre Rússia e China serão afetados pela queda dos preços do petróleo, mas acrescentou que vê um enorme potencial de cooperação. Vladimir Shapovalov, alto funcionário do Banco Central da Rússia, disse que os dois bancos centrais estão preparando um memorando de entendimento para resolver questões técnicas sobre a importação de ouro russo pela China, e que os detalhes deverão ser divulgados em breve.
Se a Rússia, o quarto maior produtor de ouro depois da China, Japão e dos Estados Unidos – está de fato a ponto de se tornar o maior fornecedor de ouro para a China, cresce enormemente a probabilidade do surgimento de um cenário previsto há anos, o de que que Pequim está em preparação para desenvolver uma moeda lastreada em ouro.
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Enquanto isso, na medida em que o banco central russo se move para cada vez mais perto da China, esta responde com medidas equivalentes, ao estabelecer o primeiro banco de compensação chinês em Moscou para a movimentação de transações em Yuan. O Banco Industrial e Comercial da China (ICBC na sigla em inglês – NT), começou oficialmente operações de compensação bancária na Rússia na quarta feira.
“As autoridades de regulamentação financeira da China e da Rússia assinaram uma série de compromissos importantes, com os quais delimitam um novo nível de cooperação financeira”, disse Dmitry Skobelkin, o já mencionado funcionário do Banco Central da Rússia.
“O lançamento dos serviços de compensação em renminbi (moeda chinesa, Yuan – NT) na Rússia deverá expandir as transações empresariais locais e promover uma maior cooperação financeira entre os dois países”, acrescentou ele.
A analista financeira Irina Rogova afirmou à revista russa Expert que a casa de compensação bancária poderá se tornar um grande centro financeiro para os países da União Econômica Eurasiana.
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Parece que a tática de contornar o dólar dos Estados Unidos está surtindo efeito: de acordo com a Administração Estatal Chinesa de Tributação, o volume de comércio entre a China e a Rússia cresceu 34% em janeiro, em termos anuais. O comércio bilateral em janeiro de 2017 chegou a $6.55 bilhões de dólares. As exportações chinesas para a Rússia alcançaram uma alta de 29.5%, chegando a $3.41 bilhões, enquanto as importações cresceram 39.3%, para $3.14 bilhões de dólares. Como muitos suspeitam, com as sanções contra a Rússia forçando Moscou a encontrar parceiros comerciais em outros mercados, entre eles a China, aconteceu exatamente o que se esperava.
A criação de um centro de compensação bancária possibilitará aos dois países o crescimento constante de comércio e investimentos bilaterais ao mesmo tempo em que faz diminuir sua dependência do dólar (norte)americano. As ações encetadas pelos dois países criarão um centro de liquidez para o Yuan na Rússia que fará com que as transações de comércio e operações financeiras ocorram sem maiores problemas.
Ao expandir o uso de suas moedas nacionais para transações comerciais e financeiras, os dois países podem reduzir potencialmente a volatilidade das taxas de câmbio tanto do rublo quanto do yuan. O jornal Sputnik noticiou que o centro de compensação bancária é apenas uma de uma série de medidas que o Banco Popular da China e o Banco Central da Rússia têm em mente para estreitar sua cooperação.
Uma das principais medidas que estão sendo consideradas é um esforço já noticiado para uma organização conjunta de comercialização de ouro. Em anos recentes, a China e a Rússia têm sido os compradores mais ativos do metal precioso. Quando de uma visita à China ano passado, o vice presidente do Banco Central Russo Sergey Shvetsov afirmou que Moscou e Pequim querem facilitar mais transações em ouro entre os dois países.
“Nós discutimos a questão do comércio de ouro. Os países BRICS são grandes economias com enormes reservas de ouro e um volume impressionante de produção e consumo do metal precioso. Na China, o comércio de ouro se desenrola em Xangai e na Rússia em Moscou. Nossa ideia é criar uma ligação entre as duas cidades com a intenção de aumentar o comércio entre os dois mercados” disse o primeiro vice diretor do Banco Central da Rússia, Sergey Shvetsov à Agência de Notícias Russa TASS.
Em outras palavras, a China e a Rússia estão se afastando do comércio baseado no dólar, para uma linha de transações comerciais eventualmente lastreada em ouro, no que está gradualmente emergindo como um “padrão ouro” oriental, compartilhado entre Rússia e China, e que pode servir como barreira de proteção para as suas respectivas moedas.
Enquanto isso, o preço do ouro continua sem refletir nenhuma dessas mudanças potencialmente tectônicas, exatamente como a China – que é o maior acumulador de ouro em anos recentes – quer.
Um comentário:
E o dilema de Triffin? Como resolver?
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