sexta-feira, 4 de setembro de 2015

2015: EUA comandam as potências fascistas da 2ª Guerra Mundial

4/9/2015, Eric Zuesse, Strategic Culture

Na solenidade comemorativa, em Pequim, dia 3/9/2015, que marcou os 70 anos do fim da ocupação japonesa na China, que encerrou a 2ª Guerra Mundial, os EUA muito visivelmente se recusaram a aparecer ao lado da China –, China que foi uma das nações Aliadas pró-democracia, durante aquela guerra. Assim, também visivelmente, em retrospectiva, os EUA afinal se puseram ao lado das potências do Eixo, fascistas, Japão e, claro, Alemanha.






Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




A diplomacia internacional é muito atenta ao simbolismo histórico, o que qualquer pessoa envolvida em estudos ou serviços diplomáticos entende sem dificuldade. A diplomacia entre nações muito frequentemente tem a ver com a história e a construção da história; é a própria natureza da profissão. E o simbolismo histórico nesse específico evento diplomático foi claro: os EUA abandonaram o lado antifascista dos seus ex-aliados; e os EUA estão-se alinhando ao Eixo fascista. Os EUA em 2015 já se identificam com os agressores; os EUA já não se identificam com as nações agredidas na 2ª Guerra Mundial.

A BBC, na matéria que publicou sobre os preparativos dos chineses para o evento referiu-se à "notável ausência de líderes ocidentais" da lista das autoridades que aceitaram o convite. E a BBC continua na mesma linha de notável – pode-se dizer muito espantosa – boa vontade: "O desfile portanto tem duplo papel: é reflexão sobre o passado e sinal para o futuro. A narrativa oficial da China sobre os horrores, para a China, do tempo da guerra – humilhação histórica nas mãos das potências coloniais – está intimamente conectada às atuais preocupações da China quanto a soberania e integridade territorial no Mar do Sul e no Mar do Leste da China. Num nível visceral dentro da sociedade chinesa, é impossível separar passado e presente". 


A matéria até reconhece a determinação com que o presidente chinês Xi Jinping "protege interesses chineses fundamentais." É referência simpática, nada hostil, ao final do tal artigo. A legenda de uma foto da BBC também era honesta, sem qualquer coloração de propaganda do evento, que naquele momento ainda estava sendo organizado: "Desfile comemora o que a China chama de 'Guerra de Resistência do Povo da China contra agressão japonesa'". É como a China chama e é o que aquela guerra realmente foi. E a BBC ali apresentava honestamente a perspectiva chinesa sobre um momento grave da história da China. Não se via, naquela matéria da BBC, sobre os preparativos para o evento, o ranço anti-China e anti-Rússia que há, infalivelmente, em todo o 'noticiário' ocidental.

Então, dia 3/9/2015, dia do evento, a agência oficial de notícias da China, Xinhua (que agora se chama "Agência de Notícias Nova China", para enfatizar que a China já nada tem a ver com a posição marxista-maoísta da Guerra Fria), publicou em manchete, "Xi convoca países a não esquecer a história da guerra e a prosseguir na busca de desenvolvimento pacífico", e matéria que começava assim:

O presidente chinês Xi Jinping disse na 5ª-feira que todos os países devem extrair lições da história da 2ª Guerra Mundial e manter-se firmes na busca do desenvolvimento pacífico.

Xi fez essa conclamação ao discursar depois de um grande desfile militar em comemoração aos 70 anos da vitória da Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e a Guerra Mundial Anti-fascista.

"É nossa sincera esperança que todos os países extraiam sabedoria e força da história; que busquem o desenvolvimento pacífico; e que trabalhem juntos para abrir um futuro promissor para a paz mundial" – disse o presidente Xi, a mais de 800 convidados chineses e de outros países.

A vitória chinesa naquela guerra foi grande triunfo do povo chinês que lutou ombro a ombro com seus aliados anti-fascistas e o povo, em todo o mundo – disse Xi.

E continuou: "Como principal cenário ocidental da guerra anti-fascista, a guerra de resistência na China foi contribuição crucialmente decisiva para chegar à vitória, em todo o mundo". 

"Não há força maior que o trabalho solidário, inspirado por ideia comum", disse o presidente chinês, observando que durante a guerra, os povos dos aliados anti-fascistas e outros forças, em todo o mundo, deram-se as mãos na luta contra o inimigo comum.

"Nós, os chineses, jamais esqueceremos o apoio que recebemos de países justos e amantes da paz, dos povos e das organizações internacionais, para nossa luta contra os agressores japoneses".

A matéria descreve então a visão que o presidente Xi expôs, do futuro da China:

"Com dolorosa memória do passado" – disse Xi –, o povo chinês persistentemente se comprometeu com uma via de desenvolvimento pacífico e estratégia 'ganha-ganha' de abertura para o mundo.

"Uma China mais forte e mais desenvolvida significa força sempre maior a favor da paz mundial" – o presidente continuou.

O jornal alemão Economic News, registrou, em matéria que publicou sobre o evento:

Muitos líderes deixaram de comparecer ao desfile militar – temendo ofender os norte-americanos, dentre os quais governantes do Japão. A Alemanha e os EUA enviaram apenas o embaixador. O único governante da UE foi o presidente tcheco Milos Zeman. O primeiro-ministro japonês, de direita, ultraconservador, muito criticado na China, Shinzo Abe, foi convidado mas não aceitou o convite para "cerimônia memorial da vitória do povo chinês contra a invasão japonesa e a luta contra o fascismo."

Assim sendo, quem, afinal, esteve em Pequim? Quem realmente assistiu ao desfile-homenagem? Prossegue a matéria da agência Xinhua:

Dos aproximadamente 30 chefes-de-estado convidados, lá estavam o presidente da Rússia Vladimir Putin, o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon e a presidenta da Coreia do Sul Park Geun-hye, ambos sul-coreanos, país que também foi vítima da agressão japonesa. No desfile, marcharam lado a lado cerca de 1.000 soldados de 17 países (dentre os quais Rússia, Cuba, Cazaquistão, México, Paquistão e Sérvia).

Em outras palavras, o evento, tão fortemente ligado à 2ª Guerra Mundial, teve lista de convidados que refletiu divisões da Guerra Fria, em vez de alguma resistência anti-fascismo. E quem diga "Guerra Fria" diz guerra entre capitalismo e comunismo (...). A ideologia contra a qual os EUA inventaram a Guerra Fria, se tivesse sido derrotada, estaria hoje sendo ignorada, não tratada ainda, em pleno século 21, como se a velha Guerra Fria estivesse em curso e ainda fosse o ponto focal da política externa dos EUA. 

Esse foco na Guerra Fria, pelos EUA, em evento relacionado à 2ª Guerra Mundial, é doentio. E ainda mais doentio em momento em que a mais grave ameaça que pesa contra o mundo vem dos terroristas do "Estado Islâmico" [o qual, a bem da verdade, não é nem "Estado" nem "Islâmico"... (NTs) [Boa! (nota do Blog)], ameaça bem real que pesa sobre Leste e Oeste. Essa 2ª Guerra Fria pode levar a uma 3ª Guerra Mundial, guerra global nuclear. E por quê? A propósito do quê? 

Com certeza absoluta não será guerra contra o terrorismo e/ou algum terrorista, como ninguém cogitou de tal coisa, no gesto de não comparecer ao desfile dos chineses. E, por mais que todas as consciências decentes do planeta saibam que aquilo é passado, não há dúvidas de que os governantes dos EUA estão empenhadíssimos em restaurar alguma "Guerra Fria".

Outro artigo distribuído também em Xinhua, registrava em manchete: "Poucos no ocidente relembram o papel da China na 2ª Guerra Mundial – diz especialista de Oxford", e começava assim: "Poucos no ocidente recordam o fato de que a China foi o primeiro país a entrar no que viria a ser a 2ª Guerra Mundial, e apresentou-se como aliada de EUA e Grã-Bretanha desde imediatamente depois de Pearl Harbor em 1941 até a rendição do Japão em 1945 – disse o professor de Oxford".

A rede CCTV America noticiou em manchete, dia 25 de agosto: "China distribui lista de líderes mundiais que comparecerão ao desfile do Dia da Vitória, e observou: "Jornalistas, na conferência de imprensa, mostraram-se mais interessados nos líderes que não participarão da solenidade".

O jornal BRICS Post noticiou que "Exceto Dilma Rousseff presidenta do Brasil, que enfrenta oposição turbulenta no plano doméstico,[1] todos os governantes dos países BRICS devem estar presentes ao desfile do próximo mês, pensando em aprofundar laços com os chineses".

O South China Morning Post, que publicou a matéria mais detalhada sobre a lista de presentes, escreveu em manchete: "Só 'amigos verdadeiros' da China comparecerão ao desfile do 70º aniversário. Líderes ocidentais chaves e Kim Jong-un não irão". E o texto dizia: "O único chefe de estado ou governo da UE é o presidente tcheco Milos Zeman. O primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe não irá, mas o ex-primeiro ministro japonês Tomiichi Murayama, sim. Pyongyang [República Popular Democrática da Coreia, "Coreia do Norte"] enviará Choe Ryong-hae, do Politburo. EUA, Canadá e Alemanha enviarão representantes das respectivas missões diplomáticas na China [alguém da embaixada]; França e Itália enviarão ministros de Relações Exteriores". Mas o ex-primeiro-ministro britânico lá esteve. E os presidentes Vladimir Putin da Rússia, e Park Geun-hye, da Coreia do Sul.

Em outras palavras: EUA, Canadá, Alemanha e Coreia do Norte enviaram representantes do nível mais inferior; República Tcheca e Coreia do Sul, do nível mais superior; e França, Itália, Grã-Bretanha e Japão ficaram no meio termo. 

A China é um dos países BRICS, portanto só esse fator já torna natural que os BRICS tenham enviado representantes do mais alto nível. A Coreia do Norte, ao enviar membro do Politburo, mostra que Piongueangue está profundamente insatisfeita com o nível de apoio que a China lhe tem dado. O Japão, ao enviar um ex-primeiro-ministro mostra que o governo japonês realmente não deseja nova guerra entre dois gigantes econômicos da Ásia. A presença do ex-primeiro-ministro japonês na cerimônia é concessão extraordinária, feita pelo país cuja derrota, afinal de contas, é o motivo da celebração.

Aquela lista de convidados é um livro completo de informações sobre como as coisas realmente estão, na estrutura das relações internacionais. É uma declaração histórica, sobre o presente, tanto quanto sobre o passado. Atos simbólicos podem não ser tão claros quanto palavras, mas são muito mais significativos, porque são a realidade nua, sem palavras que só a representam (e podem representá-la muito gravemente mal). 

Claramente, o governo Obama fez de tudo, para apoiar, hoje, as potências fascistas da 2ª Guerra Japão e Alemanha, agora contra a China. 

O Japão parece menos disposto que a Alemanha a unir-se ao esforço dos EUA para reconstruir os conflitos contemporâneos e repô-los no pé em que estavam pouco antes da 2ª Guerra Mundial – mas com a diferença de que os EUA já completaram giro de 180 graus, e já se converteram na grande potência fascista do mundo contemporâneo (substituindo a Alemanha nesse triste papel). 

A Itália tampouco dá sinais de querer curvar-se ante o novo papel dos EUA como líder do fascismo global. E a Grã-Bretanha tampouco dá sinais de ter-se rendido completamente ao novo projeto fascista dos EUA. (A aliança EUA-GB está em frangalhos.) 

A Coreia do Norte, sim, está com os EUA nesse assunto, mas só porque suas relações com a China atravessam período difícil. A Coreia do Sul está mais interessada em não ofender a China do que em continuar como estado 100% vassalo desses neo-EUA já claramente fascistas. É extraordinário, mas faz sentido, se se pensa no enfraquecimento das relações da Coreia do Norte com a China.

Para compreender mais profundamente essa virada dos EUA a favor do fascismo nos negócios internacionais, há algumas matérias publicadas que me parecem particularmente relevantes e cuja leitura recomendo, especialmente porque comentam desenvolvimentos anteriores, na mesma direção geral – o percurso dos EUA na rota para se tornar a atual superpotência líder mundial fascista:




[1] A presidenta Dilma Rousseff foi representada em Pequim pelo Ministro da Defesa Jaques Wagner. É ABSOLUTAMENTE impossível encontrar essa notícia em qualquer dos 'jornais' (só rindo!) brasileiros na Internet. Mas, sim, se encontra, afinal, numa página de especialistas em defesa aérea e naval (?) em http://www.defesaaereanaval.com.br/tag/ministerio-da-defesa?print=print-page

Parece claro, também, que a presidenta Dilma Rousseff não foi a Pequim para não 'provocar' o governo dos EUA. Toda a América Latina está sob ataque ou às vésperas de ser duramente atacada pelos EUA, na disputa pelo controle do continente [NTs].

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