sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Nada mais de “bons meninos”. A resposta rápida e firme de Moscou mudou para sempre o Grande Tabuleiro de Xadrez.

27.11.2015 - Stevan Gajic, Instituto de Estudos Europeus - editado por J. Flores - Fort Russ

Tradução mberublue - publicada no Blog Btpsilveira




A resposta rápida e firme de Moscou mudou para sempre o Grande Tabuleiro de Xadrez.

Aparentemente, houve um vacilo dos franceses, incapazes de assegurar garantias sólidas de seus parceiros Atlanticistas em Washington, DC. Terá isso a capacidade de movê-lo na direção de Putin?

Depois que o avião F16 da Turquia derrubou um bombardeio SU24 russo sobre terreno da Síria, perto da fronteira entre os dois países, os acontecimento se desenvolveram com rapidez. A ação foi caracterizada pela Rússia como “uma facada nas costas” por parte dos turcos. As autoridades russas, bem como o público russo ficaram particularmente enraivecidos por causa da morte de um dos pilotos, e ainda mais porque foram divulgados vídeos do corpo de um deles, tratado com completo desrespeito pelos terroristas turcomenos no norte da Síria – um dos grupos apoiados totalmente pela Turquia, como já é do conhecimento geral.

Para a Rússia, aparentemente, uma linha vermelha foi cruzada, e eles não mais tolerarão que nenhum mal aconteça com suas forças sem sérias consequências de retaliação. Para demonstrar que não ficarão apenas nas palavras, os aviões de combate russos bombardearam ferozmente a região da Síria onde aquele grupo particular de terroristas se localiza, e os russos imediatamente instalaram o já famoso sistema de defesa antiaérea S-400 em sua base de Khmeimim nas cercanias da cidade síria de Latakia. O sistema imediatamente mudou o equilíbrio de forças na região tendo em vista que seu alcance de fogo ultrapassa o território da Síria. Não é necessário dizer que outras consequências virão, como um embargo que está sendo colocado em prática pelas autoridades russas, e que vão desde a importação de carne de aves até acordos de gás, passando ainda pelo turismo.

Então, o que afinal levou Recep Tayyip Erdoğan a fazer tal movimento? Uma razão pode ser o medo de uma aliança Rússia/Irã, que foi tornada pública apenas um dia antes de ser o bombardeio russo atingido. Outra pode ser porque a Rússia destruiu cerca de 1.000 caminhões tanques de transporte de petróleo do Estado Islâmico, além de uma refinaria. O petróleo contrabandeado pelo EI é uma fonte de petróleo barato para a Turquia, e também uma fonte de dinheiro para a família Erdoğan. Ou talvez a Turquia quisesse apenas retaliar pela derrubada de seu avião F4 que foi abatido sobre a Síria pelo exército sírio apenas três meses atrás.

Seja qual for a razão parece claro que os turcos se arrependeram do que fizeram, como tornado claro pelas suas últimas declarações oficiais, que tomaram um tom de desculpas, mas não o suficiente para satisfazer Moscou que exige nada menos que um pedido formal, claro e público de desculpas. Mas o mais importante é que a Turquia anunciou que seus aviões de guerra não mais farão patrulhas sobre a fronteira turca, temendo claramente o sistema S-400 que pode derrubar qualquer deles.

Os turcos também parecem ter falhado no cálculo de outra variável antes de tomar a decisão de derrubar o avião russo. Depois do massacre em Paris, a França parece querer retomar boas relações com a Rússia. Apenas alguns meses atrás, os dois países estavam enredados em uma confusão diplomática terrível em relação a dois navios Mistral e com as sanções impostas à Rússia. Mas depois da tragédia em Paris, François Hollande está tentando se recuperar bem como parece disposto a se juntar à luta real contra os islamistas radicais e mesmo esquecer sua retórica contra Assad.

A Turquia também recebeu um tratamento de apoio, mas frio, de seus aliados. O apoio da OTAN para Ancara não aconteceu da forma esperada pela Turquia, já que a Aliança do Atlântico Norte não parece disposta a lutar ao lado da Turquia numa possível guerra Rússia/Turquia, e a OTAN acabou de retirar, apenas dois meses atrás, seus sistemas de foguetes Patriot da Turquia. Ao mesmo tempo, o Reino Unido mudou sua posição significantemente e agora tem planos de lutar contra os islamistas mais ativamente. Essa mudança pode ter sido disparada pela recente visita de Cameron à China, onde assinou grande número de acordos comerciais com a potência asiática emergente.

A verdadeira questão é a seguinte: será que os Estados Unidos resolveram sacrificar a Turquia, levando-a a um confronto com a Rússia, par depois ficar de longe observando as consequências, sem tomar parte em qualquer desenvolvimento? Ou quer lutar mais uma guerra por procuração contra a Rússia, sem sujar as próprias mãos, mas lutando até o último turco, ucraniano ou alemão, como nos bons e velhos tempos do Afeganistão na década de 1980s como sugeriu George Friedman? Não importam as análises, mas é certo que a Turquia enfrentará graves consequências por seus atos, muito rapidamente. As coisas vêm de forma linear e apontam para o que segue: a Turquia não pode voltar atrás do que fez e as respostas da Rússia que já aconteceram e que ainda estão por vir, mudarão para sempre o jogo geopolítico. Caso o objetivo da OTAN fosse esse, talvez tenha conseguido seu intento – mas em compensação, agora Moscou tem liberdade de ação e no momento está com todas as cartas boas nas mãos.

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