26/1/2016, Pepe Escobar, RT
Pode-se argumentar que, para Moscou, seria tremendo desperdício das divisas que tanto suaram para acumular, tentar conter um ataque contra sua moeda que a moeda russa simplesmente não pode derrotar, tendo contra ela todo o poder financeiro dos EUA para fabricar dinheiro.
O Banco Central da Rússia a essa altura teria de estar torrando rublos em troca de ouro, construindo reservas-ouro para o país.
Bem, em algum sentido, pode-se dizer que, sim, é o que está fazendo. Semana passada, o Banco Central da Rússia estimou que as reservas-ouro haviam alcançado 1.415 toneladas métricas em 2015 – mais de 17% acima de 2014, estimadas em quase $48,6 bilhões. A porcentagem de moeda-ouro nas reservas de divisas estrangeiras na Rússia subiu, de 11,96% para 13,18%.
Mas não é suficiente. Por quê? Resposta nua e crua seria que o Banco Central da Rússia e o Ministério das Finanças, como dizem alguns analistas, são comandados de fato por sabotadores e vassalos da elite financeira dos EUA codinome Masters of the Universe.
Seja como for, o Banco Central da Rússia não interveio para segurar o rublo. E provavelmente não intervirá. O melhor curso de ação será deixar que o rublo se esvaia, pondo fim a quase todas as importações e obrigando o país a buscar a autossuficiência. Ou introduzir controles de capital, com todas as transações em moeda estrangeira condicionadas a autorização. Não funcionou na Malásia, por exemplo, depois da crise financeira asiática de 1997.
Podem esquecer a 'quebradeira' chinesa
Pode-se também argumentar que a Rússia não precisa de muito investimento do ocidente. Foi o que o Banco Central promoveu, ao manter as taxas de juros mais altas na Rússia que nos EUA e UE, o que naturalmente levou as empresas russas a tomar empréstimos em dólares norte-americanos ou em euros.
A responsabilidade do Banco Central da Rússia é criar crédito doméstico para construir as indústrias que se afastaram da Rússia por causa do rublo em queda. Não é procedimento inflacionário: a produção crescente que resulte desses investimentos anula as implicações inflacionárias sobre o crédito recém criado.
Em vez disso, o Banco Central da Rússia optou pela tática de apertar o dinheiro, para combater a inflação. Muito mais proveitoso para a Rússia combater a inflação seria criar crédito a juros baixos para financiar a construção das indústrias necessárias para substituir os produtos antes importados.
Consideremos agora a parceria estratégica Rússia-China. A Rússia pode até estar nas cordas, mas a China não está. A China crescerá estimados 6,5% esse ano, versus os 7% de 2015. Envolvidas numa estonteante rede de restruturação econômica e de desalavancagem, multinacionais norte-americanas como Apple e GM com certeza não têm interesse algum num 'crash' chinês.
Indicador chave a acompanhar é o crescimento da demanda de petróleo na China. A construção voltou a crescer, mas não a indústria de automóveis, que está soltando 25 milhões de veículos por ano.
Para enfrentar a China, os Masters of the Universe usaram estratégia diferente: tentaram conter o crescimento chinês, fazendo subir o preço do petróleo. Daí a ofensiva dos suspeitos de sempre em Wall Street, tentando derrubar o mercado de ações chinês servindo-se do acerto em dinheiro [orig. cash settlement] nas ações "A".[1] Não funcionou.
Agora, os Masters of Universe, que operam por controle remoto os sauditas, estão, na essência, tentando tirar da tomada os mercados globais de ações. Pode-se chamar de jogo de acerto derivativo de três trilhões de dólares em moeda. Não há sinal algum de que seja suficiente para quebrar a Rússia.
O "assassino" versus a 5ª coluna
A histeria dos Masters of the Universe para se verem livres, custe o que custar, do presidente Putin, e reinstalar lá os oligarcas vassalos), já alcançou picos inimagináveis. A mais recente manifestação de delírios febris é o romance "Putin, o assassino", com auxílio crucial da 'inteligência' britânica.
Não há dúvida de que agentes operativos dos Masters of the Universe estão por trás do colapso dos preços do petróleo e do rublo. De certo modo, é repetição do cenário de meados de 2014, quando o preço do petróleo desabou, e não houve aumento visível na oferta; o que aconteceu foi o dumping [venda de commodity importada a preço mais baixo que o preço de produção no país exportador] – invisível – de sete milhões de barris/dia do petróleo do Golfo obedecendo ordens dos Masters of the Universe, como dizem fontes em bancos norte-americanas, absolutamente confiáveis.
O Fed contribuiu muito fortemente para a atual desordem, elevando as taxas de juros quando a economia dos EUA estava doente, enquanto manipuladores do cash settlement em Wall Street usaram isso a favor do movimento deles para derrubar os mercados. Nem é preciso dizer que os suspeitos de sempre farão centenas de bilhões de dólares no atual crash de mercado. Bom lugar para ver o que acontece é de dentro da BlackRock.
Nesse cenário sombrio, entra ninguém menos que o aspirante a Master of the (Novo) Universe, o presidente Xi Jinping da China, em seu tour com grande pompa pelo Oriente Médio. A ofensiva de business/charme de Xi por Arábia Saudita, Irã e Egito deve ser interpretada como o movimento de Pequim para reformatar o Sudoeste Asiático num contexto mais próximo da Organização de Cooperação de Xangai (OCX).
Xi, como qualquer um, sabe muito bem o quanto e como toda a economia dos EUA – baseada numa moeda global de reserva imprestável e sem valor – é movida por um imposto de usurário, mal disfarçado, que todas as nações do mundo pagam ao Império do Caos. E Xi sabe o quanto e como o embuste que é esse tributo vai rapidamente sendo desmascarado.
Em Riad, Xi até deixou implícito, à maneira chinesa, cheia de nuances, que a Casa de Saud faria muito bom negócio se, eventualmente, largasse Washington, seu gigolô à moda da Máfia, e também largasse o petrodólar como conduíte privilegiado para reciclar a renda do petróleo saudita. Que tal considerar ações denominadas em yuan e parâmetros [orig. benchmarks] para o preço do petróleo também baseados em yuan?
Desnecessário dizer que, no caso de a Casa de Saud apenas começar a pensar nesse movimento em massa, sem dúvida possível, haverá golpe em Riad arquitetado pela CIA, e todo o patrimônio da Casa de Saud será confiscado – como já andam pregando que se faça, off the record, mais de um assecla dos Masters of the Universe dentro do Departamento de Estado em Washington.
Assim é que temos os sauditas – obedecendo ordens dos Masters of the Universe – freneticamente a vendersecurities a baixo preço no mercado, enquanto o Banco Central da Rússia pensa no que fará a seguir.
Mas, mesmo que os sauditas consigam torrar seus estimados $8 trilhões de patrimônio, a Rússia, adotando a estratégia certa, pode ainda caminhar para uma autossuficiência com a qual os EUA – ou a União Europeia – não podem nem sonhar. E, para piorar, trabalhando a pleno emprego – enquanto o 'ocidente' se vai espatifando, ao ritmo da desintegração de seus mercados.
Assim sendo, Banco Central e Ministério de Finanças da Rússia, a batata quente pulou para o colo de vocês.*****
[1] A China chama "ações A" ações denominadas em renminbi; e "ações B" as denominadas em EUA-dólares em Xangai, e em dólares de Hong Kong na Bolsa Shenzhen (De Financial Times Lexikon) [NTs].
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