quinta-feira, 14 de abril de 2016

Geopolítica do sistema de Banco Central

17/3/2016, Valérie Bugault,* Katehon

A gênese da ordem oligárquica do 
banking: do sistema de banco central às instituições financeiras[1]

"Deixem-me controlar o dinheiro do país
e nem me importa quem escreva as leis"
[Mayer Amschel Bauer, 1º da dinastia Rothschild]

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



O conceito de Banco Central depende da centralização das questões monetárias em mãos de banqueiros de bancos centrasi controlados por banqueiros privados. A política monetária é assim gerida, por sua própria natureza, para satisfazer os interesses da maioria dos acionistas dos principais bancos privados.

Bancos centrais que pertencem a atores financeiros privados que regulam as chamadas moedas soberanas [State currencies] e mais ou menos diretamente controlam todo o setor bancário privado são o núcleo mais duro da questão monetária. Bancos centrais[2] são assim o nervo central do sistema financeiro que temos hoje.


O conceito de banco central rapidamente se enfiaria por baixo do manto virtuoso da ortodoxia financeira, para se tornar palatável para o grande público. Não há quem não tenha ouvido dizer, em alguns casos repetidas vezes, que um banco central independente seria indispensável para impedir que políticos cometessem excessos na emissão de dinheiro. Duas constatações factuais põem por terra tal fantasia.[3]

A primeira constatação é que o próprio conceito de banco central carrega nele uma ilusão de independência inventada e cevada pelos bancos-atores. Bancos centrais sempre foram independentes de governantes eleitos, mas jamais foram ou serão independentes dos banqueiros que os controlam.

Em outras palavras, o atual sistema de banco central é, por concepção e projeto, independente de qualquer efetivo controle de natureza política que fosse exercido por poderes populares democraticamente constituídos: desde a concepção, sempre estiveram sob completo sistema do capital e dos capitalistas. Mas, logicamente e conceitualmente, qualquer Estado pode alcançar a ortodoxia financeira por muitas vias e modos, sem que seja indispensável entregar as chaves do cofre a um grupo homogêneo de pessoas.

Por exemplo, a ortodoxia pró-orçamento seria muito mais bem atendida se resultasse da ação de contrapesos com real independência estatutária. Os guardiões dos cofres públicos, responsáveis pela oferta de dinheiro, também têm de ser regularmente fiscalizados e obrigados a prestar contas dos efeitos de suas políticas sobre a massa de indivíduos que constitui o Estado. Esse corpo regulatório pode ser constituído de representantes da sociedade civil – exceto banqueiros. Teria poderes legais e políticos para sancionar os que têm a chave do cofre, se os efeitos de suas políticas monetárias obrarem contra os interesses econômicos dos indivíduos a elas submetidos e contra o livre fluxo do comércio – comércio que beneficia todos os atores, não só os proprietários dos maiores cartéis.

A segunda constatação é que a grande maioria dos políticos – os representantes eleitos do povo – sejam agentes do Executivo ou do Legislativo –, são absolutamente ignorantes nas questões monetárias. No passado, tampouco foram mais versados nesses assuntos do que são hoje. Decisões monetárias, incluindo as que envolvem recurso à prensa de imprimir dinheiro, eram-lhes sopradas ao ouvido por homens experientes nas artes do banking. Mais que isso, de um ponto de vista estritamente conceitual, é muito sutil a diferença entre a máquina de imprimir dinheiro de ontem e o "alívio quantitativo" de hoje. Fica-se tentado a crer que o tal "alívio quantitativo" não é mais que versão nova, mais sofisticada, da velha prensa da Casa da Moeda, porque, em resumo, as duas técnicas canalizam a oferta de dinheiro numa direção, ou noutra.

Os movimentos da oferta de dinheiro são orquestrados hoje de modo coordenado que absolutamente não é alinhado com os melhores interesses públicos; são sempre baseados no maior bem financeiro de um pequeno número de grandes banqueiros – gente que não é apátrida, porque tem cidadania de um ou vários países; mas é transnacional no sentido em que todos os Estados do mundo, conectados pelos bancos, são seu território 'de base'.

Na realidade, o argumento de que a independência do banco central é justificada pela necessidade de controlar políticos que podem ser excessivamente inclinados a fazer rodar a máquina de imprimir dinheiro não passa de pretexto para um assalto político ao poder, pelos atores econômicos dominantes – os proprietários dos grandes bancos. Com o advento dos bancos centrais, o Estado como entidade política entregou o controle sobre a própria moeda – uma de suas prerrogativas soberanas –, aos interesses especiais do business dominante. Esse movimento, que implica renúncia e perda, mina a integridade de qualquer política.

É instrutivo relembrar a profecia (dessas que a partir da enunciação já começam a se autorrealizar) de Mayer Amschel Bauer, o primeiro da dinastia Rothschild, que disse no século 18: "Deixem-me controlar o dinheiro do país e nem me importo com quem escreva as leis". 

Como se traça a gênese da ordem oligárquica do banking contemporâneo? Basta descrever os vários estágios pelos quais passou o sistema de bancos centrais até ser o que é hoje.

I) Criam-se bancos centrais individuais 

Começamos pelo poderoso Banco de Amsterdam, criado em 1609. Foi a primeira instituição financeira dos tempos modernos, porque introduziu o conceito de moeda bancária como meio de pagamento. Em termos bem claros, o Banco de Amsterdam não emitia notas de dinheiro, mas recibos, que eram usados como moeda nas transações comerciais. O controle que o Banco de Amsterdam tinha sobre o papel moeda faz dele o precursor do banco central como o conhecemos hoje.

Mesmo assim, a verdadeira origem do sistema de banco central é posterior, numa modalidade unicelular, que se via no Banco da Inglaterra, quando criado em 27/7/1694 e seguido um século depois pelo Banco da França, fundado por Napoleão, dia 18/6/1800.

Depois desses experimentos, os grandes financistas europeus – os detentores de capital – começaram, no final do século 19 e início do século 20, a desenvolver o sistema de banco central em escala muito maior; e foi criado o U.S. Federal Reserve System, Sistema do Banco Central dos EUA.

II) Cria-se um sistema de banco central: o Fed

Tão logo o conceito de banco central em mãos de banqueiros privados deitou raízes na Europa, a longa caminhada com vistas a tomar o poder monetário e financeiro levou à criação do Federal Reserve System nos EUA em 1913.[4]O Fed consiste de uma dúzia de bancos centrais regionais supervisionados pelo mais importante deles, o Banco Federal Reserve de New York.

O Fed é uma organização bancária privada com estrutura hierárquica piramidal. Tem total liberdade para controlar e gerenciar fluxos monetários e financeiros dentro do sistema político do Estado, mas completamente independente dele. Os iniciadores do Fed, depois da criação nominal em 1910, tiveram de engajar-se durante três anos em intenso trabalho de lobbying para impor esse titã financeiro ao poder político nos EUA, o qual, naquela ocasião revelou toda a sua inerente fraqueza.

Supostamente nacional, o Federal Reserve só é nacional no nome. Na verdade, foi criado por um punhado de banqueiros privados europeus, apoiados por alguns novos capitalistas norte-americanos muito ambiciosos.[5] Quanto à natureza federal, até existe, mas é independente do federalismo político ao qual é superimposta. A criação política do Fed em 1913 deu início a uma nova era nos EUA; o Estado federal perdeu razão política de ser e, daquele ponto em diante, passou a dedicar-se a defender os interesses do grupo econômico dominante.

Depois da criação do Federal Reserve, adiante no século 20, vimos o advento do Banco de Compensações Internacionais, BCI [ing. Bank for International Settlements, BIS], desenvolvimento que foi passo gigantesco na direção de uma ordem mundial oligárquica de banking.

III) Cria-se o BCI [ing. BIS]

A joia da coroa do sistema internacional de banking, o Banco de Compensações Internacionais, BCI, com sede em Basel, Suíça, foi criado em 1930, no Plano Young. Essa instituição especial é protegida por todas as imunidades imagináveis e goza de privilégios diplomáticos, o que faz dela um Estado dentro de um Estado. Hoje, o BCI atua como o banco central para os bancos centrais, e serve como guarda-chuva para vários banqueiros centrais – no ocidente e em países afiliados – mantendo reuniões regulares e organizando e supervisionando as políticas monetárias que implementam.

Pedra fundamental da dominação pelo banking

O BCI, que pouca gente conhece, teve papel crucial no milagre econômico dos governos nazistas entre as duas guerras mundiais, porque tornou possíveis os financiamentos para a reconstrução da Alemanha, e para sua remilitarização nos governos nazistas. A história registra que os banqueiros anglo-saxões[6] foram convidados para as festividades pelo cidadão alemão e grande especialistas em finanças, Hjalmar Schacht,[7] quando do Plano Dawes, logo substituído pelo Plano Young, que substituiu o BCI.

Especificamente, os empréstimos que recebeu do BCI permitiram que Hitler (que pagou juros desse empréstimo até o final de 1944) se preparasse para a guerra, passando a carga do esforço financeiro – o qual, por falar dele, enriquece os seus credores – para as costas do povo alemão; adiante, também para as costas do povo dos países ocupados.

O objetivo final do BCI, como foi perfeitamente exposto pela historiadora Annie Lacroix-Riz, era fazer desaparecer, num festival de prestidigitação, os pagamentos de reparação que a Alemanha devia à França. A plutocracia francesa, depois de muito manobrar durante a negociação do Tratado de Versailles, aceitou a visão anglo-saxã no início da década de 1920s e concordou com abrir mão da reparação que lhe era devida, em troca dos juros que receberia, com outros atores financeiros oligárquicos, principalmente anglo-saxões, sobre empréstimos que o BCI faria à Alemanha. Os cidadãos alemães foram os primeiros grandes perdedores – politicamente e economicamente – como resultado desses 'acertos' entre oligarcas que controlavam todos os países.

Hoje, longe de ter sumido – embora o desaparecimento dele tivesse sido tentado durante algum tempo – o BCI cumpre o papel de um banco central de bancos centrais. Faz a coordenação informal, mas muito real das políticas monetárias de todo o ocidente e países afiliados, que estão hoje sob dominação oligárquica. Essa coordenaçao atribui peso considerável ao sistema ocidental de banking, garantindo-lhe influência geopolítica sobre todos os estados do mundo, inclusive, e especialmente sobre os não integrados na ordem oligárquica ocidental.

O BCI é a pedra basilar da estrutura atual da dominação monetária pelos anglo-saxões: em outras palavras, serve para enriquecer as oligarquias mediante ganhos financeiros, mas já não diretamente, mediante controle sobre bens e matérias primas, como acontecera antes, na Europa continental.

O BCI, que é um estado dentro de um estado, visa a minar o próprio conceito de Estado 

O BCI beneficia-se de todas as imunidades possíveis e goza de privilégios diplomáticos.

Do ponto de vista legal, garantir tais privilégios e imunidades a uma instituição financeira é elevá-la, estruturalmente, ao nível de Estado.

A função essencial do Estado é ser corpo político cujo principal papel é regular a vida e a sociedade num dado território. Mas uma instituição de banking cujo único papel econômico é servir aos interesses especiais de seus proprietários principais não atende a qualquer interesse público, no sentido político e organizacional da palavra; responde exclusivamente aos interesses dos principais proprietários, sempre um grupo coletivamente homogêneo. Pôr o Estado e um corpo financeiro em pés de igualdade, dando ao corpo financeiro status internacional, compromete o próprio papel estrutural do Estado, cujo papel político fica, pura e simplesmente, renegado.

A criação do BCI marcou a primeira vez na história em que uma instituição financeira recebeu status político equivalente ao de Estado. O resultado desse experimento bem-sucedido foi o Sistema Monetário Europeu (SME) [ing. European Monetary System (EMS)], estabelecido em 1979, um passo adiante na direção da integração monetária europeia, que começou paralelamente à criação do Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC) [ing.European System of Central Banks (ESCB)] em 1998.

IV) Centralização europeia dos bancos centrais: o SEBC 

Nos EUA, o experimento "Fed" foi tão bem-sucedido, adotando política aderida ao já tentado e confirmado, que os grandes financistas ocidentais decidiram duplicar, e impuseram o modelo à Europa.

Assim o sistema de banco central teve mais recentemente impacto acentuado na ordem internacional mediante a União Europeia, que levou à criação do Sistema Europeu de Bancos Centrais, SEBC [ing. European System of Central Banks, ESCB] supervisionado pelo Banco Central Europeu (BCE) e completado pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade [ing. European Stability Mechanism (ESM)] em 2012.

A criação política de uma Europa unificada – onde tudo se mistura e confunde, por causa do papel dominante dos EUA[8] – viu surgir, ao lado de instituições políticas dedicadas aos interesses privados das multinacionais,[9] também um sistema de bancos centrais criado à imagem do Federal Reserve dos EUA e que, como o modelo original, é impermeável ao poder político.

Para burlar mais facilmente a opinião pública, foi matido o Parlamento Europeu pseudo democrático.[10] Mas esse corpo – na verdade, simples formalidade – mesmo assim poderia criar dificuldades para os interesses do grupo econômico dominante. Esse é o motivo pelo qual o grupo optou por assegurar para si o controle legal direto, tomando por modelo o sistema de banco central do Federal Reserve dos EUA.

O ESCB foi concebido para ser estruturalmente independente dos governos políticos nos EUA,[11] e obedecer ao controle pelo banking capitalista. Não oficialmente, o ESCB é controlado pelo Deutsche Bundesbank, o banco central alemão, que em grande medida representa os mesmos interesses que o Fed. Dentro do sistema ESCB, o Bundesbank serve como intermediário para imperativos oligárquicos em assuntos financeiros, exatamente como o governo alemão serve, dentro da União Europeia, como correia de transmissão para as ordens da oligarquia, quando é preciso usar o processo legislativo.

O papel fundamental da Alemanha no processo oligárquico explica-se por causa do peso histórico e dos laços entre capitalistas germano-anglo-saxões que se forjaram no início do século 20. Desde a 2ª Guerra Mundial, o papel fundamental da Alemanha explica-se tanto pela cooptação da elite militar nazista[12] pelo sistema político-financeiro dos EUA (CIA, NASA etc.),[13] como pela dominação militar do território alemão por exércitos norte-americanos.[14]

Para compreender como os bancos conseguiram dominar a Europa pelo dinheiro, basta lembrar que as cláusulas do BCI serviram de modelo para o Mecanismo Europeu de Estabilidade, MEE. Esse MEE, como a nova instituição financeira, é herdeiro direto do Banco de Compensações Internacionais, BCI, no papel de rejeitar e negar qualquer função política e organizacional do Estado.

A supremacia da oligarquia em questões monetárias foi consolidada no nível mundial pelo Acordo de Bretton Woods, o qual garantiu à oligarquia anglo-norte-americana a supremacia definitiva sobre as oligarquias ocidentais clássicas.

V) Instituições financeiras criadas sob o Acordo de Bretton Woods

Com o Acordo de Bretton Woods, a plutocracia ocidental, mediante os EUA, vencedor financeiro das duas guerras mundiais, impôs ao mundo duas grandes instituições financeiras internacionais que supostamente seriam regulatórias: o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Assim fazendo, Bretton Woods criou a ordem monetária e financeira anglo-saxônica sob cujo jugo vivemos hoje.

O FMI

O FMI, esse grande inimigo do povo,[15] opera de modo similar, pode-se dizer ao BCI. Garante empréstimos com jutos a estados que enfrentem dificuldades financeiras – dificuldades que muito frequentemente têm a ver com atores especuladores, como os hedge funds.[16]

Mas é diferente do BCI, porque empresta em troca de uma dupla compensação: primeiros, o pagamento de juros; segundo, a venda de patrimônio estatal ou público a multinacionais, para garantir a desalavancagem. Por trás dessas muito louvadas boas intenções, a estrutura do FMI revela que seus verdadeiros objetivos são o exato oposto do que é proclamado: o FMI visa simplesmente a encenar uma farsa, que impõe dívidas e na sequência exige pagamento – farsa que empobrece correspondentemente os Estados e as populações.

Essa falha estrutural é deliberada; aí está a manifestação no plano da legislação internacional de um sistema que garante poderes a alguns atores econômicos para predar o sistema político, porque enfraquece os fundamentos financeiros e econômicos do Estado. Mais uma vez, a natureza política do Estado foi pervertida por uma instituição internacional que reduz o próprio Estado à categoria de organização privada, sem considerar os interesses coletivos que são o fundamento do próprio conceito de Estado.

O Banco Mundial

Como o nome indica, o Banco Muncial é a pedra fundamental do edifício fo futuro governo mundial. O Banco Mundial está no coração de um sistema que protege os investimentos das multinacionais (esse assunto é tema de outro artigo, em preparação, sobre o livre comércio). Ele oficialmente trabalharia para erradicar a probreza mundial; mas não oficialmente e estruturalmente, a sua postura sempre a favor dos investidores, só faz, mesmo, agravar a pobreza.

No início de 2015, um consórcio de jornalistas independentes revelaram que o Banco Mundial financiava projetos que, além de ineficazes, e em completa contradição com a missão declarada do banco, estavam obrigando milhões de pessoas a abandonar a própria casa e a própria terra.

Dentre os cérebros do Banco Mundial, dominado pela finança anglo-saxônica, já esteve Paul Wolfowitz, amigo da família Bush, defensor do 'trotskismo' e do neoconservadorismo da Escola de Chicago e ex-alto oficial do Pentágono. Em 2007, Wolfowitz teve de demitir-se da presidência do Banco Central, envolvido que estava num escândalo de nepotismo. Em 2014, outro escândalo irrompeu, justamente quanto o Banco Mundial recuperava sua estabilidade financeira apertando o cinto e inflando os próprios recursos, graças a aumentos no custo dos empréstimos que distribuía, e suas apostas no mercado. Além do fato evidente de que elevar os custos dos empréstimos agredia o objetivo oficial de erradicar a pobreza, os cortes nas despesas nunca passaram de hipocrisia, porque os prêmios e bônus distribuídos no mesmo ano a vários dos altos executivos do Banco não foram de modo algum 'enxugados'.

Todas as organizações financeiras internacionais criadas sob o Acordo de Bretton Woods são de fato cortinas de fumaça para dar alguma legitimidade aos esforços para minar sempre mais os recursos financeiros dos Estados.

Com a criação dessas instituições, estamos vendo o econômico atropelar o político em escala global. A concepção política do mundo, embora varie muito por causa da história específica de cada nação, tem por missão regular todos os interesses que vivam num mesmo território; mas uma concepção estritamente econômica e financeira do mundo só serve aos interesses do pequeno grupo de indivíduos que dominam a vida econômica. Assim, o conceito de território perde importância.

Sobretudo, além da dominação financeira dos Estados, há preocupante convergência dos interesses dos líderes – não dos povos – mundiais, o que acelera o trânsito para um governo mundial oligárquico: a infame Nova Ordem Mundial.

Conclusão

O controle sobre os fluxos financeiros do mundo por grupo economicamente dominante exige controle sobre a moeda. Esse controle é feito mediante um sofisticado sistema de bancos centrais. O controle sobre as moedas é o instrumento preferido que os grandes detentores do capital ocidental usam para promover mudança política nas economias de todos os países do mundo.

A finança internacional, dominada pelos proprietários de grandes bancos privados, opera mediante bancos centrais como um sistema fechado para atendimento em tempo integral dos interesses de um pequeno número de indivíduos que se apropriaram da função que sempre foi da moeda e, assim fazendo, apropriaram-se também das funções econômica e política que sempre foram dos estados-nação – os quais foram condenados a desaparecer. Essa dominação sobre todo o mundo, pela finança, foi afinal completada por instituições financeiras internacionais, como o Banco de Compensações Internacionais, BCI, e as demais instituições criadas pelos termos do Acordo de Bretton Woods.

A dominação política que se vê hoje, por atores financeiros, levará fatalmente ao fim dos estados-nação. O tipo clássico de dominação pela Europa Ocidental – como se via no Ancien Régime – baseava-se na propriedade da terra, com a concepção política e jurídico-legal do mundo no Continente orbitando em torno do estado-nação. Desde a Revolução Francesa e cada vez com velocidade maior no século 20, essa concepção levou à dominação financeira, que é corolário de uma concepção anglo-saxônica do mundo, movida estritamente por forças econômicas.

Hoje assistimos às cenas finais de uma avançada monstro para depreciar a concepção política de Estado em favor dos interesses privados de um pequeno grupo de pessoas que se autodesignaram patrões do sistema monetário mundial. No ocidente, o político gerou o econômico.

Não é acaso que o método anglo-saxônico de dominação baseado no dinheiro e na finança tenha finalmente derrotado o método europeu tradicional de dominação baseado na propriedade. Essa mudança ocorreu principalmente porque a apropriação aberta e direta da riqueza é ineficiente: gera excessiva hostilidade e resistência mais forte que a apropriação dissimulada, perpetrada sigilosamente e anonimamente por cartéis. O anonimato e o sigilo sempre andam de mãos dadas com o modelo capitalista de negócios, e têm papel vital na dominação mundial, pela elite financeira, como se vê hoje.*****



* Valérie Bugault é pós-graduada em Direito, ex-advogada tributarista e analista de geopolítica legislacional e geopolítica econômica.

[1] Sobre beneficiários da política seguida pelos bancos centrais, ver por exemplo http://www.eric-verhaeghe.fr/leurope-est-elle-sous-la-tutelle-de-ses-banques.

[2] Ver Martin Armstrong.

[3] Já nem surpreende que as eternamente aspirantes candidaturas de Aécim, O Neto-sem-votos, e de Marina Silva, a 'ética' à bancoitaú & Al-Gore, ainda insistam em pregar incansavelmente uma tal "independência do Banco Central" no Brasil. É a cara deles [NTs].

[4] Ver La guerre des monnaies, Hongbing Song, Editions "Le Retour aux sources".

[5] Sobre a organização norte-americana do sistema do banco central, ver https://fr.wikipedia.org/wiki/R%C3%A9serve_f%C3%A9d%C3%A9rale_des_%C3%89tats-Unis.

[6] Nesse contexto e, parece, aplicado ao mesmo conjunto de atores e interesses, o Saker, do Blog The Vineyard of the Saker, fala de"império anglo-sionista" [NTs].

[7] Ver Eustace Mullins, Les secrets de la Réserve fédérale, Editions Le Retour aux Sources (França, out. 2010); ver também Antony C. Sutton, Le complot de la Réserve fédérale, Editions Nouvelle Terre (França, 2009)

[8] Ver também a tese, de Frédéric Clavert, Hjalmar Schacht, financier et diplomate (1930-1950), HAL arquivos públicos, francês, especialmente pp. 49 e 50.

[9] Ver Annie Lacroix-Riz, L’intégration européenne de la France ; la tutelle de l’Allemagne et des États-Unis, Edition Le Temps des Cerises.

[10] Sobre multinacionais estruturalmente dominantes na União Europeia, ver por exemplo https://www.youtube.com/watch?v=0LJdUtJ__IM

[11] Sobre limites institucionais da democracia europeia, ver, por exemplo,  https://www.youtube.com/watch?v=H8qpT9DASUY

[12] Consultar "Operation Paperclip" http://www.voltairenet.org/article14657.html; e também alsohttp://rr0.org/org/us/dod/Paperclip.html; e Raízes da exfiltração de nazistas passavam pelo Vaticano, em https://fr.wikipedia.org/wiki/Réseaux_d’exfiltration_nazis

[13] Consultar Traité sur le Fonctionnement de l'Union Européenne, TFUE [Tratado sobre Funcionamento da União Europeia, TFUE], artigos 127 ss., especialmente o artigo n. 130: "No exercício dos poderes e no cumprimento de missões e deveres que lhe foram conferidos pelos tratados estatutos do SEBC e do Banco Central Europeu, BCE, nem o Banco Central Europeu nem qualquer banco central nacional, nem qualquer membro de seus órgãos decisores pode solicitar ou aceitar instruções de instituições, órgãos ou organismos da União, dos governos dos estados membros da União, de governos dos estados membros ou que qualquer outro organismo. As instituições, órgãos ou organismos da União, bem como os governos dos estados membros comprometem-se a respeitar esse princípio e a não procurar influenciar os membros dos órgãos decisores do Banco Central Europeu ou bancos centrais nacionais na realização de suas missões."

[14] Sobre isso ver see Annie Lacroix-Riz: https://vimeo.com/18006526; e Annie Lacroix-Riz, L’intégration européenne de la France ; la tutelle de l’Allemagne et des États-Unis, Editions Le Temps des Cerises.

[15] O Brasil parou de recorrer ao FMI em 2002; em 2005, com o Ministro Palocci na Fazenda, o país pagou o que devia ao Fundo e tornou-se membro emprestador e credor. Detalhes sobre isso em Agência Brasil, 10/1/2006 [NTs]

[16] Sobre o papel dos hedge funds na eclosão da crise grega, consultar Myret Zaki:https://www.youtube.com/watch?v=TLjq25_ayWM

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