quarta-feira, 20 de abril de 2016

Rússia e China - 2016 Como planejam enfrentar a guerra econômica dos EUA


Entreouvido na Vila Vudu:
Enquanto o senador Aloísio vai aos EUA prestar contas do golpe RIDÍCULO que o PSDB-Fiesp ainda tentam contra a democracia brasileira
e receber novas ordens do 
Kaganato do Excepcionalistão,
a blogosfera tem de cuidar ela mesma de entender o que realmente se passa.

A luta está só começando.
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Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Não há melhor exemplo de "guerra híbrida", que a guerra econômica e financeira que Washington faz contra Moscou.

Domingo, o Supremo Líder do Irã Ali Khamenei disse, em discurso na cidade santa de Mashhad que:

"Os norte-americanos não estão agindo como se comprometeram a agir no acordo nuclear iraniano; não fizeram o que têm obrigação de fazer. Segundo o ministro de Relações Exteriores [Javad Zarif], escreveram algumas coisas no papel, mas, por muitos meios diversionistas, impedem que se materializem os objetivos da República Islâmica do Irã."

Essas palavras do Supremo Líder no importante pronunciamento do Nowruz (Ano Novo) devem ser compreendidas como guia e farol: não são floreio retórico. E não foi simples 'cutucada' nos EUA (como alguns talvez suponham). Foi mais, isso sim, um alerta cuidadoso ao governo iraniano para que "não descuide" das possíveis consequências políticas.

O que está acontecendo é significativo: por seja qual for o motivo, o Tesouro dos EUA está dedicado a esvaziar de qualquer substância grande parte do que está previsto no Plano Conjunto de Ação Ampla [ing. Joint Comprehensive Plan of Action, JCPOA], mais conhecido como "o acordo para alívio das sanções contra o Irã" (e o motivo do que está em andamento merece atenção cuidadosa). O Supremo Líder também observou que o Irã está passando por dificuldades no processo de repatriar seus fundos que permanecem congelados no exterior.

Funcionários do Tesouro dos EUA desde o dia da "implementação", só fazem rodeios, alertando bancos europeus de que as sanções que EUA impuseram ao Irã permanecem válidas, e que os bancos europeus nem pensem, nem por um segundo, em agitar os mercados de dólar ou euro, para financiar o comércio com o Irã, ou envolver-se no financiamento de projetos de infraestrutura no Irã.

Os bancos compreendem bem a mensagem: toquem no comércio iraniano e vocês terão de pagar multa de 1 bilhão de dólares – sem enquadramento claro em termos de lei, e sem possibilidade de recurso – e sem discussão. Os bancos (compreensivelmente) estão-se afastando. Nenhum banco ou instituição financeira de empréstimos apareceu, quando o presidente Hassan Rouhani esteve em Paris para reuniões com a elite comercial local.

O influente jornal iraniano Keyhan escreveu, dia 14 de março, sobre esse assunto:

"Em sua fala à Assembleia Geral da ONU, em setembro, Rouhani disse que 'Hoje se iniciou uma nova fase nas relações do Irã com o mundo'. Disse também, em programa ao vivo, de rádio e TV com a população, dia 23 Tir [4º mês do calendário iraniano]: 'A implementação passo a passo desse documento pode remover lentamente as pedras do muro de desconfiança'."

Keyhan continua:
"Essas falas apareceram num momento em que o lado ocidental, com EUA à frente, não manifestavam qualquer intenção de remover, sequer de reduzir o muro de desconfiança entre o ocidente e o Irã. (...) Além disso, estão adiando a implementação dos compromissos que assumiram no 'acordo nuclear'. Levantar sanções permaneceu como mera promessa numa folha de papel, a tal ponto que já levantou protestos de políticos iranianos.
O lado norte-americano está promovendo condições de tal modo que hoje até bancos e empresas europeias temem restabelecer relações financeiras com o Irã – porque todos temem a reação dos EUA, sob a forma de sanções [impostas àqueles mesmos bancos]. Na verdade, o motivo para a demora no início da cooperação financeira entre bancos europeus e bancos iranianos é que muitas das sanções norte-americanas não foram levantadas, permanecem vigentes; e transações financeiras dos bancos iranianos ainda enfrentam restrições. Além do mais, dado o continuado medo de ferir leis e incorrer em penalidades por violar as velhas sanções dos norte-americanos, as instituições financeiras europeias continuam tão preocupadas quanto antes com não infringir sanções que permanecem vigentes (...)
"É inútil esperar que o governo dos EUA coopere com o Irã, se se consideram os comentários de funcionários do governo dos EUA, inclusive de Susan Rice [Conselheira de Segurança Nacional], porque os comentários e comportamento dos norte-americanos mostram que não cumprem, nem cumprirão, os compromissos que assumiram e falam do nenhum desejo político, no governo dos EUA, de que venham a ser implementadas sequer algumas mínimas das obrigações assumidas no acordo nuclear."

Aí, o jornal Keyhan refere-se especificamente a uma observação de Susan Rice, feita a Jeffrey Goldberg no Atlantic, quando disse que "O acordo iraniano jamais tratou, como tema básico, de abrir nova era de relações entre os EUA e o Irã. O objetivo sempre foi tornar menos perigoso um país perigoso. Ninguém jamais teve qualquer esperança de que o Irã se converteria em ator mais benigno."

Keyhan continua:
"Qualquer ação no cenário internacional, exige reação adequada e proporcional. Portanto, não podemos esperar que governo como o dos EUA, que apanha qualquer mínima oportunidade para limitar o Irã, venha a levantar as sanções. Os recentes comentários de Rice não passam de pequena parte da retórica cada vez mais de oposição ao Irã, entre os funcionários do governo dos EUA. São comentários que devem, isso sim, ser tomados como sinal (...) de que o sonho do Acordo do Irã com os EUA não passa de sonho distorcido pelo desejo de paz e muito distante da realidade."

A mensagem do Supremo Líder foi endereçada, pois, aos ouvidos do governo do Irã: que não invistam muito, em termos de política, no acordo com os EUA. Prestem atenção, porque os pilares daquele acordo podem estar postos sobre areia.

Preocupações com a "Bala de Prata" nem tão eficaz...

Recentemente, o secretário do Tesouro dos EUA Jacob Lew fez uma conferência na Carnegie sobre a Evolução das Sanções e Lições para o Futuro, sobre a qual David Ignatius comentou:

"Sanções econômicas viraram a 'bala de prata' da política externa dos EUA na última década, porque são baratas e mais efetivas para forçar adversários, que o tradicional poder militar. Mas Jack Lew alerta contra um 'risco de uso exagerado' que pode inverter a direção das sanções como arma, e ferir os EUA. Esse alerta contra o uso exagerado surge no momento em que alguns membros Republicanos do Congresso lutam para manter as sanções dos EUA contra o programa nuclear iraniano, apesar do acordo do ano passado que já limita essa ameaça iraniana."

O que, afinal, se passa aqui? Se Lew alerta contra efeito não desejado das sanções, por que, então, precisamente o departamento que ele dirige insiste em minar qualquer tentativa de reduzir as sanções contra o Irã – "especialmente porque o ponto principal de Lew é que as sanções nunca funcionarão se os países não obtiverem a remoção que lhes tenha sido prometida, logo que aceitem as demandas dos EUA" na paráfrase do próprio Ignatius?

Uma das razões para essa aparente contradição implícita nos comentários de Lew é, provavelmente, a China: lembrem que quando os mercados chineses de ações estavam em queda livre e consumindo moedas estrangeiras a rodo para segurar o yuan, a China culpou o Fed-EUA (Banco de Reserva dos EUA) pelas dificuldades que enfrentava – e imediatamente foi ridicularizada por ter feito acusação tão "estranha".

Na verdade, o que o Fed estava fazendo naquele momento era declarar sua intenção de aumentar as taxas de juros (sempre, claro, pelos mais nobres dos motivos!) – como Goldman Sachs tem alertado. Os lucros das corporações e dos bancos estão despencando, e "em tempos de depleção financeira", como ensina o velho ditado, "prioridade é trazer o capital para casa" – e dólar forte gera precisamente esse resultado. 

Mas o Banco do Povo da China, BPC [ing. Peoples' Bank of China, PBOC) fez mais do que só reclamar de ações do Fed e reagiu: deixou que o yuan caísse, o que desencadeou tumultos em todo o mundo financeiro (já preocupado com o desaquecimento da economia chinesa); em seguida elevou o valor do yuan para conter a especulação, apostando em novas quedas do yuan; e deixou que o yuan caísse novamente, enquanto os comentários do Fed iam tomando o rumo de aumentos nos juros e dólar forte – até que, finalmente, como Zero Hedge observou:

"E, como Janet [Yellen, desde 1/1/2014 presidenta do Fed] fez o que a China esperava que fizesse, o Banco do Povo da China, BPC, conseguiu que o yuan alcançasse a posição mais forte em que jamais estivera desde 2005!! 
Parece que a mensagem do Banco do Povo da China ao Fed foi bem entendida. Depois de atendido o desejo dos falcões de enfraquecer o yuan (o que 'reconhecia' que a China, sim, pode gerar tumulto), Janet Yellen 'indicou' que as condições globais atropelavam o conselho de bancos como o Goldman Sachs na direção de fortalecer o dólar]. E então a China 'deixou' que o yuan se recuperasse. Uma vez que as coisas sempre podem piorar para todos os envolvidos, por piores que estejam, os três dias da mais firme sequência de fortalecimento do yuan desde 2005 também empurraram o yuan de volta ao ponto relativamente mais alto em que jamais estivera desde agosto de 2014. – O que mais uma vez mostrou e demonstrou o incansável empenho dos chineses, sempre contra jogadinhas sórdidas de especulação."

Em resumo, a "bala de prata" da política exterior dos EUA (as guerras do Tesouro dos EUA contra qualquer potencial competidor contra a hegemonia política ou financeira dos EUA) está já enfrentando crescente guerra "híbrida" financeira de resistência, exatamente como a OTAN tem reclamado – de que tem sido obrigada a ajustar-se a uma guerra convencional "híbrida", pelos inimigos tipo Rússia.

Tudo isso para dizer que, sim, quanto mais os EUA tentam impor-se e expandir o próprio alcance (por exemplo, pretendendo que teriam jurisdição legal sobre o Banco da China, e metendo na lista negra das sanções uma das maiores empresas de telecom da China, o que implica proibir as empresas norte-americanas de negociarem com a ZTE da China), mais a China reage e responde. Até agora, os chineses já demonstraram sobejamente que as "balas de prata" do Tesouro dos EUA podem não ser suficientes (Zerohedge: Crushing shorts as Yuan forwards collapse back to their 'richest' relative to spot since Aug 2014).

Esse, nos parece, pode ter sido o ponto que Lew quis reforçar – dirigido possivelmente ao Congresso, que está, pode-se dizer, cego de paixão por sua nova "bomba de nêutrons" (na expressão de um funcionário do Tesouro dos EUA, falando dessa nova arma de guerra geofinanceira).

Quanto à Rússia, é importante: Rússia e EUA parecem estar caminhando na direção de uma "grande barganha" pela Síria (e talvez também pela Ucrânia), que provavelmente envolverá levantar até meados de 2016, as sanções europeias impostas contra a Rússia. Mas, mais uma vez, o mais provável é que os EUA mesmo assim mantenham as próprias sanções (ou até inventem novas, como querem alguns congressistas).

Por tudo isso, se a Rússia, como o Irã e a China, se desencantar completamente e deixar de acreditar em promessas dos EUA sobre afrouxamento das sanções –, nesse caso, como observou o analista do jornal Keyhan, o mundo deve começar a esperar reação proporcional (quer dizer, da Rússia contra os EUA) e adequada.

O efeito bumerangue 

O que o Fed e Lew parecem ter afinal compreendido é que as economias dos EUA e europeias são hoje tão, tão, vulneráveis e voláteis, que China e Rússia podem realmente reagir pesadamente contra os EUA – especialmente nos pontos em que China e Rússia ajam em coordenação estratégica. A própria Yellen já apresentou especificamente, como razões para explicar que o Fed tenha voltado atrás, "o menor crescimento mundial" e "menor confiança na renormalização do processo".

Por ironia histórica, David Ignatius expõe inadvertidamente todo o argumento em seu artigo , embora em outra discussão:

"O poder dos EUA flui de nossa potência militar, sim, sem dúvida. Mas em sentido mais profundo, é efeito de os EUA dominarem a economia mundial. Qualquer coisa que amplie o alcance dos mercados dos EUA – como o Tratado da Parceria Trans-Pacífico, para o comércio, por exemplo –, é mais uma arma que se acrescenta ao arsenal bélico dos EUA. 
Na direção inversa, o poder dos EUA é sempre limitado por medidas que empurrem os negócios para longe dos EUA, ou que permitam que outras nações construam arquitetura financeira concorrente e menos controlável por sanções, mesmo que se trate de uma montanha de sanções."

Esse último ponto é, precisamente, o que está assustando Lew e Ignatius [e todo o tucanato privateiro com sede na Fiesp & Pato Cego, de quem Aluísio é limpa penico e menino de recados (NTs)]. 

As mesas já estão viradas: na verdade, EUA e Europa podem estar-se tornando, isso sim, mais vulneráveis à retaliação (por exemplo, como já se vê na Europa, contra cujos itens agrícolas de exportação a Rússia já impôs sanções de retaliação); mais vulneráveis, pelo menos, que China e Rússia – alvos da guerra financeira econômica unilateral que lhes movem ou o Tesouro dos EUA, ou o Fed.

Essa é a nova guerra híbrida (e não o bafo que a OTAN vive de lançar ao vento). Lew e Ignatius sabem que está já em construção uma "arquitetura financeira concorrente e menos controlável por sanções". Quanto mais o Congresso dos EUA deixar-se guiar pela doença das sanções, mais apressará o trabalho da nova construção e o início das operações.

Assim sendo, porque o Tesouro dos EUA tanto se aplica no serviço de minar a efetividade do Tratado 'nuclear' do Irã, nos itens em que formaliza o fim das sanções contra o Irã? Provavelmente, porque o Irã [nesse sentido, também o Brasil-2016 (NTs)] tem menos força de alavancagem sobre o sistema financeiro global, que China ou Rússia. Mas também, talvez, porque "as sanções contra o Irã" são ainda vistas (erradamente) e apresentadas pelos líderes norte-americanos como se fossem "as joias da Coroa" do 'sucesso' geofinanceiro deles mesmos.

O que falta nessa interpretação do mundo tão cheia de húbris e arrogância é compreender que a experiência do Irã será incorporada e reaproveitada em todo o sul global e, claro, será analisada em reuniões futuras da Organização de Cooperação de Xangai. E os saberes assim construídos serão incorporados como novos recursos para resistir contra novas operações de "revoluções coloridas" em todo o ocidente (esse ano, muito provavelmente, o Irã será incorporado à OCX já como membro, não como observador).******

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