quarta-feira, 20 de julho de 2016

Derrota do golpe apressa mudanças na política externa turca

19.07.2016, Moon of Alabama


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Os expurgos do pós-golpe prosseguem na Turquia. O governo Erdogan está demitindo todos os funcionários públicos que possam – apenas isso: que possam – discordar ou vir a discordar de suas políticas. Hoje, o ministério da Educação suspendeu 15.200 professores e trabalhadores da Educação. As licenças de 21 mil professores de escolas privadas foram revogadas. A Comissão de Educação Superior requereu que 1.577 reitores de universidades renunciassem. O Diretorado de Assuntos da Religião demitiu 492 pessoas, incluindo imãs e muftis. No mesmo pós-golpe, o gabinete do primeiro-ministro turco demitiu 257 funcionários. O serviço secreto turco, MIT, suspendeu cerca de 130 dos próprios espiões. No total, cerca de 50 mil pessoas até agora já foram suspensas, demitidas ou detidas. A maioria nada teve a ver com o golpe gorado contra o governo.

Essas perdas de conhecimento e experiência, e o medo dos que permanecem por enquanto, com certeza terão impacto negativo sobre o funcionamento do governo turco e seus serviços de segurança. A Turquia vai-se dobrar sobre ela mesma, e Erdogan vai servir-se da sua atual alta popularidade para reformatar a sociedade à sua imagem.

Os caros planos e projetos turcos na Síria e no Iraque serão cortados. Já se viam sinais disso desde antes do golpe ser lançado e derrotado. (De fato, há quem sugira que essas mudanças foram uma das razões do golpe.) O golpe reforçará e apressará as mudanças na política externa da Turquia.

A Turquia já retirou as forças militares que mantinha ilegalmente estacionadas em Bashiqa perto de Mosul no Iraque. Antes, os governos do Iraque e da Rússia haviam protestado contra essas forças em território iraquiano, mas sem qualquer resultado. Agora, já se retiraram silenciosamente. A agência iraniana de notícias FARS, nem sempre totalmente confiável, noticiou ontem que todos os agentes turcos na província de Aleppo na Síria foram chamados de volta à Turquia. Durante o evento do golpe, aconteceu algo de estranho a uma importante pessoa:

O mais alto oficial do contraterrorismo, responsável pela campanha da Turquia contra o Estado Islâmico foi a uma "reunião" no palácio presidencial em Ankara. Foi encontrado mais tarde com as mãos amarradas às costas, morto com um tiro no pescoço, segundo um alto funcionário.

Alguém se serviu do golpe para dar cabo do mais alto contato turcos-ISIS. Muito conveniente. É a única baixa noticiada no palácio presidencial de que ouvi falar. Quem teria interesse em remover essa testemunha das relações entre turcos e ISIS? Pode ser alguma espécie de queima de arquivos, antes de os turcos ficaram gentis com Síria e os aliados dela? Há um segundo ponto que deve ter o mesmo tipo de motivação. O governo de Erdogan pôs-se agora a acusar "Gülenistas" pelas dificuldades com a Rússia e diz que o piloto que derrubou um jato russo é parte do golpe. Outra pessoa que estaria no caminho de melhores relações com o Rússia já foi portanto desaparecida da pintura diplomática.

A Rússia, assim como o Irã apoiaram em altas vozes o governo Erdogan contra os conspiradores golpistas. Erdoganrespondeu à altura:
Sam Tamiz @SamTamizNo telefonema de Rouhani a Erdogan ontem, Erdogan disse #Turquia dedicada a 'unir as mãos' com #Irã & #Rússia para resolver os conflitos regionais.
No início de agosto, Erdogan e Putin vão-se encontrar pessoalmente, Todas essas pistas sugerem nova direção nas políticas externas da Turquia. Aí precisamente está uma das três preocupações do Ocidente quanto à Turquia, a saber "a deriva ideológica da Turquia afastando-se do ocidente"."

O ex-coronel turco Hasan Atilla Ugur, em entrevista a um site de notícias iraniano, disse que o golpe foi dado por Gülenistas dirigidos pela CIA para impedir essa mudança na política exterior turca e a deriva na direção de Irã e Rússia. (O pregador Fetullah Gülen, acusado de orquestrar o golpe é conhecido por ser ferozmente anti-Irã.)

Porta-voz confiável de Erdogan, o mais ou menos lunático editor-chefe de YeniSafak, İbrahim Karagül, acusa os EUA de tentativa de assassinato contra Erdogan:
"Estou dizendo alto e claro:O governo dos EUA planejou diretamente para assassinar o presidente da República da Turquia e implementar esse plano. A operação que visava a martirizar o presidente Recep Tayyip Erdoğan em Marmaris foi ativada mediante terroristas de Gülen, uma equipe de assassinato.
Repito: O ataque que visava a martirizar Erdoğan foi planejado pelos EUA, nos EUA, diretamente com terroristas de Gülen, e eles deram as instruções.
A Grande Assembleia Nacional da Turquia foi bombardeada por um esquizofrênico que vive sob proteção dos EUA. Bombardear o Parlamento do povo é declarar guerra contra o povo. Esse ataque, mais que nenhum outro na história, é obra de terroristas de um homem protegido pelos EUA."


Que Erdogan afaste-se do "ocidente" e na direção de Irã e Rússia não significa ainda paz para a Síria. É preciso algum tempo para que Erdogan complete o movimento. Será difícil e exigirá meses neutralizar todas as forças fanáticas que a Turquia introduziu 'por procuração' no campo de batalha. Haverá resistência na Turquia contra sair da Síria. 

Alguns dos "rebeldes moderados" sírios desviarão a própria fúria na direção da própria Turquia, como o Estado Islâmico já fez. Os EUA, claro, continuação a intervenção, não importa o que aconteça. O mais importante é que essa mudança de atitude em Ankara é boa notícia para Damasco.

Se Erdogan quer separar-se do reino ocidental e obter apoio de seus vizinhos orientais, terá de pagar um preço. Paz na Síria é parte desse preço, no qual Irã, Rússia e China insistirão.

Na 4ª-feira haverá reunião do Conselho Turco de Segurança Nacional, depois da qual haverá um importante comunicado. O que será? Turquia deixará a OTAN? Ou será coisa menos importante?*****





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