domingo, 24 de julho de 2016

Prensa Latina entrevista o Pres. Bashar Al-Assad da Síria

21/7/2016, Prensa Latina, Cuba


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Damasco, 21 de julho (Prensa LatinaPrensa Latina distribuiu a íntegra da entrevista exclusiva com o presidente da Síria Bashar Al Assad:

Prensa Latina: Sr. Presidente, obrigado por dar a Prensa Latina de Cuba a oportunidade histórica de transmitir o seu ponto de vista ao resto do mundo sobre a realidade na Síria. Como o senhor sabe, há muita desinformação sobre o seu país, sobre a agressão estrangeira que seu belo país está sofrendo.

Sr. Presidente, como o senhor avalia a situação militar atual da agressão externa contra a Síria, e quais os principais desafios das forças sírias em campo, para combater os grupos anti-governamentais? Se for possível, gostaríamos de saber sua opinião sobre as batalhas ou combates em Aleppo, em Homs.

Presidente Assad: Claro, os terroristas receberam muito apoio, de todo o mundo. Temos mais de cem nacionalidades que participam na agressão contra a Síria, com o apoio de certos países como a Arábia Saudita e Qatar com o seu dinheiro e da Turquia, com o apoio logístico e, claro, com o aval e supervisão dos países ocidentais, principalmente os Estados Unidos, França e Reino Unido, e alguns outros aliados.

Mas desde que os russos decidiram intervir no apoio legal ao Exército Sírio na luta contra os terroristas na Síria, principalmente contra a Frente al-Nusra e o ISIS e alguns outros grupos afiliados, os resultados têm pendido contra os terroristas, e o Exército Sírio tem feito muitos avanços em diferentes áreas na Síria.

E ainda estamos avançando, e o Exército Sírio está determinado a destruir e derrotar aqueles terroristas. O senhor mencionou Homs e Aleppo.

Claro, a situação em Homs, uma vez que os terroristas deixaram Homs há mais de um ano, a situação tem sido muito, muito melhor, mais estável.

Têm-se alguns subúrbios da cidade que foram infiltrados por terroristas. Agora, há um processo de reconciliação nas áreas em que ou os terroristas depõem armas e voltam à vida normal com a anistia que o Estado lhes garante, ou podem deixar Homs e mudar-se para qualquer outro lugar dentro da Síria, como o que aconteceu há mais do que um ano, no centro da cidade.

Para Aleppo é uma situação diferente, porque os turcos e seus aliados, como os sauditas e cataris perderam quase todos seus trunfos nas batalhas na Síria. De tal modo que o último trunfo que lhes resta, especialmente para Erdogan, é Aleppo.

É por isso Erdogan trabalhou duro com os sauditas para enviar o máximo que pudessem de terroristas – estimamos que tenham sido enviados mais de cinco mil terroristas – para Aleppo.

Prensa Latina: Através das fronteiras turcas?

Presidente Assad: Sim, da Turquia para Aleppo, durante os últimos dois meses, a fim de recapturar a cidade de Aleppo. E não funcionou.

Na verdade, o nosso exército tem feito avanços em Aleppo e nos subúrbios de Aleppo, a fim de cercar os terroristas. E depois, digamos, ou negociar a volta deles à vida normal, como parte da reconciliação, ou que os terroristas abandonem a cidade de Aleppo, ou que sejam derrotados. Não há outra solução.

Prensa Latina: Sr. Presidente, quais são as prioridades do Exército Sírio no confronto com os grupos terroristas? Qual o papel dos grupos populares de defesa, no teatro de operações?

Presidente Assad: A prioridade do Exército Sírio é, antes de tudo, derrotar o ISIS, a Frente al-Nusra e Ahrar al-Cham, e Jaish al-Islam. Estas quatro organizações são diretamente ligados à Al Qaeda, pela ideologia; todos têm a mesma ideologia, são grupos extremistas islâmicos que querem matar qualquer um que não separeça, ou não se sinta igual a eles, ou não se comporte como eles.

Mas sobre o que o senhor chamou de grupos de milícias populares, na verdade, no início da guerra, os terroristas começaram uma guerra não convencional contra o nosso exército e nosso exército é exército tradicional, como qualquer outro no mundo. Por isso o apoio daquelas milícias populares de defesa foi muito importante, para derrotar terroristas naquele confronto não convencional.

Elas foram muito úteis para o Exército Sírio, porque aqueles combatentes, aqueles lutadores nacionais, lutam em suas regiões, nas suas cidades, nas suas aldeias, e, claro, conhecem a área muito bem, quero dizer, as vias , o terreno, conhecem tudo isso muito bem.

Assim, podem ser ativos importantíssimos para o Exército Sírio. É o papel deles.

Prensa Latina: Sr. Presidente, como a resistência do povo sírio se dá na frente econômica, ante a agressão externa? Falo da economia, e por favor, qual é a sua opinião sobre que setores da economia síria permaneceram funcionando apesar da guerra, do bloqueio econômico, saques e tudo mais?

Presidente Assad: Na verdade, a guerra contra a Síria é guerra total, não se trata só de apoiar terroristas. Eles apoiam os terroristas e, ao mesmo tempo lançaram uma guerra política contra a Síria no plano internacional. E o terceiro front foi o front econômico. Mandaram seus terroristas, seus mercenários de aluguel, para começar a destruir a infraestrutura na Síria da qual depende a economia e o atendimento das necessidades diárias dos cidadãos sírios.

Ao mesmo tempo, eles começaram um embargo diretamente sobre as fronteiras da Síria, servindo-se dos terroristas; e no exterior, servindo-se dos sistemas bancários em todo o mundo. Apesar disso, o povo sírio manteve-se determinado a viver a vida mais normal possível.

Muitos empresários sírios ou os proprietários, digamos, de indústrias, que na Síria são médias e pequenas indústrias, foram forçados a mudar-se das zonas de conflito instáveis, para áreas mais estáveis, em menor escala do negócio, para sobreviver e para manter a economia funcionando, atendendo as necessidades do povo sírio.

Assim, posso deizer que a maioria dos setores ainda estão trabalhando. Por exemplo, mais de 60% do setor farmacêutico ainda está trabalhando, o que é muito importante, útil, e muito favorável à nossa economia em tais circunstâncias.

E eu acho que agora nós estamos fazendo nosso melhor para re-expandir a base da economia, apesar da situação, especialmente depois que o Exército Sírio fez muitos avanços em diferentes áreas.

Prensa Latina: Sr. Presidente, falemos um pouco sobre o ambiente internacional. Dê-me sua opinião, por favor, sobre o papel da ONU no conflito sírio, as tentativas de Washington e seus aliados para impor sua vontade sobre o Conselho de Segurança e nas conversações de paz de Genebra.

Presidente Assad: Falar do papel da ONU ou do Conselho de Segurança pouco acrescenta, porque, na verdade, a ONU é agora um braço norte-americano, que os EUA podem usar como queiram, podem impor ali seus seus padrões duplos, mesmo que desrespeitem a Carta da ONU.

Eles podem usá-lo como qualquer outra instituição no âmbito do próprio governo norte-americano. Sem algumas posições russas e chinesas em certas questões, a ONU e o CS seriam instituições completamente norte-americanas.

Assim, russos e chineses têm imposto lá algum equilíbrio, principalmente em relação à questão da Síria, nos últimos cinco anos. Mas se o senhor quiser falar sobre o papel dos mediadores ou enviados, como recentemente de Mistura e, antes, de Kofi Annan, e entre eles, Brahimi, e assim por diante... Digamos que esses mediadores não são independentes; eles refletem ou a pressão dos países ocidentais, ou às vezes o diálogo entre as principais potências, principalmente Rússia e EUA.

Não são independentes, de modo que o senhor não pode falar de papel da ONU; é um reflexo desse equilíbrio. Por isso, até agora a ONU não teve papel algum no conflito sírio; há apenas o diálogo entre russos e americanos. Sabemos sim que os russos estão trabalhando duro e sério e honestamente, a fim de derrotar os terroristas. E os norte-americanos, enquanto os americanos sempre tentar jogadas, querendo usar os terroristas, não derrotá-los.

Prensa Latina: Sr. Presidente, como o senhor vê no presente momento a convivência entre grupos étnicos e religiosos da Síria contra esta intervenção estrangeira? Como podem contribuir ou não a este respeito?

Presidente Assad: O mais importante sobre esta harmonia entre os diferentes espectros do tecido da Síria, é que ele é genuíno, porque foi construído ao longo da história, através dos séculos. Assim sendo, esse conflito não pode destruir o tecido social .

É por isso que se o senhor anda pelo país e visita diferentes áreas sob controle do governo, o senhor verá todas as cores da sociedade síria que convivem em harmonia umas com outras.

E eu diria, gostaria de acrescentar que durante o conflito, essa harmonia tornou-se muito melhor e mais forte. E não é retórica; é a realidade, por diferentes razões, porque este conflito é uma lição.

Esta diversidade que se tem é ou uma riqueza para o seu país, ou um problema. Não há meio termo. Então, as pessoas aprenderam que é preciso trabalhar mais a favor dessa harmonia, porque a primeira retórica utilizada pelos terroristas e aliados na região e no Ocidente a respeito do conflito sírio, foi a retórica do sectarismo.

Eles queriam dividir as pessoas, criar conflitos de todas com todas, incendiar a Síria. Mas não funcionou. E os sírios aprenderam a lição. Viram que, antes, havia harmonia; que tivemos harmonia antes do conflito, nos tempos normais; mas que seria preciso trabalhar mais para reforçar aquela harmonia. 

Então, posso dizer sem exagero que a situação quanto a isso é boa. Mesmo assim eu diria que, nas áreas sob controle dos terroristas – principalmente grupos extremistas afiliados à Al Qaeda – eles trabalharam muito na doutrinação dos mais jovens; e conseguiram, algumas áreas, divulgar aquela ideologia obscura e sinistra.

Quanto mais tempo passe, mais difícil lidar com esta nova geração de jovens que foram doutrinados com doutrina e ideologia de Al-Qaeda e wahhabismo. Portanto, este é o único perigo que nossa sociedade enfrenta, para manter a harmonia e a boa convivência que o senhor acabou de mencionar.

Prensa Latina:Sr. Presidente, gostaria de ir novamente para a arena internacional. Na sua opinião, qual é o papel da coalizão internacional liderada pelos EUA, no trato com os grupos que operam no norte da Síria, em particular em relação aos curdos. Aviões americanos e da coalizão têm bombardeado o norte do país. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Presidente Assad: O senhor sabe. Tradicionalmente, os governos norte-americanos quando têm relações com qualquer grupo ou comunidade em qualquer país, nunca é para o bem do país, com vistas a atender interesses do povo: trata-se, sempre, da agenda dos EUA.

Então, o que temos de nos perguntar é: por que exércitos norte-americanos apoiariam algum grupo na Síria? Para ajudar a Síria não é. Devem ter agenda deles, e a agenda dos EUA sempre opera para dividir qualquer país. Não trabalham para unir povos: trabalham para promover divisões entre diferentes tipos de pessoas.

Às vezes, escolhem um grupo sectário; às vezes, um grupo étnico, a fim de apoiá-los contra outras etnias ou para empurrá-los de tal modo que se afastem do resto da sociedade.

Esta é a agenda dos EUA. Então, é muito claro que este apoio norte-americano não está relacionado com o ISIS, não está relacionada com a al-Nusra, não está relacionada com a luta contra o terrorismo, porque desde o início da intervenção americana, ISIS estava se expandindo, e não diminuindo. Ele só começou a diminuir quando o apoio russo para o Exército Sírio ocorreu em setembro passado. 

Prensa Latina: Sr. Presidente, qual sua opinião sobre o recente golpe de Estado na Turquia, e seu impacto sobre a atual situação no país, no plano internacional e no conflito sírio?

Presidente Assad: Temos de olhar para aquela tentativa de golpe como um reflexo da instabilidade e perturbações dentro da Turquia, principalmente no nível social. Poderia ser instabilidade política, poderia ser qualquer outra coisa, mas no final, a sociedade é a questão principal quando o país enfrenta instabilidade.

Independentemente de quem vai governar a Turquia, que vai ser o presidente, que vai ser o líder da Turquia; esta é uma questão interna. Os sírios não interferimos. Não cometemos o erro de dizer que Erdogan deve ir ou deve ficar. Esta é uma questão turca, e o povo turco tem de decidir.

Prensa Latina:Sr. Presidente, como o senhor avalia as relações do governo sírio com a oposição dentro da Síria? Qual é a diferença entre estas organizações da oposição e as outras, que têm base fora da Síria?

Presidente Assad: Temos boas relações com a oposição dentro da Síria com base nos princípios nacionais. Claro, eles têm agenda política própria e suas próprias crenças, e nós temos nossa própria agenda e nossas crenças. O modo que há para dialogar é ou diretamente ou por meio das urnas. Votar é uma forma diferente de diálogo, conforme a situação em cada país.

Mas não podemos comparar a oposição síria que vive aqui e outros, supostos de oposição que não vivem aqui. "Oposição" significa convivência e implica recurso a meios pacíficos para superar diferenças. Não se pode dizer que os terroristas sejam 'oposição'. 

Ninguém que viva no Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido, na França, no Qatar e na Arábia Saudita ou nos EUA pode pretender que seria oposição ao governo da Síria. Não são grupos de oposição: são traidores.

A oposição real são as pessoas e grupos que trabalham para o povo sírio e vivem na Síria e sua agenda. Podem tem projetos diferentes, mas são atentos aos interesses dos sírios.

Prensa Latina:Sr. Presidente, como o senhor avalia a insistência dos EUA e seus aliados, de que o senhor deixe o poder? E a campanha para distorcer a imagem do seu governo?

Presidente Assad: No que diz respeito à vontade deles de que eu deixe o poder, sim, querem muito, e não falaram de outra coisa nos últimos cinco anos. Nunca respondemos, nem uma linha.

Nós nunca nos preocupamos com eles. Todas essas são questões sírias e só o povo sírio pode dizer quem deve ir ou ficar ou deixar o governo. O ocidente conhece perfeitamente nossa posição sobre isso.

Estou onde estou porque essa é a decisão do povo sírio. Se o povo sírio não quisesse, eu não estaria aqui. Isso é muito simples.

Quanto a eles difamarem ou tentarem demonizar certos presidentes, esta é a maneira americana, pelo menos desde a segunda Guerra Mundial. Como se os EUA tivessem substituído a colonização britânica nesta região, e talvez no mundo. Os governos norte-americanos e os políticos dos EUA jamais disseram uma única palavra honesta sobre qualquer coisa.
Sempre mentem. E o tempo passa, e eles estão-se tornando mais inveterados mentirosos. É parte da política deles. Tentam demonizar o presidente da Síria como tentaram demonizar o presidente Vladimir Putin, durante os últimos dois anos. Também fizeram o mesmo com o líder cubano Fidel Castro durante as últimas cinco décadas.

Esta é o jeito deles. Temos de saber que esse é o modo norte-americanos. Não nos preocupamos com isso. O que importa é ter boa reputação e nome honrado para o próprio povo. Só temos de nos preocupar com isso.

Prensa Latina: Sr. Presidente, qual sua avaliação das relações da Síria com a América Latina, em particular os laços históricos com Cuba?

Presidente Assad: Apesar da longa distância entre a Síria e a América Latina, sempre me surpreendo com o quanto as pessoas na América Latina, não só os políticos, sabem sobre nossa região. Há muitas razões para isso. Uma delas são as semelhanças históricas entre nossa região, entre Síria e América Latina.

A América Latina viveu sob a ocupação direta há muito tempo, mas depois passou a viver sob a ocupação das empresas americanas, dos golpes de Estado promovidos pelos EUA e sob intervenção norte-americana.

Quero dizer que os latino-americanos conhecem o que é ser independente ou não ser independente. Por isso entendem que a guerra na Síria é guerra de independência.

Mas o mais importante da América Latina é Cuba e o papel de Cuba. Cuba foi a ponta de lança do movimento de independência na América Latina, e Fidel Castro foi a figura emblemática nesse sentido.

Assim, no nível político e o nível de conhecimento, há uma forte harmonia entre Síria e na América Latina, especialmente Cuba. Mas entendo que ainda temos de trabalhar muito para melhorar a outra parte da relação; para estar no mesmo nível do que Cuba conseguiu no plano da educação dos cidadãos e no plano econômico.

Foi meu modelo e era minha aspiração antes da crise. Por isso visitei a América Latina, Cuba, Venezuela, Argentina e Brasil, para revigorar nossas relações. Mas em seguida começou este conflito, que foi grande obstáculo a todos os nossos planos. Mas entendo que temos de ampliar nossas relações para além do plano político e histórico. Todos temos de conhecer melhor uns os outros. 

Creio firmemento que, se superarmos a crise em que nos debatemos e essa guerra que os sírios não procuramos, chegará o momento de dinamizar os diversos setores desta relação com a América Latina e especialmente com Cuba.

Prensa Latina: Sr. Presidente, gostaria de conhecer sua opinião sobre o processo eleitoral nos Estados Unidos, principalmente a eleição presidencial. Agora são dois candidatos, o republicano sr. Donald Trump e a democrata sra. Hillary Clinton. Qual sua opinião sobre esse processo, sobre o resultado deste processo e como ele pode afetar o conflito aqui na Síria?

Presidente Assad: Retomamos nossa relação com os Estados Unidos em 1974. São 42 anos e testemunhamos muitos presidentes norte-americanos em diferentes situações. A lição que aprendemos é que ninguém deve apostar em nenhum presidente americano. O nome faz pouca diferença.

Eles têm instituições, têm sua própria agenda e todos os presidentes vêm para implementar sua agenda à sua própria maneira. No final, é disso que se trata. 

Todos eles têm agendas militaristas. Só muda o caminho. Um manda o próprio exército, como Bush; outro contrata mercenários e 'procuradores' locais, que lutam 'por procuração', como Obama. Mas todos eles têm de implementar a tal agenda.

Não acredito que o presidente dos EUA tenha autonomia para fazer valer as suas próprias convicções políticas. Ele tem de obedecer às instituições e aos lobbies, e os lobbies não mudam e a agenda das instituições não muda.

Assim, nenhum presidente aparecerá capaz de promover mudança séria e dramática na política dos EUA.

Prensa Latina: Sr. Presidente, para encerrar: que mensagem o senhor envia, servindo-se dessa entrevista com à Prensa Latina de Cuba, aos governos e aos povos da América Latina, no Caribe, e também, por que não?, ao povo norte-americano, sobre a importância de apoiar a Síria contra o terrorismo ?

Presidente Assad: A América Latina é exemplo muito bom e importante, para todo o mundo, de como povos e governos podem recuperar a independência.

Os EUA os veem como se fossem 'o quintal dos EUA, onde os EUA habituaram-se a jogar suas próprias jogadas, para implementar a própria agenda. As pessoas na América Latina sacrificaram muito a fim de recuperar a independência e todos sabem disso.

Depois de recuperar a independência, os países deixaram de ser países em desenvolvimento, ou países, por vezes, subdesenvolvidos e começaram a crescer e a desenvolver-se. A independência é valor muito caro a todos os cidadãos da América Latina.

Entendemos que cabe aos latino-americanos manter essa independência, porque os Estados Unidos não vão parar de tentar derrubar todo e qualquer governo independente, qualquer governo que manifeste a vontade e os interesses da maioria das pessoas em todos os países da América Latina.

E mais uma vez, Cuba sabe disso, sabe do que estou falando mais do que qualquer outro povo no mundo. O povo cubano sofreu mais do que qualquer outro as tentativas americanas, mas conseguiu resistir a todas estas tentativas durante os últimos 60 anos ou mais, exclusivamente porque governo cubano manifestava o desejo e a visão do povo cubano.

Assim, entendo que o mais importante é garantir firmemente esta independência. É o mais importante, o mais crucial para o futuro da América Latina. 

Em relação à Síria, podemos dizer que a Síria está pagando o preço de sua independência, porque nunca trabalhou contra os Estados Unidos; nós nunca trabalhamos contra a França ou o Reino Unido. Sempre tentamos ter boas relações com o Ocidente.

Mas o problema é que eles não aceitam país independente. Acho que acontece o mesmo com Cuba. Os cubanos jamais tentaram fazer qualquer mal para o povo americano, mas o governo dos EUA é incapaz de aceitar país independente, seja qual for.

O mesmo vale para outros países da América Latina, e daí vê os golpes de Estado, como nos anos sessenta e setenta.

Entendo, portanto, que preservar a independência de um determinado país nunca é caso isolado; se eu quiser ser independente, tenho de apoiar a independência no resto do mundo. Assim, a independência em qualquer lugar do mundo, incluindo a América Latina, dará forças à minha independência. Se estiver sozinho, serei fraco.

Todos podem apoiar a Síria, principalmente, na arena internacional. Existem muitas organizações internacionais, principalmente as Nações Unidas, apesar da sua impotência. Mas seja como for, o seu apoio de cada país sempre será vitalmente importante, também, claro, no Conselho de Segurança; depende de quem seja o membro temporário do Conselho de Segurança. Toda e qualquer qualquer outra organização de apoio a Síria sempre será muito importante.

Prensa Latina: Sr. Presidente, sabemos que o senhor é muito ocupado. Agradecemos encarecidamente o tempo que os senhor dedicou à Prensa Latina de Cuba.

Presidente Assad: O senhor é bem-vindo sempre.

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