terça-feira, 13 de setembro de 2016

Prepostos dos EUA e rivalidades regionais, por James Petras

11/9/2016, Prof. James Petras, Global Research, Canadá


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


"[Os prepostos latino-americanos dos EUA] são meros predadores, sem as indispensáveis competências históricas para empreender – que sempre houve no Japão e na disciplinada ideologia nacionalista dos turcos."

Mêo! É a cara dos Cerras&Meirelles&Cunhas&Temers&Parente! 
É a caras dos felásdaputa! [Pano rápido]




O império dos EUA depende do apoio de regimes regionais, sobretudo no Oriente Médio, Ásia e América Latina. Esses regimes prepostos dos EUA cumprem úteis funções militares de baratear e facilitar o controle sobre regiões vizinhas, populações e território.

Mas, em tempos recentes, temos visto que aqueles mesmos prepostos começam a desenvolver tendências próprias, na direção de políticas expansionistas – interessados em erguer mini-impérios só seus.

Regimes clientes dos EUA, com ambições locais ou regionais apresentam a Washington sempre novos pontos de disputa. Num momento em que o império dos EUA viu-se forçado a retroceder ou retirar-se, dadas as prolongadas e repetidas perdas militares que vem sofrendo, emergiram inúmeros importantes novos conflitos. 

Novas zonas de guerras pós-imperiais

Com frequência, regimes clientes do império tomam a iniciativa e confrontam, eles mesmos seus adversários regionais. Em outros casos, prepostos separados entre eles por velhas rixas, dispensam a 'orientação' de 'mentores' norte-americanos e passam a cuidar, eles mesmos, de fazer avançar as próprias ambições territoriais.

O racha no império dominado pelos EUA, longe de pôr fim a guerras e conflitos, quase com certeza levará a muitas outras guerras locais sob o pretexto de alguma 'autodeterminação' ou 'autodefesa' ou para proteger o grupo étnico de um ou outro – como a repentina preocupação de Ankara com os turcomenos na Síria.

Adiante se examinam alguns dos casos mais óbvios. 

Oriente Médio: conflito turco-curdo-sírio 

Ao longo dos últimos anos, o regime turco tem estado na linha de frente da guerra para derrubar o governo secular e nacionalista de Bashar al-Assad na Síria.

Os turcos agiram como prepostos dos EUA – garantindo bases militares, suprimentos, treinamento e proteção, além de uma porta de entrada para a Síria, para terroristas mercenários islamistas a serviço das ambições imperiais de Washington.

Com a ameaça islamista 'independente' (ISIS) ganhando território e atacando interesses dos EUA, Washington cada vez mais buscou seus aliados, principalmente seculares, combatentes curdos. Os prepostos curdos de Washington ganharam território tanto contra islamistas anti-EUA como contra o governo nacional sírio – como parte da própria antiga agenda etnonacionalista dos curdos.

A Turquia viu as vitórias curdas no norte da Síria como ponto de atração que concentraria forças curdas autonomistas também dentro da Turquia. O presidente Erdogan interveio militarmente – enviou tanques, aviões e dezenas de milhares de soldados para a Síria, onde iniciou uma guerra de extermínio contra os sírios curdos prepostos dos EUA! A invasão turca avançou, tomando território sírio, sob o falso pretexto de que estaria combatendo algum ‘ISIS’. De fato, a Turquia criou uma ampla 'zona protegida' colonial para controlar os curdos.

O governo Obama em Washington reclamou, mas absolutamente não queria intervir, nem quando os turcos arrastaram os curdos para fora de seus lares tradicionais no norte da Síria no que foi massiva campanha de limpeza étnica. Assim eclodiu a guerra turcos-curdos-sírios, e os termos, as condições e os resultados já ultrapassavam em muito qualquer possibilidade de os EUA controlarem qualquer coisa.

Fracassou completamente a luta dos EUA para implantar um regime fantoche na Síria: em vez de regime fantoche, a Turquia roubou terra síria, os curdos resistiram contra os turcos em nome de defender sua autodeterminação nacional, em vez de expulsarem mercenários islamistas; e Damasco enfrenta hoje mais uma ameaça contra sua soberania nacional.

Essa brutal guerra regional, iniciada quase totalmente por EUA e Arábia Saudita, está deixando à vista a extensão do fracasso do Império EUA-Oriente Médio.

Ásia: conflito Japão, Vietnã, Filipinas e China 

O Império EUA-Ásia tem assistido à criação e destruição dos prepostos dos EUA. Depois da 2ª Guerra Mundial, os EUA incorporaram Japão, Paquistão, Coreia do Sul, Taiwan, as Filipinas, Austrália e Nova Zelândia como seus prepostos, no esforço para estrangular e conquistar China, República Popular Democrática da Coreia ('Coreia do Norte') e Vietnã.

Mais recentemente, Índia, Vietnã e Myanmar aderiram ao novo esquema militarista dos EUA para cercar a China.

Elemento crucial para o 'Pivô para a Ásia' de Obama-Clinton é a Parceria Trans-Pacífico [ing. Trans-Pacific Partnership (TPP)], um singular esforço para 'unificar' as nações asiáticas controladas pelos EUA, com o objetivo de isolar a China e reduzir seu papel na Ásia.

Os prepostos originais dos EUA de depois da 2ª Guerra Mundial, Coreia do Sul, Filipinas e Japão garantiram bases militares, tropas, apoio material e logístico. Vietnã, o mais novo preposto 'no quarteirão', recebe armas do Pentágono apontadas contra a China – apesar dos milhões de vietnamitas mortos durante a guerra dos EUA na Indochina.

Por mais que os prepostos dos EUA na Ásia continuem a discursar a favor da 'agenda sinofóbica' de Washington, muitos deles o fazem nos seus próprios termos: não querem provocar a ira econômica da China ante a política de confrontação direta, de Washington. 

Durante a recente Conferência da Associação de Nações do Sudeste da Ásia [ing. ASEAN] no Laos (2016), vários países resistiram à pressão de Washington para que denunciassem a posição da China (que não considera o que uma 'corte internacional' teria 'decidido' sobre as reivindicações de Pequim sobre o Mar do Sul da China). Mas a capacidade dos EUA para influenciar eventos mediante 'sentenças' de seus 'tribunais internacionais' operantes na Europa parece ter evanescido. 

O governo dos EUA tampouco consegue implementar sua estratégia de 'bloqueio' econômico trans-pacífico (TPP), por causa de forte resistência tanto dentro dos EUA como nos países alvos. Contudo, novos prepostos começaram a emergir.

Os prepostos-patetas em Tóquio enfrentam o povo japonês, que cada dia mais claramente se opõe à condição subalterna do Japão, reduzido a preposto dos EUA; ao Japão reduzido ao papel de base aérea dos EUA. Efeito disso tudo é que Tóquio segue atentamente sua própria estratégia nacional anti-China, construindo laços econômicos mais profundos com estados procuradores dos EUA, mas mais recentes ou de menor expressão na Indochina: as Filipinas e Myanmar. Ao tempo em que desenvolve relações mais sólidas com esses regimes procuradores mais fracos, o Japão, de fato, está lançando as bases para políticas econômicas e militares autônomas, independentes dos EUA.

Importante aí, o novo governo do presidente Duterte nas Filipinas está trabalhando para pacificar as relações de seu país com a China, por mais que as velhas relações neocoloniais das Filipinas como estado preposto dos EUA ainda se mantenham. O carnaval que a mídia-empresa ocidental tem tentado criar em torno da linguagem 'estranha' e de políticas 'criativas' a favor dos direitos humanos do presidente Duterte lá está exclusivamente para mascarar o desconforto e a desaprovação imperial, por Washington, ante a política externa independente e pró-China, de Duterte (aqui, matéria de 13/9/2016).

Quanto à Índia, ao mesmo tempo em que tece laços mais próximos com os EUA, e até oferece cooperação militar com o Pentágono, Modi assina acordos ainda maiores com os chineses, de investimentos e comércio – ansiosos que estão os empresários indianos, para entrar no enorme mercado da China.

Em outras palavras, os prepostos de Washington na Ásia (1) ou ampliaram eles mesmos as respectivas próprias áreas de influência nacional; ou (2) definiram esferas autônomas de ação ou (3) rebaixaram o peso relativo dos EUA para impor acordos comerciais.

Sintoma da redução no 'poder preposto' dos EUA é a 'má vontade' que muitos estados-clientes de Washington manifestam contra declarar hostilidade a Pequim. Frustrados, os colunistas 'especialistas' e 'torsos falantes' em geral que operam pró-empresas norte-americanas contra o resto do mundo (no New York TimesWashington PostWall Street Journal) veem-se obrigados a degradar os seus caríssimos 'púlpitos', oferecendo-os a todo o tipo de personagem marginal, dentre os quais um político de Hong Kong do qual ninguém jamais ouviu falar, um 'santo' tibetano senil exilado e o 'representante' de uma gangue de terroristas uigures! 

Efêmeros prepostos de Washington na América Latina 

Um dos aspectos que mais chamou a atenção na montagem do império dos EUA, sempre, foi a facilidade com que se criaram governos prepostos na América Latina e a rapidez com que aqueles governos sempre foram derrubados!

Ao longo dos últimos 30 anos, os EUA instalaram ditaduras militares suas prepostas na América Latina, as quais, na última década, foram derrubadas e substituídas por governos independentes ao longo dos últimos dez anos. Hoje, estão sendo substituídos por uma nova leva de prepostos neoliberais – uma lastimável coleção de bandidos conhecidos da Polícia, corruptos de todos os tipos e partidos, judiciários, legislativos e elites fantoches em geral, sempre incapazes de estabelecer e manter governos prepostos do império 'como antigamente', que duravam décadas no poder.

Império que dependa, para sobreviver, de prepostos locais é uma contradição em termos. "Impérios" não podem "depender".

Mas os prepostos latino-americanos dos EUA dependem. Dependem de apoio externo, não conseguem criar raízes internas nem têm a indispensável popularidade local. As próprias políticas neoliberais deles são fracas e incapazes de realmente estimular o desenvolvimento industrial sem o qual não há desenvolvimento possível. 

Os prepostos latino-americanos dos EUA são meros predadores, sem as indispensáveis competências históricas para empreender – que sempre houve no Japão e na disciplinada ideologia nacionalista dos turcos.

Nesse sentido, os prepostos latino-americanos com que os EUA são obrigados a contar parecem-se mais com a oligarquia reinante nas Filipinas: pregam a submissão e alimentam a subversão. 

Por todos os lados o que se vê é instabilidade crescente e mudança políticas que emergem como forças poderosas a desafiar o império dos EUA – sejam os chineses na Ásia sejam conflitos internos, lá mesmo nos EUA, como o fenômeno Trump.

Conclusão

As guerras imperiais continuam, mas também continuam a sempre crescente instabilidade dentro dos EUA, a rejeição às políticas imperiais que, cada vez mais, tomam as ruas, os conflitos regionais e as guerras nacionais.

O declínio do império ameaça abrir as portas para uma era de guerra entre os prepostos dos EUA – múltiplos conflitos que podem beneficiar o império, mas também podem agravar o quadro. A guerra dos poucos contra os muitos está-se transformando em guerra de muitos contra muitos. Mas quais as escolhas, ante essas mudanças históricas?

Só movimentos de massa organizados, com real consciência de classe, que ainda não emergiram, podem oferecer resposta positiva, criativa, ao Dilúvio que se aproxima.*****

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