terça-feira, 22 de novembro de 2016

Persuasão versus demagogia

21/9/2016, Scott Adams' Blog











O que mais se ouve são explicações de engenharia de obra feita, de por que Trump foi eleito. A interpretação que mais se repete reza que muitos cidadãos pensam sobre o próprio país algo que nem especialistas acadêmicos, nem pesquisadores profissionais, nem toda a campanha de Clinton conseguiram captar. Fato é que seja lá como for Trump acertou mais, ao identificar os sentimentos da população – especialmente na região dos Grandes Lagos – e construiu mensagem que se encaixou naquelas emoções.

Essa explicação, sim, dá conta dos eventos observados. As prioridades de Trump parecem, sim, estar de acordo com o que as pesquisas dizem que o povo está pensando e sentindo. Ou, pelo menos, povo em quantidade suficiente para dar a Trump a vitória no Colégio Eleitoral. Nessa visão de mundo, Trump é demagogo com bons instintos sobre o que o povo quer ouvir.

Mas, como vivi de ensinar a vocês durante todo o ano que passou, as pessoas podem viver em filmes diferentes, mesmo enquanto habitam um mesmo espaçotempo. No seu filme, Trump talvez até seja o demagogo que especialistas dizem que ele seja. Mas no meu filme Trump é mestre na arte de persuadir, Persuasor Máster. E o script do meu filme combina tão bem com os fatos observados quanto o seu. Talvez combine até melhor.

O filtro do Persuasor Máster diz que Trump não identificou tanto nem atendeu tanto as preferências do povo. Mais, pode ter levado  as pessoas a pensarem como estão pensando. Meu filtro para a eleição diz que a competência de Trump como persuasor pode ter-lhe dado a vitória com políticas DIFERENTES das que ele diz que defende – com políticas como as de Sanders. E também nesse caso Trump teria imagem de demagogo.

Considere que muitos votantes são prisioneiros do candidato do partido. Assim se garante que a maioria das eleições serão apertadas, não importa quem concorra. O vencedor é o candidato que consegue mover talvez 5%, da coluna A para a coluna B. E o Persuasor Máster teve um ano inteiro do ciclo eleitoral, e total exposição na mídia, para completar com sucesso essa tarefa simples. Por isso previ que Trump seria eleito, um ano antes de acontecer.

Sou dos que não creem que o cérebro humano seja capaz de compreender a realidade. Os seres humanos não desenvolvemos a competência necessária para ver a realidade como ela é. A evolução só cuida de nos fazer sobreviver e procriar. Nesse caso, pessoas que pensam que Trump seja demagogo podem ter filhos, e também nascem filhos de gente que acha que os norte-americanos elegemos Hitler, e também de pessoas que achem que Trump é Persuasor Máster bem-intencionado. São três filmes diferentes. A evolução não se interessa por qual dessas visões de mundo seja certa (se alguma for certa). A evolução só se interessa por sermos capazes de fazer filhos. E isso todos podemos fazer.

Mesmo assim, pode ser importante decidir quem, dentre nós, tem o filme mais "útil". O filme O Persuasor Máster acertou uma, ao prever com sucesso o sucesso de Trump. Também previu que Trump caminharia rumo ao centro, e convenceria Pence a ser menos horrível nas posições sobre LGBTQ e em matéria de melhorar as relações com outros países. Tudo isso está previsto na trama do filme que, acho, está começando.

Mas alguns de vocês estão num filme escurão, cheio de perigos. Talvez você veja um mundo no qual o próximo Hitler acaba de chegar ao poder. Outros de vocês veem um palhaço sem nenhum talento que chega ao poder, porque acertou na veia de uma mensagem demagógica. Esses são filmes de terror, comparados ao meu filme de fazer todos se sentirem melhores pessoas. Se você puder desligar o seu filme e passar para o meu, e nada perder além da ansiedade quanto ao futuro, não gostaria de fazer exatamente isso? No meu filme, temos muitos sucessos à frente com Trump, e nenhuma das possibilidades sombrias chegarão a se confirmar.

Assim sendo, como você saberá se está no filme errado? Dou-lhe algumas dicas.

Pense.

Se Trump não foi eleito por artes de seus talentos persuasórios, nesse caso que outro candidato Republicano você imagina que derrotaria Clinton?

Você talvez creia que os problemas de e-mails da Clinton e os comunicados de Comey tenham feito dela candidata excepcionalmente fraca, o que implicaria que qualquer Republicano não hidrófobo a derrotaria facilmente. Pois creria muito errado. 

A razão pela qual os e-mails e os comunicados de Comey e WikiLeaks foram tão efetivos é que Trump há meses chamava Clinton de "Crooked Hillary" [apr. Hillary, a falsa]. Assim se criou a armadilha da suspeita que já existe à espera apenas de ser confirmada, que fazia com que tudo que Clinton algum dia fez parecesse suspeito. Nenhum dos outros candidatos teria jamais concebido tão perfeita armadilha de persuadir.

Também não consegui pensar em outro candidato que tivesse coragem e competência para bater tão dura e diretamente em Bill Clinton, a ponto de tirá-lo completamente da campanha. Jeb Bush? Alguém acredita que Jeb faria isso?

Para duvidar de que o talento de Trump como Persuasor Máster tenha sido a variável crucial que lhe deu a vitória, você tem de imaginar algum outro candidato capaz de jogar Bill Clinton para fora do octógono, só com o conjunto de políticas que Trump trouxe à cena. Pessoalmente, não encontrei um único nome, um, que fosse.

Se você crê que Trump é o próximo Hitler, ou um palhaço que teve sorte com seu discurso demagógico, você tem de explicar por que o mercado de ações e o dólar estão em franca ascensão desde a eleição. Os mais afiados gerentes do dinheiro em todo o mundo já deixaram para trás os filmes velhos e pularam para dentro dos filmes que, para eles, estejam parecendo mais úteis para fazer dinheiro.

Se você pensa que Trump é o próximo Hitler, cabe a você explicar por que todos os grandes líderes mundiais já disseram que, sim, não há dúvidas de que podem trabalhar com ele, sem problema, com certeza.

Se você acha que Trump é incompetente sortudo que herdou dinheiro do pai, nesse caso cabe a você explicar por que é empresário tão bem-sucedido no negócio imobiliário, na TV (como empresário e como personagem) e, agora, está presidente dos EUA! Quantos incompetentes sortudos conseguem todo esse sucesso em três arenas, com todo o planeta olhando?!

Se você acha que Trump teria conselheiros antissemitas, tem de explicar como é possível que o genro dele, Jared Kushner, nada tenha percebido e lá esteja, trabalhando tanto por Trump.

Se você acha que Trump é racista, cabe a você explicar como ele parece tão à vontade e interagindo tão afetivamente entre dois negros, em atitude a menos racista que alguém conseguiria algum dia conceber (Trump com Jesse Jackson).

E se você acha que Trump é qualquer das coisas horrorosas que você leu/ouviu nos veículos da mídia-empresa dominante/dominada, você tem de explicar como seria possível que aquele 'jornalismo' acerte tanto na avaliação do caráter, da personalidade e da história pessoal de um homem, quando não consegue prever com acerto o resultado de uma eleição – coisa que se pode mensurar muito estatisticamente.

Cabe a você também explicar por que os 'protestos' anti-Trump esvaziam-se tão rapidamente. Se um verdadeiro Hitler fosse eleito, as pessoas desistiriam tão rapidamente de andar em círculo pelas praças carregando cartazes?!

O grupo demográfico que se opõe em maior proporção a Trump – inclusive os que andam pelas praças – são os jovens. Objetivamente considerados, os jovens são sempre os mais idiotas e mais facilmente manipuláveis em qualquer recorte demográfico. Eu, jovem, era muito mais idiota do que sou hoje. Você também. Todo mundo. Pergunte a você mesmo se pode ser mera coincidência que a porção mais idiota de qualquer grupo demográfico tenda sempre para o pior rumo.

O filtro do Persuasor Máster diz-me que jovens jamais passaram por muitas experiências nas quais a mídia comercial dominante encheu de terror os cidadãos, por nada. Para eles, o medo de Trump é real, porque a Internet e os noticiários de TV dizem que é real. Gente da minha idade já passamos por um show de mentiras jornalísticas depois do outro, uma implantação de medo depois da outra, ameaças terríveis, uma por ano, sem parar. Já não acreditamos em nada disso e desconfiamos do jornalismo, em tudo pensamos de modo muito diferente, em relação aos jovens.

Com o tempo, quando o nevoeiro midiático-eleitoral começar a se dissipar, as pessoas começarão a ver Trump como presidente não convencional, cujas políticas têm boas chances de se manterem aliadas, não inimigas, do desejo dos governados. Mas esse filme assim simples, é um tédio. Convido-os a vir para o meu filme, no qual cada um de nós tem um pequeno papel na grande ópera de tornar grandes os EUA, outra vez. É questão só de você encontrar o papel que lá está, à sua espera.

O filme é bom. Acho que você vai gostar.*****




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