domingo, 29 de janeiro de 2017

Batalha de Titãs: Iminente duelo entre Trump & o Banco Central EUA

27/1/2017, Robert Bridge, RT 














Por mais que o mercado de ações esteja bombando nos EUA, e a taxa de desemprego seja baixa, permanecem sentimentos subjacentes de muito medo, com alguns analistas que dizem que os EUA ainda não pagaram a conta pelos próprios ganhos.* E se a conta da desastrosa política do Fed recair sobre Donald Trump, na hora de ser paga? 

No vale de lágrimas que foi a campanha de 2016, muitos observadores engalfinhavam-se aos socos e pontapés sempre que surgia a pergunta: Donald Trump é produto autêntico, ou não passa – como o charlatão que o precedeu – de mais um orador de língua afiada, com o dom para de idiotizar eleitores?

Apenas uma semana na presidência, e os resultados aí estão: o titã de Manhattan é autêntico ouro anti-establishment 100% puro; é o cara. Já assinou uma ordem executiva desmontando gorda fatia do legado de último minuto de Obama, já tirou os EUA do tal acordo da Parceria TPP e já encomenda tijolos para seu Muro Mexicano.

A elite de Washington, há tanto tempo confortável na sua fortaleza comprada por lobbyistas de todos os tipos, mal consegue respirar, enquanto Trump prossegue o serviço de drenar o proverbial pântano. Contudo, o empreendedor imobiliário provavelmente compreende melhor que ninguém que, quando se drena pântano grande e fétido, fatalmente se despertam alguns monstros.

E aqui estamos falando de monstros grandes como o do Lago Ness. E por mais que a caneta de Trump tenha poder para dar conta de alguns dragões, outras criaturas exigirão um pouco mais de trabalho. E não há criatura que meta mais medo em Washington, DC, que o Federal Reserve, que tem poderes suficientes para fazer e desfazer presidentes.

Batalha de Titãs: Trump vs. Yellen

Mais ou menos como a Suprema Corte dos EUA, o Fed é construído para ser instituição apolítica que opera longe e acima do oceano de intrigas e influências de Washington. Contudo, tentar extrair as influências políticas de qualquer agência ou instituição que opere em Washington é como tentar que um fã do New York Yankee ignore estatísticas de baseball.

Trump já fez um movimento na direção do Fed, no calor da campanha, quando acusou a diretora Janet Yellen, 70, de segurar as taxas de juros por pressão política do governo Obama.

"Ora... [a taxa de juros] sempre no zero, porque ela faz obviamente direção política, e está fazendo o que Obama quer que ela faça" – Trump disse à CNBC em setembro, acrescentando que Yellen deveria "ter vergonha" do que está fazendo à economia dos EUA.

De fato, 'anunciadores do apocalipse' dizem que a recuperação da economia dos EUA não passa de grande mentira cevada pelo Federal Reserve, que imprime dinheiro como se fosse papel higiênico, mantendo à tona instituições "grandes demais para quebrar" e que há muito tempo deveriam ter tido o fim dos dinossauros. O Banco Central só aumentou a taxa de juros uma vez, desde que capou tudo e virou zero logo depois da crise financeira de 2008.

Pois agora parece que Janet Yellen está conjurando o feitiço que pode fazer naufragar o poderoso Trump: juros mais altos.

Mas Trump é comerciante esperto e compreende claramente a ameaça, que paira sobre seu governo, como a espada de Dâmocles:"Qualquer aumento por menor que seja será muito muito grande, porque eles querem manter o mercado lá em cima, de modo que Obama caia fora e o sujeito que vier depois... ele que suba a taxa de juros e veja o que acontece no mercado de ações" – disse Trump.

Em outras palavras, qualquer furo na bolha inflada por todo esse dinheiro que gira solto dentro da economia dos EUA será declarado culpa de Donald Trump – que a elite de Washington vê como ameaça letal aos seus (da elite de Washington) planos de globalização.

O ex-conselheiro econômico David Stockman concorda plenamente com o Republicano, e até já o aconselhou a demitir Yellen antes que as políticas dela façam naufragar a promessa dele de "Make America Great Again" [Fazer a América grande novamente].

"Exija que ela se demita dia 20 de janeiro, porque, a menos que essa bolha seja lancetada, há uma bolha monstro nesses mercados, e o governo Trump nunca conseguirá sobreviver e reaparecer do outro lado," disse Stockman, que foi Diretor do Gabinete de Administração e Orçamento no governo do presidente Ronald Reagan.
"Mr. Trump também muito bem faria se faxinasse a casa. Se quer drenar o pântano, não há melhor lugar para começar a drenagem que o prédio do Federal Reserve, porque ali se origina na verdade toda essa economia toda falsa, essa bolha inchada, fétida, feia, de que [Trump] falou durante a campanha" – disse Stockman.

Jim Rogers, o empresário e investidor norte-americano disse que o presidente Trump faria muito bem se aliviasse Yellen de suas tarefas, mas que não tem certeza de que o presidente dos EUA tenha competência para exigir essa demissão.
"Acho que não pode demiti-la, porque ela tem mandato garantido por lei" –Rogers escreveu, por email.
De fato, parece que presidência do Fed dos EUA, como o Bispo de Roma e os juízes da Suprema Corte, todos eles, têm mandados vitalícios, façam o que fizerem no cargo. Mesmo assim, é essa empresa muito privada, chamada Federal Reserve dos EUA, criada dia 23/12/1913 (quando muitos deputados estavam longe, festejando o Natal em casa), que parece ser amplamente responsável pela crise financeira de 2008.

Como a revista Time expôs o assunto"As taxas super baixas de juros que [ex-presidente do Fed Alan] Greenspan trouxe no início dos anos 2000s e seu longevo desdém por qualquer regulação são hoje apresentados como principais causas da crise das hipotecas. Greenspan chegou até a dizer numa audiência no Congresso que cometera "um erro ao presumir" que empresas financeiras pudessem se autorregular.

A era de taxas super baixas de juros e dinheiro fácil continuou com o sucessor de Greenspan, Ben Bernanke, e não mudou consideravelmente de rota no mandato de Janet Yellen, que assumiu a presidência do Fed em janeiro de 2014.

Em dezembro, o Federal Reserve aumentou as taxas, só essa segunda vez, numa década.

Ron Paul, ex-congressista dos EUA e autor do sucesso de livrarias, O Fim do Fedexplicou o processo pelo qual taxas de juro muito baixas por muito tempo, trabalham para aumentar a desigualdade econômica.

"Aumentos na oferta de dinheiro gerados pelo Federal Reserve causam desigualdade econômica (...), porque sempre que o Fed atua para aumentar a oferta de dinheiro, investidores e outros capitalistas da mesma gangue são os primeiros a receber o dinheiro novo"  Paul escreveu.
E acrescentou: "Quando a oferta aumentada de dinheiro afinal escorre para baixo até os norte-americanos de classe média e da classe trabalhadora, a economia já foi devastada pela inflação. Assim muitos norte-americanos médios veem o próprio padrão de vida declinar sempre, como resultado dos aumentos na oferta de dinheiro que o Fed engendra".

Em outras palavras: 'socialismo para os ricos, capitalismo para os pobres'. Os ultra ricos nunca têm de se afligir por causa de investimentos mal feitos porque são imunizados contra qualquer risco – exatamente o que torna tão redundante o capitalismo de hoje.

Agora, ricos e pobres estamos diante de grande risco, sem poder fugir. Isso, porque o Fed manteve a taxa de juros no porão por tanto tempo que, para conseguir aumentá-la de modo considerável, seja quanto for, pode acontecer de determinar o fracasso total dos esforços de Trump para fazer a economia norte-americana pegar no tranco, novamente.

Por mais que Trump possa usar sua autoridade executiva para enfrentar CIAs e TPPs que considere repugnantes, tentar domar o Fed é outra dança, muito diferente.

Alan Greenspan, que dirigiu o Fed por 19 anos, ao ser perguntado numa entrevista, sobre que tipo de relação lhe parecia a melhor, entre o diretor do Federal Reserve e o presidente dos EUA, respondeu o seguinte, espantosamente claro:

"Em primeiro lugar, o Federal Reserve é agência independente, e isso significa que nenhuma outra agência do governo pode modificar nossas ações e medidas que tomemos. Enquanto continuar assim... francamente, relacionamentos não fazem diferença."

A resposta de Greenspan resume bem o desafio que está diante de Trump, homem que dá a impressão de não lidar muito bem com a rejeição. Assim sendo, é razoável sugerir que estamos nos aproximando de grave colisão frontal, governo Trump numa direção, o Banco Central na direção oposta, em algum ponto adiante nessa estrada.

Em resposta ao que lhe perguntei, se faria alguma diferença agora, para Trump, tentar substituir Yellen por alguém mais próximo da filosofia Trumpiana, Rogers disse:

"Ela vive de imprimir dinheiro em Washington há vários anos, desde antes de assumir o emprego atual. Com certeza é tarde demais. Quero dizer que todos nós pagaremos preço terrível pelo dinheiro que imprimem, esteja ela no Fed, ou não."

A questão agora é se o escolhido para 'pagar a conta' será Trump, ou outro. Embora seja impossível prever se a economia dos EUA ruirá durante o mandato de Trump ou não, o que se sabe com absoluta certeza é que nada agradaria mais à elite-establishment do que poder debitar o crash na conta do arrivista.*****




* Atualmente, a dívida nacional dos EUA está em US$19,9 trilhões. Para uma espiada assustadora no Dividômetro norte-americano, clique aqui.

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