domingo, 8 de janeiro de 2017

The Saker: 2016, ano do triunfo da Rússia (2/2)

28/12/2016, The Saker, Unz Review The Vineyard of the Saker















Os principais fatores externos que influenciaram a economia russa foram as sanções ocidentais; a subsequente queda nos investimentos e créditos e, especialmente, os baixos preços do petróleo. Quase exatamente como Putin previra, a Rússia precisou de dois anos para superar os efeitos combinados desses fatores. É o que diz não o Saker ou algum porta-voz do Kremlin, mas o FMI (veja aqui). O que interessa aí não é um ou outro número para o PIB ou a inflação, mas o fato de que todos os indicadores chaves da economia russa apontam na direção de recuperação gradual e boas aberturas para o crescimento. 

Pessoalmente, acho que as políticas do "bloco econômico" do governo Medvedev agravaram os efeitos dessa crise mais do que o inevitável, mas tenho de admitir que apesar dos grandes erros cometidos pelo governo russo, a economia da Rússia está em recuperação. Se tivesse de atribuir uma nota ao desempenho das políticas do governo russo, daria no máximo 2/5, mas como meu foco é o estado da economia tenho de atribuir-lhe um objetivo 3/5. Problema, só, é que acho que teria sido possível chegar a um 5/5. Aqui, um rápido comentário: muitos fizeram grande alarde em torno da planejada redução nos gastos da Defesa russa, mas não consideraram que a redução só foi possível por causa do que foi gasto nos últimos anos, e que o programa russo de Defesa para 2020 não foi absolutamente modificado, muito menos 'cortado'. Em outras palavras, os militares russos podem vivem com menos dinheiro por alguns poucos anos e não haverá cortes nos programas da Defesa, cujos planos para 2020 seguem inalterados.

Opinião pública russa 4/5

Apesar das garras ainda fortes dos "tipos do FMI" dentro do governo da Rússia, que ainda comandam as decisões econômicas chaves, já se veem sinais de que as coisas estão melhorando e que a opinião pública russa está conseguindo ver rolar algumas das cabeças que queriam que rolassem: aqui, claro, refiro-me à prisão do ministro de Desenvolvimento da Federação Russa Alexei Uliukaev. Claro, a lista de candidatos para demissão e prisão é muito mais longa (veja aqui), mas Uliukaev foi com certeza um dos membros mais influentes e mais tóxicos dos Integracionistas Atlanticistas, e a reação histérica na mídia-empresa liberal russa mostra claramente o quanto a prisão de Uliukaev foi dolorida para a 5ª Coluna ativa dentro do governo da Rússia.

Até esse momento, a prisão de Uliukaev não foi completada com mais demissões ou prisões, mas é possível que Putin tenha feito com Uliukaev o que fez antes com Berezovsky: ataca diretamente o "chefão" e na sequência obriga o resto da gangue a negociar, já sabendo, toda a gangue, que não terão chance alguma para 'atropelar' Putin. Só o tempo dirá se a prisão de Uliukaev será suficiente para re-soberanizar a Rússia, mas sem dúvida é começo muito promissor.

Russófobos russos 4/5

Soa estranho, não? "Russófobos russos". Faz-me lembrar a categoria de "judeu auto-odiador" [ing. "self-hating Jew"]. Mas existem, pelo menos nominalmente. Digo 'nominalmente', porque ser russo jamais teve a ver com falar russo ou viver na Rússia, nem com alguma hipotética "etnia russa" (que realmente não existe). Uma definição do que seja ser russo foi dada pelo filósofo Vasilii Rozanov, que escreveu as seguintes palavras que, em 1913, foram proféticas: "Amar uma Mãe Pátria feliz e grande não chega a ser grande coisa. É preciso amá-la quando está fraca, pequena, humilhada, vale dizer, estúpida, vale dizer, mesmo com todos os vícios que tenha. É quando a "mãe" cai de bêbada, e lá fica, perdida nos seus pecados, que não a podemos abandonar, que não podemos nos separar dela. Mas mesmo isso pode não bastar: quando ela afinal morre, devorada por judeus, e quando dela só restarem os ossos – será verdadeiramente "russo" chorar sobre o esqueleto dela, descartado, desertado por todos...". Desnecessário dizer, Rozanov é odiado pelos russos "liberais". 

Diferentes de Rozanov, esses "liberais" russófobos festejam cada fracasso dos russos, e mal podem conter o júbilo quando alguma tragédia desaba sobre o povo russo, que eles odeiam e desprezam porque o povo russo vota em "um tirano" feito Putin, e não vota naquelas autopromovidas "elites intelectuais" da Rússia.

Quando Putin chegou ao poder, esses russófobos 5ª Coluna estavam, literalmente, em todos os cantos e postos, porque suas famílias foram de modo geral conectadas às elites soviéticas, e desde os infames anos 1990s passaram literalmente a controlar cada alavanca do poder na Rússia, até as menores, dos jornais 'de escândalos', ao Kremlin.

Primeiro, Putin livrou-se dos oligarcas, especialmente dos "Sete Banqueiros". Em seguida, gradualmente expulsou-os dos veículos da mídia-empresa de massa (quando os colegas e patrões deles, no Ocidente, começaram a 'denunciar' a falta de 'liberdade de imprensa' na Rússia). E depois começou o lento e terrivelmente perigoso processo de livrar-se deles, um por um, tirando-os de dentro do governo russo, inclusive de dentro do Kremlin. 

Mas a maior realização de Putin nesse ano foi sua campanha, extremamente bem-sucedida, para deslegitimar aquela 5ª Coluna. E o fez sem 'atropelar' qualquer um deles, sem assassinar jornalistas ou figuras da oposição, e não encheu nenhum "novo gulag russo" com milhares de dissidentes liberais. Putin (e digo não só o presidente, mas o presidente com o apoio de seu grupo e seus eleitores) fez precisamente o oposto: deu à 5ª Coluna uma plataforma e cuidou para que as opiniões deles estivessem no ar praticamente todos os dias. Interessados nesse processo podem ler o que escrevi em "Counter-propaganda, Russian style". Foi coisa do mais puro gênio: em vez de silenciar os russófobos, Putin deu-lhes quantidades avassaladoras de tempo (considere-se que menos de 5% da população russa apoia esses malucos) e esperou que se enforcassem, eles mesmos, de tanto que disseram besteiras sobre praticamente tudo: erraram sobre a Crimeia, erraram sobre a Ucrânia, erraram sobre a economia, erraram nas questões de direitos sociais e civis, erraram na 'seleção' deles de quem seria 'corrupto' e 'não corrupto', erraram nos "direitos dos gays", erraram na OTAN, erraram na União Europeia, e erraram ao apostar em Clinton (apaixonados por ela!), e erraram em tudo que disseram contra Trump (odeiam de morte!), erraram em tudo que disseram e escreveram sobre terrorismo e em tudo que disseram e escreveram sobre a Síria. Resultado disso, esses "liberais" (na acepção russa do termo) são vistos em toda a Rússia como traidores, russófobos, snobs, racistas, 5ª Colunistas, fantoches da CIA, etc. São odiados na Rússia, e estão desesperados.

Resultado direto do trabalho de 'superexposição' que Putin forçou, nas recentes eleições assistimos ao espetáculo impressionante de ver"liberais" russos, incluindo judeus, aliados aos nazistas organizando protestos conjuntos desses todos, contra Putin. Nem é preciso dizer que quanto mais 'protestos', mais o descrédito em que se afundavam.

Ainda há muitos 5ª-Colunistas na Rússia, mas estão muito, muito por baixo, esperando por tempos melhores e dedicados a não aparecer aos olhos do grande público. O principal centro onde eles ainda têm poder é o Banco Central da Rússia e, em termos gerais, no "bloco econômico" do governo Medvedev, mas desde que Kudrin e Uliukavev foram defenestrados, os que restam lá se têm mostrado muito cautelosos em todas as ações e declarações.

Feitas as contas, 2016 foi ano de catástrofe absoluta para a 5ª-Coluna russófoba, que está hoje acuada e em estado de desespero e que parece não ter qualquer futuro.

Síria 5/5

O sucesso da Rússia na Síria foi absolutamente lindo. Não apenas uma força militar russa extremamente pequena conseguiu virar o rumo da guerra, mas, também, manteve-se numa posição dificílima, essencialmente indefensável, por tempo suficiente para impedir que Turquia, Arábia Saudita, Estados do Golfo e EUA atacassem abertamente ou o exército sírio ou o governo sírio. Os russos foram bem-sucedidos nessas tarefas dificílimas, apesar das incontáveis feias, sujas, sórdidas provocações, e apesar de terem de operar em ambiente extremamente hostil (aquela região "pertence à OTAN e ao CENTCOM).

Um dos sucessos mais significativos foi o movimento dos russos para salvar Erdogan in extremis contra um golpe apoiado pelos EUA, e conseguir convencê-lo a trabalhar com Rússia e Irã para resolver a crise na Síria. A libertação de Aleppo talvez não tivesse podido acontecer, se a Turquia continuasse a apoiar al-Nusra & Co a qualquer preço. No mínimo, teria exigido muito mais tempo. 

Ao final de 2016, os russos são donos do Mar Negro, controlam pelo menos por hora o Mediterrâneo oriental e trabalham com as três grandes potências da região: os sírios, claro, mas também Irã e Turquia. Quanto aos EUA, parece que perderam toda a região e a única "realização" dos EUA, por assim dizer, foi conseguir detonar simultaneamente duas de suas principais alianças: com os israelenses e com os sauditas.

Quanto ao presidente eleito Trump, já indicou claramente que sua mais alta prioridade será acabar com Daech & Co., precisamente o que Rússia, Irã e Síria também querem. Se Trump realmente conseguir chutar os doidos neoconservadores para o porão das baratas, que é lugar deles, pode-se entrever algo de muito interessante: um esforço conjunto EUA-Rússia para dar cabo do Daech. O grande problema aqui será a retórica anti-Irã da campanha de Trump, totalmente contraproducente e, francamente, muito idiota. Contudo, deve haver cérebros melhores em torno de Trump que o façam compreender que nada acontecerá jamais naquela região, sem a aprovação do Irã, e que EUA e Irã não precisam estar profundamente apaixonados para conseguir trabalhar na direção de um objetivo comum. Trump me parece ser homem realista, muito mais que ideólogo. Esperemos que aprenda a separar a retórica 'de agradar AIPAC' e alguma política externa realmente séria (o fracasso do governo Obama deve ensinar-lhe essa lição).

Certo é que a Rússia comanda agora o espetáculo na Síria, e sem apoio de EUA ou Turquia, o Daech enfrentará crise existencial. Claro, a situação ainda é fluida, complexa e perigosa. E absolutamente não descarto que EUA ou Turquia façam outra volta e recomecem a garantir apoio ao Daech. O fator curdo, as políticas de Israel e a imprevisibilidade que é inerente a Erdogan são elementos que servem para garantir que a crise síria avance pelo ano de 2017. Mas acho que o surto de loucura neoconservadora alcançou o ápice e que as coisas devem agora começar a melhorar. A Rússia simplesmente nunca poderia sozinha ter salvado a Síria; mesmo assim parece ter feito precisamente isso.

A histeria russofóbica no 'ocidente 3/5

Simplesmente não havia como os anglo-sionistas serem derrotados em todos os fronts sem gritar aos céus "oy veh!" [ídiche, "aflição!"], e gritaram. As acusações foram desde a Rússia querer invadir a Latvia, até hackers roubando a eleição nos EUA. E para que não pairassem dúvidas sobre a identidade dos tais hackers, os anglo-sionistas nos informaram que os hackers chamavam-se uns os outros de "ursinho de brinquedo" e "ursinho fofinho" e que usaram o nome de "Felix Edmundovich" (prenome e patronímico de Felix Derzhinskii, fundador dos serviços secretos soviéticos) e trabalhavam durante o horário comercial em Moscou, e tiraram folga nos feriados russos. E se você pensou que esse tipo de conversa pirada foi inventada num hospício ou num jardim de infância, aqui vai o link para o artigopublicado no New York Times citando "especialistas em segurança". Engraçado, não? Mas outra vez, quando ouço os neoconservadores dizerem, a sério, que Ron Paul seria agente russo, dou-me conta de que não há coisa alguma, por mais estúpida, que esse pessoal não se atreva a dizer/publicar. Chutzpah em ação, acho. E, embora a ponta esquerda da Curva em Sino parece ter internalizado plenamente a mensagem, há segmento crescente da população que vê o quanto são estúpidas essas acusações.

[Nota marginal pessoal: por mais que eu tenha certeza de que há alguns norte-americanos que acreditam que os Russkies são perigosos inimigos dos EUA, até hoje não encontrei sequer um deles, um, que fosse. Nas minhas interações do dia a dia, vejo *nenhuma* hostilidade contra russos, sequer quando falo em russo abertamente com minha família em lojas ou restaurantes, ou quando digo que sou russo. Talvez porque moramos na Flórida, não em New York, mas até hoje não vi um único exemplo de hostilidade anti-russos].

O tratamento que os russos receberam do Comitê Antidoping controlado pelo ocidente nos Jogos Olímpicos do Rio foi ultraje absoluto, além de farsa e crime, todos no mesmo pacote. E cabe grande culpa à Rússia por ter deixado que organizações mundiais se tornassem tão completamente controladas pelo Ocidente. Mas deve-se considerar que nem assim os EUA conseguiram banir toda a delegação russa daqueles jogos no Brasil, e hackers russos (ah, sim, claro que existem) descobriram provas indesmentíveis que desacreditam o Comitê Antidoping e todo o sistema que há por trás dele. Eu diria que são "dores do crescimento" para o esporte russo pós-soviético: a Rússia agora tem de "limpar a casa" dos casos bem reais de doping e, ao mesmo tempo, tirar do ocidente o controle das organizações internacionais chaves. Não é tarefa simples, mas a Rússia conta com aliado imensamente poderoso nessa (e em muitas outras) lutas: a China. Mas, sim, o banimento parcial e a subsequente campanha de difamação lá está como um olho roxo, para a Rússia.

No caso da Europa, a russofobia sempre foi coisa do norte da Europa. Os países mediterrâneos foram arrastados para impor sanções, sob violentas pressões dos países do norte. Agora parece que a França será governada ou por um ou por outro de partidos de modo geral pró-Rússia, que disputam a presidência. O Brexit afastou o país provavelmente mais anti-Rússia de toda a União Europeia, e agora Alemanha e Polônia estão mais ou menos entregues à própria sorte, tentando desesperadamente revitalizar o front anti-russos. O problema desses países é que são ambos colônias subservientes dos EUA, e por mais que fantasiem que seriam a segunda linha de defesa da civilização ocidental contra o avanço das hordas de mongóis vindas do leste, a realidade é que farão sempre qualquer coisa que Tio Sam lhes ordene.

Doravante, o único realmente furioso bastião de russofobia continua encastelado na parte mais 'sionistizada' da sociedade: as mídia-empresas, os ditos "intelectuais", os "intervencionistas liberais" e toda a "tribo das minorias", que tem velha rixa com a Rússia por conta de um modelo civilizacional diferente (pai e mãe de gêneros diferentes, religião, patriotismo (não nacionalismo!), etc.). Esses continuarão a verter fel contra a Rússia em geral e Putin em particular. Mas Putin não será o único alvo deles, e Donald Trump receberá rebarbas de todo o ódio que persista contra Putin. Francamente, tentar derrubar Putin E Trump ao mesmo tempo é negócio tolo e possivelmente muito perigoso, não importa quem seja você no "jet set" anglo-sionista, especialmente se você não tem muito prestígio junto ao grande público, gente que você mesmo insultou sem parar, tentou humilhar e tanto gostaria de ter destruído e descartado.

Pode acontecer uma volta gigante do pêndulo, bem aí, diante de nossos olhos, contra os que produziram a maior parte da propaganda pró-ódio que circula no ocidente: essa gente pode acabar tendo de colher o que semeou e verem-se convertidos eles mesmos em alvo do ódio mais insano.

Terrorismo 4/5

Foi ano duro para a Rússia. Um comentário anônimo postado recentemente nesse blog oferece uma boa lista dos trágicos assassinatos de russos esse ano, incluindo o bombardeio de um avião russo civil sobre o Egito, a derrubada do Su-24 envolvendo AWACS dos EUA, o assassinato de médicos russos num ataque de precisão, o assassinato do embaixador russo e o provável assassinato dos cantores do Coro do Exército Vermelho (notícias recentes vindas da Rússia parecem apontar mau funcionamento de um dos aerofólios, não algum ataque terrorista). A essa lista, eu acrescentaria os comandantes novorrussos assassinados no Donbass. São muitas vítimas russas inocentes. Mas compare-se esse número com o número de inocentes sírios ou turcos sacrificados, e os russos são relativamente menos. E é número ínfimo, se se compara com o horror massivo que os wahhabistas promoveram na Chechênia.

Lembremos que a Rússia é país em guerra contra o terrorismo transnacional patrocinado por estados, e que muitos milhões de dólares em "ajuda" continuam a chegar às várias organizações nazistas e wahhabistas cujo principal objetivo é assassinar russos. Eu diria que, até aqui, tudo bem, mas não posso fazê-lo porque creio que a Rússia ainda não está pronta para enfrentar o terrorismo que, provavelmente, a atingirá em 2017. Há um tipo específico de algo que está hoje completamente exposto, sem qualquer proteção, e que os terroristas podem atacar quase que com certeza de saírem impunes: as igrejas Ortodoxas Russas fora da Rússia.

Os russos devem reexaminar o tipo de campanha terrorista que os palestinos moveram nos anos 1970s contra os israelenses, quando atacaram não só centros culturais israelenses, mas também ambulatórios, escolas e sinagogas. As igrejas Ortodoxas Russas estão expostas à mesma ameaça, incluindo bombas e tomada de reféns. Como alguém que frequenta igrejas Ortodoxas Russas desde a infância, e em vários lugares do mundo, sei que há *centenas* de alvos potenciais desse tipo e que estão hoje absolutamente sem qualquer tipo de proteção.

O exemplo israelense é crucial aqui, porque os israelenses perceberam rapidamente que não podiam contar com forças policiais locais para proteger aqueles locais. Por isso organizaram tantas organizações locais, diretamente associadas a uma sinagoga ou escola nas quais empregavam voluntários que podiam prestar inúmeros e valiosos serviços legais para proteger alvos israelenses/judeus como, por exemplo, começar a ocupar estacionamentos em torno de uma sinagoga 48 horas antes de qualquer feriado religioso, de modo a impedir que se estacionassem naquelas áreas os chamados "carros bombas". Há muita, muita coisa que um grupo de voluntários bem educados podem fazer legalmente para proteger alvos civis expostos. E podem fazê-lo ainda melhor se trabalham com policiais locais e especialistas em segurança da embaixada. Os russos precisam estudar urgentemente a experiência dos israelenses, no serviço de enfrentar um tipo de ameaça que não tenho dúvidas de que começarão a enfrentar em breve. Lembrem-se que os palestinos também começaram por atacar diplomatas, funcionários e aviões, mas logo seus alvos 'endureceram' e passaram a ser ambulatórios, escolas e sinagogas.

Creio que dentro da Rússia os FSB têm bom controle da situação. Mas fora da Rússia a quantidade de pessoal especializado integralmente dedicado à segurança é aflitivamente inadequado e precisa ser dramaticamente ampliado. Durante a era soviética, poucos governos ousavam atacar abertamente alvos russos e a reputação assustadora (e em grande parte exagerada!) da KGB com certeza ajudou; e nos anos Eltsin não havia realmente sentido algum em atacar a Rússia, quando já estava em claro colapso interno. Mas agora a Rússia está muito forte internamente, e o pessoal militar russo mais difícil de 'alcançar', como diplomatas, crianças e religiosos serão, provavelmente, os próximos alvos dos wahhabistas.

A única notícia boa quanto a isso é que soviéticos e russos combatem contra os wahhabistas desde os anos 1970s e sabem perfeitamente bem que não existe o tal de terrorismo sem patrocínio de estados. Os russos sabem de onde vêm dinheiro, treinamento e armas e sabem que o terrorismo só pode ser derrotado por operações fortes de contrainteligência e de inteligência, especialmente inteligência humana. O braço de inteligência estrangeira da KGB, o PGU ou Primeiro Alto Diretorado, sempre teve reputação (muito merecida) de alta competência para infiltrar agentes em praticamente qualquer lugar, inclusive em altos escalões da CIA e da Agência de Segurança Nacional dos EUA, e pode-se confiar que o SVR hoje está aos poucos reconstruindo suas capacidades em todo o mundo, especialmente nos países que patrocinam o terrorismo wahhabista. Com isso, os serviços especiais russos já salvaram Erdogan e assim 'dobraram' a Turquia – um dos absolutamente piores patrocinadores do terrorismo wahhabista –, em ação que já é estrondoso sucesso. Se Deus quiser, os sauditas serão os próximos.

Conclusão

Dito de forma simples – 2016 foi ano fantástico para a Rússia. A política de Putin, de movimentos lentos, deliberados e discretos, e contramovimentos, mostrou-se extremamente efetiva. Enquanto a alguns "patriotas-salve-salve" Putin deu a impressão de passividade e de nada fazer, o resultado de 2016 é de vitória de Putin em todos os fronts, inclusive nos mais perigosos e difíceis. Lembram todo o nonsense que esses odiadores-de-Putin escreveram sobre "Putin abandonou o Donbass", "Putin não sabe responder aos turcos que derrubaram o SU-24", "Putin desarmou a Síria" ou "Putin traiu Assad"? Esses "patriotas-salve-salve" há anos preveem fracasso e luto e em todos os casos provou-se que estavam errados. Bastou para fazê-los calar? Mais ou menos

Observei que os blogs do "Putin está abandonando o Donbass" postam cada dia menos e, quando o fazem, os postados nada têm a ver com a campanha contra Putin, daqueles dias. O mesmo vale para os comentaristas ucronazistas em blogs que lhe garantem espaço: parecem ter jogado a toalha e desistido de tentar convencer o mundo de o quão democrática é a junta em Kiev, de que há centenas de tanques russos em Donetsk e de que a Ucrânia vai-se integrar à União Europeia e, da noite para o dia, 'virará' uma Alemanha. Os únicos que ainda insistem na campanha de difamação contra Putin são os presstitutos e presstitutas da mídia-empresa ocidental, mas o fazem pelo salário e para não perder o emprego. Além do que, não sabem fazer outra coisa. Mas feitas as contas, há uma falta generalizada de energia e de entusiasmo nos que pregam ódio à Rússia, e constatar essa falta é verdadeira alegria para mim.

2017 pode ser magnífico ano para o mundo, ou um grande desapontamento. Nesse momento, isso depende principalmente do que Trump fará depois de tomar posse. Para mim, o fato mais importante a considerar é que com Hillary na Casa Branca, o país estaria em risco de grande guerra termonuclear. Agora já não há motivo para acreditar que venha a acontecer. Quanto à lista de coisas boas que *podem* acontecer em 2017 se Trump faz a coisa certa para esse país, é tópico de análise futura.



[assina] The Saker




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