terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

A Política Externa de Trump Será Travada pela Demissão de Flynn

14.02.2017, Moon of Alabama




tradução de btpsilveira





O Assessor para a Segurança Nacional de Trump, Michael Flynn, pediu exoneração depois de apenas três semanas na função. Mesmo não sendo fã de Flynn ou mesmo de Trump, penso que esse descarte é um acontecimento muito perigoso. Impedirá uma grande mudança nas políticas externas dos EUA, como imaginado por Trump.

A demissão ocorreu na sequência de uma campanha minuciosamente orquestrada contra Flynn por funcionários da inteligência dos EUA, a mídia e algumas pessoas dentro da Casa Branca.

Depois da vitória inesperada de Trump nas eleições, a administração Obama disparou sanções contra a Rússia e mandou funcionários da embaixada russa de volta para Moscou. Esse movimento tinha a intenção de bloquear a política de melhores relações com a Rússia, desejada por Trump. Em seguida, Flynn falou com o embaixador russo, e como consequência direta da conversa, os russos não responderam às expulsões e sanções de Obama na mesma moeda. Totalmente de acordo com as políticas já anunciadas por Trump, esse foi um movimento decididamente positivo. Um movimento parecido com esse foi feito por Henry Kissinger, que visitou a embaixada russa semanas antes de se juntar ao NSC (Conselho de Segurança Nacional – NT) de Nixon. Durante a eleição de 2012, o próprio Obama fez um “acordo” similar com os russos numa situação também bastante parecida:

O Presidente Barak Obama foi flagrado pelas câmeras na segunda feira, assegurando ao atual Presidente Russo Dmitry Medvedev que “será mais flexível” ao tratar de assuntos contenciosos como a defesa por mísseis, depois da eleição presidencial.

Apesar dos inumeráveis vazamentos para a imprensa que fluem da Casa Branca, ainda não estou totalmente seguro quanto ao que realmente aconteceu. Inimigos de Trump e alguns funcionários da inteligência acusaram Flynn de ter mentido sobre o telefonema para o embaixador russo. Não ficou claro quais são as tais alegadas mentiras e porque elas seriam importantes.  A dissimulação faz parte inerente de qualquer coisa que tenha a ver com a Casa Branca. Caso Flynn tivesse falado secretamente com o embaixador de Israel (como deve provavelmente ter feito), ninguém ousaria atacá-lo.

Então, por que Flynn ficou realmente pressionado e por que Trump não veio em seu apoio? Seria muito fácil para Trump dizer: “Fui eu que mandei que ele fizesse isso. Obama fez a mesma coisa. Nos dois casos foi um grande sucesso. EUA! EUA! EUA!” Ninguém seria capaz de atacar Flynn posteriormente se tivesse acontecido um movimento de cobertura como esse.

Mas Trump, totalmente fora de seu estilo, calou sua boca e nada fez. O que poderia ter acontecido na Casa branca para refreá-lo, impedindo a ajuda a Flynn?

Com certeza a queixa que outras pessoas tem com Flynn nada tem a ver com a Rússia e sim com assuntos mais quentes, como seus planos para reformar os serviços de inteligência. Acontece que ao deixar Flynn ser jogado tão facilmente às feras, Trump abriu um flanco que permitirá que ele mesmo seja atacado posteriormente.

Ficou parecendo que um pequeno grupo de atuais e antigos funcionários da inteligência – com a inestimável ajuda da imprensa – chutou Flynn para fora da Casa Branca. Eles não vão parar por aí.

Agora há sangue nas ruas e as hienas terão sede por mais.  A mágica de Trump foi quebrada. Ele mostrou sua vulnerabilidade. Agora, eles vão atrás do próximo elo fraco da administração Trump, e do próximo e do próximo indefinidamente até conseguirem isolar Trump e colocar uma coleira em seu pescoço. Ele convidou os inimigos para fazer exatamente isso. Todos os principais movimentos políticos externos de Trump serão barrados. Os entendimentos com a Rússia provavelmente já fracassaram, antes de começar.

Há ainda outro país negligenciado onde a posição de Flynn no NSC influenciou decisões políticas. Há tempos Flyn pressiona a favor da Turquia e por boas relações com o governo de Erdogan. No dia da eleição presidencial um editorial de sua autoria foi publicado, desancando o inimigo de Erdogan, Güllen, e louvando as posições da Turquia.

Depois da posse de Trump e de novas falas sobre zonas de exclusão aérea, o presidente turco Erdogan fez mais uma de suas famosas reviravoltas de 180 graus.
Desde o início da Guerra Erdogan quer uma zona de exclusão aérea (que seria também conhecida como ‘Protetorado Turco’) na Síria. A administração Obama não lhe deu uma e nos últimos anos o rejeitou. Erdogan correu para a Rússia, mas lhe foi dito que teria que renunciar a algumas de suas ambições na Síria: nada de zona de exclusão aérea, nada de marcha turca para Manjib ou Raqqa. Erdogan concordou. Mas com Trump falando em novas sanções e com Flynn instalado no centro do poder, Erdogan mudou sua posição mais uma vez. Começou a pedir novamente por uma zona de exclusão aérea e prometeu mais uma vez conquistar Manjib (nas mãos dos curdos) e Raqqa (tomada pelo Estado Islâmico). Qualquer dessas tentativas pode ser perfeitamente impossível. O exército turco e suas forças de aliados islâmicos estão tentando tomar a muito menor Al-Bab das mãos do Estado Islâmico já há quatro meses, e até agora não conseguiu.

Evidentemente, os russos, que não são bobos, estão anotando esse comportamento irresponsável. Pode-se imaginar o que Erdogan está sentindo agora que seu lobista foi apeado do poder na administração Trump. Se a administração Trump passar a agir contra seus planos, como Obama o fez, ele vai correr de volta para Putin e pedir perdão? Será aceito?

Flynn não é lá uma grande perda para o mundo, para os Estados Unidos e mesmo para a administração Trump. Mas Trump perdeu a iniciativa. Ele tem mantido o prumo e a pauta do dia da mídia através de observações ácidas ou de tweets ultrajantes., Agora, não tem mais esse handicap, que lhe foi tomado através de algumas alegações sem sentido e pela sua fraqueza em não defender um de seus principais quadros.

Ele ainda lamentará o dia em que deixou que isso acontecesse.

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