sábado, 29 de julho de 2017

Contagem regressiva: Guerra dos EUA contra Venezuela

28/7/2017, Moon of Alabama











Domingo, dia 29/7/2017, amanhã, em eleições gerais, a Venezuela elegerá os membros de uma Assembleia Constituinte. 50% dos representantes serão eleitos nos distritos eleitorais já existentes. 50%, em distritos eleitorais especiais: "de trabalhadores", de "agricultores", de "empregados assalariados", dentre outros. Esse segundo grupo talvez pareça estranho, mas não é sistema menos democrático que o sistema eleitoral norte-americano, que dá maior peso aos eleitores em estados rurais, que nos centros urbanos.

A nova assembleia formulará mudanças a serem feitas na atual Constituição. Essas mudanças serão decididas em outra votação geral. É provável que o resultado reforce as políticas favorecidas por grande maioria da população e do governo social-democrata do presidente Maduro.

A parte mais rica da população e os lobbies e governos estrangeiros tentaram impedir ou sabotar a votação. Os EUA usaram vários instrumentos econômicos para pressionar contra o governo da Venezuela, incluindo guerra econômica e sanções cada vez mais ferozes. A oposição organizou violentas confrontações nas ruas, atacou instituições do governo e apoiadores do presidente e convocou greves gerais.

Mas a propaganda do NYT  pinta os comícios-shows da oposição na capital, Caracas, como se não passassem de manifestações de pequenos grupos de umas poucas centenas de jovens quase sempre violentos. As greves gerais convocadas pela oposição tiveram fraca ressonância, e até o Washington Post, obcecadamente anti-Maduro, teve de conceder:


"No setor mais rico da cidade, vários estabelecimentos comerciais fecharam, em apoio à greve convocada pela oposição, que está boicotando a votação e exigindo que seja cancelada.

As principais ruas da capital foram praticamente fechadas no início da manhã, e há notícias da polícia usando gás lacrimogêneo contra grevistas no centro. Nos bairros pobres na região oeste da cidade, a greve pareceu menos ampla, com mais lojas abertas e mais pessoas pelas ruas."


(Tradução, do propagandês do WaPo: "Nem nos bairros ricos da cidade as lojas fecharam completamente. Tentativas, pela oposição, de bloquear ruas e estradas centrais foram impedidas pela polícia. Nos bairros pobres da cidade, a greve convocada pela oposição foi simplesmente ignorada.") A oposição só é ativa nos estratos mais ricos da população e só numas poucas cidades grandes. As áreas rurais pobres conheceram grandes avanços nos governos da social-democracia e continuarão a votar com os chavistas.

Ontem, em coluna assinada no New York Times o lobby da "mudança de regime" do Washington Office on Latin America (WOLA) [Gabinete Washington para a América Latina] expôs os passos adiante rumo à guerra na Venezuela:



Desde o plebiscito, a oposição venezuelana vem tomando medidas para estabelecer um governo paralelo. Pode permanecer como iniciativa simbólica. Mas se a oposição insistir nessa via, logo alcançará condições de aspirar ao reconhecimento e aos financiamentos internacionais e, pelo menos implicitamente, poderá afirmar-se como governo paralelo e exigir o legítimo monopólio do uso da força. Em seguida, poderá buscar o que qualquer governo deseja: armas para se defender. Se for bem-sucedido, o golpe na Venezuela se lançará numa guerra civil, que fará o atual conflito parecer briga a tapas em recreio de escola.

(O Gabinete Washington para a América Latina também teve papel ativo no golpe de Hillary Clinton contra Honduras.)

CIA é pode-se dizer "transparente" sobre os planos:

Numa das pistas mais evidentes de recente intromissão de Washington na política da América Latina, o diretor da CIA Mike Pompeo disse que "tenho esperança de que tenhamos uma transição na Venezuela e nós, a CIA, estamos fazendo o melhor possível para compreender a dinâmica naquela área".

E acrescentou: "Estive recentemente na cidade do México e em Bogotá, há uma semana, falando sobre essa questão, tentando ajudá-los a compreender tudo que eles mesmos devem fazer de modo a obterem resultado melhor para a parte deles do mundo e para nossa parte do mundo."

A nota prossegue:
Na Venezuela, [o governo dos EUA] buscou enfraquecer os dois governos eleitos, de Mr Maduro e de seu predecessor Hugo Chávez, que foi deposto brevemente num golpe em 2002. Alguns dos esforços visaram a distribuir fundos para grupos de oposição mediante organizações como National Endowment for Democracy [Dotação Nacional para a Democracia]; outros esforços aconteceram sob a forma de simples propaganda.


Em maio de 2016 funcionários não identificados dos EUA disseram a jornalistas, num briefing reservado, que a Venezuela caía numa "crise" sempre mais profunda que podia acabar em violência.



Pode-se concluir que a violência que pode em breve abater-se sobre a Venezuela não é ação espontânea da oposição, mas efeito de um plano que está sendo posto em prática de fato desde, no mínimo, maio de 2016. E segue, muito provavelmente, o roteiro das revoluções coloridas a ferro e fogo que os EUA desenvolveram e implementaram em vários países ao longo da última década. Em seguida virão armas e apoio a uma oposição mercenária, fornecidos pelos países vizinhos que o chefe da CIA visitou, ou pelos EUA através daqueles países.


A eleição da Assembleia Constituinte prossegue como foi planejada. A oposição tentará sabotá-la ou, se a sabotagem não funcionar, usará de violência. É provável que armas e apoio e aconselhamento tático já tenham sido entregues através de canais da CIA.

O governo venezuelano é apoiado por eleitorado que supera em números, de longe, a oposição de direita alinhada com os EUA. Os militares não deram qualquer sinal de deslealdade ao governo eleito. A menos que algo imprevisível aconteça, qualquer tentativa para derrubar o governo de Maduro fracassará.

Os EUA também podem ferir a Venezuela, se interromperem as importações de petróleo venezuelano. Mas isso provavelmente fará aumentar os preços do gás norte-americano. Criaria um inconveniente de curto prazo para a Venezuela, mas petróleo é fungível, e outros consumidores sempre aparecerão.

Os EUA já tentam derrubar governos venezuelanos desde a primeira vez que o país elegeu governo com orientação social, em 1999. Os EUA instigaram um golpe em 2002, que fracassou quando povo e militares opuseram-se àquela escandalosa ingerência externa. Depois disso, os métodos de "mudança de regime" mudaram, passando a contar com o apoio também de uma militante "oposição democrática" alimentada de fora do país. 

Essa 'ferramenta' já levou a resultados desastrosos na Líbia e na Ucrânia e fracassou na Síria. Tenho confiança de que o governo da Venezuela analisou esses casos e construiu seus próprios planos para responder a atentado semelhante.

Os EUA acabam de ordenar que familiares dos empregados da embaixada norte-americana deixem o país. É medida que só é tomada quando se antevê ação iminente.*****




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