sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Coreia do Norte: fogo, fúria e medo, por Pepe Escobar

10/8/2017, Pepe Escobar, Asia Times


Antes de qualquer comentário:
ATÉ O MINISTÉRIO DE RELAÇÕES-EXTERIORES-DO-GOLPE-DO-ALUÍSIO sabe que o nome correto do país em português do Brasil é República Popular Democrática da Coreia.












Soam os alarmes com a especulação rampante sobre 'possíveis' ogivas nucleares miniaturizadas de Pyongyang.

Atenção! Cuidado com os cães da guerra. A mesma 'gente' da inteligência que os presenteou com bebês arrancados de incubadora pelos iraquianos 'do mal', e com Armas de Destruição em Massa inexistentes está agora martelando a 'notícia' de que a Coreia do Norte (o nome correto do país é República Popular Democrática da Coreia) teria produzido uma ogiva nuclear miniaturizada que pode ser disparada com seu míssil balístico intercontinental [ing. ICBM] recém testado.


Esse é o núcleo duro de uma análise completada em julho pela Agência de Inteligência da Defesa [ing. Defense Intelligence Agency (DIA)]. Além disso, a inteligência dos EUA acredita que Pyongyang tem hoje acesso a 60 armas nucleares. Inteligência norte-americana em campo é coisa virtualmente inexistente na República Popular Democrática da Coreia –, o que implica que essas avaliações são, no máximo, palpites.

Mas quando se juntam os palpites com um estudo de um ano, 500 páginas, distribuído no início da semana pelo Ministério da Defesa do Japão, sim, começam a soar toques de alarme.

O documento destaca o "significativo avanço" de Pyongyang na corrida nuclear e sua "possível" (itálicos meus) capacidade para desenvolver ogivas nucleares miniaturizadas que poderiam ser instaladas nos mísseis já existentes.

Essa "possível" capacidade vem mergulhada em total especulação. Como se lê no documento japonês, "É concebível que o programa de armas nucleares da Coreia do Norte (sic) já esteja consideravelmente avançado e é possível que a Coreia do Norte (sic) já tenha alcançado a miniaturização de bombas nucleares que caibam em ogivas e já tenha adquirido ogivas nucleares."

As mídia-empresas ocidentais jamais conseguiriam resistir, supondo que quisessem resistir, à pura especulação em rápida metástase segundo a qual "a Coreia do Norte (sic) tem armas nucleares miniaturizadas" e ao frenesi que tomou conta do ciclo das agências distribuidoras de noticiário/manchetes de jornais. Trata-se de corações e mentes confortavelmente tangidos, como gado, pelo fator medo.

O documento japonês, convenientemente, também escalou nas condenações contra a China, relativas às ações de Pequim nos dois mares, do Sul e do Leste da China.

Assim sendo, examinemos as agendas em movimento. O Partido da Guerra nos EUA, com sua miríade de conexões dentro do complexo industrial-militar-midiático, obviamente quer/precisa de guerra para manter azeitadas as máquinas. Tóquio, por sua vez, muito apreciaria um ataque militar preventivo dos EUA – e pouco se incomoda com os muitos sul-coreanos mortos que resultariam do revide de Pyongyang.

É muito esclarecedor que Tóquio, para todas as finalidades práticas, considere a China uma "ameaça" tão séria quanto a República Popular Democrática da Coreia; o ministro da Defesa Itsunori Onodera foi direto ao ponto quando disse "os mísseis da Coreia do Norte (sic) são ameaça cada vez mais grave. Isso, ao lado do comportamento continuadamente ameaçador da China no Mar do Leste da China e no Mar do Sul da China, é grave preocupação para o Japão." A resposta da China veio rápida.

Kim Jong-Un, demonizado ad infinitum, não é doido e não cogita de cometer suicídio ritual, seppuku, unilateral, atacando território da Coreia do Sul, do Japão ou dos EIA. O arsenal nuclear de Pyongyang é arma de contenção contra mudança de regime com a qual nem Saddam Hussein nem Gaddafi puderam contar. Como já comentei ("North Korea really serious options on the table", Asia Times), só há um meio de lidar com a República Popular Democrática da Coreia: diplomacia. Informem logo Washington e Tóquio.

Enquanto isso, há a Resolução n. 2.371 do Conselho de Segurança. Visa diretamente as principais exportações da República Popular Democrática da Coreia – carvão, ferro, pescado. O carvão corresponde a 40% das exportações de Pyongyang, prováveis 10% do PIB.

Mas essas novas sanções não tocaram nas importações de petróleo e produtos refinados de petróleo, vindas da China. É uma das razões pelas quais Pequim votou a favor.

A estratégia de Pequim é esforço muito asiático para encontrar solução na qual todos saiam bem – e isso exige tempo. A Resolução n. 2.371 do Conselho de Segurança ajuda a ganhar tempo – e pode talvez dissuadir o governo Trump, por enquanto, de partir para soluções heavy metal, que teriam consequências horríveis.

O ministro de Relações Exteriores da China Wang Yi declarou, cautelosamente, que as sanções são sinal de oposição internacional aos programas de mísseis e armas nucleares da República Popular Democrática da Coreia. A última coisa de que Pequim precisaria seria guerra ali junto às suas fronteiras, que certamente também interferiria negativamente na expansão das Novas Rotas da Seda, também chamadas Iniciativa Cinturão e Estrada [ing. Belt and Road Initiative (BRI)].

Pequim sempre poderia trabalhar para reconstruir confiança entre Pyongyang e Washington. É ordem superior aos Himalaias. Basta rever o "Quadro do Acordo" [ing. Agreed Framework] de 1994, assinado durante o primeiro mandato de Bill Clinton.

O Quadro do Acordo visava a congelar – até mesmo a desmontar – o programa nuclear de Pyongyang, e normalizar as relações entre EUA e a República Popular Democrática da Coreia. Um consórcio liderado pelos EUA construiria dois reatores nucleares de água leve para compensar a perda de poder nuclear de Pyongyang; as sanções seriam levantadas; os dois lados emitiriam "promessas/compromissos formais" contra o uso de armas nucleares.

Nada aconteceu. O "Quadro" caducou em 2002 – quando a República Popular Democrática da Coreia foi incluída no "eixo do mal" pelo regime Cheney. Para nem falar que a Guerra da Coreia tecnicamente continua até hoje; o armistício de 1953 jamais foi substituído por um verdadeiro tratado de paz.

Assim sendo, e agora? Três lembretes.

1) Cuidado com ataque sob falsa bandeira, montado para culpar Pyongyang; e que pode ser perfeito pretexto para guerra.

2) A narrativa que se ouve hoje é assustadoramente semelhante à dos suspeitos de sempre, que desde o começo dos tempos 'protestam' contra o programa iraniano (inexistente) para "construir uma arma nuclear".

3) A República Popular Democrática da Coreia do Norte é proprietária de trilhões de dólares em minérios não explorados. Basta observar o ir e vir dos vários interessados em se apropriar desse sumarento butim.*****




Nenhum comentário:

Postar um comentário