quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Derrotado por todos os lados, o tirano saudita declara guerra ao Líbano


7/11/2017, Moon of Alabama


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu





O príncipe saudita Mohammed bin Salman, MbS, está expurgando toda a resistência interna potencial e solidifica sua posição ditatorial. (O movimento inclui monumental confisco de dinheiro. Todos os bens dos acusados de corrupção estão confiscados pelo estado o qual, na Arábia Saudita, é o próprio tirano.) A consolidação interna do poder é prelúdio de ataque externo mais amplo.

Ao mesmo tempo, enquanto prossegue o expurgo interno, MbS implementa agenda extremamente agressiva de política externa tomando por alvo o Irã e seus aliados. Derrotado no Iraque e na Síria e preso no atoleiro no Qatar e no Iêmen, o governante saudita decidiu arriscar a sorte no Líbano. O saudita declara guerra ao Líbano e aplica enorme pressão econômica e política sobre o país. Mas de nada adiantará. A guerra só empurrará o Líbano cada vez mais para o âmago do campo da "resistência" e o levará a unir forças com Síria, Irã e Rússia.

(O que se lê aqui é quase exclusivamente relação do que estão informando várias fontes. Minha análise pessoal virá depois, em postado à parte.)

Os planos sauditas estão bem coordenados com os EUA e têm pleno apoio do governo de Israel. O homem de frente no governo dos EUA para todas as questões do Oriente Médio é o genro de Trump (e arqui-sionista) Jared Kushner. Jared esteve três vezes na Arábia Saudita esse ano, a última muito recentemente. David Ignatius do Washington Post chama de "consolidação de poder":


Mês passado, Kushner, principal conselheiro de Trump e seu genro, fez visita pessoal a Riad. Os dois príncipes permaneceram juntos até quase 4h da manhã, várias noites, trocando experiências e planejando estratégia.


Semana passada, o ministro saudita (e extremista) Thamer al-Sabhan conclamou a derrubar o Hizbullah e prometeu "desenvolvimentos surpreendentes". 6ª-feira à noite, o primeiro-ministro libanês Saad al Hariri foi mandado de volta para seu país natal a Arábia Saudita e forçado a ler a própria renúncia numa rede de TV saudita. Nenhum de seus conselheiros no Líbano sabia do que estava a caminho. Diz-se que Hariri não renunciou voluntariamente e que está em prisão domiciliar. Há até um Relógio Libertem Hariri que marca as horas, minutos e segundos da provação. O presidente do Líbano não aceitou a renúncia do primeiro-ministro e exige que Hariri retorne ao Líbano. Chamamos a renúncia de "Tiro de abertura da guerra dos sauditas contra o Hizbullah"

No sábado, o governante saudita engajou-se na noite das facas longas e prendeu todos os seus possíveis concorrentes internos.

Na mesma noite, um míssil lançado por forças Houthi/Saleh no Iêmen atingiu um ponto próximo do aeroporto na capital saudita, Riad. Esses ataques com míssil são retaliação pelos dois anos de intenso bombardeio dos sauditas contra o Iêmen, que até agora mataram provavelmente mais de cem mil pessoas. Embora fosse movimento provavelmente não relacionado aos outros eventos, acrescentou-se à narrativa anti-Irã que os sauditas propagam. Os sauditas dizem que os mísseis do Iêmen têm origem no Irã e são disparados por especialistas iranianos. O Irã nega. Especialistas em armamento no IHS Janes refutam a acusação:


O míssil Burkan-2 disparado pelos Houthis é derivado de Scud e é diferente das variantes fabricadas pelo Irã e pela RPDC.


Os Houthi no Iêmen são apoiados por elementos do exército iemenita comandados pelo ex-presidente Saleh do Iêmen. O exército do Iêmen há décadas possui e usa variantes de mísseis Scud. É improvável que precise de ajuda para modificá-los e dispará-los.

Os sauditas apoiam nominalmente as forças iemenitas sob comando de Hadi, sucessor de Saleh. O ex(?)-presidente do Iêmen Hadi está, como o ex(?)-primeiro-ministro do Líbano mantido em prisão domiciliar na Arábia Saudita. O ex(?)-presidente palestino Abbas, que já ultrapassou em muito o próprio mandato legal, também foi chamado a Riad. Ninguém sabe se algum dia voltará.

Ontem, o ministro saudita Thamer al-Sabhan declarou guerra ao Líbano:


O ministro saudita de assuntos do Golfo Thamer al-Sabhan, disse na 2ª-feira que o Líbano declarou guerra à Arábia Saudita por algo que ele descreveu como agressão contra o Reino pelo grupo Hezbollah apoiado pelo Irã.

"Trataremos o governo do Líbano como governo que declara guerra à Arábia Saudita por causa da agressão pelo Hezbollah", disse ele, em resposta a decisões recentes tomadas pelo governo libanês.

...

O ministro saudita disse que Hariri e o governo libanês não aceitam as posições da milícia Hezbollah, reforçando que o que se diz sobre Hariri ter sido forçado a renunciar são mentiras difundidas no Líbano.

"O Líbano está sequestrado pelas milícias do Hezbollah e por trás delas está o Irã" – disse ele.

Soa como perfeita loucura que os sauditas cogitem de abrir outro front naquela guerra caótica que fazem contra supostas influências iranianas. As forças sauditas foram derrotadas no Iraque e na Síria. A guerra deles contra o Iêmen e o Qatar está num impasse. Cada movimento dos sauditas resultou em aumento do poder e da influência do Irã. Difícil compreender por que quereriam repetir a mesma experiência no Líbano. Mais difícil ainda compreender por que os EUA e Israel apoiam esse movimento perdedor.


Donald J. Trump
 @realDonaldTrump 
- 3:03 PM - 6 Nov 2017
Tenho grande confiança no rei Salman e no príncipe coroado da Arábia Saudita, eles sabem exatamente o que estão fazendo....

O primeiro-ministro de Israel Netanyahu ativou seus diplomatas para fazerem lobby a favor da posição dos sauditas:



Barak Ravid @BarakRavid - 12:11 PM - 6 Nov 2017

1 \ Publiquei no canal 10 um telegrama enviado a diplomatas israelenses pedindo que trabalhem a favor dos sauditas\Hariri contra Hezbollah

2 \ O telegrama enviado do Ministério de Relações Exteriores em Jerusalém para todas as embaixadas de Israel seguem a linha saudita sobre a renúncia de Hariri 

3 \ Os diplomatas israelenses foram instruídos a informar os governos que os hospedam sobre a situação política doméstica no Líbano. Movimento realmente raro 

4 \ O telegrama dizia: "Devem todos reforçar o quanto a renúncia de Hariri mostra como Irã e Hezbollah são perigosos para a segurança do Líbano"

5 \ "A renúncia de Hariri prova que é errado o argumento de que a participação do Hezbollah no governo estabilizaria o Líbano" – o telegrama acrescenta 

6 \ O telegrama dá instruções aos diplomatas israelenses para que apoiem a Arábia Saudita na sua guerra com os Houthis no Iêmen

7 \ O telegrama também reforçava: "O míssil lançado pelos Houthis na direção de Riad obriga a aumentar a pressão sobre o Irã e o Hezbollah". FIM



Não há fronteira comum entre Líbano e Arábia Saudita, mas há muitas relações econômicas. Os sauditas têm há anos patrocinado clãs sunitas no Líbano. Muitos árabes do Golfo investiram em Beirute. É destino de férias preferido deles. Empresas libanesas prestam muitos serviços em países do Golfo.

Há pouco que os sauditas possam fazer para ferir militarmente o Líbano. Podem querem transferir seus terroristas da Al-Qaeda e do ISIS, da Síria para o Líbano, mas isso exigiria cooperação da Turquia. Mesmo essas forças não seriam suficientes para dar combate ao Hizbullah, que tem elos profundos que conecta o movimento à população libanesa.

Os sauditas usarão, como contra o Qatar, meios econômicos para sangrar o Líbano. É bastante óbvio que essas medidas ferirão sobretudo seus próprios aliados no Líbano. De que modo agredir o Líbano muda a situação a favor dos sauditas? Analistas concordam que as medidas sauditas realmente ferirão. Mas simultaneamente reforçarão a influência de Hizbullah, Irã e Rússia.


Elias Muhanna
 @QifaNabki - 1:36 PM - 6 Nov 2017
Não sendo guerra aberta, como a Arábia Saudita poderia pressionar o Hizbullah? (Tema em discussão) 1/

Um ministro saudita anunciou que a própria existência do Hizbullah no governo libanês já equivaleria a uma declaração de guerra. 2/

Exceto atacar o Líbano (do que Nasrallah, sec-geral do Hizb, zombou no fim-de-semana), o que os sauditas poderiam fazer? 3/

A Arábia Saudita pode lançar uma lista de demandas ao governo libanês, semelhante ao que fez com o Qatar. 4/

Demandas podem incluir: Hizbullah deve deixar o governo: deve depor armas; cessar qualquer atividade militar além das fronteiras do Líbano. 5/

A menos que as demandas sejam atendidas, o Reino Saudita pode congelar relações c/Líb, fechar as próprias fronteiras a negócios libaneses, bloquear todo o apoio a instituições no LB. 6/

Arábia Saudita tem muitíssimo poder sobre o Líbano; provavelmente mais do que sobre qualquer outro país, exceto o Bahrain. 7/

Com essa política de linha-dura, sinaliza para o Irã que o Hzb cresceu demais e tornou-se grande demais e perigoso demais. 8/

O Hizbullah fez tempestades antes, quando Israel ameaçou desmascarar o governo do Líbano. 9/

Mas pôr o dedo no nariz de Israel com todo o mundo árabe do seu lado é diferente de encarar bloqueio saudita. 10/

Outro analista, que viveu muitos anos no Líbano, tem visão ligeiramente mais positiva (editado para maior legibilidade):


Elijah J. Magnier @ejmalrai - 7:50 PM - 6 Nov 2017
Arábia Saudita prepara guerra contra o Líbano: primeiro ataca as finanças, bloqueia o tráfego aéreo, convida outros países árabes a unir-se a ela.

Arábia Saudita está provocando o Líbano e deve-se esperar que escale gradualmente os procedimentos

Líbano terá de se voltar na direção da Síria para economia/viagens e na direção da Rússia, com os EUA fingindo que nada veem.

Qatar e Irã apoiarão a economia do Líbano: será criado um novo front e solidariedade contra a provocação saudita Arábia Saudita.

Arábia Saudita acredita (erradamente) que pode liderar o Oriente Médio: EUA cometeram o mesmo erro antes, e esse erro trouxe a Rússia para a região.

Arábia Saudita jamais teve política externa clara, nada sabe de diplomacia e está operando por uma mentalidade tribal: ou comigo ou contra mim.

Porque @realDonaldTrump não tem nem ideia do que seja a política do Oriente Médio e aceita qualquer coisa que Arábia Saudita está fazendo, deve-se esperar mais instabilidade.

Israel não precisa agir contra Hezbollah ou #Líbano: Arábia Saudita está fazendo o serviço por Israel.

A questão é: por quanto tempo a Arábia Saudita consegue manter-se internamente e regionalmente? Mesmo que não se mantenha por muito tempo, o OM está já tão instável...

Quando Arábia Saudita diz: "'Líbano está sequestrado por Hezbollah e Irã, os sauditas tratarão o governo libanês como inimigo de seu estado" significa que o Reino da Arábia Saudita já está em guerra.

Mas a Arábia Saudita está apresentando o Hezbollah como uma espécie de "superpotência" e/ou um "estado" contra o qual o reino lutará: está ampliando o relevo do Partido de Deus.

O mesmo estilo é em geral usado por Israel antes de agir contra #Hezbollah: a Arábia Saudita está copiando a retórica.

Bahrain, Emirados terão de se unir à Arábia Saudita mais cedo ou mais tarde para mostrar que o Reino Saudita não está sozinho: devem-se esperar novas acusações.

Muitos árabes têm fortuna no Líbano, propriedades e negócios, tudo isso pode ser rapidamente afetado pela atitude beligerante dos sauditas.

Arábia Saudita parece ter apoio ilimitado: dinheiro é poder, claro. Mas aprendam do caso sírio e seis anos de guerra.

Arábia Saudita quer ver governo libanês sem nenhum ministro do Hezbollah.

A influência do Hezbollah no #Líbano não resulta de ter um par de ministros.

Arábia Saudita quer que o Hezbollah pague o preço do papel efetivo e do sucesso que teve na Síria, Iraque, Iêmen, na luta para derrotar o ISIS.

Arábia Saudita quer também proteger as dezenas de milhares de terroristas da Al Qaeda ainda em  Idlib, e quer privar o Irã de seu exército.

"Derrotar" o Hezbollah implicará deixar o Líbano sem proteção contra Israel e pavimentar o caminho para um relacionamento oficial de árabes e Telavive.

Ainda que o primeiro-ministro Hariri volte da Arábia Saudita para Beirute, sua família lá ficará e ele de modo algum poderá desobedecer ao desejo dos sauditas.

O retorno de Hariri ao Líbano não resolverá o problema, mas dará mais contexto aos eventos: nada de grande coisa.




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