3/11/2017, Elijah J. Magnier Blog
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Forças do Iraque avançam na direção de al-Qaem, a última base que resta do 'Estado Islâmico' (ISIS) no Iraque, para pôr a última pedra sobre a cova do grupo terrorista e do "Califato do Estado Islâmico" que tanto ocupou as manchetes em todo o mundo ao longo dos últimos anos e, de fato, também ocupou grandes áreas dos territórios do Iraque e da Síria.
ISIS sabe que al-Qaem cairá em bem pouco tempo, a cidade não conseguirá manter-se por muito tempo. Muitos dos grupos e militantes do grupo já fugiram para os numerosos refúgios organizados nos últimos anos – segundo relatórios da inteligência – no deserto de Anbar no Iraque e na al-badiya [franjas do deserto] síria, onde o ISIS pode esconder-se em dezenas de milhares de quilômetros ao longo das fronteiras sírio-iraquianas.
ISIS lá ficará para lamber as feridas e tentar reorganizar seus grupos depois da derrota que lhe foi imposta, como se vê pelo território que lhe resta (em relação ao que já ocupou desde 2014) e também pelo número de militantes, que só encolhe. Muitos combatentes estrangeiros estão ou mortos ou, também muitos, já deixaram o grupo, que não está conseguindo recrutar novas forças. Mas o mais importante é que secaram os recursos do ISIS: já não controla reservas de petróleo e gás, nada de poder cobrar impostos, nada mais dos instrumentos para roubar e vender, e nada das 'doações' que chegavam do mundo árabe.
ISIS perdeu suas poderosas, eficientes, excepcionais ferramentas de propaganda e a própria máquina: depois da libertação de Mosul e de grande parte do Iraque, da libertação de Palmyra, Raqqah, Deir-ezzour, grande parte da al-badiya, o Exército Árabe Sírio libertou a cidade de al-Mayadeen, onde o ISIS manteve sua base de mídia. Forças em al-Mayadeen tomaram um estoque enorme de ferramentas e praticamente todo o aparelho de propaganda do ISIS, reduzindo a capacidade do grupo para produzir propaganda online e para os veículos da mídia-empresa tradicional.
Seja como for, é preciso não esquecer que o terrorismo jamais será completamente derrotado, e que é óbvio que permanecerão células ativas, que encontrarão sociedades que as hospedem ou lhes garantam cobertura. Implica dizer que se devem esperar ataques pelo ISIS na Mesopotâmia, no Levante, na África Oriental, na Ásia e em outras partes do mundo, de tempos em tempos. Absolutamente não implica que o ISIS esteja de volta ou que se esteja fortalecendo. Ao contrário, será o modo de o grupo dizer: "Pensaram que eu estivesse morto, mas ainda posso causar considerável dano".
Hoje, a base de todas e quaisquer fachadas de algum 'estado islâmico' estão destruídas. O ISIS perdeu duas cidades chaves que foram estados islâmicos no antigo Islã (no Iraque e na Síria), o que deixa o ISIS numa posição de não retorno aos tempos de 2014, quando ocupava a maior parte do norte do Iraque e grande parte da Síria. De fato, hoje, o ISIS está descartado na lata do lixo da história.
Muitas especulações continuam a aparecer sobre o "desafio que o Iraque terá pela frente para evitar a volta aos tempos do ISIS em 2014." Essas especulações e análises estão baseadas no pessimismo e pecam por não ter contato com analistas em campo e suas dinâmicas; aí pensam a milhares de quilômetros de distância do Iraque e da Síria.
Hoje, o ISIS é o inimigo de xiitas, sunitas, cristãos, iazidis, curdos e todos os demais. Os iraquianos conheceram na pele o modo ISIS de governar e não permitirão que retorne a ocupar o campo.
Em relação à reconstrução, sim, há um desafio real diante de todos os países da guerra. Toda a Europa (inclusive a Alemanha) sofreu ao longo de décadas por efeito da ocupação alemã e da destruição produzida por duas Guerras Mundiais. A economia e a infraestrutura do Líbano ainda não se recuperaram da guerra civil de 1975. Síria, Iêmen e Iraque sofrerão o peso financeiro que a devastação da guerra causou. Nada disso é novidade, porque a guerra sempre deixa um legado de destruição da infraestrutura e de moradias, e milhares de feridos necessitados de atenção médica continuada e cara, ainda que o resto do mundo se una para financiar a reconstrução.
Quanto ao dia seguinte político no Iraque, o país provou que está fora da esfera de controle do Irã e dos EUA.
O Iraque (Bagdá até Erbil) beneficiou-se do apoio militar iraniano em 2014, quando os EUA assistiram e esperaram durante mais de seis meses, enquanto o ISIS ia engolindo cidade após cidade. Mas depois disso, quando os EUA decidiram intervir, o Iraque beneficiou-se das informações de inteligência, do treinamento e do apoio aéreo que lhes deram os norte-americanos, para derrotar o ISIS. O Iraque também se beneficiou das boas relações com vizinhos como Turquia, Kuwait e Arábia Saudita independente do nível de animosidade entre alguns desses países e o Irã. Bagdá deixou claro que sua linha de política não se constrói contra alguém e que gostaria de se manter fora da disputa regional e internacional. O Iraque quer distanciar-se das diferenças dentro do Oriente Médio, porque seu interesse nacional vem antes de outros interesses regionais ou internacionais. Sem dúvida, o Iraque pode operar como mediador entre os países do Oriente Médio, mas só o fará se convidado.
De fato, o comandante do Corpo de Guardas Iranianos Revolucionários [ing. Iranian Revolutionary Guard Corps (IRGC)] e enviado do Grande Aiatolá Ali Kamenei, general Qassem Soleimani, oferece o apoio de seu país para a unidade do Iraque e derrota do ISIS. Como também o Enviado Especial do Presidente dos EUA à Coalizão Global para derrotar o ISIS, Brett McGurk. Esses dois têm os mesmos objetivos e não devem esperar que o Iraque venha a adotar as respectivas políticas deles para o Oriente Médio nem que se adaptará à animosidade deles.
Acima de tudo, Bagdá está construindo boas relações com Damasco e cooperando com o Exército Árabe Sírio para derrotar o terrorismo que fere os dois países, apesar de os EUA não apoiarem o presidente Bashar al-Assad da Síria. Além disso, o primeiro-ministro do Iraque HaidarAbadi viajou a Riad e à Turquia para promover a reconstrução e o investimento nesse país, sem considerar o apoio que sauditas e turcos dão ao ISIS (que se chamava al-Qaeda no Iraque até e inclusive 2014).
Tudo isso para dizer que o Iraque não servirá como plataforma para que Irã e/ou EUA lutem suas guerras em seu território, apesar da presença de mais de 5.200 soldados e pessoal militar dos EUA e de grupos e organizações iraquianas próximas do Irã. Esses grupos iraquianos ajudam hoje as Forças de Mobilização Popular [ing. Popular Mobilisation Forces (PMF)] na guerra delas ao terror. Alguns continuarão dentro das Forças de Mobilização Popular; outros se separarão ao final dessa guerra. Esses estão ideologicamente conectados com a liderança religiosa do Irã – como também estão conectados muitos xiitas no mundo islâmico –, mas são iraquianos os quais não agirão contra os interesses do país deles, porque são parte da sociedade iraquiana. Atualmente, assim como há muitos curdos iraquianos fiéis aos EUA no Curdistão iraquiano, há também iraquianos sunitas fiéis à Arábia Saudita. Dado que a Mesopotâmia está andando rumo à democracia, são naturais a diversidade cultural, religiosa e política e as alianças.
Depois a derrota do ISIS, a liderança em Bagdá não tolerará nenhum grupo religioso ou político que pretenda manter as próprias armas, ou grupos armados de qualquer tipo fora das instituições militares e de segurança. As Forças de Mobilização Popular estão, como as Forças de Contraterrorismo, Polícia Federal e o Exército Federal, sob o comando do primeiro-ministro do Iraque, que também é comandante-em-chefe das forças armadas. Desde a guerra contra o ISIS e a criação das Forças de Mobilização Popular em 2014, elas jamais cumpriram agendas não iraquianas, fossem quais fossem as bandeiras que ostentassem no campo de batalha.
No Iraque, há uma nova realidade que todos devem compreender: nenhuma propaganda hostil pode afetar as forças de segurança ou a liderança política. A Mesopotâmia declarará um Dia da Independência Nacional, no momento em que terminar a ocupação, pelo ISIS, de todas as cidades. Com o fim do ISIS, cessará toda a influência estrangeira, regional ou internacional. O Iraque planeja manter muitos amigos e aliados e construir pontes para um novo Iraque.*****
Excelente
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