sábado, 4 de novembro de 2017

Rússia manipulou... o Brexit! :-)))) - por Neil Clark

Da série "Toda a mídia-empresa é a mesma mídia-empresa"


30/10/2017, Neil Clark, SputnikNews





E bem quando você pensou que nada de mais ridículo poderia acontecer com as teorias da conspiração anti-Rússia ... aconteceu!

O Kremlin já foi acusado de ter ajudado a pôr Donald Trump na Casa Branca – e de ter interferido em eleições em todos os cantos do "mundo livre". Pois agora aqueles amaldiçoados Russkies têm de pagar também pelo Brexit!

Putin jantou meu porquinho-da-Índia 

Na sua habitual coluna "Culpa de Putin" para o Observer dia 21 de outubro, Nick Cohen militante pró-guerras diz que seria irrealismo crer que a Rússia não interferiu no Brexit, porque interferiu nos processos eleitorais de outros países ocidentais.

"Nas raras ocasiões em que se dispõe a discutir o tema, o estado britânico diz que 'isso não pode acontecer aqui', mesmo que 'isso' esteja acontecendo em todos os outros lugares" – escreve ele.

Só há um pequeno problema com a tese de Nick. Simplesmente não há prova alguma de que 'isso' esteja acontecendo ou tenha acontecido noutros lugares. De fato, ninguém até hoje conseguiu provar que a Rússia tivesse interferido em qualquer eleição, em qualquer lugar do mundo, a qualquer tempo.

França? O chefe da Inteligência Francesa admitiu que uma invasão e roubo de dados da campanha de Macron antes das eleições presidenciais desse ano foram "tão genéricos e elementares que poderiam ter sido praticados por qualquer um."

Alemanha? Até o super reacionário Washington Post informou que não houve envolvimento dos russos.

Os EUA? #Russiagate já está sendo desenredada como sequência de nós, na qual a mais recente descoberta é que a campanha de Clinton e o Comitê Nacional Democrata pagaram pela pesquisa que deu origem ao dossiê sobre supostos contatos entre Trump e o Kremlin. Como tuitou um comentarista norte-americano Max Blumenthal:




O que nos traz de volta a Mr Cohen do Observer. Como propagandista neoconservador que é, aproveita-se de noticiário falsificado sobre "Interferência russa em todo o mundo democrático", para promover mais noticiário falsificado, agora sobre o Brexit. No mesmo artigo, no qual promove essa teoria da conspiração absolutamente imune a qualquer fato, Cohen acusa a rede RT de convidar "teóricos da conspiração" para seus programas de entrevistas. Aquela velha história. Lembram-se das armas de destruição em massa no Iraque? 


Vejo a mesma gangue de propagandistas pró-guerra que nos contaram que havia ADM [Armas de Destruição em Massa] no #Iraq, agora propagandeando a teoria da conspiração segundo a qual o #Brexit foi trabalho dos russos... 12:09 PM - Oct 22, 2017

Conhecem Ben, O Bombardeador? 

Nem é preciso dizer que "o passe livre que tem a Rússia para destruir toda a democracia ocidental" foi aprovado nas mídias sociais pelo deputado Trabalhista por Exeter Ben Bradshaw. Se o nome faz ecoar sinais de alarme, é normal e esperável. Bradshaw foi quem afirmou no Parlamento, em dezembro passado, que era "altamente provável" que a Rússia interferiu no processo do Brexit – e também disse que a Rússia estava deliberadamente enviando levas de refugiados para a Europa, para desestabilizar a União Europeia. 

E Ben O Bombardeador também foi logo avisando que não tinha provas de coisa alguma, mas... que diabo?! Quem precisa de provas para acusar os outros, se você é deputado do Parlamento britânico?! ["Parlamento-Britânico-com-tudo"?! Será o Benedito? Será uma modinha universal, do capitalismo em crise?! (NTs)] 

O histórico dos votos de Bradshaw em questões de política exterior explica tudo que se tem de saber. Sempre foi furioso defensor de a OTAN bombardear imediatamente a Iugoslávia em 1999, e "votou consistentemente" a favor da guerra no Iraque. Apoiou o bombardeamento da Líbia em 2011, e em 2015 foi um dos 66 deputados Trabalhistas que traíram o líder Jeremy Corbyn e votaram com David Cameron a favor de ele bombardear a Síria.

Em outubro de 2016, O Bombardeador foi também um dos 100 deputados Trabalhistas que se recusaram a apoiar a moção de seu partido para suspender o apoio da Grã-Bretanha aos sauditas que bombardeavam o Iêmen.

Agora, Ben O Bombardeador pôs-se a fuzilar a Rússia. O mesmo que um dia trabalhou no conselho consultivo da super linha-dura neoconservadorareacionária Henry Jackson Society, clama por "completa investigação governamental" de "todos os aspectos da subversão [russa]." Há uma petição, entusiasticamente promovida pela gangue "progressista" dos pró-guerra. Entre os Trabalhistas que retuitaram a petição está Alistair Campbell, principal 'especialista' assecla de Blair – o qual, claro, também retuitou o artigo de Cohen O Bombardeador em Observer.


Brigada pró-Guerra no Iraque ('Ala Progressista') quer nos convencer de que a Rússia fez acontecer o Brexit! Só queria saber onde meteram aquelas Armas de Destruição em Massa...

Por que os britânicos aprovaram o Brexit

Mas em seu entusiasmo para conectar o Brexit ao Kremlin esses Blairitas virtuosos pró-massacre do Iraque podem estar cometendo um grande erro. Os britânicos não aceitarão sem protestar a ideia de que votaram a favor do Brexit 'porque' a Rússia interveio. Que grave insulto a todos que realmente querem sair da União Europeia!

A verdade é que 52% ignoraram completamente a opinião dos Sir Richard Branson, Sir Bob Geldof, J.K. Rowling, Nick Cohen e Ben Bradshaw – porque estão fartos do status quo e querem mudar. Votar a favor de "Sair" foi visto – certo ou errado – como bom modo de castigar uma elite política e financeira sem noção da realidade, sem contato com o mundo real, que há décadas desorienta e desgoverna o país. Uma elite que forrou os próprios ninhos, enquanto os cidadãos comuns padeciam a maior redução nos padrões de vida desde os anos 1920s. Com milhões enfrentando as dificuldades terríveis da economia real, também havia preocupações com os relativamente altos níveis da imigração, provocada pela livre movimentação numa UE ampliada e por tanta gente obrigada a fugir de guerras instigadas pelos neoconservadores e suas campanhas de desestabilização no norte da África e no Oriente Médio.

Se alguém não gosta do Brexit e quer encontrar culpados, que culpe Blair, Brown, Cameron e Osborne –, não Vladimir Putin. Seja como for, os gritos de "interferência externa" que se ouvem do lado dos pró-guerra soam perfeitamente ocos, se se considera que o presidente dos EUA Barack Obama interferiu abertamente a favor dos que votariam a favor de "Ficar" na UE, e a campanha pró "Ficar" recebeu £1 milhão (US$1,32m) de quatro grandes bancos norte-americanos dois dos quais foram Goldman Sachs e J.P. Morgan.

As ações dos EUA não nos devem surpreender, uma vez que a Comunidade Econômica Europeia/União Europeia foi projeto apoiado desde o primeiro momento por Washington/CIA. E, claro, os EUA sempre derrubaram governos democraticamente eleitos, há décadas, por todo o mundo. Mas nem falemos muito sobre isso, porque nada disso combina com a narrativa "Só os russos malvados metem-se na democracia dos outros". OK. 

Diferentes de Obama, nem Putin – nem qualquer membro do alto comando do governo russo – jamais disseram aos britânicos como votar. Nós simplesmente nem sabemos se Putin queria o Brexit ou se preferia que a Grã-Bretanha ficasse na UE. Putin pode ter sido um "pró-saída" tímido; mas há alta probabilidade de que preferisse que a Grã-Bretanha ficasse na UE –, porque fora dela o Reino Unido estaria ainda mais intimamente ligado aos EUA. Também é perfeitamente possível e provável que Putin e todos os russos se lixem para a Grã-Bretanha, dentro ou fora da UE.

O Fantasma do Kremlin 

Os que dizem que o Kremlin teria "o sonho" de ver estilhaçada a UE, como o jamais eleito e compositor de bem-sucedidos musicais do West End Lord Lloyd Webber disse recentemente, não têm coisa alguma a apresentar como prova do que dizem.

Fato é que os chamados "veículos de propaganda do Kremlin" RT Sputnik deram espaço aos dois lados no debate em torno do Brexit. Alguns dos mais persuasivos argumentos da esquerda contra o Brexit foram publicados aqui mesmo, redigidos por John Wight. E um dos mais impressionantes defensores de "Ficar" que vi entrevistados na TV britânica foi Mike Galsworthy, fundador de Scientists4EU, e foi entrevistado no canal RT-UK.

Além do mais, a teoria de "Brexit foi complô russo" não explica por que muitos dos mais furiosos opositores do Kremlin, como Michael Gove, Dan Hannan e Douglas Carswell tanto se empenharam em campanha a favor do "Sair" [da UE]. Alguém aí acha, honestamente, que alguém como Michael Gove apoiaria causa que ele supusesse, ou remotamente suspeitasse que fosse promovida pelo Kremlin? Ou, quem sabe, a próxima ideia dos russofóbicos será que Gove seria, na verdade, agente duplo, cujo verdadeiro nome seria Mikhail Govesky? É cômico, mas no clima em que se vive hoje, quando até Pokemon Go é suspeito, não se pode descartar nenhum (outro) absurdo.

Nova caça às bruxas, só que 'progressista' 

Defensores sensíveis de que a GB fique na UE devem evitar deixarem-se encurralar no que já é caça McCarthyista às bruxas – promovida pela ala "progressista" do partido da guerra sem fim na mídia-empresa e na política, todos esses operando sempre a favor de uma agenda obsessivamente anti-Rússia.

Hoje, a caça às bruxas está dirigida a um doador da campanha a favor de Brexit, Arron "Money" Banks, que foi tornado suspeito porque (a) parece ter tido mais dinheiro em um ano do que teve no ano anterior e (b) porque tem esposa russa.

Ora, eu tenho esposa húngara – o que significaria que, se eu começar a doar dinheiro para candidatos em campanhas políticas, ter-me-ei convertido em agente a serviços de Viktor Orban e do governo húngaro? Já chegamos a esse ponto?

Há ainda um ponto importante a esclarecer, que tem a ver com desenvolvimentos recentes. O fato de que alguns na ala "liberal" do establishment tanto insistam em que o Brexit teria acontecido por causa da 'interferência' de certa potência estrangeira – não por causa dos fracassos políticos domésticos e no front externo –, mostra que nada aprenderam do chute que levaram no traseiro, dia 23/6/2016, no "Desfiladeiro Khyber". Vai que na próxima o chute tenha de ser ainda mais forte, para que afinal captem a mensagem.*****



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