terça-feira, 20 de março de 2018

"Nenhum paciente exibiu sintomas de envenenamento por veneno de efeito neurológico em Salisbury"

19/3/2018, Moon of Alabama


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Houve alguns interessantes desenvolvimentos no caso de suposto envenenamento do agente duplo britânico-russo Sergej Skripal e sua filha.

As posições do governo britânico sobre o 'evento' vão-se tornando mais precárias a cada instante, conforme começam a ser manifestadas mais e mais dúvidas, e mais e mais inconsistências no que disseram as autoridades britânicas. E desaba o apoio internacional à 'versão May' dos fatos.

Dia 4 de março os Skripals desmaiaram num banco público em Salisbury, Inglaterra, depois de visitarem um pub e um restaurante. Foram levados ao hospital local. Um policial local teria sido provavelmente afetado também. (Ao final, há uma relação de postados sobre o assunto, com muitos detalhes.) Uma semana depois, dia 12 de março, o governo britânico disse que um veneno de ação neurológica teria sido a causa do 'incidente' e acusou a Rússia de ter sido responsável pelo envenenamento:


Mr Skripal e a filha foram envenenados com Novichok – veneno de ação neurológica e de nível militar desenvolvido pela Rússia. Considerada essa disponibilidade, associada aos registros de eventos em que a Rússia praticou esse tipo de assassinatos patrocinados pelo Estado – inclusive contra ex-funcionários da inteligência, que os russos tomam por alvos legítimos – o governo britânico concluiu que com alta probabilidade a Rússia foi responsável por esse ato cruel e desprezível.


Novichok não é veneno com ação neurológica, mas, supostamente, um grupo de substâncias químicas investigadas na URSS por ter potencial ação neurológica. Só recentemente algumas dessas substâncias chegaram a ser sintetizadas.

O ex-embaixador Craig Murray noticiou que a frase "veneno de ação neurológica e de nível militar" foi formulação combinada entre o governo britânico e seus especialistas em armas químicas no laboratório estatal de Porton Down. Observe que a declaração não acusa a Rússia de estar envolvida no caso de Salisbury.

O governo britânico 'exigiu' que a Rússia se manifestasse no prazo de 24 horas, sem apresentar qualquer prova de que alguma Rússia tivera algo a ver com o evento. A Rússia fez lembrar corretamente que tal 'exigência' quebra a regra dos procedimentos determinados pela Convenção para Armas Químicas [ing. Chemical Weapons Convention (CWC)] supervisionados pela Organização para a Proibição de Armas Químicas [ing. Organisation for the Prohibition of Chemical Weapons (OPCW)] e ignorou a 'exigência'.

EUA, Grã-Bretanha, França e Alemanha emitiram declaração conjunta de apoio, na qual a 'frase' dos britânicos apareceu repetida:


Esse uso de veneno de ação neurológica, de tipo desenvolvido pela Rússia, constitui o primeiro evento de uso agressivo de veneno de efeito neurológico na Europa, desde a Segunda Guerra Mundial.
...
Partilhamos a avaliação do Reino Unido, de que não há explicação plausível alternativa, e observamos que o fato de a Rússia não ter atendido ao legítimo pedido do governo do Reino Unido reforça a responsabilidade da Rússia. Intimamos a Rússia a responder todas as questões relacionadas ao ataque em Salisbury.


Desde então, surgiram muitas questões dúvidas sobre o drama das drogas Novichok inventado pelo governo britânico. Item a item, todo o caso está desmoronando.

Considere-se por exemplo essa foto, na qual se veem Mr. Skripal e a filha Julia presumivelmente no pub que visitaram antes de desmaiar no banco de rua. Quem é a terceira pessoa, que se pode ver no espelho entre eles, e que fez a fotografia?

Imagem: Via Maxim A. Suchkov Дмитрий Стешин 

Será essa terceira pessoa o ex-agente do MI6 Pablo Miller, o homem que recrutou Skripal para ser agente duplo da Grã-Bretanha, Pablo Miller o qual, como Sergej Skripal vive em Salisbury e ainda é amigo de Skripal? O mesmo Pablo Miller, que trabalhou com o ex-agente do MI6 Christopher Steele na Orbis para criar o 'dossiê sujo' sobre Donald Trump? Até que ponto os Skripals estiveram envolvidos na fabricação das histórias falsas do dossiê anti-Trump, pelo qual a campanha da Clinton pagou mais de cem mil dólares? Terão os Skripals ameaçado falar sobre tudo isso? E todo o 'incidente' terá acontecido por causa disso?


Até aqui ainda não apareceu nenhuma informação sobre a terceira pessoa que tirou a foto acima.

Dia 16 de março, o governo britânico ainda estava satisfeitíssimo com o sucesso do drama que construiu a partir de um roteiro de cinema (vídeo) sobre o incidente Skripal.

A manchete e introdução da matéria da BBC são eloquentes: Caso do espião russo: até agora, resposta do governo do Reino Unido segue o plano


Entre os principais ministros e altos funcionários, há grande satisfação, agora que a crise da Rússia parece estar andando conforme o planejado. Até melhor.
Segundo alta fonte no governo, o caso "está andando no mínimo tão bem como esperávamos."


Tudo isso pode acabar em breve.

Dia 14 de março, o London Times noticiou que, dia 14 de março, 40 pessoas em Salisbury tiveram de ser atendidas, vítimas de envenenamento. Uma carta de leitor enviada ao jornal e escrita por "Steven Davies – Consultor em Medicina de Emergência, Salisbury NHS Foundation Trust" desmente a matéria. A carta diz, aparentemente com conhecimento do que houve, que nenhum dos pacientes do hospital foi infectado por qualquer tipo de "agente de efeito neurológico":


Senhores, a propósito de matéria publicada nesse jornal sob o título de "Exposição a veneno obriga 40 pessoas a procurar os hospitais", dia 14/3, devo informar que, em Salisbury, nenhum dos pacientes mostrava qualquer sintoma de envenenamento por agente com efeito neurológico, e apenas três pacientes mostravam sinais relevantes de envenenamento.




Os termos da carta não são 100% claros. "Nenhum dos pacientes" refere-se só aos 40 que Times mencionou, ou a todos os pacientes, inclusive aos Skripals? Serão os três pacientes com "sinais relevantes de envenenamento" os Skripals e o policial? Noirette, que comentou a matéria nesse blog, sugeriu que o caso Skripal foi envenenamento alimentar, ou alergia a algum alimento, não envenenamento por agente de efeito neurológico. Os Skripals estiveram numa peixaria apenas uma hora antes de serem encontrados. A carta do leitor de Times aponta em direção semelhante.

Ainda não houve nenhum sinal de que a imprensa esteja, seja como for, investigando o 'caso'. Por que ninguém entrevistou o médico? Todo o pessoal médico está eloquentemente mudo. Desde o primeiro dia, nunca mais houve qualquer tipo de boletim médico sobre o estado de saúde dos Skripals. Terá o governo emitido um 'toque de silêncio'? Por quê? Ao escrever a carta reproduzida acima, Steven Davies, consultor para emergências de Salisbury, provavelmente conseguiu furar o cerco.

O Reino Unido desistiu da demanda unilateral fora dos procedimentos exigidos pela OPCW. Agora, como a Rússia exigiu, já envolveu a OPCW e especialista da OPCW deve visitar o laboratório britânico de armas químicas em Porton Down – cidade próxima a Salisbury –, para investigar o caso.

Mas o ministério de Relações Exteriores da Grã-Bretanha também já levantou nova acusação contra a Rússia:


O ministro de Relações Exteriores revelou essa manhã que temos novas informações de que, na última décadas, a Rússia investigou meios para distribuir venenos de ação neurológica, provavelmente para assassinato. E parte desse programa envolveu a produção de grandes estoques de Novichok, o que viola a Convenção de Armas Químicas.


O ministro de Relações Exteriores Boris Johnson usou palavreado menos cuidadoso:


"Realmente temos provas de que, nos últimos dez anos, a Rússia não apenas pesquisou meios para distribuir venenos de ação neurológica com o objetivo de assassinato, mas, além disso, produziu e estocou Novichok" – disse Johnson à BBC.

Ministro de Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Boris Johnson



Craig Murray reduziu a farelo a fala de Johnson. Se o Reino Unido realmente tem ou teve tal informação, por que não fez o que os protocolos da CWCdeterminam (informar à OPCW de que havia motivos para desconfiar de que a Rússia estivesse infringindo os termos do compromisso assinado)? Por que só agora, sem mais nem menos, começam a falar do assunto?

Os aliados dos britânicos não parecem muito impressionados com o show de Boris Johnson.

Hoje, o ministro de Relações Exteriores da Alemanha retrocedeu da posição anunciada semana passada na declaração conjunta:


Heiko Maas, ministro da Justiça e Proteção do Consumidor do governo alemão, descreve a Rússia como "parceira difícil", mas disse que o caso do envenenamento no Reino Unido era questão "bilateral", indicando assim que a Grã-Bretanha não deve contar com grande apoio da União Europeia.
Maas falou a uma reunião de ministros de Relações Exteriores da União Europeia em Bruxelas, na 2ª-feira (19/3).


Uma declaração comum emitida depois da reunião de ministros de Relações Exteriores da União Europeia não culpou a Rússia. Repetiu atentamente os termos cuidadosamente arquitetados da acusação inicial de May, mas sem endossar a posição britânica:


A União Europeia considera com extrema seriedade a avaliação do governo do Reino Unido, segundo o qual é altamente provável que a Federação Russa seja responsável.
A União Europeia está chocada ante o emprego ofensivo de um tipo de veneno de efeito neurológico, de nível militar, ou de um tipo desenvolvido pela Rússia, pela primeira vez em solo europeu, em mais de 70 anos.
...
A União Europeia considera bem-vindo o compromisso do Reino Unido de trabalhar em íntima associação com a Organização para a Proibição de Armas Químicas [ing. OPCW], como apoio às investigações sobre o ataque.


A União Europeia mente no quesito de nenhum veneno de efeito neurológico ter sido usado na Europa em mais de 70 anos. Durante a Guerra Fria, a Grã-Bretanha testou vários tipos de armas químicas e biológicas, inclusive venenos de efeito neurológico, usando como cobaias a própria população e também populações em colônias britânicas e em outros países. Por que se deveria excluir algum uso mais recente?

O 'caso' do envenenamento dos Skripal fede. O governo britânico obviamente está mentindo. Está usando o roteiro de um teledrama de espionagem, para pôr em circulação um ataque de 'Novichok', para implicar a Rússia e promover a paranoia anti-Rússia. Não há dúvidas que estão sendo ocultadas informações sobre o caso. A mídia-empresa, mais uma vez, é cúmplice da divulgação de mentiras. 

Outros países já se deram conta de que o 'caso' fede, e estão retrocedendo da posição inicial de apoio à Grã-Bretanha. 

O povo e a oposição britânica devem exigir, com urgência, mais e melhores respostas do decadente governo de Thereza May.*****


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