09.03.2018, The Saker, The Unz Review
Traduzido por Ruben Bauer Naveira
Para aqueles interessados nas implicações militares das
recentes revelações por Vladimir Putin a respeito dos novos sistemas de
armamento, eu recomendaria o excelente artigo de Andrei Martynov intitulado “AsImplicações dos Novos Sistemas de Armamento da Rússia”, que oferece uma
análise soberba do que essas novas armas representam para os Estados Unidos e,
especialmente, para a Marinha americana. O que eu pretendo fazer aqui é algo um
pouco diferente, que é examinar algumas das consequências mais políticas dessas
revelações.
Os dois primeiros estágios do luto:
negação e raiva
Agora mesmo, os AngloSionistas estão passando por algo muito
similar aos dois primeiros estágios do modelo de
Kübler-Ross dos Cinco Estágios do Luto: negação, raiva, barganha, depressão
e aceitação. Isto se manifesta basicamente por críticas à qualidade dos vídeos
apresentados por Putin e por vociferação simplória do tipo “essas armas só
existem no papel”. Isto é absolutamente normal, e não vai durar muito. Esse
tipo de negação é um mecanismo comum de enfrentamento da realidade cuja função
básica é “suavizar o impacto”, mas não se trata de algo em que se possa basear
qualquer política pública ou estratégia real. Ainda assim, vale a pena examinar
porque exatamente aquelas revelações dispararam reação tão forte, uma vez que
as coisas são um pouco mais complicadas do que à primeira vista aparentam ser.
Primeiramente, uma espantosa revelação de fundo: a
disposição dessas armas não altera fundamentalmente o equilíbrio nuclear
entre a Rússia e os Estados Unidos, pelo menos não em termos da estabilidade quanto ao
“primeiro golpe” (para uma discussão detalhada veja aqui)
[N. do T.: “first strike”, ou “primeiro
golpe”, refere-se a um ataque de surpresa para destruir os mísseis nucleares do
inimigo antes que cheguem a ser disparados, reduzindo ou eliminando sua
capacidade de retaliação; por “first strike stability”, o autor quer dizer que
nem Estados Unidos nem Rússia chegam a deter essa capacidade de aniquilação preventiva
completa do outro]. Sim, é verdade que o arsenal nuclear americano está se
tornando crescentemente antiquado, especialmente se comparado ao russo, e, sim,
é também verdade que, por meio de uma família inteira de tecnologias, os russos
se encontram agora claramente muitos anos à frente dos americanos. Mas, não,
isso não significa que a Rússia possa sair impune de um “primeiro golpe” contra
os Estados Unidos (tampouco os Estados Unidos poderiam, no que interessa, sair
impunes de um “primeiro golpe” contra a Rússia). Ambos os países possuem mais
que suficientes capacidades de ataque nuclear, ainda que suas forças tenham
sido reduzidas em mais de noventa por cento por um suposto ataque de
aniquilação. O propósito do alerta de Putin não foi de modo algum ameaçar o
Ocidente, ou sugerir que a Rússia poderia ir atrás da vitória em uma guerra
nuclear, longe disso! Antes de mais nada, seu discurso foi um caso muito
necessário de psicoterapia em público. Pode-se dizer que sua intenção
foi a de forçar o Império a mais cedo ou mais tarde adentrar as próximas, e
mais construtivas, três fases do luto: barganha, depressão e aceitação.
Trazendo um Império profundamente
delirante a um senso de realidade
Os líderes do Império, juntamente com seus drones
ideológicos cerebralmente lavados, vivem em um mundo completamente
dissociado da realidade. É por isso que Martyanov escreve que os Estados Unidos
“continuam ainda a morar na sua bolha que
os mantém isolados de quaisquer vozes exteriores de racionalidade e paz”, e
que a fala de Putin visou “coagir as
elites da América a, senão paz, ao menos uma forma de sanidade, dado que elas atualmente
se encontram completamente dissociadas das realidades geopolítica, militar e
econômica de um mundo recentemente emergido”. Martyanov explica que:
As elites do poder americano, a maior parte das quais nunca serviu em uniforme um dia sequer, nem mesmo frequentou instituições acadêmicas militares sérias, e cuja expertise em assuntos militares tanto geopolíticos como tecnológicos limita-se a um par de seminários sobre armas nucleares, ou, na melhor hipótese, aos esforços do Serviço de Pesquisa do Congresso, simplesmente não estão credenciadas a alcançar a complexidade, a natureza e a aplicação da força militar. Elas simplesmente não dispõem de pontos de referência. Ainda assim, por serem um produto da cultura militar-pop americana – também conhecida como “military porn”, e propaganda – essas pessoas, essa coletânea de advogados, “cientistas” políticos, sociólogos e jornalistas que dominam a cozinha estratégica americana na qual ininterruptamente se cozinham doutrinas geopolíticas e militares delirantes, uma coisa eles podem entender com certeza, e isso é quando os seus queridos pares ganham um vistoso alvo pintado nos seus traseiros ou nas suas testas.
O fato de que, no mundo real, essas elites estão, há
décadas, com um alvo pintado em seus traseiros, não altera o fato de que elas
também têm dado conta de convencer a si próprias que elas poderiam remover esse
alvo, ao se retirar do tratado de proibição dos mísseis antibalísticos (ABM), e
ao circundar a Rússia com esses mísseis. O fato de que alguns (muitos? a
maioria?) dos políticos americanos se dão conta, ao menos no seu subconsciente,
que seus sistemas ABM jamais protegeriam verdadeiramente os Estados Unidos de
um ataque de retaliação russo, de fato nunca importou, porque havia alguns
fatores psicológicos singularmente americanos que tornavam irresistivelmente
atrativa a noção de um sistema ABM:
1) Um sistema ABM prometia aos Estados Unidos impunidade:
juntamente com a superioridade militar, a impunidade é um dos grandes mitos
americanos (conforme discutido aqui).
Desde Reagan com suas “armas para matar armas” até a atual crise com a Coréia
do Norte, os americanos sempre buscaram impunidade para suas ações no
estrangeiro: deixe que todos os países se afoguem num oceano de fogo, matança e
caos desde que a nossa “mãe pátria” permaneça uma cidadela sacrossanta e
intocável. Após a Segunda Guerra Mundial os americanos mataram muitos milhões
de pessoas mundo afora, mas, quando sobreveio o 11 de setembro (deixando de
lado que se tratou obviamente de um “false flag”), o país entrou em algo
clinicamente similar a um choque, pela morte de cerca de três mil civis
inocentes. As armas nucleares da União Soviética, e, depois disso, da Rússia,
prometiam causar dezenas de milhões de mortes se a URSS/Rússia fosse atacada, e
é por isso que girar o conto de fadas sobre um “escudo” ABM era tão atrativo,
mesmo que isso fosse, tecnologicamente falando, um sonho impossível (o “Guerra
nas Estrelas” de Reagan) ou um sistema extremamente limitado, capaz de parar no
máximo talvez alguns poucos mísseis (o atual sistema ABM na Europa). Novamente,
fatos nada importam, ao menos não nas políticas americanas ou na psique
coletiva dos Estados Unidos.
2) Um sistema ABM prometia ser um imenso golpe de sorte
financeiro para o fantasticamente corrupto Complexo Industrial Militar dos
Estados Unidos, para o qual trabalham milhões de americanos e que faz muitos
deles fantasticamente ricos. Francamente, eu suspeito que muitos (a maioria?)
dos caras envolvidos nos programas ABM se davam plenamente conta de que não
passava de perda de tempo, mas, na medida em que eles tinham suas contas
bancárias abastecidas de dinheiro, eles simplesmente não ligavam: ei, eles me
pagam – eu vou pegar!
3) A cultura militar dos Estados Unidos nunca deu muita ênfase
à coragem pessoal ou ao auto-sacrifício (por razões óbvias). As diversas
variações do conto de fadas do ABM fizeram possível aos americanos acreditar
que a próxima guerra poderia ser travada apertando botões e confiando em
computadores. E, se bombas de verdade começarem a cair, deixe que caiam em
outro lugar, de preferência em cima de algum povo marrom longínquo que, afinal,
bem, não são de fato tão preciosos para Deus e para a humanidade quanto nós, a
“nação indispensável” Branca.
Acrescente a tudo isto uma crença quase-religiosa (um dogma,
na verdade) no mito da superioridade tecnológica americana e você entenderá que
os líderes russos começaram a se dar conta que seus congêneres americanos iam
gradualmente se esquecendo que seus traseiros estavam com um alvo pintado.
Então, o que Putin fez foi simplesmente pintar mais alguns alvos, diferentes,
apenas para se certificar que os líderes dos Estados Unidos retornassem à
realidade.
O objetivo do discurso de Putin foi também provar que tanto
Obama (“a economia russa está em frangalhos”) quanto McCain (“a Rússia é um
posto de gasolina fantasiado de país”) estavam errados. A mensagem russa para
as elites governantes americanas foi simples: não, nós não apenas não estamos atrás
de vocês tecnologicamente, por muitas maneiras nós já estamos décadas à frente
de vocês, a despeito das suas sanções, de suas tentativas de nos isolar, da
queda dramática nos preços da energia, ou das suas tentativas de limitar nosso
acesso aos mercados mundiais (o desenvolvimento bem-sucedido dessa nova geração
de sistemas de armamentos é um claro indicador do estado real da pesquisa
básica na Rússia em campos tais como ligas metálicas avançadas, nanotecnologia,
supercomputação etc.)
Aos belicistas do Pentágono, a mensagem foi igualmente clara
e firme: nós gastamos menos de dez por cento do que vocês gastam em defesa
agressão global; nós contrabalançaremos a sua vantagem quantitativa com a nossa
superioridade qualitativa. De forma simples, vocês lutam com dólares, nós
lutaremos com neurônios. Os propagandistas dos Estados Unidos, que adoram falar
sobre como a Rússia sempre se utiliza de grandes contingentes de soldados
inábeis e de armas toscas porém brutais, terão agora que lidar com um paradigma
que lhes é completamente estranho: um soldado russo é muito melhor treinado,
muito melhor equipado, muito melhor comandado e a sua moral e força de vontade é
quase que infinitamente maior que a de um militar típico dos Estados Unidos. Para
uma cultura militar que repete como um mantra que tudo a respeito de si própria
é “o melhor do mundo” ou mesmo “o melhor da História”, essa nova realidade
chegará como um choque muito doloroso, e a maioria responderá a ela entrando em
negação profunda. Para aqueles que acreditaram na (historicamente,
completamente falsa) narrativa sobre os Estados Unidos e Reagan levando a União
Soviética à falência por meio de uma corrida armamentista bem-sucedida, será
sentido como bastante estranho colocar-se no “lugar invertido” com a velha e má
URSS, e ver-se na situação de ter que encarar a falência induzida pela gastança
militar.
Nada vai mudar no Império das Ilusões
(ao menos não no futuro previsível)
Por falar de falência, as recentes revelações confirmaram
aquilo que os russos vêm alertando há muitos anos: toda a imensa soma de
dinheiro gasto pelos Estados Unidos em defesas ABM foi completamente
desperdiçada. A Rússia descobriu e implantou uma resposta assimétrica que faz
da totalidade do programa ABM algo completamente inútil e obsoleto. Ademais, como Martyanov também assinalou, a
atual estrutura de forças navais de superfície dos Estados Unidos foi também
tornada obsoleta e inútil, ao menos contra a Rússia (mas você pode estar certo
que a China vem logo atrás). Potencialmente, este estado de coisas deveria
implicar repercussões imensas, tectônicas: quantias imensas de dinheiro do
contribuinte americano foram completamente desperdiçadas, as estratégias naval
e nuclear dos Estados Unidos foram completamente equivocadas, a inteligência
falhou (tanto a nível de aquisição como de análise), os políticos americanos
tomaram decisões desastrosas, e isso é uma tamanha m**** que deveria
desencadear sabe lá Deus quantas investigações e renúncias, além de numerosas
punições, administrativas ou mesmo criminais. Mas, é claro, absolutamente nada
disso vai acontecer, nada mesmo. Nem uma única cabeça rolará...
No “Império
das Ilusões”, os fatos simplesmente não têm a menor importância. De fato,
eu prevejo que o agora claramente inútil programa ABM prosseguirá como se nada
tivesse acontecido. E, de certo modo, isso é verdade. Ao zumbificado público
geral dos Estados Unidos não será dito o que está acontecendo, aqueles que
compreenderem serão marginalizados e não terão poder para efetuar nenhuma
mudança, e, quanto aos parasitas corruptos que vêm ganhando milhões e bilhões
por meio desse total desperdício de dinheiro do contribuinte, estes possuem
demasiado em jogo para jogar a toalha. De fato, uma vez que os Estados Unidos
são agora governados pelos Neoconservadores, nós podemos muito facilmente
prever o que eles irão fazer. Eles farão o que Neoconservadores sempre fazem:
dobrarão a aposta. Assim, após ter se tornado de conhecimento público que a
totalidade das instalações ABM é inútil e desatualizada, pode-se esperar uma
injeção adicional de dinheiro por “congressistas patriotas” (<<== meu esforço
para ser politicamente correto!) rodeados por bandeiras, que explicarão ao
público lobotomizado que eles estão “adotando uma postura firme” contra “o
ditador russo”, e que os orgulhosos Estados Unidos da América não irão ceder à
pressão da “chantagem nuclear russa”. As cores da nossa bandeira não desbotam!
Unidos nos erguemos! Etc. etc. etc.
No que diz respeito à Marinha dos Estados Unidos, isso nem
mesmo será um tema. Quer dizer então que um sujeito russo (refiro-me a Martyanov)
escreveu alguma coisa para a Unz Review. E daí? Isso não passa de mais
“propaganda russa”, é claro. Será desconsiderado antes mesmo de poder ser
realmente estudado, e inevitavelmente a conclusão reconfortante será “nós somos
número um”, “a Inglaterra América reina sobre os mares” e todo o resto
da insensatez ufanista habitual com que os almirantes dos Estados Unidos vêm
alimentando o público há décadas. Tenha ainda em mente que os sujeitos sagazes
na Marinha, e há muitos deles, compreenderam o tempo todo o que estava se passando,
mas eles ou não detêm influência nenhuma ou se mantêm em silêncio por óbvias
razões de carreira.
A realidade é que aquilo que Martynov denomina “o mito americano da superioridade
tecnológica” encontra-se tão profundamente arraigado na psique coletiva dos
Estados Unidos que foi tornado parte da identidade nacional, não podendo jamais
ser questionado com sucesso. Ainda que Putin decida que vídeos e discursos
simplesmente não bastam, e resolva fazer uma demonstração com munição de
verdade, os zumbis agitadores de bandeira na mídia, no governo e no público
encontrarão algum modo de negar por completo, fingir que não aconteceu, ou colocar
um sorriso misterioso na cara e replicar algo na linha de “yeah, legal, mas, se vocês apenas desconfiassem das superarmas que nós
não estamos mostrando para vocês!!” (como um desses drones de
fato escreveu, “há de haver armamento
escondido na manga dos Estados Unidos para ser usado no caso de um ataque”).
Assim, para o futuro previsível, espere pela continuidade da negação coletiva.
“Quando a sua cabeça está na areia, o
seu traseiro está no ar”
Mas, ainda assim, a realidade existe. Não importa o quanto
os propagandistas americanos tentem torcê-la, negá-la, ofuscá-la ou
menosprezá-la, algo muito fundamental mudou para os Estados Unidos. Um desses
elementos da realidade que com o tempo começará a penetrar nas mentes dos
americanos é que a sua tão amada “mãe pátria”, e eles próprios, estão agora direta
e pessoalmente sob risco. De fato, pela primeira vez na História, os Estados
Unidos encontram-se agora debaixo da mira de poderosas armas convencionais
que podem atingir qualquer alvo dentro dos Estados Unidos. Como
se isso não bastasse, os lançadores dos novos sistemas de armas, os mísseis de
cruzeiro, que agora podem atacar qualquer parte dos Estados Unidos, são, ao
contrário dos velhos e maus mísseis balísticos intercontinentais, extremamente
difíceis de se detectar, o que pode deixar os Estados Unidos com pouco ou
nenhum tempo de alerta. Nós já sabíamos a respeito dos mísseis de cruzeiro 3M-54 Kalibr e KH-101/102,
com alcances de 2.600 km e 5.500 km (ou mais). Vladimir Putin anunciou agora
que a Rússia também dispõe de mísseis de cruzeiro impulsionados a energia
nuclear, cujo alcance é essencialmente infinito. Tenha em mente que esses
mísseis são muito difíceis de detectar porque o seu lançamento não produz um
sinal térmico forte, eles voam a maior parte de sua trajetória a velocidades
subsônicas (somente acelerando no final) e assim a sua assinatura térmica é
muito baixa, o seu formato produz uma seção transversal de radar também muito
baixa, e eles podem seguir cursos de voo a altitudes extremamente baixas (“nap
of the earth”), o que os oculta ainda mais. O melhor de tudo, contudo, é que
eles podem ser lançados daquilo que, externamente, aparenta ser um contêiner
comercial comum. Dê por favor uma olhada nesse curto vídeo de propaganda,
mostrando como esses mísseis podem ser escondidos, dispostos e utilizados:
O que Putin agora oficialmente acrescentou a este arsenal
são mísseis de cruzeiro de alcance infinito que poderiam, teoricamente,
destruir um posto de comando, digamos, no Meio Oeste americano, tendo sido
lançados do sul do Oceano Índico ou do Mar da Tasmânia. Ainda melhor, a
plataforma de lançamento não necessita de modo algum ser um navio da Marinha
russa, mas poderia ser qualquer navio comercial (de carga, pesca etc.) ou até
mesmo um navio de cruzeiro. Os aviões de transporte pesados russos podem também
entregar tais “contêineres” em qualquer lugar, digamos, na África ou mesmo na Antártida,
para, a partir de lá, atacar o bairro central de Omaha [N. do T.: cidade do estado americano de Nebraska] portando tanto
uma ogiva convencional quanto uma nuclear. Isso é também um divisor de águas
fundamental.
Por outro lado, você pode considerar o novo torpedo a
propulsão nuclear como um tipo de “míssil de cruzeiro subaquático”, com
capacidades similares contra navios de superfície ou instalações costeiras – à
exceção de que tal “míssil de cruzeiro subaquático” é capaz de “voar” por
debaixo da calota polar. Desnecessário dizer, todos esses mísseis de cruzeiro
podem, se necessário, ser equipados com ogivas nucleares.
Mas não somente o território dos Estados Unidos é agora
vulnerável. Todas as instalações militares americanas ao redor do mundo podem
agora ser atacadas deixando os Estados Unidos com pouco ou nenhum tempo de
reação.
Não é exagero dizer que isto é verdadeiramente uma mudança
radical, ou mesmo uma revolução, na guerra moderna. Eu detesto ter que admitir,
mas isto é também um desdobramento indesejável em termos da estabilidade quanto
ao “primeiro golpe” [N. do T.: “fisrt
strike stability”, conceito já anteriormente mencionado], uma vez que coloca
uma grande parte da tríade nuclear [N. do
T.: ogivas nucleares carregadas em mísseis disparados por silos em solo, por
submarinos, e por aviões (terra, mar e ar)] dos Estados Unidos em perigo,
juntamente com praticamente todas as instalações vitais americanas, militares ou
não. Tendo dito isto, toda a culpa por ter a situação chegado a este ponto deve
ser debitada às políticas arrogantes e irresponsáveis dos Estados Unidos desde
a desastrosa retirada americana em 2002 do tratado de proibição de sistemas
ABM. Ademais, eu me sinto seguro de que os russos com satisfação se sentariam
com os americanos para explorar quaisquer alternativas razoáveis até se chegar
a um entendimento mútuo para a restauração da estabilidade quanto ao “primeiro
golpe” entre os dois países. Ninguém, é claro, para além dos líderes corruptos
do Complexo Industrial Militar dos Estados Unidos, necessita de nenhum tipo de
corrida armamentista entre a Rússia e os Estados Unidos, nem dos imensos custos
associados a uma tal empreitada. Mas, uma vez que essa corrida armamentista irá
prosseguir (como já dito, Neoconservadores sempre dobram as apostas), a Rússia
detém uma enorme vantagem nessa corrida, por duas razões chave:
1) Ao contrário da Rússia, os Estados Unidos irão, por
razões de prestígio absolutamente idiotas, recursar-se categoricamente a
reduzir os seus inúteis programas de ABM e de encomendas de novos porta-aviões,
e todas as verbas alocadas a conter de fato as capacidades russas serão gastas,
agora com mais empenho, justamente nesses programas inúteis e obsoletos. A
Rússia, em contrapartida, gastará seu dinheiro em programas que de fato fazem
diferença.
2) Os Estados Unidos estão agora ficando dramaticamente para
trás em muitas áreas nas quais os ciclos de desenvolvimento são longos. Francamente,
eu não consigo sequer imaginar como os Estados Unidos irão se desvencilhar de
desastres de projeto como o navio de combate de litoral (LCS) ou, talvez o pior
deles todos, o F-35 [N. do T.: o mais
avançado avião de combate americano]. Assim como a Rússia na década de
1990, os Estados Unidos encontram-se atualmente governados por covardes
incompetentes que, simplesmente, não contam com o que é necessário a empreender
uma real e significativa reforma militar, e, como resultado disso, as forças
armadas dos Estados Unidos padecem de problemas que estão para se tornar muito
piores antes que possam vir a melhorar. Por enquanto, a diferença entre a
Rússia de Putin e os Estados Unidos de Trump é tão simples quanto cruel: a
Rússia gasta seu dinheiro em defesa, os Estados Unidos gastam seu dinheiro
enriquecendo políticos e executivos corruptos. Com base nisso, os Estados
Unidos não têm a menor chance em qualquer corrida armamentista, não importa o
talento e o patriotismo de seus engenheiros e soldados.
A Rússia e os Estados Unidos já
estão em guerra, e a Rússia está ganhando
A Rússia e os Estados Unidos têm estado em guerra desde pelo
menos 2014 (eu venho alertando a esse respeito ano,
após ano,
após ano).
Até aqui, esta guerra tem sido cerca de 80% informacional, 15% econômica e apenas
5% cinética [N. do T.: como exemplo de
guerra cinética, a derrubada recente de um avião de combate SU-25 da Rússia em
missão na Síria em 03.fev.2018, por um míssil terra-ar portátil do tipo MANPAD entregue
pelos americanos a terroristas sírios]. Mas isso pode muito bem mudar, e
muito repentinamente. A Rússia embarcou assim num esforço imenso para
preparar-se contra um ataque tanto convencional quanto nuclear do Império
AngloSionista. Aqui vão listadas algumas das providências que vêm sendo
adotadas neste contexto: (é uma lista parcial, não-exaustiva!)
Em resposta à ameaça
convencional da OTAN a partir do Ocidente:
- Putin ordenou a recriação do Primeiro Exército de Guardas de
Tanques. Esse exército de tanques comporta duas divisões de tanques (as
melhores dentre os militares russos – a Segunda
Divisão de Guardas Motorizada de Rifles Tamanskaya e a Quarta Divisão de
Guardas de Tanques Kantemirovskaya), e um total de mais de quinhentos
tanques Armata T-14. Esse exército de tanques será apoiado pelo Vigésimo
Exército de Guardas de Armas Combinadas. Isto é o que seria chamado, durante a
Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, de um “Exército de Choque” (em
andamento).
- O posicionamento de sistemas de mísseis
operacionais-táticos Iskander-M (completado).
- A duplicação do tamanho das forças aerotransportadas russas,
de 36.000 para 72.000 (em andamento).
- A criação de
uma Guarda Nacional, que incluirá tropas do Ministério do Interior (cerca
de 170.000 soldados), pessoal do Ministério de Situações de Emergência, as
forças policiais antimotim OMON (cerca de 40.000 soldados), as forças de
resposta rápida SOBR (mais de 5.000 soldados), o Centro de Designação Especial
das Forças de Reação Operacional e Aviação do Ministério de Assuntos Internos,
incluindo as unidades de Forças Especiais “Zubr”, “Rys” e “Iastreb” (mais de
700 agentes), em um total de cerca de 250.000 soldados, que provavelmente chegará
a um contingente de 300.000 homens em futuro próximo.
- A encomenda e a disposição de caças e interceptadores
avançados multifuncionais de superioridade aérea (MiG-31BM, Su-30SM e Su-35S,
e, em breve, MiG-35 e Su-57).
- A disposição dos sistemas de defesa aérea S-400 e S-500, juntamente
com radares de grande alcance.
- A adoção de cerca de 70% de sistemas novos e modernos para
todas as forças armadas.
Em resposta ao
“cerco” da Rússia pelos Estados Unidos com sistemas ABM:
- A disposição dos mísseis balísticos intercontinentais RS-28
Sarmat dotados de veículos de reentrada hipersônicos [N. do T.: consideram-se hipersônicas as velocidades acima de cinco
vezes a velocidade do som] e manobráveis.
- A disposição de mísseis de cruzeiro de longo alcance
convencionalmente armados.
- A disposição de mísseis de cruzeiros de propulsão por
energia nuclear, com um alcance essencialmente ilimitado.
- A disposição de submersíveis não-tripulados de propulsão
por energia nuclear com alcance intercontinental, velocidade muito alta,
propulsão silenciosa e capazes de se mover a grandes profundidades.
- A disposição do míssil hipersônico Kinzhal, de velocidade
Mach 10 [N. do T.: dez vezes a velocidade
do som] e alcance de 2.000 quilômetros.
- A disposição do novo míssil estratégico Avangard, capaz de
velocidades Mach 20.
Esta lista está longe de ser exaustiva, há muito mais que
nela falta inclusive novos submarinos (de propulsão independente de oxigênio, de
propulsão convencional diesel-elétrica, submarinos nucleares de ataque e
SSBNs), aeronaves de ataque, novos veículos blindados de vários tipos, novos
equipamentos avançados de alta tecnologia individuais para os soldados, novos
sistemas de artilharia, etc. etc. etc. Mas, de longe, o elemento mais
importante na prontidão russa para confrontar e, se necessário, repelir
qualquer agressão ocidental é a moral, a disciplina, o treinamento e a determinação
dos soldados russos (tão poderosamente ilustrado por diversos exemplos recentes
na Síria). Vamos dizer apenas que, em comparação, os militares americanos e
europeus (ou os seus comandantes, naquilo que interessa) não são exatamente
impressionantes, e vamos ficar por aqui.
Si vis pacem, para bellum
A realidade é, claro, que ninguém na Rússia planeja uma
guerra, precisa de uma guerra ou quer uma guerra. De fato, a Rússia como país
necessita de muitos anos mais de paz (mesmo relativa). Primeiro, porque o tempo
está obviamente do lado da Rússia, com o equilíbrio militar com os Estados
Unidos se deslocando rapidamente a favor da Rússia. Mas, não menos importante é
o fato que, ao contrário dos Estados Unidos que anseiam por conflitos, guerras
e caos, a Rússia necessita seriamente de paz para lidar com os seus ainda muito
numerosos problemas internos, que há muito tempo vêm sendo negligenciados. O
problema é que a totalidade do sistema político e da economia dos Estados
Unidos são completamente dependentes de um estado de guerra permanente. Isso, juntamente
com uma arrogância imperial impulsionada por uma russofobia crescentemente
vocalizada, é uma combinação potente e potencialmente perigosa, que não deixa à
Rússia outra opção senão mostrar os dentes e assumir também algum modo de ostentação
do seu poderio militar. Assim, terá sido o discurso de Putin suficiente, para
despertar as elites governantes do Império do seu sono delirante?
Provavelmente não. De fato, no curto prazo, ele poderá ter o
efeito contrário.
Lembra de quando a Rússia bloqueou o ataque planejado de Obama
contra a Síria? A reação dos Estados Unidos foi disparar o Maidan [N. do T.: refere-se ao golpe de estado
havido em 2014 na Ucrânia]. Lamentavelmente, eu espero que algo muito
similar acontecerá em breve, mais provavelmente na forma de um ataque em grande
escala Ukronazi [N. do T.: refere-se à
Ucrânia] contra o Donbass [N. do T.:
refere-se às repúblicas separatistas de Lugansk e Donetsk do leste da Ucrânia],
agora nesta primavera, ou durante a Copa do Mundo neste verão. É claro que,
independente do real desfecho de um tal ataque (já discutido aqui), isso não
afetará de modo algum a real correlação de forças entre a Rússia e o Império.
Mas fará com que os americanos sintam-se bem (Neoconservadores adoram a
vingança em todas as suas formas). Nós podemos ainda esperar novas provocações
na Síria (já discutidas aqui).
A partir de agora e para o futuro previsível, os russos terão de prosseguir no seu
assumidamente frustrante e até doloroso procedimento corrente, que é manter uma
postura relativamente passiva e evasiva a qual o Império e seus bajuladores
previsivelmente interpretarão como sinal de fraqueza. Deixa eles. À medida que
no mundo real o poder efetivo do Império (seja soft ou hard) continue a
declinar, à medida que o Complexo Industrial Militar dos Estados Unidos
continue a produzir em massa sistemas de armamentos fantasticamente caros porém
militarmente inúteis, à medida que os políticos dos Estados Unidos estejam
ocupados culpando a “interferência russa” enquanto nada fazem para reformar as
suas próprias economia e infraestrutura entrando em colapso, à medida que os Estados Unidos continuem a
usar suas máquinas de imprimir dinheiro como substituto para a riqueza real, e
à medida que as tensões sociopolíticas internas nos Estados Unidos continuem a esquentar
– então o plano de Putin está funcionando.
A Rússia necessita continuar a caminhar sobre uma trilha bastante
estreita: agir de forma suficientemente evasiva de modo a evitar provocar uma
confrontação militar direta com os Estados Unidos, enquanto, ao mesmo tempo,
envia sinais suficientemente claros para evitar que os americanos interpretem essa
evasividade da Rússia como sinal de fraqueza, para então cometer algo realmente
estúpido. O objetivo final da Rússia é simples e óbvio: chegar a uma
desintegração gradual e pacífica do Império AngloSionista de
forma combinada com uma substituição gradual e pacífica de um
mundo unipolar, regido por um único país hegemônico, para um mundo multipolar
administrado conjuntamente por nações soberanas respeitadoras da lei
internacional. Assim, quaisquer desfechos catastróficos ou violentos são
altamente indesejáveis e devem ser evitados o mais possível. Paciência e foco
serão muito mais importantes nesta guerra pelo futuro do nosso planeta do que
reações imediatistas ou propaganda ufanista. O “paciente” necessita ser trazido
de volta à realidade um passo de cada vez. O discurso de Putin do dia primeiro
de março entrará para a História como um desses passos, porém muitos outros
passos serão necessários antes que o paciente finalmente desperte.
Resumindo . . . .
ResponderExcluir""""" “É difícil falar com gente que confunde Áustria e Austrália. Mas não há nada que possamos fazer em relação a isso; esse é o nível da cultura política do establishment americano=ANGLO_SIONISTA.
Quanto ao povo americano, os Estados Unidos são verdadeiramente uma grande nação, dado que os americanos se mostram capazes de aturar tanta gente politicamente incivilizada no seu governo”.
Vladimir PUTIN """""" .
Brilhante!!!!!
Muito bom! O mundo caminha para a multipolaridade e a transição será dramática para os " donos do mundo". Haverá algumas escaramuças aqui e alí mas, não chegaremos ao holocausto nuclear. Um futuro de paz e prosperidade nos aguarda.
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