sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Haidar Abadi caiu com o consulado iraniano incendiado em Basra, por Elijah J. Magnier


"Os EUA apoiarão a Mesopotâmia em sua guerra contra o ISIS? Ou, outra vez, os mesmos que criaram o ISIS voltarão a minar a estabilidade do país?"

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



O candidato favorito dos EUA para ser o primeiro-ministro do Iraque, Haidar Abadi, perdeu a última chance de ganhar um segundo mandato, quando tumultos cresceram e criaram medo na cidade de Basra, sul do Iraque, culminando com o incêndio que consumiu o prédio onde funcionava o consulado do Irã na cidade. 


Moradores têm motivos claros para protestar

Moradores de Basra protestavam com motivos muito claros: faltam água potável, eletricidade, trabalho e infraestrutura.

Mercenários com diferentes agendas criam os tumultos

E grupos de mercenários, com diferentes agendas, misturaram-se às multidões e conseguiram incendiar vários prédios, ambulâncias, um prédio do governo e uma escola associada ao grupo al-Hashd al-Shaabi e a outros grupos políticos anti-EUA. Esse comportamento típico de gangues forçou Sayyed Moqtada al-Sadr, líder de 54 deputados no Parlamento iraquiano, a derrubar seu parceiro político e primeiro-ministro Abadi – o que pôs fim à carreira política de Abadi. 

Moqtada al-Sadr

Moqtada tentou afastar-se dos eventos em Basra, de modo que toda a culpa pelos eventos recaísse só sobre Abadi. E uniu-se ao grupo de cavalo vencedor, vale dizer, ao Irã.

Partidos políticos no Iraque: pró-EUA x anti-EUA

Os partidos políticos no Iraque estão divididos em dois campos: um deles apoiado pelos EUA e liderado por Abadi e Moqtada; o outro, liderado por Nuri al Maliki e Hadi al Ameri, desafia os EUA e está alinhado a grupos pró-Irã. Essa coalizão pró-Irã tinha por candidato a primeiro-ministro Faleh al-Fayyadi e o objetivo de criar uma grande coalizão xiita, ao lado da coalizão sunita.

"Ataque ao Irã em Basra, Iraque, saiu pela culatra"

Nos tumultos de Basra semana passada morreram 16 e 195 pessoas ficaram feridas. O primeiro-ministro interino Haidar Abadi tentou controlar os tumultos e impôs um toque de recolher que, contudo, foi suspenso três vezes. Quando a situação escapou a qualquer controle, Moqtada al Sadr afastou-se e forçou os deputados do seu grupo a pedir a renúncia de Abadi, seu parceiro político. Fontes próximas a Moqtada disseram-me que Moqtada nunca promoveu a candidatura de Abadi para primeiro-ministro, embora estivesse apoiando o grupo de Abadi.

Um dirigente com poder de decisão no grupo Hashd al-Shaabi em Basra disse que "elementos pró-EUA ou pró-sauditas entre os manifestantes incendiaram ambulâncias, atacaram hospitais pertencentes a Hashd al-Shaabi, incendiaram escritórios de todos os grupos políticos anti-Abadi e anti-Moqtada, e são autores de um ataque direto contra o consulado diplomático do Irã. 

É fato sabido que o sul do Iraque – principalmente as cidades de Basra, Amara, Kut, Nassiriyeh e outras – é local de origem de homens que se uniram ao grupo al-Hashd e combateram para derrotar o ISIS. Os tumultos em Basra em nada ajudaram a candidatura de Abadi e Moqtada, dado que a maioria daqueles combatentes apoiam o grupo Hashd. Portanto, o ataque ao Hashd e ao consulado do Irã saiu pela culatra, o que forçou Moqtada a abandonar seu parceiro político Abadi".

"Moqtada jamais foi pró-EUA e jamais será. Manteve-se calado sobre os EUA apoiarem Abadi, porque os EUA também o apoiavam, como parte do plano dos EUA para controlar o governo. Moqtada jamais apoiou Abadi como primeiro-ministro. Além do mais, embora Moqtada seja contra o Irã intervir na política iraquiana, ele não quer ver o Iraque usado como uma base para os EUA atacarem o Irã" – disse a fonte.

Moqtada al-Sadr soube que Hashd al-Shaabi havia decidido impedir quaisquer novos tumultos em Basra, e que o grupo estava pronto para conter as próprias milícias se se recusassem a deixar as ruas. Queria evitar qualquer confronto direto com os experimentados combatentes do grupo Hashd, e evitar guerra entre xiitas. Além disso, Moqtada foi informado da decisão iminente da Corte Federal de selecionar a coalizão Maliki-Ameri como vencedora, com o número mais significativo de deputados ao Parlamento. Essa combinação de eventos levou Moqtada a abandonar Abadi e levar seus 54 deputados a unir-se na coalizão maior. 

Patrocínio pelos EUA põe fim à carreira política de Abadi

Patrocínio aberto pelos EUA e os eventos em Basra levaram ao fim a carreira política de Abadi no Iraque.

Irã trabalha para construir coalizão com sunitas

O Irã está forçando os grupos xiitas, inclusive Sayyed Ammar al-Hakim e o partido al-Da’wa, a unir-se numa única coalizão com os sunitas. O grupo Usama al-Nujeifi viu a deserção de muitos de seus deputados para a coalizão Maliki-Ameri. A maior coalizão deve ter agora muito mais do que 165 deputados, e torna-se assim capacitada para escolher o presidente do Parlamento e seus dois vices, o presidente e o novo primeiro-ministro.

Os curdos já não fazem reis

A emergente grande coalizão não carecerá do apoio dos curdos (42 deputados), que podem também sofrer algumas defecções para a coalizão Maliki-Ameri. Masood Barzani não conseguirá impor suas 27 demandas. Os curdos já não fazem reis.

Abadi: mais um pró-EUA que cai do cavalo

jockey Abadi caiu do cavalo dos EUA; e o Irã conseguiu ampliar a própria influência no Iraque, quando seu consulado foi incinerado em Basra. As perguntas importantes permanecem: será o Iraque capaz de evitar o embargo pelos EUA, se não se render às sanções dos EUA contra o Irã? Os EUA aceitarão o fracasso de seus esforços para dominar o Iraque? 

Os EUA apoiarão a Mesopotâmia em sua guerra contra o ISIS ou, outra vez, os mesmos que criaram o ISIS voltarão a minar a estabilidade do país?*****





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