segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Mensagens precisas, em momento muito grave

5/9/2018, Al-Binaa, orig. ár. trad. ao francês para Réseau International, de Rania Tahar (versão aqui retraduzida)

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




Num momento de atrito, quando as negociações e as mensagens de força confundem-se, o jogo internacional e regional "à beira do abismo" parece chegar ao apogeu. Quando a aliança conduzida pela Rússia e composta principalmente de Irã, China e outros aliados, com a Síria à frente, tenta consolidar suas conquistas e continuar a avançar sem entrar em confronto direto com os EUA, Washington parece incapaz de tolerar ou de aceitar os progressos que conferem àquela aliança a superioridade na Ásia e põem Israel e a Arábia Saudita em situação delicada.

Com a força militar norte-americana cada vez mais reduzida, Washington parece pronta a cometer qualquer desatino e a disparar todos os golpes imagináveis abaixo da linha da cintura, na esperança de forçar seus adversários a recuarem e evitar assim o confronto direto.

Ao falar de sanções contra o Irã e a Rússia, especialmente no setor de energia, o linguajar de Washington equivale, para Moscou e Teerã, a uma declaração de guerra. A reunião de ontem, dos ministros russo e norte-americano de Energia foi uma etapa no ciclo de negociações que incluem ofertas de ambos os lados, mas que não chegou a acordo algum, exceto a decisão de prosseguir com as negociações. E Washington já anunciava novas sanções sobre o programa do gasoduto russo Ramo Norte, que leva gás até a Europa do Norte, apesar da oferta russa para concessões no mercado europeu que permitiriam a empresas norte-americanas de gás de xisto participar dos consórcios, como Vladimir Putin prometeu ao presidente dos EUA na reunião de Helsinki. 

Os norte-americanos, que precisam desses lucros e aspiram à inclusão em outros dossiês regionais, sobretudo na Síria e no Irã, ofenderam-se com a rejeição russa, que pode ir ao ponto de retirar a oferta relativa ao gás de xisto, caso os EUA continuem com a escalada de sanções.

No Iraque, os atritos políticos e de segurança EUA-Irã e a troca de mensagens chegaram ao auge. Washington, que sabe de sua incapacidade para resistir a confronto militar direto com as forças da Resistência, tenta conectar esse confronto à escalada contra o Irã, que os EUA ameaçam atacar, para fazer o Irã pagar por todos os ataques a bases dos EUA no Iraque. Em declaração distribuída pela rede Al-Manar, o comandante do Corpo de Guardas Revolucionários do Irã efetivamente convidou os que possuem bases militares localizadas num perímetro de dois mil quilômetros em torno do Irã a experimentar o nível de precisão dos mísseis do Irã. No Iêmen, a Arábia Saudita tenta fazer fracassar as conversações de Genebra, dando início a mais um ataque, com o qual os sauditas tentam alterar a situação militar na região de Hodeida. 

Washington é fortemente favorável ao ataque saudita, como indicam as declarações dos ministros de Assuntos Estrangeiros e da Defesa em audiência no Congresso, quando afirmaram que a Arábia Saudita observa todas as exigências para evitar baixas entre os civis, contra todas as evidências e provas, coletadas pela ONU e por especialistas ocidentais, dos massacres cometidos pelos sauditas. 

A chamada 'causa humanitária' é folha de parreira que mal cobre as vergonhas cometidas por Washington para manter todo e qualquer tipo de guerra, e para reagir contra qualquer pressão para pôr fim a guerras e confrontos armados de todos os tipos.

Nesse momento, acontecem manobras militares russo-chinesas de dimensões sem precedentes, as primeiras desse tipo, envolvendo 300 mil oficiais e soldados, além de todo o arsenal de armas terrestres, marítimas e aéreas. Essas manobras são supervisionadas pelo presidente Vladimir Putin e levam o nome de "Vostok (Oriente) 2018", para anunciar uma preparação conjunta de russos e chineses, para fazerem frente a qualquer tipo de desafio militar. 

A mensagem, pelo timing e pelo conteúdo, é muito clara, como também é clara a mensagem do Irã, para dizer a Washington que a escalada levará à guerra – e que, se vocês tentarem, nos encontrarão a postos e armados.

Trocam-se mensagens "à beira do abismo", apesar da decisão, em segundo plano, de não procurar qualquer colisão. Significa que negociam mediante mensagens, e que o campo de confronto em Idlib é o único espaço disponível para que se marquem pontos, com, dessa vez, apostas dos norte-americanos que querem obter qualquer coisa em Hodeida. 

Mas em Idlib, a disputa russo-iraniana e norte-americana travou-se em torno de ganhar a posição da Turquia. E Rússia-Irã venceram, enquanto a Frente Al-Nosra foi convertida em exército dos EUA, que os norte-americanos esperavam que a Turquia defendesse. Que haveria uma troca: um cantão liderado por Ancara no norte da Síria, que legitimaria a existência de um cantão liderado por Washington a leste do Eufrates. Seria uma partição que legitimaria a partição; e uma ocupação que legitimaria a ocupação. 

Mas, pressionada para decidir de uma vez por todas, a Turquia mudou de posição e ameaçou combater contra a Frente Al-Nosra. Ali, agora, todos são cuidadosos, todos assistem e todos esperam.*******

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