16/1/2019, Elijah J Magnier, no Blog (de Beirute, Líbano)
Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga
Fontes na inteligência dizem que “Israel sonha com que a Síria volte ao que era antes de 2011, quando os líderes sírios eram menos poderosos e experientes do que são hoje, passados sete anos de guerra. Os sírios hoje já receberam equipamento avançado, principalmente para defesa aérea, que lhe veio da Rússia, e de fornecedor e fabricantes de mísseis iranianos sofisticados. E já há na Síria a ativa presença de conselheiros e instrutores iranianos e do Hezbollah, que trabalham na preparação de novos quadros”.
As fontes revelam que “funcionários israelenses disseram aos seus contrapartes norte-americanos que não seria desejável retirar forças do nordeste da Síria, deixando lá o Irã e aliados. A retirada – que agora parece ser parcial – das forças dos EUA deve acontecer, se não acontecer antes, pelo menos que aconteça simultaneamente com a partida de todas as forças estrangeiras que ainda operam em solo sírio, para assim criar um equilíbrio de poder em solo.
Disseram também que seria importante deixar estabelecido em qualquer futuro acordo para a retirada das tropas dos EUA de território sírio, que, no futuro, o presidente Bashar al-Assad deverá evitar servir-se de seus mísseis de precisão e médio alcance contra Israel. O argumento de Israel segundo as mesmas fontes, é que os EUA estariam entregando o Levante à Rússia e ao ‘Eixo da Resistência’, sem nada receberem em troca”.
O establishment norte-americano parece pouco interessado em acalmar as exageradas ansiedades de Israel. Funcionários dos EUA em visita a Telavive disseram a funcionários locais que “o exército de Israel tem poder suficiente para se autodefender; e desde 1974 Israel deixou a posição defensiva na região. Por decisão dos israelenses, Israel assumiu a iniciativa de atacar alvos na Síria, durante os sete anos de guerra”.
Segundo funcionários ocidentais, os EUA lembraram a Israel que milhares de forças norte-americanas estão baseadas no país, no Mediterrâneo e em várias bases militares no Oriente Médio. Essas forças podem intervir a favor de Israel de modo satisfatório, a qualquer momento que se faça necessário. Assim sendo, Israel que pare de gritar por socorro do qual não carece, quando Israel é quem está criando problemas com seus próprios adversários”.
Israel repetidas vezes atacou alvos na Síria, do Exército Árabe Sírio e do “Eixo da Resistência”. Empurrou as linhas vermelhas ainda mais adiante, ao bombardear funcionários iranianos na base aérea T4 em 2018, quando matou vários oficiais iranianos. Em 2019, Israel já bombardeou um armazém no aeroporto de Damasco, horas depois de um cargueiro militar iraniano ser descarregado. Embora praticamente todos os mísseis israelenses tenham sido destruídos, uns poucos alcançaram o alvo. Mesmo assim, esses bombardeios pouco significam no nível estratégico, porque Israel apenas mostrou o alcance dos próprios mísseis, e fracassou gravemente na tentativa de destruir a capacidade dos mísseis sírios e do Hezbollah no Líbano e na Síria. Durante sua recente visita ao Cairo, o secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo disse que o Hezbollah tem hoje “mais de 130 mil mísseis”.
Se, como diz o comandante do estado-maior do exército de Israel (“Forças de Defesa de Israel”, general Gadi Eisenkot, Israel “tem total superioridade de inteligência na área” de Líbano e Síria, como o general explicaria a chegada, o desembarque e distribuição dos 130 mil mísseis que – segundo Pompeo – estão em poder do Hezbollah?
Eisenkot burlou os israelenses, ao dizer que “o Hezbollah não tem capacidades efetivas de mísseis, exceto uns poucos que nem se precisa considerar”. Fato é que, quando o líder do Hezbollah, Sayyed Hasan Nasrallah, alertou Israel de que o Hezbollah revidaria qualquer ataque de Israel contra o Líbano”, Israel levou a sério o ‘aviso’ e não atacou alvo algum no Líbano. Durante a guerra na Síria, jatos israelenses violaram o espaço aéreo libanês e voaram sobre o Líbano para bombardear território sírio, mas o exército israelense não se atreveu a atacar postos ou interesses importantes do Hezbollah no Líbano (no máximo atacou veículos militares do Hezbollah’ e objetivos iranianos e sírios no Levante.
Segundo dizem fontes bem informadas, os jatos israelenses dispararam mísseis de alerta à frente dos caminhões do Hezbollah e só os destruíram depois de os caminhões estarem vazios – procedimento conhecido quando é preciso evitar baixas no exército inimigo. Israel claramente temia que o Hezbollah retaliasse. Se a inteligência israelense sobre algum suposto limitado poder militar do Hezbollah fosse acurada, não haveria motivo para Eisenkot tanto insistir naquela suposta superioridade militar dos israelenses contra inimigo que “nem se precisa considerar”, como se referiu à capacidade militar do “Partido de Deus” libanês.
Fontes que operam na Síria e no Líbano confirmam declarações dos israelenses de que Israel bombardeou vários objetivos na Síria com milhares de bombas, como o primeiro-ministro Netanyahu anunciou. Mas informam que só 5% do arsenal total de armas desses países foram interceptados e destruídos por Israel.
“Os ataques a bombas de Israel contra alvos na Síria não foram nem estratégicos nem táticos. Não passaram de ataques políticos, temerários, tentando promover a imagem de Netanyahu. Nenhum daqueles ataques abalou ou enfraqueceu o Corpo de Guardas Revolucionários Iranianos [ing. Iranian Revolutionary Guards Corps (IRGC)] nem o Hezbollah. Israel se autocontradiz a todo instante. Por exemplo, os israelenses dizem que o Hezbollah é o 5º exército mais poderoso do mundo; que o Hezbollah está cavando quatro túneis, que representam grave ameaça à segurança nacional de Israel, etc., mas ao mesmo tempo dizem que o Hezbollah é grupo fraco, cujo poder Israel “nem precisa considerar” – comentou nossa fonte.
Na verdade, Israel já não provoca e nunca mais atacou o Hezbollah desde a guerra de 2006. O único ataque sério foi registrado em 2015, por drone em Quneitra, e matou Jihad Mughnnieh e o general iraniano Mohammad Ali AllahDade. Não foi ataque planejado, foi ataque oportunista, contra um comboio iraniano-Hezbollah de três veículo de quatro rodas que passaram horas movimentando-se sobre a neve, numa área exposta à vigilância israelense. Israel nem sabia que era o alvo e com certeza não sabia da presença lá do general do IRGC.
Em retaliação, o Hezbollah atacou uma patrulha israelense nas Fazendas Shebaa, matando vários soldados e um oficial. Israel fingiu que nem percebeu. Assim se acertaram as contas entre os dois lados.
O presidente Assad e seus aliados creem que Israel tenta provocar a Síria até que reaja às violações da soberania síria, tentando criar algum fato que adie ou cancele completamente qualquer retirada dos EUA, da Síria.
Por essa razão, Síria e aliados têm preferido não responder diretamente às provocações israelenses, enquanto esperam que os EUA saiam. Contudo, recentes falas do presidente dos EUA, sobre “uma zona-tampão neutra de 20 milhas” junto às fronteiras, parecem indicar que os EUA já consideram manter algumas forças na Síria e promover retirada apenas parcial, não completa, dos soldados norte-americanos de ocupação em território sírio.
Tão logo baixe a poeira no nordeste da Síria, Assad e seus aliados precisarão reavaliar a estratégia no que tenha a ver com responder às agressões de Israel e às forças de ocupação que EUA planeja manter no país. Até lá, é impossível prever o que Trump decidirá, à vista das declarações sempre contraditórias sobre a ocupação norte-americana na Síria.
Apesar das declaradas intenções de Trump em relação à Síria e dos seus sempre mutáveis planos de retirada, fato é que Israel fracassou em todos os seus projetos na Síria: o governo sírio não foi derrubado, o exército foi reconstruído e Hezbollah e Irã treinaram grande número de combatentes locais determinados a, quando for chegada a hora, dar combate a Israel.
Hoje, em 2019, o Hezbollah já recebeu todos os mísseis e diferentes tipos de armas de que precisava – como o próprio Pompeo admitiu–, e o Irã é hoje fonte de preocupação ainda maior para Israel e os EUA (ativo hoje no front sírio, quando antes só era ativo nas fronteiras com o Líbano.
Significa que Israel, apesar das declarações ‘midiáticas’ incendiárias e dos milhares de alvos que atacou na Síria em anos recentes, sente-se ainda mais vulnerável do que que se sentia em 2011.
Tampouco se pode esquecer o front iraquiano: a força al-Hashd al-Shaabi – Força Iraquiana de Mobilização Popular – foi criada em 2014, para enfrentar o ISIS. Hoje, é força de dezenas de milhares de combatentes altamente treinados e equipados com um potente ideário político, comparável ao do Hezbollah e do Irã. A influência iraniana expandiu-se do Líbano para a Síria e o Iraque. Israel tem muito com o que se preocupar!
Mas não é tudo: o Irã está presente no Iêmen, onde a guerra destrutiva que a Arábia Saudita faz contra os Houthis deu ao Irã uma oportunidade única para apoiar os oprimidos contra o opressor. O Irã também conseguiu criar um pé de apoio no Afeganistão: o líder Talibã Mulá Akhtar Mansour foi convidado, com delegação de alto nível dos Talibã, a visitar Teerã. O Irã lambeu as próprias feridas em silêncio quando os Talibã mataram dez diplomatas iranianos em Mazar i-Sharif e de algum modo conseguiu superar as diferenças que o separam dos Talibã, pensando na causa maior, de fortalecer a própria posição na disputa contra os EUA no Afeganistão.
Irã e Síria mostraram talento e paciência no processo de usar o tempo para acumular forças. Imediatamente depois de sua revolução de 1979, o governo do Irã tinha pouca experiência internacional. Começou a apoiar o Hezbollah logo em 1982. 35 anos depois, o Hezbollah tem exército não padrão organizado, com presença em vários fronts no Oriente Médio. Por mais que Israel talvez se divirta com provocar a Síria com ataques táticos e milhares de ataques a vários alvos, a nova realidade estratégica está aí, diante dos olhos do mundo, e não há como fugir dela.
Ambos, Irã e Síria sobreviveram a ameaças e guerras ininterruptas, e ao mesmo tempo conseguiram fortalecer-se no processo. Ao mesmo tempo, Israel – potência nuclear com a mais poderosa força aérea de todo o Oriente Médio – dedica-se hoje, em tempo integral a não atacar o Líbano, pequeno país que quase nem se vê no mapa do mundo.
“Se uma guerra nos é imposta, é nosso direito resistir. É nosso direito legal, moral, político, religioso e humano. Não nos desafiem” – disse Sayyed Nasrallah aos poderosos líderes em Telavive, que também contam com apoio ilimitado dos EUA, a superpotência da hora. Essas quatro palavras do Hezbollah bastaram para conter Telavive e Washington. *******
viva a siria unida, e avante hezbollah.
ResponderExcluirSite Sputnik News relata (hoje) que as "Forças de Defesa de Israel" através de seus caças atacaram com misseis baterias anti aéreas Sírias, destruindo inclusive uma unidade Pantsir. É muito sangue frio das lideranças Sírias, russas e iranianas, para aturar essas provocações sem fim. Que possamos ver o dia em que os nazisionistas serão derrotados completamente.
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