terça-feira, 31 de maio de 2016

Linha vermelha, infringida; na alça de mira; dedo no gatilho — À espera da 'Surpresa de Outubro'

30/5/2016, John Helmer, Dance with Bears (Moscou)


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




Primeiro, foi o anúncio da linha vermelha infringida. Na 6ª-feira passada em Atenas, a coisa foi sobre alça/área de mira. Em outubro, um mês antes das eleições nos EUA, será dedo no gatilho. 

EUA e aliados na Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN, estão a caminho de guerra contra a Rússia, acelerando a inevitabilidade de a Rússia atacar em procedimento de autodefesa. Isso precisamente é o que dizem os dois avisos que o presidente Vladimir Putin já deu. Para a fase dedo no gatilho, não haverá novo aviso.

Na conferência de imprensa em Atenas, na 6ª-feira, Putin avisou que a instalação de uma base do sistema Aegis antimísseis na Romênia, que será operacional esse mês, e a correria para fazer o mesmo na Polônia, são atos hostis, muito próximos de casus belli – causa de guerra. 

Para ser bem claro, Putin usou frase muito expressiva – быть под прицелом [lit. "(estar) em (área/alça de) mira"]. Refere-se a alvo/mira para arma de artilharia, canhão montado em avião ou para torpedos navais. 

Na tradução da Agência Reuters, a frase de Putin resultou em: " 'Se ontem naquelas áreas da Romênia as pessoas simplesmente não sabiam o que significa estar na mira, hoje já seremos forçados a tomar certas medidas para garantir nossa segurança' – disse Putin em conferência conjunta de imprensa em Atenas, ao lado do primeiro-ministro grego Alexis Tsipras. – 'Será o mesmo caso com a Polônia' – disse ele." A matéria da Reuters pode ser lida na íntegra (ing.) [e em português].


Putin falava sobre a base romena em Deveselu, 180 km ao sul de Bucareste, capital romena; e de Reszikowo, 460 km ao norte de Varsóvia, capital da Polônia. Diagrama publicado pela BBC, mostra de onde essas bases de mísseis norte-americanos (lado direito do diagrama) responderiam a um ataque inicial de míssil russo (esquerda do diagrama).


A BBC também repete argumento da OTAN de que as bases romena e polonesa são muito apartadas para terem suficiente alcance e poder de fogo a ponto de serem ameaça de primeiro ataque contra a Rússia. 

A verdade é que, de fato, como Putin anunciou na 6ª-feira, as baterias romena e polonesa têm capacidade, sim, para disparar primeiro, com alcance de 2.400 quilômetros, contra mísseis-alvos russos antes de serem lançados; e podem alcançar a linha entre os centros de Plesetsk e Tyuratam de comando de mísseis. 


O alcance do sistema Aegis, operando de oeste para leste e de leste para oeste, já foi mapeado pela Federation of American Scientists (FAS) num artigo de setembro de 2011.


"Em todos os casos acima", os cientistas da FAS Yousaf Butt e Theodore Postol concluíam, "a capacidade defensiva teórica [EUA, OTAN] seria degradada, contra Mísseis Cruzadores Balísticos Intercontinentais [ing. ICBMs] russos armados com decoys e outras contramedidas." 

Não significava que o lado russo pudesse (devesse) subestimar a intenção ou a capacidade dos EUA para atacar primeiro, em ataque bem-sucedido, ou superestimar a capacidade dos russos para fazerem o mesmo. A estratégia tem de se basear em defender-se contra o pior caso, Butt e Postol explicavam. "Por mais que seja verdade que os russos podem derrotar os interceptadores SM-3 usando desviadores e outras contramedidas, também é verdade que os estrategistas russos teriam poucas alternativas além de considerar a possibilidade, embora remota, de um cenário de 'pior-caso', no qual os mísseis de defesa interceptadores dos EUA conseguissem ser mais efetivos do que o esperado; ou as contramedidas russas, menos efetivas. Em outras palavras, a ameaça potencial contra as forças russas de contenção nuclear a ser gerada pelo sistema de mísseis de defesa dos EUA será presumivelmente avaliada pela habilidade dos interceptadores para alcançar e destruir ogivas russas – não por se cada engajamento resulta, ou não, em ogiva destruída."

A chave é o alcance ou campo de alcance. 

O relatório da FAS recomendava como melhor meio para confirmar a veracidade do que dizem EUA e OTAN quanto à intenção limitada do sistema Aegis é restringir o alcance do sistema. Sem essa concessão às considerações da segurança russa (e também da chinesa), o relatório concluía que todo o sistema "ameaça provocar a saída da Rússia do Novo Tratado para Redução de Armas Estratégicas [ing. New START, Strategic Arms Reduction Treaty], além da possibilidade de reiniciar uma corrida armamentista nuclear – sem possibilidade de EUA e OTAN conseguirem construir qualquer argumento futuro aceitável se quiserem protestar contra a hospedagem de mísseis iranianos ou norte-coreanos. Rússia e China provavelmente ampliarão os respectivos arsenais, porão fim a futuras conversações com os EUA para redução de armas e reduzirão a assistência aos esforços mundiais contra a proliferação de armas atômicas. Esse resultado reduziria a segurança nacional dos EUA – e a segurança global – e conflitaria com a visão do presidente Obama de um mundo livre de armas atômicas." 

Esse relatório foi publicado em setembro de 2011. Desde então, em vez de restringir o alcance e negociar garantias recíprocas contra primeiro-ataque, os EUA só fizeram empurrar suas capacidades em terra e mar para cada vez mais perto da fronteira russa, e aumentaram o alcance potencial e a precisão de seu poder de fogo.

Para saber mais sobre os alertas que os russos já distribuíram contra a aproximação de naves militares armadas da Marinha dos EUA, como o USS Donald Cook, no Mar Negro e no Mar Báltico, leiamaqui, de abril de 2014; e aqui, de abril de 2016. Para saber mais sobre o aviso dado por Putin, quando falou da linha vermelha, leiam aqui.


6ª-feira passada, quando Putin falou de "área de mira" no aviso que deu, a matéria que Reuters publicou foi tradução acurada da transcrição da fala do presidente, em russo, que o Kremlin distribuiu. 

Na tradução ao inglês feita pelo Kremlin, o impacto do aviso sobre os EUA terem entrado na "área de mira" foi levemente suavizado. A tradução ao inglês dizia "if yesterday some areas in Romania did not know what it is like to be a target, today we will have to take action to ensure our security." [Se ontem algumas áreas da Romênia não sabiam o que é estar na área/alça de mira, hoje teremos de agir para garantir nossa segurança.]

Para soldados e estrategistas dos dois lados, não se pode dizer que seja exatamente novidade. Como a Federation of Atomic Scientists, vários think-tanks russos, funcionários do governo e oficiais militares vêm fazendo declarações desse tipo, pedindo atenção ao problema, há muitos anos. A única novidade é a precisão da fala de Putin e o encurtamento do lapso de tempo [ontem... hoje].

Leiam aqui a íntegra da declaração de Putin quanto a isso:
"Qual o impacto das questões relativas à segurança sobre a cooperação econômica, em particular, da instalação da área de antimísseis de defesa dos EUA na Romênia? Qual o impacto? O impacto é negativo, e não poderia ser diferente. Porque há algum tempo, os EUA retiraram-se unilateralmente do Tratado dos Antimísseis de Defesa [ing. Anti-Missile Defence Treaty] e iniciaram movimento que tem o efeito de minar os fundamentos da segurança internacional. Agora, foi mais um passo.
"Desde o início dos anos 2000s, vimos repetindo persistentemente a mesma coisa, como mantra: teremos de responder de um modo, ou de outro. Ninguém ouve o que dizemos, ninguém quer conversar conosco, os russos só ouvimos platitudes, e platitudes que se resumem quase completamente a repetirem que nada ali é dirigido contra a Rússia e não ameaça a segurança da Rússia.
"Permitam-me lembrá-los de que inicialmente falava-se sobre fazer frente a uma ameaça que viria do Irã, só se falava do programa nuclear iraniano. Onde está hoje o programa nuclear iraniano? Não existe mais. Os próprios EUA iniciaram a assinatura do tratado com o Irã. A ameaça nuclear iraniana não existe. Mas está sendo criada aquela área para os antimísseis dos EUA, a ser instalada na Romênia.
"O que é isso? São plataformas de lançamento e estações de radar. Hoje, estão sendo instalados mísseis Iskander em terra, com alcance de 500 quilômetros; em poucos anos, serão mísseis com alcance de 1.000 quilômetros. Já sabemos até a data aproximada de quando esses mísseis serão instalados. Como poderia isso não ser ameaça lançada contra os russos? É clara ameaça contra nossas forças nucleares.
"Contudo, há mais, e é ainda pior: essas plataformas compactas de lançamento pode acomodar mísseis de assalto com alcance de 2.400 quilômetros, e trocar os mísseis uns pelos outros é facílimo, basta trocar o software, ninguém perceberá, nem os romenos. E isso? Não é ameaça contra os russos? Com certeza é.
"Essa é a razão pela qual temos de responder agora, e, se ontem algumas áreas da Romênia não sabiam o que é estar na área/alça de mira, hoje teremos de agir para garantir nossa segurança. Permitam-me que repita: são medidas de resposta, são exclusivamente resposta. Não fomos os primeiros a dar esses passos.
"O mesmo será feito em relação à Polônia. Esperaremos que algumas medidas sejam tomadas na Polônia. Nada faremos até que vejamos mísseis no território vizinho. E temos os meios necessários para isso. Vocês viram, todo o mundo viu nossas capacidades em termos de mísseis de médio alcance, disparados do mar e do ar. Não estamos violando coisa alguma, mas os sistemas Iskander disparados de terra têm histórico brilhante.
"Vale a pena anotar que o fato de estarem sendo instaladas plataformas de lançamento que podem disparar também mísseis de médio alcance é claríssima erosão do tratado para mísseis de médio e curto alcance, cometida por nossos parceiros norte-americanos. Entendo que é tema óbvio, que exige atenção a mais cuidadosa e, sem dúvida, que todas as partes implicadas mobilizem-se para conversações detalhadas e substanciais sobre esses pontos."

Ambiguidades, praticamente zero. Como quando Putin disse, no discurso da linha vermelha, em março de 2014, depois que o putsch em Kiev disparou o plebiscito na Crimeia, que decidiu pela reintegração à Federação Russa, que "Tudo tem limite. E com a Ucrânia, nossos parceiros ocidentais cruzaram a linha" (18/3/2014). Para uma análise de algumas conotações dessa nova estratégia russa de guerra, vejam "O Manual do Marechal Georgy Zhukov para surpreender e derrotar o inimigo da Rússia" (11/5/2016, John Helmer, Dance with Bears, Moscou).

Dois anos depois, Putin está dizendo, não do Kremlin, mas da entrada do Megaro Maximou [Mansão Maximos], que a Romênia cruzou a linha vermelha e está agora na área de mira. O local de onde Putin falou também é significativo. É a sede oficial onde trabalha o primeiro-ministro grego desde que a esquerda grega chegou ao poder em 1982. Foi também quartel-general de dois dos estados que ocuparam a Grécia por força militar – a Alemanha, entre 1941 e 1944; e os EUA, até 1952. 

Putin está obrigando Romênia e Polônia a relembrar que são estados ocupados, e que desistam, se estão contando com bases de mísseis e Artigo 5º do tratado da OTAN. Nada disso será escudo confiável, que proteja as respectivas capitais, quando soprem ventos radiativos. Para a Romênia, já é tarde demais. Para a Polônia, ainda há tempo para acordos de segurança mútua e recíproca, talvez na linha do que a Federation of Atomic Scientists recomenda; talvez, como disse Putin, mediante "atenção a mais cuidadosa e, sem dúvida, que todas as partes implicadas mobilizem-se para conversações detalhadas e substanciais sobre esses pontos."

Dito desse modo, da capital de um país hoje esmagado pela ocupação das forças da União Europeia, o convite que Putin oferece aos poloneses é que se salvem enquanto podem, antes que, outra vez, esgote-se o tempo da Polônia. 

O tratado original para a base de mísseis Redzikowo foi assinado em 2010, por Radoslav Sikorski (foto, esquerda) e Hillary Clinton (direita). Sikorski era então ministro de Relações Exteriores da Polônia. Hoje, cassado de todas as funções oficiais é objeto de investigação criminal em Varsóvia, e vive como exilado nos EUA, dependendo, para viver, do salário que sua mulher recebe como agente de operações do governo dos EUA. Clinton também está sob investigação criminal em Washington, e numa dura disputa na eleição presidencial prevista para o dia 8 de novembro.
 

Passaram-se dois anos de escalada na guerra entre Washington e Moscou, antes do aviso sobre a área de mira. Quanto tempo demorará para alcançar-se o ponto de dedo no gatilho? Para que lado o gatilho será apontado e como será disparado?

O momento mais provável, segundo avaliações russas, é o mês de outubro. Todos conhecem a história da "Surpresa de Outubro", quando candidatos desesperados à presidência dos EUA conseguem virar o jogo com um 'golpe midiático' e são eleitos no último segundo. A última vez que uma operação militar esteve diretamente conectada a uma eleição presidencial foi a tentativa fracassada, do presidente Jimmy Carter, para resgatar os reféns na Embaixada dos EUA em Teerã em abril de 1980, e, na sequência, a manipulação das negociações com o governo do Irã para libertá-los. A mais recente guerra dos EUA para dar jeito em eleição presidencial foi a guerra do presidente Dustin Hoffman com a Albânia, no filme "Mera Coincidência" (orig. Wag the Dog, 1997). 


Em outubro, o fraco presidente retirante Barack Obama será espicaçado pela fraca, em vias de ser derrotada candidata do Partido Democrata Hillary Clinton, na luta para salvar suas chances e arregimentar eleitores norte-americanos relutantes, contra o candidato Republicano Donald Trump. Em 2016, na avaliação dos russos, a Surpresa de Outubro será violenta. Como entidade sob mira, a Albânia não serve. E Clinton não pode comprometer-se em alguma neoaventura na Líbia. 

Victoria Nuland (foto, à esq.), Samantha Power (centro), Michele Flournoy (dir.) – as mulheres que cercam Clinton, que perderão holofotes e poder se Clinton perder para Trump – já tentaram de tudo e fracassaram, na Ucrânia, Síria, Iraque e Turquia. Pode-se dizer que a Romênia quase se qualifica. 


Mas e os russos podem ajudar e será que ajudarão Trump no contragolpe – com uma surpresa de outubro à moda Reagan em Teerã? 

Gennady Nechaev (foto, esq.), importante analista militar no [instituto] Versiya & Vzglyad em Moscou, diz que o alvo prioritário na estratégia russa continua a ser "infraesetrutura militar chave: áreas de mísseis em bases aéreas, portos e bases navais; acampamentos e locais que sirvam de base a forças terrestres. Em primeiro lugar e sobretudo, nos países da 'velha OTAN', onde tudo está estabelecido há décadas. Por essa seleção de alvos, o dano máximo recairia sobre Alemanha e Reino Unido, seguidos de França e Turquia; e o sul da Itália e o litoral da Europa do Norte."

Os militares russos contemplam algum novo ponto dedo no gatilho, e em breve? "Não me parece que seja possível" – responde Nechaev. – "Durante toda a existência do sistema de bloco [Pacto de Varsóvia-OTAN], você conta nos dedos os incidentes desse tipo. E a intensidade das operações de aviação nas fronteiras era várias vezes maior que hoje. Há possibilidade de um encontro no ar, por erro dos pilotos ou tiros acidentais. Já aconteceu antes. Não se pode excluir completamente."


Para Yevgeny Krutikov (foto, dir.), também analista militar importante em Moscou, e que já trabalhou no Bálcãs, "Qualquer estado da OTAN, que aceite tarefas para desestabilizar a situação geral pode ser alvo. É coisa que as circunstâncias militares determinam. Se, como a Romênia, você hospeda um sistema antimísseis, significa automaticamente que o sistema é alvo possível, e pode ser atacado por mísseis de médio alcance como o Iskander, mísseis balísticos, ou coisa pior. É difícil apontar alguém como alvo certo. Qualquer estado da OTAN, que modifique o equilíbrio, será automaticamente tomado como alvo e entrará na área de mira. As pessoas têm de entender que sofrerão, se algo acontecer. Não sei dizer se alguém será especialmente selecionado. De fato, todos eles já estão sob mira."

Na avaliação de Krutikov, alvos militares nos estados do Báltico são hoje "menos relevantes. O que está acontecendo lá acontece no nível do pânico étnico. Não têm forças externas [OTAN], e lá só há um punhado de tanques, que são pouco além de caricatura. No Ártico, sim, há problema, mas é área grande demais, e tem de ser dividida em vários teatros de guerra. Perigo especial, nesse momento, é a situação em torno do Mar Barents, porque ali já houve confrontos entre Rússia e OTAN, e ali repetidamente se realizam manobras, principalmente pelos EUA. A mais recente dessas manobras foi encerrada há apenas um mês. Estiveram envolvidos não só a OTAN, mas também finlandeses e suecos, que não são membros da OTAN. Mas o Ártico não pode ser a principal área problema, porque – por estranho que pareça – nenhum dos países da OTAN tem frota de navios quebra-gelo."

"No Mar do Japão, sim, ali há concentração de forças armadas russas que aumenta rapidamente nas Ilhas Kurile; essa concentração, sem efetivo apoio de infraestrutura, é novidade. Correspondentemente, o interesse dos norte-americanos está aumentando por ali. Pela minha avaliação, já houve pelo menos duas tentativas de os EUA penetrarem com aviação de reconhecimento, e, claro, os russos revidaram."

Nas próximas semanas, segundo Krutikov, os pontos de dedo no gatilho não correspondem àqueles onde estejam os maiores interesses estratégicos, mas onde seja menor o espaço de manobra entre forças russas e seus inimigos. Esses pontos são o Mar Báltico e o Mar Negro. Nos pontos de largura máxima, leste-oeste, a distância no Báltico é de 193 kms; no Mar Negro, 1.175 kms. Nos pontos mais estreitos, entre o porto romeno de Constanta e o quartel-general naval russo em Sevastopol, a distância não passa de 392 kms.


Krutikov: "O Báltico é muito pequeno. Entrando e saindo da região de Kaliningrado, os aviões russos têm de partir de distritos no noroeste e áreas próximas, onde há grande número de aeroportos militares e onde voos em direção a Kaliningrad têm de respeitar certa ordem. Há reação de extremo nervosismo dos estados do Báltico, que não têm aviação própria. Por isso, têm havido patrulha em turnos, nos quais holandeses e portugueses revezam-se. Quando há aviação russa voando nos espaços certos, acontece de aqueles infelizes portugueses seguirem os aviões russos e observá-los. É problema, porque as pessoas estão nervosas. Quando a situação é assim tão tensa como agora, tudo pode acontecer. É a situação mais perigosa de todas, exatamente porque ali não há espaço para escape. O espaço é muito pequeno."

"O espaço também é muito pequeno no Mar Negro. Há uma semana e meia, forças da OTAN iniciaram manobras no Mar Negro, na parte norte-oriental da área em torno de Odessa. De repente, há concentração imensa de navios estrangeiros –romenos, búlgaros, turcos, norte-americanos. Deus nos valha, maldito Donald Cook. Também há pouco espaço. O Mar Báltico é minúsculo, uma poça. O Mar Negro também, talvez um pouco maior que a poça báltica; mesmo assim não há espaço para dar meia volta. Claro que tanta histeria pode, sim, provocar problemas." 

NOTA SOBRE A SÍNDROME DE BENCKEND-ANULISMO: Cabe à inteligência russa avaliar as capacidades do inimigo. Meter-se a aferir intenções do inimigo é típico da Síndrome de Benckend-anulismo – a velha distorção causada por políticos russos que se metem na cabeça que só eles compreendem os britânicos, alemães, turcos ou os norte-americanos, mais e melhor que todos os demais, só porque falam a língua, amam a cultura, ou têm dinheiro, patrimônio ou filhos guardados em cofres naqueles países. 

A síndrome recebeu nome inspirado no Conde Alexander Benckendorff (abaixo, esq.), embaixador russo anglófilo que viveu em Londres de 1903 a 1917. Foi comandante-em-chefe e especialista na estratégia russa de entregar a vantagem aos britânicos – a mesma estratégia prestigiada também pelo czar e por vários ministros de Relações Exteriores da Rússia –, nos anos que precederam a 1ª Guerra Mundial em 1914. Também com marcada tendência para anular [por isso, 'anulismo'] os interesses russos, mas nesse caso a favor dos germânicos, tivemos o Barão Roman Rosen (dir.). 


Na política anglo-norte-americana, a síndrome é chamada "Em Roma, como os romanos" [ing. Going Native]. Putin padeceu também dessa síndrome suposta 'cosmopolita', mas seus inimigos, não os amigos, o curaram. Para mais detalhes do Benckend-anulismo, leiam Dominic LIEVEN, Towards the Flame, Empire, War and the End of Tsarist Rússiapublicado ano passado.*****

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