quinta-feira, 26 de maio de 2016

Mas... Hillary Clinton 'tá é "de olho na minha grana" , por Pepe Escobar

26/5/2016, Pepe Escobar, Counterpunch


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Assim como a máquina de Clinton pode dar-se muito bem no Hotel California no início de junho, pode também acontecer de terem de puxar o carro a qualquer momento, sem, nem por isso, se livrarem da síndrome de Trump-continua-à-frente-na-média-das-pesquisas-nacionais.

Esse jamais foi o roteiro original, pelo qual o Destino Manifesto já teria coroado a Rainha do Sorriso-Colado-na-Cara – finalmente –, presidenta. Mas o que fez ela p'rá merecer isso?! Ora, muitos fatores contribuíram para o resultado. Encurtemos a história: sigamos o dinheiro.


Agora que encontrei você, não posso deixá-la partir


Quando ainda estava no Senado, a Rainha do Caos manifestou vago interesse em ir à caça dos paraísos fiscais, tipo "gente que cria uma caixa de correio, ou uma casinha, ou manda alguém sentar na praia em alguma ilha paradisíaca e inventa que lá seria a sede offshore da 'firma'." Mas – e é 'mas' crucialmente decisivo – nunca se viu qualquer proposta de lei saída do gabinete de Hillary. Afinal, a máquina de Clinton tem acesso virtualmente ilimitado a um pool de fundos vastos e não transparentes. Fazer o quê?

A máquina de Clinton é autoridade indiscutível em tudo que tenha a ver com paraísos fiscais onshore/offshore. Há seis anos, a casa deles em Chappaqua, New York, de subterrânea fama no mundo dos e-mails foi convenientemente entregue a um "trust residencial" [orig. ing. residence trust].

Bill Clinton, por sua vez, gastou inteiros cinco anos como mero conselheiro do playboy – $3,2 bilhões – Ron Burkle –, hoje reduzido ao status de ex-amigo de Clinton. Enquanto durou a amizade, o fundo de investimentos de Burkle registrado em Dubai e nas Ilhas Cayman acrescentou pelo menos $15 bilhões ao cofre-porquinho de Bill.

Hillary passou a integrar relativamente tarde o board de diretores da Clinton Foundation, em 2013. E demitiu-se do feliz negócio da família, de arrecadar petrodólares, há pouco mais de um ano, para comandar a própria campanha em busca da presidência. Bill Clinton e a filha Chelsea permanecem lá, no board.

A conexão profunda de Hillary com a Fundação (estilo sociedade secreta) Clinton pode revelar-se grave ponto frágil de toda a estrutura, especialmente se justaposta com o discurso de Clinton, do fundo da alma, em defesa do Homenzinho e da Mulherzinha.[1] Ninguém – e da própria candidata, então, nem se cogita – consegue separar claramente, quando foi secretária de Estado – onde paravam os negócios de Estado e começava o business globalista da família.

Zygmunt Bauman poderia sem dificuldade pôr os Clintons como espécimes de primeira classe da rarefeita elite global da modernidade líquida; nada pode estar a mais anos-luz de distância da classe média do Homenzinho e da Mulherzinha, já encolhida, temerosa, assustada, cimentada ao chão.

Como secretária de Estado, Hillary apoiou o Acordo EUA-Panamá de Promoção do Comércio (ing. US-Panama Trade Promotion Agreement). Dito numa linha: é o acordo que converteu em farra de livre fluxo o trânsito de dinheiro norte-americano pelo Panamá.

Como seria de esperar, Hillary denunciou Mossack Fonseca imediatamente depois dos Panama Papers. Mas é preciso desligar todo o bom-senso, para acreditar nesse 'distanciamento', quando se examina a robusta  conexão Clinton Foundation/Panama, que envolve players individuais e empresas.

Hillary também denunciou as práticas de lavagem de dinheiro ("criminal behavior") do banco HSBC. "Quando eu for presidenta, isso mudará." Bom, pode ser que mude, mas acontecerá depois que a Clinton Foundation, em 2014, meteu na sacola $1 milhão do HSBC.

Seguir o dinheiro mostra uma infindável correria à caça de negócios lucrativos. Desde 1997, quando veio à luz a William J. Clinton Foundation original, o negócio da família levantou estonteantes $2 bilhões, com orçamento anual de $223 milhões e cerca de 2 mil operadores globais, todos com salários e benefícios significativos. Os mais cínicos mal conseguem esperar um debate Trump-Clinton sobre quem é o administrador de negócios mais espertalhão – jogo sujo incluído.

O tal blues subterrâneo dos e-mails 



Sucesso nos negócios à parte, não param de surgir fatos desconfortáveis – surgir e berrar – sobre, claro, o trânsito completamente livre que Hillary Clinton tinha na segurança do país, como secretária de Estado; sobre ela ter permitido a transferência de documentos secretos para o seu servidor privado subterrâneo não protegido; e sobre os documentos lá terem ficado dormindo no servidor subterrâneo, ao longo de três anos, mesmo depois de ela já não ser secretária de Estado.

Agora, advogados que tentam obter acesso aos registros do FBI do servidor subterrâneo de Hillary apresentaram um pedido à Corte, que pode vir a obrigar o governo dos EUA a entregar os tais registros, ou a admitir que o FBI está trabalhando, sim, na investigação de um crime.

No pé em que estão as coisas, o FBI diz que se trata de uma "investigação"; mas a máquina dos Clintons insiste que não passa(ria) de "revista de segurança". O diretor do FBI, James Comey permanece imperscrutável.

Esses personagens importantes não poderiam ter mais razão: claro que se trata de exibir toda a informação que há, e já. E tudo pode ficar muito, muito pior, por razões não absolutamente sem conexão – agora que um ex-contrabandista da CIA está expondo o elo que faltava entre o FBI Rápido e Furioso e a saga de Benghazi.

Claro que pode dar em nada. Mas hoje já é de conhecimento público que Hillary admitiu oficialmente que "nós criamos a al-Qaeda". E mesmo assim nada aconteceu.

Como senadora, Hillary Clinton votou a favor da guerra contra o Iraque em 2002 e justificava a guerra (para proteger a segurança nacional dos EUA). Como secretária de Estado, em 2011, mudou consideravelmente de conversa: "É hora de os EUA começarem a pensar no Iraque como oportunidade de negócios."



Referia-se especificamente ao JPMorgan – que geria um banco de import-export – e à ExxonMobil – que fechara negócio para "redesenvolver" o grande campo de petróleo West Qurna 1. Fato completamente à parte é que JPMorgan doou pelo menos $450 mil à Clinton Foundation pelas tais proverbiais 'palestras'; e a Exxon Mobil 'contribuiu' com mais de $1 milhão.

Mas novamente teve de mudar de toada, para acomodar o mantra da "oportunidade de negócios". Desde o ano passado, já em modo de campanha eleitoral, Hillary vive de repetir que o voto a favor da guerra foi "errado".

No pé em que estão as coisas, Hillary Clinton mal se mantém à tona numa litania de escândalos, sempre ameaçada de graves problemas 'com a lei'; e mais os espantosos índices de rejeição; as tais 'colaborações' pelas tais 'palestras' que simplesmente ninguém consegue engolir (só entre abril de 2013 e março de 2015, teria recebido, a título de 'colaboração' por 'palestras' nada menos de $21,667 milhões); e a ONG Judicial Watch, que insiste em conhecer em detalhes a história completa do servidor subterrâneo de e-mails.

E, agora, é Trump, que ganha dela em todo o país – com Bernie Sanders, que ganha de Trump por diferença de mais de 10 pontos! É assunto suficiente para fazer todos os norte-americanos não verem que Hillary Presidenta converteria os EUA num Wal-Mart gigante.*****



[1] Pode ser referência ao que Hillary disse na primeira entrevista q deu à CBS, em 1992 (mais em http://www.cbsnews.com/news/hillarys-first-joint-interview-next-to-bill-in-92/) [NTs]

Nenhum comentário:

Postar um comentário