quarta-feira, 25 de maio de 2016

Brasil-2016: República das Bananas dos Escroques Provisórios, por Pepe Escobar

24/5/2016, Pepe Escobar, SputnikNews




Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Parece que todos os pervertidos políticos do planeta estão conectados na atual House of Cards à brasileira, para oferecer festim sem interrupção de emoções baratas.



A mais recente reviravolta do script foi o vazamento de conversa entre um dos operadores chaves envolvidos no escândalo de corrupção na gigante Petrobras e um senador que acabou por ter vida curta como Ministro do Planejamento do governo provisório usurpador que atualmente substitui a presidenta Dilma Rousseff, enquanto ela enfrenta processo de impeachment pelo Senado.

O vazamento pode ser descrito como rápida autópsia do que, desde o início nunca passou de golpeachment; mistura de "golpe" e "impeachment" que aconteceu em votação em duas etapas no Congresso (Câmara de Deputado e Senado) do Brasil, e quando uma conhecida congregação de escroques investigados por incontáveis crimes e infrações tomaram o poder em Brasília, numa espantosa ópera bufa. Para mim, são a República das Bananas dos Escroques Provisórios (ReBEP).

Conheçam o Morto Vivo interino

O vazamento/autópsia revelou como avançou o câncer ReBEP. Um dos conspiradores-chefe delineou o golpe; explica que é indispensável proteger a cleptocracia/plutocracia brasileira contra consequências não desejadas da investigação da corrupção que já dura dois anos, chamada "Operação Lava-jato"; e como a esquerda – da presidenta Rousseff até Lula e o Partido dos Trabalhadores, PT – têm de ser criminalizados a qualquer custo. 

O resto seria história, inclusive a demolição – pela imposição de uma restauração neoliberal – dos direitos sociais e trabalhistas recentemente conquistados no Brasil; reversão total na política exterior, com as relações geopolíticas e geoeconômicas devolvidas ao quadro mental mais colonizado que o Brasil conheceu; e o restabelecimento no poder hegemônico, de uma classe conservadora, neoliberal rentista, com plenos poderes sobre uma sociedade que chegou a ser democrática e socialmente orientada.

Combina perfeitamente com a atual configuração do Congresso brasileiro hoje dominado por interesses "BBB" – as bancadas do Boi (o poderoso lobby do agronegócio); da Bala (o complexo de armas e da segurança privada); e da Bíblia (fanáticos evangélicos) – todos esses apoiados pela mídia-empresa. Muitos desses impalatáveis personagens são conectados e/ou representam a tóxica aristocracia rural brasileira – que são de fatos herdeiros de títulos nobiliárquicos distribuídos aos proprietários de escravos do Brasil colonial.

Tudo estava indo muito bem nos primeiros dias – e até o ex-presidente da Câmara de Deputados e escroque conhecido, Eduardo Cunha, havia sido temporariamente afastado; Cunha – coordenador de uma máfia de financiamento de campanhas eleitorais dentro do Congresso – atuava como um primeiro-ministro de facto do então vice-presidente fantoche e hoje presidente interino Michel Temer.

Temer O Usurpador – que na verdade pode tornar-se Temer O Breve – sempre esteve sob sítio, desde que tomou o poder. A impopularidade do homem alcança níveis de Kim Jong-Un reverso, e já chega a quase 99%. A vasta maioria dos brasileiros o quer impichado. É mencionado em vários escândalos de corrupção. Hoje, nada faz além de nomear, como nomeador serial, lista que parece infinita de ministros envolvidos, eles também, em incontáveis escândalos de corrupção.

Problema é que a gangue da República das Bananas dos Escroques Provisórios (ReBEP) simplesmente não pode separar-se de Temer [vice-presidente legal, cuja presença no atual governo é o único tênue fiapo de legalidade que ainda impede que o golpeachment seja exposto como o golpe que é (NTs)] – porque sem Temer a gangue golpista perde todo o poder. 

O vazamento do Diálogo dos Grandes Escroques prova conclusivamente que a Operação Lava-jato foi instrumentalizada para criminalizar o Partido dos Trabalhadores e derrubar a presidenta Rousseff, ao mesmo tempo em que a farsa do golpeachment avançava paralelamente, de modo a assegurar que forças políticas tradicionais jamais fossem apanhadas na rede da Lava-jato.

O Diálogo dos Grandes Escroques aconteceu há mais de dois meses – e vazou pelo menos três semanas antes de a farsa do golpeachment alcançar o auge naquela sinistra, medonha sessão de votação na Câmara dos Deputados. O que nos leva a uma questão chave: por que o procurador-geral e o juiz federal da vara de Curitiba encarregados da investigação chamada Lava-jato não revelaram aquela informação e/ou por que não tomaram qualquer medida imediata?! Porque se o Judiciário brasileiro tivesse revelado as informações contidas no Diálogo dos Grandes Escroques – e tomado as medidas cabíveis – o golpeachment teria de ter sido abortado.

O fato de nada ter vazado há dois meses enche de suspeitas todas as cabeças e mentes sérias do país. No Diálogo dos Grandes Escroques o senador Romero Jucá fala com [Sérgio Machado, da Transpetro] conhecido nodo numa cadeia de corrupção histórica que existe dentro da gigante petroleira Petrobras desde os governos de Fernando Henrique Cardoso nos anos 1990s. Atuou na alta cúpula da administração de todos os governos no Brasil, ao longo dos últimos 22 anos. Implica que o senador sempre foi o Escroque em Chefe e escroque leva-e-traz de seu partido político, o PMDB.

Mas nada disso sequer se aproxima da gravidade que é a dupla admitir que toda a agenda oculta do golpeachment visou a deter as investigações de corrupção, e foi parte de acordo mais amplo e que envolveu seletos juízes da Suprema Corte no Brasil. Se não se tratasse da House of Cards à brasileira, toda a conspiração desse golpeachment teria de já ter sido declarada nula e sem efeitos.

Mas, como venho dizendo e insistindo desde as primeiras escaramuças, o golpe em curso no Brasil é sofisticada operação político-financeira-'jurídica'-midiática tipo Guerra Híbrida. E será muito difícil deslindá-la.

A lógica do escândalo perpétuo 

Como se pode ver, os historiadores do futuro já receberam o resumo da narrativa a reproduzir – bem clara no Diálogo dos Grandes Escroques: o golpeachment de 2016 foi trama urdida por um bando de políticos canalhas, fazendo de tudo para escapar da prisão.

Temer o Breve, fantoche de segunda categoria, já está sob sítio. Os dois agentes que o manipulam – Cunha, o ex-presidente da Câmara de Deputados; e Jucá, seu ex-ministro do Planejamento de curto mandato – estão agora obrigados a só operar nas sombras. Na prática, significa que conseguir que o Congresso aprove políticas econômicas profundamente impopulares será ainda mais difícil.

O reinado de Temer O Breve é indiscutivelmente ilegítimo. Ninguém; já ninguém está engolindo a farsa, nem os atores privilegiados – a Deusa do Mercado, sortimento variado de empresários e até alguns setores da mídia-empresa dominante. Ao mesmo tempo, a rua brasileira não se calará. Essa é a estratégia de Rousseff e do Partido dos Trabalhadores, PT (mas não basta).

Assim sendo... o que acontecerá na sequência? A única via para que Rousseff seja reinvestida na presidência é que ela e seu partido construam narrativa crível das prioridades do país, com vistas às eleições presidenciais de 2018. Implica muita conversa de bastidores e muita negociação política – áreas em que Rousseff não é muito competente.

A nova normalidade no Brasil – já descrita como o novo presidencialismo condominial – envelopa agendas conflitantes, sem qualquer consenso à vista. Deve-se esperar que a nação permaneça atolada, ainda por muito tempo, na lógica do escândalo perpétuo.

A variável chave de agora em diante é como a gangue da República das Bananas dos Escroques Provisórios manobrará – possivelmente ilegalmente – para manter-se agarrada ao poder. O Ministério Público e a Polícia Federal estão completamente politizadas. Cada vez mais se vê que não há poderes de mediação. A gangue da República das Bananas dos Escroques Provisórios, ReBEP, não arrastará prisioneiros. O Ministério Público sairá à caça de Lula; e o Procurador Geral tentará bloquear qualquer possibilidade de Rousseff ser reposta no poder.

Enquanto isso, os social-democratas neoliberais – associados de cama e mesa da gangue da República das Bananas dos Escroques Provisórios – continuarão a avançar a própria agenda: privatizações hardcore; bandeja para entregar a exploração dos depósitos de petróleo do pré-sal ao Big Oil dos EUA; almofadinhas para se ajoelharem como vassalos aos pés de Washington. Basta examinar o interesse extremo que o Departamento de Justiça dos EUAtem mostrado por tudo que tenha a ver com a investigação Lava-jato, e logo se percebe que Washington está profundamente interessada no desmonte das principais empresas brasileiras.

E quanto aos BRICS? 

No momento, o Brasil está globalmente isolado. Só Maurício Macri, presidente argentino amigo dos fundos abutres, reconheceu até agora o governo golpista da gangue da República das Bananas dos Escroques Provisórios. A República das Bananas dos Escroques Provisórios idolatra Macri, como se fosse a Beyoncé; absolutamente a-do-ra Macri, matador de um ciclo de governos inclusivos na Argentina.

Washington ainda não teve colhões para reconhecer oficialmente os Escroques no Poder –, e passou a tarefa a escalões inferiores, como o embaixador interino na OAS. Mas a mensagem é claríssima: o golpeachment é legal, e Washington confia nas "instituições democráticas" do Brasil. MUITO DIFERENTE do Ministério de Relações Exteriores da Rússia, que alertou contra "interferência estrangeira" nos assuntos do Brasil.

O novo ministro de Relações Exteriores – perdedor insistente de (perdeu duas vezes) eleições presidenciais vencidas pelo Partido dos Trabalhadores – não demorou a lançar sua política gloriosa de Vassalo do Big Capital de Washington/EUA. E já lançou "ameaça" velada contra Cuba, Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Equador e El Salvador. O Mercosul será posto de lado, em favor da Aliança do Pacífico – na qual México, Peru e Colômbia já se meteram sob a saia de Washington. Unasul será isolada.

E na sequência, o sorvete azedado no bolo dos escroques: o "B" de BRICS é posto para dormir. Significa que o papel do Brasil no banco dos BRICS estará muito gravemente prejudicado. Claro: o grupo BRICS nunca foi grupo homogêneo e sempre viveu eivado de interesses conflitantes. Por exemplo, o acordo de partilha nuclear da Índia com os EUA efetivamente acabresta o país, sob controle dos EUA. A próxima reunião dos BRICS acontecerá na Índia, em outubro. O Brasil está exposto à vergonha de aparecer lá representado pela gangue da República das Bananas dos Escroques Provisórios.

Entrementes, que ninguém se engane: assim como a investigação Lava-jato já foi exposta como processo político não judicial – para o qual combater a corrupção não passa de cobertura útil – a República das Bananas dos Escroques Provisórios e seus aliados e agentes farão de tudo para se livrarem das eleições diretas à presidência marcadas para 2018. E assim, eis o lamentável mapa do caminho até 2018: rumo ao mais total caos nos campos político, econômico, social e judiciário.*****

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