29/11/2016, MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Duas empresas aéreas norte-americanas – American Airlines e JetBlue Airways – iniciaram hoje voos diretos entre EUA e Havana, pela primeira vez depois de meio século. Esses voos conectam New York e Miami, respectivamente, com a capital de Cuba. Acontece no momento em que o presidente eleito dos EUA Donald Trump condenou pesadamente o legado de Fidel Castro, ao comentar a morte do herói cubano na 6a-feira à n noite.
Na 2ª-feira, Trump voltou ao tema, com um tuíto: 'Se Cuba não quiser acordo melhor para o povo cubano, para o povo cubano/norte-americano e para os EUA como um todo, porei fim ao acordo.' O tuíto veio em tom tipicamente 'trumpiano' – o assunto central envolto em muitas e muitas condicionalidades ("Se..., se..., se..."), em tudo semelhante à abordagem do caso iraniano, que deixa o observador sem chão firme onde pisar.
Claramente, o tuíto não contém ameaça direta ao acordo com Cuba, que o governo Obama conseguiu a duras penas e com a mediação do Vaticano. Nem Trump ameaça reimpor sanções contra Cuba. Por outro lado, Trump exige coisas de Raul Castro, para não renegar o acordo. Há uma distinção sutil que se tem de fazer aqui, mas é uma mudança importante na ênfase, que pode fazer toda a diferença para as confabulações cubano-norte-americanas na era Trump.
Claro, pode-se argumentar que Trump seria obrigado a cancelar o acordo com Cuba. O Partido Republicano rejeitou veementemente o movimento do governo Obama na direção de normalizar as relações com Cuba. O partido tem base forte entre os grupos de emigrados cubanos com base na Flórida.
Mas também se pode argumentar que Trump não é necessariamente um Republicano mainstream, e também se pode dizer que sua abordagem para o problema é mais 'amena'. O que realmente conta é que Trump nada deve à comunidade cubano-norte-americana, na trilha para sua eleição. Os cubanos-norte-americanos preferiam o governador Jeb Bush e/ou o senador Marco Rubio como candidato republicano.
Uma possibilidade é que Trump venha a induzir Cuba a abrir a economia. Trump em momento algum deixou de dizer que a prioridade absoluta está com os interesses do business norte-americano. É onde os voos para Cuba ganham importância, porque promovem laços diplomáticos, sociais e comerciais. Há muito interesse entre empresários e norte-americanos médios sobre ampliar o comércio e o turismo. Assim sendo, é perfeitamente concebível que Trump opte por algum 'endurecimento' apenas simbólico – mas evite qualquer retrocesso nas relações com a ilha.
Ninguém precisa ensinar a Trump que Cuba é um favinho de mel e máquina de dinheiro para a indústria hoteleira, de cassinos, de resorts e campos de golfe –, como para a indústria imobiliária, com vistas aos norte-americanos ricos aos quais interesse manter residência longe de casa. Fidel talvez se sentisse pouco confortável ante essas 'possibilidades', mas Raul talvez tenha ideias diferentes. Logo saberemos.
Leitura fascinante é a matéria publicada em Newsweek há algum tempo, intitulada (em ing.) Como a empresa de Donald Trump violou o embargo imposto pelos EUA contra Cuba.
Contudo, se os investimentos EUA-Cuba ganharem impulso, outro país que logo aparecerá para também ciscar nas oportunidades de investimentos será, sem dúvida, a China. Cuba será excelente plataforma para negócios, para os chineses, no Hemisfério Ocidental. Os recursos humanos em Cuba atendem aos mais altos padrões do dito Primeiro Mundo, com custos inferiores de mão-de-obra.
Na China, a morte de Fidel recebeu muita atenção. Embora Fidel tenha sido aliado próximo dos soviéticos durante o cisma sino-soviético na era da Guerra Fria, e por essa razão tenha mobilizado contra si a ira do Partido Comunista Chinês, tudo isso hoje é passado.
Em evento absolutamente raro, talvez sem precedentes, o presidente Xi Jinping visitou dia 29/12 a embaixada cubana em Pequim, para assinar o Livro de Condolências. Ali Xi homenageou o "Camarada Fidel Castro" e, significativamente, observou:
"Creio que sob a firme liderança do Camarada Raul Castro, o governo e o povo cubanos levarão avante o desejo do Camarada Fidel Castro, converterão a tristeza em força e prosseguirão rumo a novas realizações e conquistas na construção nacional e rumo ao desenvolvimento do socialismo."
Socialismo com características cubanas? Na minha avaliação, o mais provável é que o sistema cubano caminhe na direção do modelo chinês (e vietnamita). Evidentemente, antecipando a sempre iminente transição em Cuba, a China já estava em contato próximo com Raul Castro.
Raul visitou a China já três vezes desde 2012. Xi visitou Cuba duas vezes (2012 e 2014), e o premiê Li Keqiang esteve em Havana em setembro passado. Também de uma perspectiva ideológica, a China tem aposta alta nesse páreo, com muito a ganhar no caso de a transição socialista em Cuba ser história de sucesso que arrebate a imaginação de outros países latino-americanos. Pode-se dizer ainda que o futuro de Cuba é também questão de prestígio para o Partido Comunista Chinês.
Xi nomeou o vice-presidente chinês Li Yuanchao seu enviado especial ao funeral de Fidel, que acontecerá no domingo. O texto da mensagem de condolências de Xi, publicado em Xinhua[traduzido em Blog do Alok (NTs)], é boa amostra da importância excepcional que a China dá a Cuba, como país fraterno.*****
Trump Bravateiro.
ResponderExcluirA china mil anos luz na frente.