Por que os EUA tanto insistem em se intrometer no relacionamento Índia-China?!
4/9/2018, MK Bhadrakumar, Strategic Culture Foundation
Entreouvido na Vila Vudu:
No caso do Brasil, 4º (B)RICS e hoje já arruinado pelo golpe orquestrado por CIA-Aluysin,
trata-se de "século pós-Brasil & pré-nada" [pano rápido & fúria].
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No caso do Brasil, 4º (B)RICS e hoje já arruinado pelo golpe orquestrado por CIA-Aluysin,
trata-se de "século pós-Brasil & pré-nada" [pano rápido & fúria].
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Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
A compra pendente, pela Índia, do sistema russo de mísseis S-400 passou a ser o motivo central decisivo, do diálogo "2+2" dos ministros de Relações Exteriores e Defesa da Índia e dos EUA marcados para 6 de setembro em Nova Delhi. Mas a questão aqui não é só questão de defesa. Há outras ramificações geopolíticas muito mais amplas.
O xis da questão é que a Lei de Sanções contra Adversários dos EUA [ing. Countering America’s Adversaries Through Sanctions Act, CAATSA], convertida em lei pelo presidente dos EUA Donald Trump em agosto de 2017, põe sob risco as duradouras relações de defesa entre Índia e Rússia, graças às quais se negociam muitos itens de defesa. O xis da ameaça que vem pela lei CAATSA está nas Seções 231 e 235 da lei. A Seção 231 exige que o presidente dos EUA imponha sanções contra qualquer entidade que "se engaje em transação significativa" com os setores de inteligência e defesa da Rússia. A Seção 235 proíbe transações em dólares dos EUA (moeda atualmente usada nos negócios de armas entre Índia e Rússia.)
Agora, o Congresso dos EUA autorizou o presidente a não aplicar a lei, sob condições extremamente limitadas – quer dizer, desde que possa demonstrar que a autorização visa fundamentalmente a interesses da segurança nacional dos EUA; que o país em questão tomou "medidas demonstráveis" para reduzir sua dependência em defesa da Rússia; e que o país está cooperando para promover os interesses estratégicos críticos dos EUA. Na verdade, a lei CAATSA cria um 'privilégio' a quem se dedique a preservar a hegemonia global dos EUA, que ultrapassa em muito o objetivo declarado de impor sanções à Rússia por causa da Crimeia.
Tudo isso considerado, qual o verdadeiro plano de jogo do governo Trump? No nível mais amplo, Washington estima que o relacionamento Índia-Rússia já não é o que foi, e o atual momento pode ser oportuno para enfraquecê-lo e miná-lo a de dentro para fora. Daí que o gambito, logo na abertura das conversações visa a pressionar Delhi, 'declarando' desde já que a compra do sistema S-400 geraria grave risco para a parceria estratégica entre EUA e Índia – o que poderia ser muito sensível, num momento quando a ascensão da China e suas posições cada vez mais assertivas estão lançando toda a região do Indo-Pacífico num fluxo de incertezas – e a Índia, em particular.
Nessa narrativa, a solução estaria em Delhi suspender o negócio do S-400 com a Rússia e substituí-lo por um sistema norte-americano. (O mesmo que Washington aconselhou à Turquia.)
Mas acontece que os EUA nada têm a oferecer que se pareça, mesmo remotamente, com o S-400 com seu alcance máximo de (~400 km) e altitude de até (~29 mil m) que satisfazem os parâmetros que interessam à Índia para defesa antiaérea que lhe permita fazer frente à ameaça de a China atravessar a cordilheira do Himalaia.
Curiosamente, os norte-americanos também reconhecem que o S-400 é insuperável, no critério satisfazer as especificações da Força Aérea da Índia. Na opinião de um especialista na Carnegie Endowment for International Peace:
"Os EUA não possuem hoje qualquer sistema sequer comparável ao S-400. Isso, basicamente, porque o país não investe em mísseis estratégicos desde o início da Guerra Fria (...) As armas terra-ar dos EUA, pelo mesmo motivo, são de dois tipos: sistemas de longo alcance dirigidos principalmente contra mísseis balísticos de defesa, ou sistemas de curto alcance reservados principalmente contra aviação inimiga sobrevivente que seja ameaça a forças norte-americanas em solo. Assim sendo, não temos sistemas que atendam ao que a Índia deseja, em termos de defesa aérea de longo alcance."
Assim sendo, por que os EUA pressionam a Índia para que não compre o S-400? A questão é que vendas de defesa são ferramenta vital na estratégia dos EUA para construir relacionamento de longo prazo e interoperabilidade com a Índia, como parte do sistema de uma nova aliança no Indo-Pacífico.
Dito de outro modo, as compras de defesa que a Índia faz de materiais russos (que é, de longe, principal parceiro da Índia) impacta a estratégica dos EUA, que visam a alinham os militares indianos com os EUA e respectivas forças armadas, e com os aliados dos EUA no Indo-Pacífico. Ao contrário, encomendas de grande escala, como do sistema S-400 de mísseis, criarão relacionamento novo entre Índia e Rússia, que se manterá por gerações com militares dos dois lados trabalhando juntos enquanto a plataforma existir, em operações de manutenção e treinamento.
Isso posto, os EUA estão perseguindo estratégia de longo termo, criando plataformas partilhadas com as forças armadas da Índia que contribuem para gerar interoperabilidade militar. A intenção aqui é que ao mesmo tempo em que as duas forças armadas habituam-se ao mesmo equipamento, também desenvolvem uma compreensão partilhada da doutrina, da dinâmica de comando e controle e procedimentos padrão de operações, resultado de planejamento e treinamento planejados e executados em conjunto. Dito em termos mais simples: sem que a Índia perceba, os EUA obterão um ponto a favor deles quando a Índia estiver "amarrada" e tornar-se aliada obrigatória dos EUA, fazendo o jogo de meio de campo para Washington, em suas estratégicas no Indo-Pacífico.
Contudo, parece que Washington está sentindo que o governo de Modi dificilmente desistirá de comprar o S-400, não importam pressões, táticas e chantagens que os EUA tentem. Por seu lado, Delhi também compreende que a Estratégia de Segurança Nacional dos EUA define a Rússia como potência "revisionista", e que o objetivo oculto de Washington é minar o duradouro e já testado no tempo relacionamento entre Índia e Rússia.
Assim sendo, com a firme decisão de dar andamento no negócio do míssil S-400 com a Rússia, o primeiro-ministro Narendra Modi enviou mensagem importante, ampla e clara a Washington. A decisão de Modi augura futuro auspicioso e papel de destaque para a Índia num século "pós-norte-americano". Mas nem tudo está resolvido.
Fundamentalmente, Delhi precisa rejeitar com firmeza a tentativa dos EUA de se intrometerem no relacionamento Índia-Rússia, servindo-se da [lei] CAATSA. Nos últimos tempos, os lobbyistas pró-EUA na Índia têm proposto que Índia e EUA devem investir em "pensamento criativo" para mitigar os desafios impostos pela [lei] CAATSA. Mas é ideia perfeitamente ridícula.
A Índia não está impondo qualquer restrição aos EUA no que tenha a ver com acesso ao mercado dos nem lhes nega o direito de disputar em arena justa. Além do mais, a CAATSA é lei norte-americana, aplicada muito claramente para objetivos geopolíticos. Quem negociaria com uma Matrix?
A Índia estará em terreno escorregadio, ladeira abaixo, se aceitar discutir com os EUA o seu próprio relacionamento de defesa Índia-Rússia, em discussão caso a caso. Será afronta à soberania e ao autorrespeito da Índia, admitir que os EUA palpitem sobre o relacionamento do país com a Rússia.*******
Alguma novidade desse encontro (2+2), realizado em 6/9?. Obrigado.
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