terça-feira, 26 de julho de 2016

Se Putin vazou aqueles telegramas do Comitê dos Democratas... merece um Prêmio Pulitzer



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


Dispensando os padres que chegavam para lhe administrar a extrema unção, disse Voltaire: "Toda a minha vida só pedi uma coisa a Deus 'Senhor, dai-me a graça de me deixar ver meus inimigos em papel ridículo'. Afinal (apontou os padres), Deus me atendeu." 

A história dos e-mails roubados do Comitê Nacional dos Democratas é boa demais para ser verdade.

Durante um ano, o socialista Bernie Sanders, 74 anos, repetiu incansavelmente que, sob o comando de Debbie Wasserman Schultz, o Comitê Nacional dos Democratas boicotava a campanha dele e favorecia Hillary Clinton.

Depois dos 19.200 e-mails vazados no fim-de-semana, antes da coroação de La Clinton, afinal se vê que o velhinho nunca esteve doido. O baralho estava, sim, marcado; os juízes estavam, sim, na gaveta; o jogo foi comprado.

Ao longo de 40 anos, muitos de nós nos perguntamos o quê, diabos, Jim McCord, homem da segurança no Comitê de Reeleição de Nixon e seus quatro cubanos, procuravam no escritório de Larry O'Brien, presidente do Comitê Nacional Democrata, no prédio Watergate. Agora, afinal, aquela procura faz sentido.

Dentre os simpáticos esquemas que os chefes do Comitê Nacional Democratas inventaram para 'sujar' Sanders nas comunidades cristãs de West Virginia e Kentucky, uma das 'fórmulas' foi dizer àquelas pessoas que, com Sanders, a coisa é ainda pior que não acreditar na existência de Deus. Sanders não é só agnóstico: é ATEU!

A ideia lá está, saída da cabeça do tesoureiro do Comitê Nacional Democrata Brad Marshall, num e-mail para a mais alta executiva do Comitê Amy Dacey:

  • "[Bernie] acredita em deus? Não se cansa de repetir que tem formação de judeu. Acho que li que é ateu. Cá com o meu pessoal isso faz muita diferença. Os meus Batistas do sul veem enorme diferença entre um judeu e um ateu."

Dacey respondeu também por e-mail: "Amém."

Em 1960, John F. Kennedy compareceu ante os ministros de Houston, para afirmar o direito de um católico ser presidente dos EUA. Quer dizer então que esse "Plano [Brad] Marshall" para silenciosamente espalhar o 'informe' de que Bernie Sanders não passaria de ateu, infiel, homem sem deus, é hoje política aceitável no partido de Barack Obama?

Se Marshall e Dacey ainda estiverem por aí no final da semana, saberemos melhor.

O vazamento por WikiLeaks apareceu 6ª-feira à noite. No domingo, a multidão pró-Clinton já soltara o coelho mecânico, e os cães da 'mídia' puseram-se imediatamente a caçá-lo. O partido só fazia repetir a nova linha de campanha: "Foram os russos!"

O chefe de campanha de Clinton, Robert Mook, disse à ABC que "especialistas já nos comunicaram que atores estatais russos invadiram o Comitê Nacional Democrata, pegaram todos aqueles e-mails e agora estão vazando o material porsites na Web. (...) Especialistas nos dizem que foram os russos, com o objetivo de ajudar Donald Trump."

Na 2ª-feira, John Podesta, da campanha de Clinton, disse que "há uma espécie de 'tapas e beijos' entre Trump e Vladimir Putin." Brian Fallon, da campanha, disse à CNN, "Já há consenso entre os especialistas, de que a Rússia está por trás do roubo dos e-mails do Comitê Nacional Democrata."

Objetivo: mudar de assunto. Afastar os jornalistas para bem longe da conspiração dentro do Comitê Nacional Democrata que sabotou a campanha de Sanders.

E a 'mídia'? E os jornalistas? Cooperarão?

Em 1971, o The New York Times publicou documentos secretos do governo Kennedy-Johnson sobre como os EUA envolveram-se no Vietnam. Objetivo: desacreditar a guerra que o Times tanto apoiara, e reduzir o esforço de guerra, já com Richard Nixon na presidência.

Os documentos, muitos dos quais carimbados "secreto", foram retirados ilicitamente dos arquivos do Departamento da Defesa, copiados e publicados pelo Times.

O jornal norte-americano defendeu as próprias ações invocando o "direito do povo, de conhecer" os segredos de seu governo.

Ora! E o povo não tem "direito de conhecer" os esquemas sórdidos do Comitê Nacional Democrata para fazer naufragar uma campanha presidencial?

E o povo não tem direito de saber que, ao negar as repetidas acusações de Sanders, a liderança do Comitê Nacional Democrata mentia ao candidato, mentia ao partido e mentia ao país?

O quanto Hillary Clinton sabe da cumplicidade de Wasserman Schultz no boicote dentro do Comitê Nacional Democrata contra a campanha presidencial? E quando foi informada?

Por ter publicado os segredos do Departamento de Defesa – os Pentagon Papers –, o Times recebeu um Prêmio Pulitzer.

Se os russos tanto ajudaram a chamar a atenção do povo norte-americano para os arranjos antidemocráticos que se fazem no Comitê Nacional Democrata, talvez os russos mereçam receber igual honraria.

Pelos padrões do Times de 1971, Putin provavelmente merece um Pulitzer.

Inegavelmente, se russos ou qualquer ator estrangeiro está interferindo em eleições presidenciais nos EUA, temos de saber e temos de fazer parar.

Mas quem começou?

Desde o final da Guerra Fria, os EUA usaram recursos de ciberguerra para sabotar centrífugas na usina nuclear iraniana em Natanz. Apoiamos revoluções "coloridas" em meia dúzia de países, da Sérvia à Ucrânia – para derrubar governantes e regimes que os EUA não apreciavam, e tudo, sempre, em nome da democracia.

Não surpreende que hoje Rússia, China, Egito e até Israel estejam fechando ou expulsando ONGs associadas aos EUA, e hack-eando páginas de instituições dos EUA.

Os EUA fomos os primeiros 'especialistas' a jogar esse jogo. Agora outros já aprenderam a jogar. Os EUA colhemos o que semeamos.*****

Nenhum comentário:

Postar um comentário