segunda-feira, 24 de julho de 2017

Novo normal na cooperação militar Rússia-China, por MK Bhadrakumar

23/7/2017, MK Bhadrakumar, Indian Punchline














Imediatamente depois de encerradas as manobras Malabar 2017 (Julho 14-17) Baía de Bengala, começaram outras manobras navais, que também terão implicações geopolíticas muito profundas para a Índia – as manobras Mar Conjunto 2017 [ing. Joint Sea] 2017, uma semana de exercícios militares conjuntos Rússia-China (Julho 21-26) no Mar Báltico. Cada um desses eventos destaca à sua maneira os realinhamentos em curso no Pacífico Asiático e na Eurásia. A Índia participa de um; no outro, é mais que observadora curiosa.

As manobras Malabar-2017, de quatro dias (EUA, Índia e Japão). tiveram acentuado sabor anti-China. A Índia reduziu esse traço, e o Japão o acentuou o mais que pôde, enquanto os EUA douraram a pílula. O embaixador do Japão na Índia Kenji Hiramatsu publicou rara coluna de opinião, saudando euforicamente as manobras Malabar-17 como prenúncio de uma aliança asiática de segurança.

Por outro lado, as manobras Mar Conjunto 2017 estão sendo observadas bem de perto pelas potências ocidentais e já se sabe que "aumentaram o sobressalto em Washington" (Telegraph). Interessante é que vem em dois capítulos. O exercício báltico será seguido de um segundo exercício naval Rússia-China em setembro no Mar do Japão e Mar de Okhotsk. Na verdade, o Báltico é para a linha de defesa da Rússia frente à OTAN o que o Mar do Japão é para a China frente à aliança EUA-Japão.

Os dois grupos de manobras, Malabar 2017 e Mar Conjunto 2017 fizeram demonstração de armamento avançado – embora Malabar-2017 tenha tido escopo muito maior, envolvendo 3 porta-aviões, 16 navios e 95 aeronaves incluindo jatos de combate e dois submarinos. Mar Conjunto 2017 é relativamente modesta em escala, com cerca de 10 navios e dez aeronaves.

A estrela do show Mar Conjunto 2017 será o destroier armado com mísseis teleguiados da China (destroier Type 052D), uma classe de navios de guerra construídos na China que são considerados tão avançados quanto qualquer outro no mundo, usado para garantir defesa aérea para os porta-aviões chineses.

A Marinha Chinesa exibe-se pela primeira vez no Mar Báltico, que é o cercadinho de brincar da OTAN. É simbólico, tanto quanto amostra para que se afiram as ambições navais da China, de brincar nas mesmas águas europeias onde 'os adultos' jogam seu grande jogo. É viagem longa, metade do globo, e mostra que a Marinha Chinesa está realmente empenhada em adquirir capacidades para águas azuis. Um corresponde ocidental de Defesa lastimou-se: "[a China] ainda tem de andar muito para se equiparar às grandes marinhas do mundo, mas ninguém espera que ela fique atrás por muito tempo".

Um comentário da agência russa de notícias Sputnik acrescenta um toque sedutor segundo o qual ao se unir à Rússia ao pé da porta da OTAN no Mar Báltico, a Marinha Chinesa pode estar demonstrando a chamada estratégia ‘fanbian’ (‘mudar de lado', em chinês), atribuída ao marechal chinês Luo Ronghuan na 2ª Guerra Mundial – servir-se de ataques militares surpresas, como modo de distribuir as pressões. Parece exagero. Mas China e Rússia sem dúvidas estão respondendo a provocações contra ambas, pelos EUA, no Mar do Sul da China e no Mar Báltico respectivamente.

As manobras conjuntas Joint Sea 2017 acontecem uma quinzena depois da visita de Estado, dia 4 de julho, do presidente Xi Jinping da China a Moscou, e fazem prova de extraordinária coordenação política, pouco antes de Xi e o presidente russo Vladimir Putin se reunirem com o presidente dos EUA Donald Trump durante a reunião de cúpula do G20 em Hamburgo. A destacar, uma posição coordenada sobre a Coreia do Norte.

Os comentaristas russos veem uma orientação 'anti-ocidente' nos exercícios do Báltico. Contudo, matéria no People’s Daily dizia que o exercício "não visa a qualquer terceiro elemento". A matéria observava que o Báltico tem sido "lugar quente" na região, mas insistia em que o exercício é "apenas uma atividade regular realizada em anos alternados, e que não visa a qualquer terceiro elemento ou situações atuais." Mesmo assim, o jornal chama a atenção para o fato de que "a OTAN provavelmente sente-se defensiva ante as manobras conjuntas e com certeza quer ver sempre mais enfraquecida a cooperação China-Rússia."

O exercício no Báltico pode ser visto como sinal sutil do apoio que os chineses dão aos esforços russos para remodelar a ordem da segurança europeia. Assim também, a segunda parte das manobras Mar Conjunto 2017 no Extremo Oriente significa gesto russo recíproco de solidariedade, no contexto das tensões regionais relacionadas à Coreia do Norte.

Um "novo normal" está em processo de configuração. Em março de 2015, navios chineses realizaram as primeiras manobras conjuntas da história com a Frota Russa do Mar Negro. Em setembro de 2016, pela primeira vez na história as duas marinhas realizaram operações conjuntas de patrulhamento no Mar do Sul da China, que incluíram operações de desembarque em ilhas. 

Claramente, as manobras Mar Conjunto 2017 no Báltico e no Extremo Oriente são um passo adiante – exercícios em que uma Marinha protege a retaguarda da outra sugerem alinhamento estratégico.*****




Um comentário:

Anônimo disse...

Só parabéns aos dois já bastam como jubilo pelo entrosamento entre militares contra um inimigo que até então têm si mostrado valentes com os mais fracos. Aqui no ___braZiUSA__ ((militares)) não faltam quem admire esta covardia ocidental.