terça-feira, 23 de janeiro de 2018

EUA foram de apoiar sírios curdos a apoiar a Turquia contra eles... em apenas nove dias!

É assim que os impérios acabam-se?!


24/1/2018, Igor Ogorodnev, RT America (ing.) (fr. em Entelekheia)


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu




O secretário de Estado Rex Tillerson meteu-se em grave embaraço, agora que Washington tenta desesperadamente escapar de ser ejetada da Síria para bem longe – na sequência de uma crise que Washington provocou, há apenas poucos dias.

Apesar de todas as retropedaladas e reexame aos quais funcionários dos EUA dedicam-se todos os dias, a cronologia dos norte-americanos sem rumo nem direção, que saltaram de Afrin a Ankara, é espantosamente clara em suas intenções.

13 de janeiro

EUA anunciam que constituirão uma força dirigida pelos curdos do YPG, de 30 mil homens, na fronteira turca, uma nova 'Unidade de Segurança de Fronteira' [ing. BSF) destinada a impedir uma "ressurgência" do Daech, e que operaria sobre o quarto do território sírio controlado pela minoria curda local.

15 de janeiro

O presidente turco Recep Erdogan chama a tal BSF de "exército de terroristas" e promete "estrangulá-la antes de nascer", acrescentando que imediatamente invadirá o enclave de Afrin, no noroeste da Síria. Ankara diz que os EUA não a consultaram sobre a tal BSF, e insiste no fato de que Washington quebrou a promessa de parar de armar as forças YPG, que a Turquia considera como terroristas separatistas.

17 de janeiro

Tillerson aos jornais: "Toda essa situação foi mais exposta, mal descrita, alguns disseram coisas falsas. Absolutamente não estamos criando unidade de proteção de fronteira."

Enquanto isso, o porta-voz do Pentágono Adrian Rankine-Galloway diz, a propósito dos de 8 a dez mil membros de milicianos curdos de Afrin: "Não os consideramos participantes de nossas operações contra o Daech, razão de nossa presença na Síria, e não os apoiamos. Nada temos a ver com eles."

20 de janeiro

Turquia ataca Afrin. Turquia diz que vai criar uma "zona de segurança" com profundidade de 30km ao sul da fronteira turca. E anuncia planos de uma ofensiva mais a leste.

21 de janeiro

"Turquia é aliada na OTAN. É o único país da OTAN que enfrenta insurreição ativa no interior das próprias fronteiras. A Turquia tem legítimas preocupações com a própria segurança" – diz o secretário de Defesa dos EUA James 'Cachorro Louco' Mattis. Vamos acertar isso.


22 de janeiro

Tillerson na Turquia: "Vamos ver se podemos trabalhar entre nós para criar o tipo de zona de segurança de que vocês precisam". Essa zona de segurança anticurdos operaria no mesmo território que as tais BSF curdas? A mesma força curda que era essencial às operações contra o Daech, e em seguida já não servia para nada?

Mas Tillerson afinal tem alguma razão. Se a Al-Qaeda converteu-se em Daech na última vez que os EUA foram expulsos da região, em que monstro se converterá o Daech? As tensões entre Turquia e curdos são também bem anteriores ao conflito, e não é culpa de Washington se Ankara é seu aliado na OTAN, ao mesmo tempo em que YPG garantia aos EUA a força em terra mais motivada contra o Daech. Feitas todas as contas, Washington tenta hoje tirar o melhor partido possível de uma péssima coleção de possibilidades.

Mas o episódio é emblemático da incoerência da estratégia dos EUA ao longo dos sete últimos anos na Síria. O que tinham na cabeça os EUA antes de anunciar uma unidade curda na fronteira entre Síria e Turquia? Como adolescente que volta para casa depois de ter feito a tatuagem, não avisaram Ancara porque sabiam que a reação seria negativa. Ou talvez, subestimaram a fúria de despertariam em Erdogan – mais uma vez – antes de se porem a gaguejar negativas incoerentes.

O maior problema é que Washington sustenta diferentes atores que nada têm em comum entre eles, exceto a missão de destruir o Estado Islâmico – o que, para muitos daqueles 'aliados' já deixou de ser, e para outros nunca chegou a ser, prioridade. E à parte o movimento pró-democracia hoje já quase esquecido de 2011, nenhum dos tais 'aliados' jamais partilhou, de modo algum, os objetivos dos EUA.

De fato, a maioria pergunta-se provavelmente por que os EUA ainda andam por lá. Para os sírios, é a guerra dos sírios, a Turquia é estado fronteiriço, os curdos há muito tempo falam de alcançar território independente, e a Rússia lá está a pedido do presidente Assad. O desejo dos EUA de impor sua bandeira a curdos, turcos e não interessa a mais quem na Síria mostra que os USA só fazem tentar permanecer lá a qualquer custo, para preservarem alguma influência depois da guerra. Mas todos os demais estão mais motivados ou são mais legítimos e também as duas coisas ao mesmo tempo. 

Considerado o atual nível de engajamento, quando já não consegue sequer manter-se sobre o mesmo cavalo por mais de uma semana, quando muito, Washington melhor faria se cuidasse de agir com discrição, sem soprar para aumentar o fogo, para que, na sequência, os EUA não sejam obrigados a recuar vergonhosamente, enquanto os outros dedicam-se a guerras de verdade.*****

ATUALIZAÇÃO DE Entelekheia: Dado que agora não passa um dia sem nova meia-volta, traição ou simples incoerência dos norte-americanos, James Mattis, secretário da Defesa dos EUA, declarou hoje cedo  que as operações da Turquia na Síria "enfraquecem os esforços para assegurar a derrota do Estado Islâmico e criam o risco de aprofundar a crise humanitária" (...) "O que Al-Qaeda e ISIS (Daech) poderiam explorar, porque nós estamos mais concentrados contra eles. E sem dúvida, cria-se o risco de aprofundar a crise humanitária pela qual passa a maior parte da Síria",disse Mattis. 

Os EUA sabem, claro, que graças aos esforços conjugados do Exército Árabe Sírio e de sua coalizão de aliados o Daech já não é nem sombra do que chegou a ser na Síria. Espera-se portanto a reação furiosa de Erdogan a mais essa provocação dos EUA, depois Tillerson tentará engatar uma marcha à ré rápida, etc., etc. Aguardem o próximo capítulo.]*****

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