31.01.2017 - Finian Cunningham, Information Clearing House
tradução: btpsilveira
É a guerra mais prolongada dos EUA, custando enormes somas de “sangue e dinheiro” como afirmam os líderes dos Estados Unidos. Mas parece que os EUA estão aceitando finalmente uma derrota histórica no Afeganistão, comparável à vergonhosa derrota na Guerra do Vietnã.
Negociações intensas entre autoridades (norte)americanas e os insurgentes do Talibã produziram o “maior passo concreto” na direção do fim da guerra que já dura quase 18 anos no Afeganistão, de acordo com o New York Times.
Novas conversações estão marcadas para as próximas semanas para reforçar os detalhes, mas já existem relatos de que os EUA estão retirando as 14000 tropas remanescentes do país da Ásia Central dentro do próximo ano, mesmo sem quaisquer garantias de reciprocidade pelo inimigo.
A retirada unilateral ainda não é admitida abertamente por Washington, mas analistas creem que os Estados Unidos já aceitaram tacitamente a exigência de longa data, pelo Talibã, de retirada de tropas estrangeiras do país.
When I became President, ISIS was out of control in Syria & running rampant. Since then tremendous progress made, especially over last 5 weeks. Caliphate will soon be destroyed, unthinkable two years ago. Negotiating are proceeding well in Afghanistan after 18 years of fighting..— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 30, 2019
Quando me tornei presidente, o Estado Islâmico estava fora de controle na Síria & cada vez mais forte. Desde então, tremendo progresso foi alcançado, especialmente nas últimas cinco semanas. Em breve, o Califado estará destruído, coisa impensável há apenas dois anos. Negociações estão indo bem no Afeganistão depois de 18 anos de luta.
No pico da guerra, os Estados Unidos tinham 100.000 tropas no país. Os que restam atualmente não têm meios de conter a insurgência crescente. Mesmo com o acréscimo de 8.000 tropas da OTAN e milhares de mercenários privados, também presentes no Afeganistão apoiando o governo sustentado pelos EUA em Cabul, o jogo sórdido acabou.
Na última rodada de conversações que aconteceram em Doha, Qatar, o representante dos Estados Unidos para a Reconciliação do Afeganistão, Zalmay Khalilzad, tentou pintar uma paisagem de “quadro acertado para um acordo de paz” que dependeria de que o Talibã concordasse com três assertivas: um acordo de cessar fogo; que o Talibã encetasse negociações com o governo em Cabul; e uma promessa do Talibã de que o Afeganistão jamais se tornaria um refúgio seguro para grupos terroristas.
Ocorre que reportagens da mídia citam autoridades talibãs não se comprometendo com as exigências dos Estados Unidos, enquanto parece que Washington aceitou a repatriação de suas tropas mesmo assim. Em outras palavras, o lado (norte)americano está tentando manter pelo menos as aparências de que há um “acordo” bilateral, quando na realidade Washington sabe que a guerra está perdida.
Um antigo embaixador dos EUA para o Afeganistão, Ryan Crocker coloca a coisa mais cruamente. Washington está apenas tentando dourar a pílula, enquanto finaliza “os termos da rendição”.
Ele compara a retirada dos (norte)americanos do Afeganistão com a retirada atabalhoada e derrota sofridas pelas tropas (norte)americanas no Vietnã, em meados dos anos 70. “Naquela ocasião, exatamente como agora, está na cara que estamos sentando na mesa de negociações para nos rendermos; estamos apenas tentando acertar os termos da rendição”, asseverou Crocker para o jornal Washington Post.
A derrota do poderio do exército dos EUA na Indochina que deu origem à Síndrome do Vietnã, resultou em enorme perda de confiança em nível nacional e internacional. A guerra do Afeganistão já tem duração maior que a do Vietnã por quase oito anos. Mesmo que a perda de vidas (norte)americanas atualmente seja bem menor, o custo financeiro do Afeganistão é potencialmente ruinoso. Estima-se que mais de $2 trilhões de dinheiro dos contribuintes tenha sido gasto para manter a guerra naquele país, e mesmo assim, os ganhos estratégicos são próximos de zero.
E não é só isso. O lançamento da operação “Enduring Freedom” em outubro de 2001 pela administração de George W Bush foi o estímulo para uma guerra global “contra o terror” que acabou por absorver vários países. O custo financeiro total para essas guerras é calculado estar na casa dos $5 trilhões de dólares – ou quase um quarto de todo o imenso e crescente débito nacional dos EUA.
Em termos de vidas humanas a guerra do Afeganistão, e suas operações derivativas “antiterrorismo”, ceifou milhões de mortos e feridos, deixou milhões de refugiados e causou o extermínio de nações inteiras, o que serviu para espalhar ainda mais o conflito e o terrorismo. As taxas de suicídio e autodestruição patológica entre os veteranos de guerra (norte)americanos que serviram no Afeganistão (e Iraque) estão fora das estatísticas mas com certeza, no longo prazo, custarão caro para a sociedade (norte)americana e para as gerações vindouras.
A Síndrome do Afeganistão assombrará os Estados Unidos por décadas, da mesma maneira que a precedente no Vietnã fez.
A coisa mais infame nisso tudo é o enorme desperdício e futilidade. Quando Bush ordenou que as tropas (norte)americanas entrassem no Afeganistão no final de 2001, era para supostamente se vingar dos ataques terroristas nos Estados Unidos em 11 de setembro. Esqueça o fato de que nunca houve evidência suficiente de que tais ataques tinham a ver com o Afeganistão.
O Regime Talibã, que estava no poder desde 1996 foi derrubado pelos Estados Unidos. Três presidentes depois, o Talibã reconhecidamente voltou a controlar mais da metade do território do Afeganistão, e faz ataques mortíferos contra as forças locais apoiadas pelos EUA numa base quase diária, incluindo a capital Cabul.
Atualmente parece que é questão de tempo até que o Talibã volte ao poder com os EUA e seus aliados da OTAN fora do caminho.
Um dos principais planejadores do Departamento de Estado dos EUA, Richard Haass, comentou: “O Talibã chegou à conclusão de que é apenas uma questão de tempo antes que os Estados Unidos se cansem de colocar tropas em um país distante e gastar 45 bilhões de dólares por ano em uma guerra que não pode ser vencida... eles não têm que fazer compromissos com ninguém”.
A ironia é que o Talibã cresceu a partir de militantes tribais que os EUA cultivaram e armaram até os dentes no final dos anos 70, quando o Afeganistão era governado por uma administração apoiada pelos soviéticos.
A política (norte)americana foi alegremente calculada em Washington para “dar aos soviéticos seu próprio Vietnã”. A guerra por procuração realmente causou pesadas perdas para União Soviética, mas no longo prazo parece que o Tio Sam acabou por dar a si mesmo outro Vietnã, criando a mais longa guerra travada por Washington, trazendo a derrota vergonhosa que se avizinha e causando o tiro no pé que o Terrorismo Islâmico representa.
Washington pode continuar fingindo que alcançou um “quadro acertado para um acordo de paz” no Afeganistão. Mas a verdade bruta é que Washington está perdendo mais uma guerra épica.
O Talibã permanece firme na decisão de que não negociará com a administração apoiada pelos EUA em Cabul, liderada pelo presidente Ashraf Ghani. Como com seu antecessor, Hamid Karzai, o Talibã vê Ghani e seu governo como corrupto, nada mais que um títere venal dos (norte)americanos.
O fato de que os EUA deixaram o regime de Cabul na chuva ao entabular conversações diretamente com o Talibã é uma concessão crucial de Washington. Fazendo isso, os EUA estão na realidade admitindo que os insurgentes estão no comando. Todo o palavreado de Washington sobre apoiar “um diálogo comunitário no Afeganistão” e encontrar um “acordo de paz abrangente” é conversa fiada.
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, ordenou no mês passado que pelo menos metade das tropas dos EUA no Afeganistão – cerca de 7000 soldados – deixassem o país. Comenta-se que Trump está cada vez mais impaciente com o altíssimo custo financeiro da guerra sem fim. Suas ordens de retirada serão entendidas pelos talibãs na rodada de conversações no Qatar como uma prova de que os (norte)americanos sabem que a guerra está perdida.
Surpreendentemente, vozes proeminentes em Washington continuam a argumentar que, apesar da calamidade humana e dos pesados custos financeiros, as tropas dos Estados Unidos devem permanecer no país indefinidamente. O líder republicano Mitch McConnel quer passar uma lei que proíba a retirada de tropas. O conselho editorial do jornal Washington Post – reflexo fiel da visão de política externa do establishment adverte – “a tentativa da administração Trump de fazer um acordo com o Talibã poderá fazer o Afeganistão
“Retornar ao caos”?
O Afeganistão – conhecido como Cemitério dos Impérios – que tem derrotado potências mundiais por séculos está mostrando aos (norte)americanos que eles estão mergulhados no caos até o pescoço.
2 comentários:
Os U$$$$raHell não venceram NENHUMA desde a <<< rendição do ex-Japão >>> , 02 / set / 1945. Mais uma para a coleção de derrotas: COREIA-1953 / LÍBANO / CUBA-1960 / VIETNÃ / LAOS / CAMBODJA / PALESTINA / IRAQ / SOMÁLIA / SÍRIA / IRÃ , acho que basta!! E agora o AFGANISTÃO !!! Pior não têm vergonha na cara! só desastre.
"El Partido Republicano es la organización más peligrosa en la historia de la humanidad". Noam Chomsky nos ayuda a entender las verdaderas razones de la intervención en Afganistán.
Podremo ver el primer capítulo de Después de la Guerra este domingo por TeleSur https://twitter.com/Muzungu_/status/1093843133836681217/video/1
Postar um comentário