7/9/2019, Eric Zuesse, Strategic Culture Foundation
Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga
Dia 5/2/2019, 2a-feira, a ministra de Relações Exteriores do Canadá Chrystia Freeland anunciou que, aos 14 países do Grupo de Lima – que, na verdade, fora criado pela mesma Freeland dia 8/8/2017, com o objetivo de derrubar e substituir o atual presidente da Venezuela, Nicholas Maduro —, passavam a se unir (não disse o grau de compromisso da ‘união’) a União Europeia e mais outros países individualmente. Disse ela:
“Hoje se uniram ao nosso Grupo de Lima nossos parceiros da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lucia. Também participaram das conversações nossos parceiros de outros países, para essa reunião de ministros do Grupo de Lima. Dentre esses, Equador, a União Europeia, França, Alemanha, Holanda, Portugal, Espanha, o Reino Unido e os EUA.”
Chrystia Freeland, com o presidente Donald Trump dos EUA, sempre foram, desde o início, os reais articuladores desse esforço diplomático internacional para abertamente violar a Constituição da Venezuela e consumar o golpe na Venezuela.
O serviço de Freeland, para substituir o governo eleito da Venezuela começou com a criação – autoria de Freeland – do Grupo de Lima, há cerca de dois anos.
O jornal Ottawa Citizen do Canadá dia 19/8/2017 publicou artigo sob a seguinte manchete: “Choosing Danger” , [lit. “Escolhendo o perigo”]. Ali, o repórter Peter Hum entrevistava o embaixador do Canadá à Venezuela, que deixava o posto. Rowswell disse que os venezuelanos que desejavam derrubar o próprio governo continuariam a ter integral apoio do governo do Canadá:
“‘Acho que alguns venezuelanos ficaram pode-se dizer ansiosos com a ideia de que pudesse haver alguma modificação [no apoio que a Embaixada do Canadá dá aos direitos humanos na Venezuela], depois da minha saída’ – disse Rowswell. ‘Acho que absolutamente não há motivo para preocupações. A ministra [de Relações Exteriores] Chrystia) Freeland tem a Venezuela no ponto mais alto de sua escala de prioridade.’”
Talvez ainda nem estivesse no topo da lista de Trump, mas já estava no topo da lista de Chrystia. E ela e Trump, juntos, escolheram o homem a ser posto no lugar do presidente Nicholas Maduro da Venezuela: Juan Guaidó. Guaidó já havia cortejado secretamente outros líderes latino-americanos com o mesmo objetivo, o que Freeland também já fizera, no processo secreto da organização do tal Grupo de Lima.
Dia 25/1/2019, a Associated Press publicou“AP Exclusivo: Coalizão Anti-Maduro nasceu de conversações secretas” e noticiou que o homem que hoje diz ser presidente legítimo da Venezuela (mesmo que jamais tenha sido candidato), Juan Guaidó, visitou secretamente países estrangeiros no processo de recolher apoios para o que planejava:
Em meados de dezembro, Guaidó viajou discretamente a Washington, Colômbia e Brasil para informar funcionários dos respectivos governos sobre a estratégia da oposição, de organizar manifestações de massa que coincidissem com a posse de Maduro para o segundo mandato, dia 10 de janeiro, dada a crescente condenação internacional do regime de Maduro, nas palavras do ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma, hoje exilado, aliado de Gauidó.
Por trás das cortinas, como ator chave, trabalhava o Canadá, membro do Grupo de Lima, cuja ministra de Relações Exteriores Chrystia Freeland falou com Guaidó [9/1/2019], na noite anterior à cerimônia de posse de Maduro [10/1/2019], para oferecer a Guaidó o apoio do governo canadense, se enfrentasse o líder socialista [Maduro], disse o funcionário canadense. Também trabalhavam ativamente a Colômbia, que tem fronteira com a Venezuela e recebeu muitos migrantes, além do Peru e do novo governo de extrema direita no Brasil, de Jair Bolsonaro.
Para sair da Venezuela, Gauidó esgueirou-se pela fronteira desguarnecida e sem lei da Colômbia, para não levantar suspeitas entre os agentes da imigração, “que frequentemente barram figuras da oposição em viagens ao exterior” – disse outro líder venezuelano, também da oposição a Maduro, que pediu que seu nome não fosse publicado.
Nos últimos dias de serviço na Venezuela, do embaixador Rowswell do Canadá, o presidente Trump dos EUA anunciou publicamente a ameaça de invadir a Venezuela.
Dia 11/8/2017, o jornal Miami Herald do grupo McClatchy publicou com destaque que “Trump andou fazendo amigos na América Latina – antes de começar a falar da “opção militar” para a Venezuela”. E Patricia Mazzei informava que “a inesperada ideia do presidente Donald Trump, da 6ª-feira, de que cogita usar força militar para enfrentar a grave crise política na Venezuela, é declaração surpreendente, que feriu não só a credibilidade, mas também as novas amizades que a Casa Branca vinha construindo com muito trabalho na América Latina.”
Até um porta-voz do Conselho Atlântico (principal braço de Relações Públicas da OTAN) foi citado, dizendo que “diplomatas dos EUA, depois de semanas de cuidadoso trabalho para sedimentar uma resposta internacional coletiva, viram seus esforços repentinamente desmontados por uma afirmação ridícula, pretensiosa e anacrônica. Faz-nos parecer imperialistas e antiquados. Há décadas os EUA já não agiam desse modo!” Mas o ministro de Relações Exteriores do Peru, Ricardo Luna, tinha tanta pressa quanto Trump e Freeland, para ver acontecer um golpe na Venezuela.
Dia 26/10/2017, Gestion TV do Peru noticiou que Luna era co-presidente da reunião do Grupo de Lima em Toronto, ao lado da presidenta Freeland e que “Luna acrescentara que o objetivo da reunião do Grupo de Lima ‘é criar uma situação propícia’, de modo que o regime de Nicolás Maduro ‘seja obrigado a negociar’, não só uma saída para a crise, mas também o fim do próprio regime’.”
A gangue planejava apresentar a Maduro uma oferta irrecusável. Implica dizer que o Grupo de Lima, fundado por Luna e Freeland, tomava iniciativa tão violenta quanto a de Trump, sem considerar o que a OTAN pensasse. A manchete e a chamada desse noticiário foi “Peru propõe que o Grupo de Lima envolva a ONU para enfrentar a crise venezuelana.” Quatro dias depois, Freeland e Luna tiveram encontro privado, na ONU, em New York, com o secretário-geral Antonio Guterres.
Inner City Press noticiou que “o tema da reunião é ‘a situação na Venezuela e esforços das organizações regionais para resolverem a crise nos termos do Capítulo VIII da Carta da ONU’ [veja aqui]; falará não o representante dos EUA Jeffrey Feltman, mas seu assistente Miroslav Jenca [secretário-geral assistente para assuntos políticos].”
Jeffrey Feltman é citado na conversa telefônica de 27/1/2014, quando Victoria Nuland, agente do presidente Barack Obama, dava instruções ao embaixador dos EUA, segundo as quais, depois de derrubado o presidente da Ucrânia, o homem a ser empossado era Arseniy “Yats” Yatsenyuk, como líder ‘interino’, no posto de primeiro-ministro, para substituir o presidente. Nuland também disse: “Falei com Jeff Feltman hoje pela manhã; ele tinha um novo nome, Robert Serry da ONU (...) Agora já conseguiu que os dois, Serry e Ban ki-Moon concordem com que Serry venha na 2ª-feira ou na 3ª. Acho que seria ótimo, para juntar a coisa toda, acertar a ajuda da ONU e, sabe como é, foda-se a União Europeia”.
Implica dizer que o subsecretário geral na ONU, Mr. Feltman, ainda é o faz-tudo dos EUA por lá, que “junta a coisa toda”, seja o que for que o presidente dos EUA ordene que a ONU faça, e um assistente o substituiu naquele dia. Assim sendo, se Trump e Freeland tiverem tanto sucesso quanto teve Obama, sim, “a coisa toda” sairá “junta”,. Chrystia Freeland também é amiga de Victoria Nuland, e apoiadora apaixonada do golpe dela na Ucrânia.
Os pais de Freeland eram ucranianos, apoiadores dos nazistas durante a 2ª Guerra Mundial. Cameron Pike escreveu sobre Freeland para The Saker, dia 2/2/2019, coluna intitulada “O problema nazista do Canadá”, na qual se lê, na abertura:
Nos anos 1960s, o governo da Polônia, ainda confiante em seu papel de principal flagelo do “sanduíche de carne” europeia que fora a 2ª Guerra Mundial, saiu à caça de apoiadores e simpatizantes nazistas que haviam destruído o povo polonês. Diferente do que os leitores da informação dominante têm licença para saber, líderes nazistas e da Waffen SS, editores e publicadores de Goebbels, também conhecidos como “propagandistas”, colaboradores de nazistas e assassinos pervertidos, trataram de trocar a Alemanha derrotada, pelos EUA [sob coordenação da CIA] e pelo Canadá, sob direção do MI-6. O Canadá recebeu cerca de 2.000 deles.
Muitos deles ‘tomaram o rumo’ de Ontario e Alberta. Um deles até chegou ao posto de presidente da Universidade de Alberta. Repito: um deles ATÉ CHEGOU AO POSTO DE PRESIDENTE DA UNIVERSIDADE DE ALBERTA. … Foi esse ex-soldado da Waffen SS, convertido em presidente de universidade quem criou o departamento de Estudos Ucranianos daquela universidade. (...)
Michael Chomiak, outro desses nazistas de destaque que jamais foram presos, viveu muitos anos depois da guerra como fazendeiro em Alberta. Seus documentos do exército nazista foram revelados pelo governo polonês nos anos 1960s.
“Os papeis de Chomiak mostram que foi treinado em Viena para operações alemãs de espionagem e propaganda; depois promovido para comandar a máquina de imprensa alemã para a região da Galícia ucraniana e Polônia, durante os quatro anos da ocupação.
Chomiak era figura de tão alto escalão e tão ativo a serviço da causa nazista, que os serviços poloneses de inteligência ainda o caçavam ativamente até os anos 1980s – sem saber que ele se escondera numa fazenda em Alberta, no Canadá.” [NEds. Consultem aqui o extenso trabalho de John Helmer, que levantou toda a história da família dos nazistas Freeland.] A Polônia o caçou, mas perdeu o rastro dele, porque estava bem encoberto pelos britânicos, ‘aliados’ da 2ª Guerra Mundial, metido entre pacíficos e generosos canadenses.
Esse Chomiak é pai de Chrystia Freeland. Chrystia Freeland venera a memória do pai à qual é inabalavelmente fiel, bem como às suas crenças de extrema direita. Chrystia também é amiga muito próxima de George Soros (...). Soros também é apoiador apaixonado do golpe dos EUA na Ucrânia e da extrema direita ucraniana, e ajudou a financiar (via seu Fundo Renascimento Internacional [ing. International Renaissance Fund]) o golpe de Obama na Ucrânia: Soros é um dos principais mantenedores da TV Hromadske, que promoveu ativamente o massacre de pelo menos 1,5 milhão de pessoas na região mais oriental da Ucrânia, onde o governo de extrema direita imposto por Obama na Ucrânia foi e continua a ser furiosamente rejeitado. Essa é a região que elegeu com mais de 90% dos votos o presidente ucraniano que Obama-Nuland derrubaram, com a ajuda da propaganda de extermínio genocida pela qual George Soros pagava. É fácil entender que Freeland, outra fanática anti-Rússia, seja amiga de Soros.
Esse é o lado “liberal” do fascismo. O lado “conservador” do fascismo é representado por gente como John Bolton e os irmãos Koch [ver também, matéria de 2010 (NTs)].
Claro, o homem que os governos de EUA e Canadá e o Grupo de Lima tentam impor como presidente da Venezuela, Juan Guaidó, foi longamente preparado para o serviço, mas não por experiência política e eleitoral, que tem nenhuma, mas por seus patrocinadores estrangeiros.
Dia 29/1/2019, o Gray Zone Project noticiou “The Making of Juan Guaidó: Como o Laboratório Norte-americano para Mudar Regimes inventou o líder do golpe na Venezuela” (traduzido ao português, em Opera Mundi). Os dois principais jornalistas de investigação do Projeto, Dan Cohen e Max Blumenthal, começam assim: “Juan Guaidó é o produto de um projeto de uma década supervisionado pelos instrutores de mudança de regime de elite de Washington; enquanto posava como um defensor da democracia, ele passou anos na vanguarda de uma violenta campanha de desestabilização. (...) Etc. Assim funciona hoje a ‘democracia’. Só que isso não é democracia – isso é fascismo. Os eufemismos aí são “neoliberalismo” e “neoconservadorismo.”
Vença ou não o projeto Trump-Freeland-Luna para a Venezuela, nem a democracia nem os direitos humanos avançarão sequer um passo; mas, se o golpe for bem-sucedido, com certeza as fortunas dos bilionários norte-americanos e ‘aliados’ sim, engordarão. É parte do programa de privatização global que traçaram para o mundo.
PS: (...) É o sonho deles. Querem monopolizar a corrupção por todos os cantos, não pôr fim à corrupção. Por isso distorcem e mentem hojedescaradamente contra a constituição democrática da Venezuela, exatamente como fizeram contra a constituição democrática da Ucrânia em fevereiro de 2014.
“Eles”, aí, é, essencialmente, uma gangue internacional de bandidos bilionários. É o chamado Estado Profundo internacional. São menos de 2.000 bilionários nos EUA e, em menor quantidade, em países aliados dos EUA, e a coorte de milhões de empregados e agentes desses bilionários. 585 desses menos de 2.000, são norte-americanos. Mas a pessoa mais rica do planeta sequer aparece nessas listas de bilionários ‘padrão’: o rei da Arábia Saudita. Essa pessoa é o aliado internacional #1 da aristocracia norte-americana, porque sempre, desde os anos 1970s, quando o ouro deixou de servir como lastro para o EUA-dólar, e o petróleo assumiu esse papel, as decisões daquele rei saudita permitiram que o EUA-dólar continuasse a ser a moeda mundial de reserva, não importa a altitude estratosférica a que chegassem os déficits comerciais e os déficits fiscais, nos EUA.
Abaixo desse bilionários (e trilionários), e abaixo de seus milhões de contratados, há os biliões de servos; e abaixo dos servos, abaixo de tudo, há os aproximadamente 40 milhões de escravos e os muitos milhões de encarcerados – os quais, virtualmente todos, tem valor líquido muito baixo (se é que valem alguma coisa, porque escravidão e cadeia são, no mundo real, só para os muito pobres, absolutamente não para os gângsteres internacionais, com raras exceções (tipo, talvez, “El Chapo”).
Os bilionários comandam, e os governos obedecem: eis a democracia e respectivo dito ‘estado de direito’, hoje. Tudo que não seja isso é só propaganda, como dizer que Trump-Freeland-Luna desejam reduzir a corrupção na Venezuela e aumentar a democracia e o respeito aos direitos humanos.
John Bolton, o mais descarado dos fascistas, pelo menos não mentiu quando disse, dia 28 de janeiro: “Fará enorme diferença para os EUA, em termos econômicos, se conseguirmos que as petroleiras norte-americanas possam investir nelas, e lucrar com as capacidades do petróleo venezuelano.” Mas muito mais honesto teria sido se reconhecesse, isso sim, que “Fará enorme diferença para os bilionários norte-americanos, em termos econômicos, se conseguirmos que as petroleiras norte-americanas possam investir nelas, e lucrar com as capacidades do petróleo venezuelano.” Precisamente o que todos os fascistas, sempre, realmente desejaram. Mussolini chamava de corporatismo.”
Hoje, décadas depois da suposta ‘vitória sobre o fascismo’, dos Aliados – contra as potências do Eixo na 2ª Guerra Mundial, todos nós (no mínimos, os realistas) temos de reconhecer que estamos novamente cara a cara com o fato nu e cru de que o fascismo venceu, no mínimo quase totalmente, no mundo.
Hitler, Mussolini e Hirohito estão mortos; mas seus seguidores ideológicos hoje governam o mundo. FDR deve estar-se revirando no túmulo.*******
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