22/5/2016, Pepe Escobar, RT
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Ministros de Relações Exteriores dos 28 países-membros da OTAN reuniram-se em Bruxelas para dois dias de confabulação, enquanto Montenegro – imponente potência militar – foi incorporada como novo membro.
A OTAN, esse Robocop mundial discutiu, como se podia prever, o Afeganistão (guerra que a OTAN perdeu vergonhosamente); o Iraque (guerra que o Pentágono perdeu vergonhosamente); a Líbia (nação que a OTAN converteu em estado fracassado e devastado, inferno de milícias incontroladas); a Síria (nação que a OTAN adoraria conseguir invadir pela fronteira turca, e também já converteu em inferno de milícias).
Os afegãos podem voltar a dormir em paz, porque a missão "Apoio Resoluto" da OTAN – plus "apoio financeiro para as forças afegãs" – com certeza garantirão o sucesso eterno da Operação Liberdade Duradoura.
Os líbios podem ter certeza de que, nas palavras do secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, nós "devemos nos manter prontos para apoiar o novo Governo de Acordo Nacional na Líbia".
E, na sequência, a cereja do bolo da OTAN, apresentada como "medidas contra a Rússia".
Stoltenberg obedientemente confirmou, "Já tomamos a decisão de aumentar nossa presença na parte oriental de nossa aliança. Nossos planejadores militares já apresentaram propostas de vários batalhões em diferentes países na região. Não há ainda decisão sobre números e localizações."
Esses pífios "vários batalhões" não tirarão o sono de nenhum estrategista russo. A "medida" verdadeira foi o deslocamento do sistema Aegis Ashore para a Romênia, semana passada – e outro, previsto para a Polônia, em 2018. É exatamente o movimento contra o qual Moscou opôs-se veementemente desde o início dos anos 2000s. O argumento da OTAN – de que o Aegis representa(ria) proteção contra a "ameaça" dos mísseis balísticos do Irã – não convenceria nem em festinha de jardim de infância.
Todos os estrategistas militares russos sabem que o Aegis não é sistema de defesa. É gravíssimo elemento que muda todo o jogo – porque desloca capacidade nuclear dos EUA, para o leste da Europa. Não surpreende que o presidente Vladimir Putin da Rússia já disse sem meias palavras que a Rússia responderá "adequadamente" a qualquer ameaça contra sua segurança.
Como se previa, é o inferno completo de uma Guerra Fria 2.0, tudo outra vez.
Um ex-vice-comandante da OTAN enlouqueceu completamente, ao mesmo tempo em que cabeças mais saudáveis anteveem que Moscou, mais cedo ou mais tarde, e provavelmente bem cedo, se cansará de vez dessas loucuras e se preparará – ou já está preparada – para guerra.
Aquele imprestável Patriot
Há quem diga que no governo, em Washington, – neoconservadores e neoliberais-conservadores, todos eles – ninguém quer guerra 'quente' contra a Rússia. O que querem, além de conseguir mais e mais verbas para o Pentágono, é subir as apostas a tal nível que Moscou tenha de recuar – considerada uma análise racional de custos. Os preços do petróleo com certeza subirão inevitavelmente mais adiante, em 2016 – e nesse cenário Washington só perde. Assim sendo, pode acontecer de o Fed aumentar as taxas de juros (garantindo que todo o dinheiro continue a correr para Wall Street) tentando reverter o cenário.
Tentar comparar a belicosidade crescente da OTAN aos movimentos de deslocamentos de armas do pré-2ª Guerra Mundial; ou à OTAN quando se opôs ao Pacto de Varsóvia, é coisa de amador. Os mísseis THAAD e Patriot são imprestáveis – segundo o próprio exército de Israel; por isso tentaram melhorá-los com o Iron Dome.
E os tais novos "batalhões" do exército da OTAN não têm importância alguma, nem consequências. A intenção básica por trás de tudo que o Pentágono faz sob comando do neoconservador é ainda, como antes, insistir em tentar empurrar a Rússia cada vez mais para dentro da Síria e da Ucrânia (como se Moscou desejasse envolver-se ou estivesse de qualquer modo envolvida em algum atoleiro ucraniano); prender a Rússia nas armadilhas de guerras à distância; e fazer a Rússia sangrar até morrer, cortando a renda de petróleo e gás natural do estado russo.
A Rússia não quer – e não precisa – de guerra alguma. Mesmo assim, a narrativa da "agressão russa" nunca dorme.
Por tudo isso, sempre é esclarecedor voltar a esse estudo da RAND Corporation, que examinou o que aconteceria se realmente acontecesse guerra de verdade. RAND chegou a uma conclusão "sem ambiguidades" depois de testar várias séries de jogos de guerra em 2015-2015: a Rússia pode atropelar completamente a OTAN em apenas 60 horas –, se não menos – se algum dia o conflito escalar para guerra quente em solo da Europa.
A RAND Corporation é, essencialmente, escritório de trabalho da CIA – e, assim, uma máquina de propaganda. Mas nada há de propaganda em diagnosticar que os estados do Báltico e a Ucrânia cairiam completamente em menos de três dias ante o Exército Russo. Mas a sugestão de que poder aéreo extra da OTAN e divisões de blindados pesados fariam diferença, essa, é perfeita bobagem.
O Aegis muda o jogo no sentido de que gera uma área de lançamento para mísseis de defesa dos EUA. Imagine mísseis dos EUA instalados a cerca de 30 minutos de voo de Moscou. Aí está, sim, absoluta e declarada ameaça contra a nação russa. Os militares russos responderam imediatamente e também "sem ambiguidades". Quando não houver dúvidas de que a OTAN – via o Pentágono – está próxima de tentar gracinhas, haverá motivo legítimo para um ataque preventivo com os sistemas Iskander-M instalados na Transnistria – para destruir os mísseis dos EUA com as necessárias armas de precisão.
Entrementes, Moscou alcançou sucesso surpreendente – claro, ainda não acabou – na Síria. Assim sendo, o que resta ao Pentágono – via OTAN – é, essencialmente, jogar a carta de meter medo. Todos eles sabem que a Rússia está preparada para a guerra – com certeza muito mais bem preparada que a OTAN. Eles sabem que nem Putin nem os militares russos retrocederão por causa de chiliques de guerra infantis. Quanto ao tom ainda conciliatório demais do Kremlin, em direção a Washington, as coisas estão bem perto de mudar.
Deem bom-dia ao meu S-500
Os militares russos estão próximos de testar os primeiros protótipos do sistema de mísseis e de defesa aérea S-500 Prometey, também conhecido como 55R6M Triumfator M – capaz de destruir Mísseis Balísticos Cruzadores Intercontinentais [ing. ICBMs], mísseis cruzadores supersônicos e aviões que voam a velocidades superiores a 5 Mach; e capaz de detectar e atacar simultaneamente até dez mísseis balísticos portadores de ogivas com alcance de 1300 km. Significa que os S-500 podem dar cabo de mísseis balísticos antes que suas ogivas reentrem na atmosfera.
Assim, no caso de a OTAN meter-se a fazer gracinhas à moda RAND, os S-500 podem eliminar todo o poder aéreo da OTAN sobre os estados do Báltico – enquanto o míssil avançado Kornet pode destruir todos os blindados da OTAN. E isso tudo ainda sem considerar o inferno das armas convencionais.
Se a coisa chegar a confronto nuclear, os antimísseis S-400 e especialmente os S-500 bloqueariam quaisquer ICBMs, cruzadores e aviação stealth dos EUA. Drones de ataque seriam bloqueados por defesa antidrones. Os S-500 praticamente condenam à lata de lixo aviões como os F-22, F-35 e B-2.
Resumo disso tudo é que a Rússia – em termos de desenvolvimento de mísseis supersônicos – está cerca de quatro gerações à frente dos US, se se avalia pelo desenvolvimento dos sistemas S-300, S-400 e S-500. Como hipótese a trabalhar, pode-se descrever o próximo sistema – já nas mesas dos projetistas – como o S-600. Os militares norte-americanos terão de trabalhar no mínimo dez anos para desenvolver e mostrar um novo sistema de armas, o que, em termos militares, representa uma geração. Todos os planejadores do Pentágono que valham a aposentadoria que os espera, têm de saber disso.
Os mísseis russos – e também os chineses – estão pontos para bloquear os sistemas de orientação por satélite que guiam o ICBMs e mísseis que transportem ogivas nucleares. Também podem derrubar os sinais de alertas precursores que as constelações de satélites enviem. O tempo de voo de um míssil balístico cruzador intercontinental russo, lançado por exemplo de um submarino russo em direção da costa leste dos EUA, é de menos de 20 minutos. É a razão pela qual os primeiros sinais de alerta são absolutamente críticos. Que ninguém conte com os imprestáveis THAAD e Patriot para fazer o serviço. Mais uma vez, a tecnologia supersônica russa já tornou completamente obsoleta todo o sistema de mísseis de defesa dos EUA e, também, da Europa.
Assim sendo, por que Moscou está tão preocupada com o Pentágono a instalar o sistema Aegis tão próximo das fronteiras russas? Resposta razoável, em que se pode acreditar, é que Moscou sempre se preocupa com que o complexo militar-industrial dos EUA possa desenvolver algum dia algum míssil antimíssil realmente efetivo, mesmo que os americanos estejam com quatro gerações de atraso, como hoje.
Ao mesmo tempo, os estrategistas do Pentágono têm motivos para se preocupar com o que sabem, ou suspeitam. E os militares russos – à moda muito tipicamente asiática – jamais mostram todas as cartas. O fator chave dessa questão tem de ser repetido e repetido: o S-500 é impenetrável – e assegura à Rússia, pela primeira vez na história, capacidade para disparar um primeiro-ataque nuclear, se assim decidir fazer, e manter-se imune à retaliação.
O resto é conversa fiada. Mesmo assim, não esperem que surja qualquer mudança na narrativa oficial de Pentágono/OTAN. Afinal de contas, o complexo industrial-militar é uma Hidra devoradora de dinheiro, e é absolutamente necessário ter algum inimigo poderoso (aquele falso "califato" não conta).
A Narrativa da Ameaça reza que a Rússia seria obrigada a aceitar calada e cabisbaixa que a OTAN cerque o país. A Rússia não tem direito de responder. E, seja qual for a resposta, sempre será apresentada como "agressão russa". Se a Rússia defender-se, a ação será "exposta" como provocação inaceitável. E pode até servir de pretexto para um ataque 'preventivo' da OTAN contra a Rússia.
Isso posto, os estrategistas do Pentágono que voltem a brincar e queimar dinheiro, no jardim de infância lá deles.*****
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