25.01.2017 - Tulsi Gabbard, medium.com/@TulsiGabbard
trad: btpsilveira
Enquanto quase a totalidade de Washington se preparava para as festividades da posse do presidente Donald Trump, usei a última semana em uma missão investigativa na Síria e no Líbano para ouvir pessoalmente o povo Sírio. Suas vidas foram consumidas por uma guerra horrível que matou centenas de milhares de sírios e forçou milhões deles a fugir de sua própria terra em busca de paz.
Hoje está mais claro que nunca: essa guerra para mudança de regime não é do interesse dos Estados Unidos e nem, com certeza, do povo sírio.
Viajei entre Damasco e Alepo, onde ouvi sírios de várias partes do país. Encontrei famílias desalojadas da parte oriental de Alepo, Raqqa, Zabadani, Lataquia e dos arredores de Damasco. Realizei encontros com líderes da oposição síria que conduziram os protestos em 2011, viúvas e filhos de homens que lutaram pelo governo e viúvas de homens que lutaram contra o governo. Participei de uma reunião com o Presidente libanês Aoun, recentemente eleito, e com o Primeiro Ministro Hariri, com a embaixadora dos Estados Unidos para o Líbano, Elizabeth Richard, com o presidente da Síria Bashar Al Assad, com o Grande Mufti Hassoun, com o Arcebispo Denys Antoine Chahda, da Igreja Católica Síria em Alepo, com líderes religiosos muçulmanos e Cristãos, com trabalhadores na Ajuda Humanitária, acadêmicos, alunos de faculdades, proprietários de pequenos negócios, e muito mais.
A mensagem dessas pessoas para o povo (norte)americano foi forte e consistente: não há diferença entre rebeldes “moderados” e aqueles da Al Qaeda ou dos Estado Islâmico – são todos a mesma coisa. Trata-se de uma luta entre terroristas sob o comando de grupos como o Estado Islâmico e Al Qaeda e o governo da Síria. Eles clamam para que os Estados Unidos e outros países parem de apoiar estes terroristas que estão destruindo o país e seu povo.
Ouvi essa mensagem muitas e muitas vezes daqueles que estão sofrendo e sobreviveram a horrores indescritíveis. Eles pedem que eu seja aquela que pode compartilhar suas vozes com o mundo; vozes frustradas que não têm sido ouvidas por causa da narrativa falsa, parcial e tendenciosa de relatos que servem apenas para forçar uma narrativa de apoio à guerra de mudança de regime às expensas da vida do povo sírio.
Ouvi testemunhos sobre como os protestos pacíficos que começaram em 2011 contra o governo foram rapidamente absorvidos e dominados pelos grupos jihadistas Wahabis como a Al Qaeda (Al Nusra), que foram financiados e apoiados pela Arábia Saudita, Turquia, Qatar, Estados Unidos e outros. Eles exploraram os protestos pacíficos, ocuparam suas comunidades e mataram e torturaram sírios que não quiseram cooperar na sua luta para derrubar o governo.
Encontrei uma garota muçulmana de Zabadani que foi sequestrada, espancada vezes sem conta e estuprada em 2012, quando ela tinha apenas 14 anos, por grupos “rebeldes” que estavam com raiva de seu pai, um pastor de ovelhas que não quis lhes dar seu dinheiro. Ela presenciou horrorizada quando homens mascarados assassinaram seu pai em sua própria sala, esvaziando a munição de suas armas em seu corpo.
Estive reunida com um rapaz que foi sequestrado enquanto caminhava pela rua para comprar pão para sua família. Ele foi torturado, sofreu afogamento simulado, foi eletrocutado, colocado numa cruz e chicoteado, tudo porque se recusou a ajudar os “rebeldes”, ao dizer que precisava continuar estudando. É dessa maneira que os “rebeldes” estão tratando o povo sírio que não colabora com eles, ou cuja religião eles considerem inaceitável.
A oposição política na síria, embora seja contra o governo Assad, não é tímida ao declarar que rejeitam decididamente o uso de violência para conquistar as reformas que pretende. Afirmam eles que se os jihadistas, impulsionados por governos estrangeiros, tiverem sucesso em derrotar o governo do Estado Sírio, certamente destruiriam a Síria e sua longa história secular, uma sociedade pluralista onde povos de diferentes religiões têm convivido pacificamente lado a lado. Mesmo que a oposição política da Síria continue a querer as reformas, são inflexíveis ao afirmar que enquanto os governos estrangeiros estiverem travando uma guerra por procuração contra a Síria através do uso de grupos terroristas jihadistas, eles permanecerão ao lado do Estado Sírio, trabalhando pacificamente na busca de uma Síria mais forte para todos os sírios.
Inicialmente, eu não tinha a intenção de me encontrar com Assad, mas quando surgiu a oportunidade, senti que seria importante leva-la a efeito. Penso que deveríamos estar prontos a encontrar seja com quem for, desde que haja uma chance de colocar um fim nesta guerra, que tanto sofrimento está causando ao povo sírio.
De volta para Washington, venho ainda mais determinada a acabar com esta guerra ilegal para derrubar o governo sírio. A partir do Iraque, até a Líbia e agora na Síria, os Estados Unidos desencadearam guerras para mudanças de regime que resultaram apenas em sofrimento indizível, perda massiva de vidas e o fortalecimento de grupos terroristas como a Al Qaeda e Estado Islâmico.
Apelo ao Congresso e a nova administração para que ouça as súplicas do povo sírio e responda imediatamente, apoiando a Lei de Interrupção ao Armamento Terrorista. Temos que parar de apoiar terroristas, direta e indiretamente – diretamente através da provisão de armamento, treino e apoio logístico para os grupos rebeldes filiados à Al Qaeda e Estado Islâmico; e indiretamente através da Arábia Saudita, Estados do Golfo e Turquia, que, por sua vez, apoiam esses grupos terroristas. Precisamos colocar um fim na guerra para derrubar o governo sírio e focar nossa atenção na derrota da Al Qaeda e do Estado Islâmico.
Os Estados Unidos devem parar de apoiar os terroristas que estão destruindo a Síria e seu povo. Os Estados Unidos e outros países que impulsionam esta guerra devem parar imediatamente. Precisamos em vez disso, permitir que povo sírio tente se recuperar dessa guerra terrível.
Obrigado,
Tulsi.
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Tulsi Gabbard, havaiana, nascida em 12 de janeiro de 1981, é deputada (representante dos EUA) do Havaí pelo Partido Democrata.
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