segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Da Guerra Fria a Clinton: Liberais e conservadores isolaram a raça, da classe

9/2/2017, Rachel Johnson, In These Times












No frenesi das avaliações pós-eleitorais quanto ao futuro do movimento progressista, uma preocupação emergiu, que gerou mais discussão que as outras: a Esquerda nos EUA deve focar-se primeiro na classe, ou primeiro na raça? Uma mudança na direção do populismo econômico faria reverter – ou no mínimo, estagnar – os avanços obtidos pelas mulheres, pelos povos de pele escura e por outros grupos marginalizados?


Esse debate que cresceu durante as primárias dos Democratas, voltou a eclodir novamente depois da eleição quando, 12 dias depois da vitória de Trump, Bernie Sanders conclamou o Partido Democrata a superar seu liberalismo identitário unindo-se em torno das questões de toda a classe trabalhadora.

Comentaristas de TV e da mídia em geral imediatamente dispararam os alarmes contra esse potencial 'retrocesso' contra as políticas de identidade. Colunista do Guardian Jessica Valenti tweetou que esperava "ansiosa" pelos "próximos quatro anos, de esquerdistas sapateando sobre os direitos das mulheres, em nome do 'grande quadro'." A ativista Bree Newsome, conhecida por escalar um poste de 9m para retirar a bandeira Confederada na Carolina do Sul depois do tiroteio em Charleston, criticou a posição de Sanders. "Dizer que 'políticas de identidade' desviam o foco dos 'trabalhadores' – Newsome tweetou –, "é dizer basicamente 'ignoremos o racismo e o sexismo'".

É verdade que políticas para a classe trabalhadora branca são frequentemente marcadas pelo racismo, misoginia ou reacionarismo. Temos muitas evidências de que o bem-estar social "universal" pode significar, sim, bem-estar branco. Afinal de contas, o New Deal de Franklin D. Roosevelt – a maior expansão do estado de bem-estar na história dos EUA – deixou de fora os trabalhadores da agricultura e domésticos e, por extensão, os trabalhadores negros e mulatos. A assistência federal à moradia, que garantiu que a propriedade seria a pedra fundacional de toda a mobilidade social para cima para a classe média, excluiu negros e mulatos, ao sancionar várias modalidades de discriminação para decisões sobre moradia. (Essa é verdade inconveniente para os nostálgicos de algum liberalismo 'pré-identitário'em torno do qual os Democratas enchem a boca para falar do "bem comum".) O racismo nem sempre é sintoma de problema econômico maior: às vezes é a própria doença.

É preocupante, contudo, quando a mídia-empresa e outras vozes liberais proeminentes pintam o racismo como resultado natural de políticas de classe mais inclusivas. Vox recentemente levantou a vergonhosa possibilidade de que os Democratas venham a abandonar os negros e mulatos para fazer festa em torno dos trabalhadores brancos. Mas já não abandonaram?! Será que os últimos 40 anos de neoliberalismo, com suas escolas fechadas, empregos desaparecidos e prisões superlotadas, não oferecem suficiente prova de que os negros e mulatos já foram abandonados? Preocupação real é a de que a maré neoliberal contra o populismo econômico venha a garantir um oportuno esconderijo onde o status quo consiga sobreviver.

O momento presente – que nos força a encarar o abismo e a considerar seriamente, pela primeira vez, que o neoliberalismo pode estar morrendo – muito tem a ganhar se estudar o passado. Hoje de modo algum é a primeira vez em que a esquerda vê-se diante do desafio de associar raça e classe, de modo significativo; nem é a primeira vez que o establishment político tenta impedir essa associação.

De fato, lutas por justiça racial e econômica sempre estiveram interligadas na história, e os movimentos da esquerda negra lideraram essa luta. Essa história mostra que separar raça e classe não é 'natural' nem inevitável: foi preciso amplo esforço ideológico e político na direita e no centro, para conter a ascensão de um poderoso movimento interracialista na classe trabalhadora nos EUA. E esse serviço pode ser desfeito.

EUA: Libertação dos negros/Ameaça Vermelha [Red Scare]

Embora a associação entre raça e capitalismo pareça eterna, só surgiu, com as características que tem hoje, no pós-2ª Guerra Mundial. Em tempos de rápida descolonização, com negros e mulatos ascendendo em movimentos de trabalhadores em todo o mundo, o liberalismo da Guerra Fria cuidou de 'corrigir' a imagem conspurcada dos EUA como "terra de oportunidades". A ampla discriminação racial e o terror de Estado sob as leis Jim Crow tornaram-se questão de estratégia geopolítica – como os EUA poderiam fazer guerra ao Comunismo, sob o pretexto de preservar a "liberdade", se muitos de seus cidadãos não eram livres? A Comissão de Direitos Civis do presidente Harry Truman publicou um relatório em 1947, pintando a legislação dos direitos civis como tema de segurança nacional. "Os EUA não são tão fortes a ponto de podermos ignorar o que o mundo pensa de nós" – lia-se naquele relatório.

Enquanto a era da Guerra Fria abria uma janela para que os direitos civis se tornassem prioridade, os movimentos de base pelos direitos civis já estava em plena ação, reunindo radicais negros e brancos, sindicatos, progressistas defensores do New Deal e ativistas dos direitos humanos. Como vanguarda do movimento, sindicatos liderados por negros e pela esquerda, dentre os quais a Fraternidade dos Condutores de "Corujões" [empregados da empresa Pullman de transporte] e sindicatos dos Trabalhadores da United Electrical e da National Maritime, combatiam já pelo fim da discriminação racialista no emprego e a favor de garantir os empregos que os negros haviam obtido durante a guerra.

Numa vitória significativa, A. Philip Randolph e a Fraternidade dos Condutores de "Corujões" pressionaram o presidente Franklin Roosevelt a estabelecer uma Comissão para Práticas de Emprego Justo [ing. Fair Employment Practices Committee (FEPC)] encarregada de investigar casos de discriminação no emprego em unidades da indústria da Defesa. Ativistas pró-trabalho para os negros, como Randolph, desejavam fazer do movimento pró trabalho uma das forças de vanguarda na luta por direitos civis – e por boa razão. Impulsionada pela florescente economia pós-guerra, e pelas políticas de Roosevelt de apoio ao trabalho, aquele momento assistia a enorme crescimento no número de negros nos sindicatos. Ao final da 2ª Guerra Mundial, mais de meio milhão de trabalhadores negros eram membros de sindicatos afiliados do Congresso de Organizações Industriais [ing. Congress of Industrial Organizations (CIO)].

Porém, embora o governo Truman tenha introduzido algumas mudanças importantes, inclusive a dessegregação nas Forças Armadas, a Guerra Fria prejudicou gravemente a aliança entre trabalho e direitos civis. Depois da guerra, Republicanos do Norte e Democratas conservadores do Sul decidiram reverter os ganhos do trabalho da 2ª Guerra Mundial e bloquear a expansão do New Deal para os afro-norte-americanos. Como a historiadora Jacquelyn Dowd Hall aponta, isso foi conseguido, em parte, por artes da mais poderosa das armas da Guerra Fria: o anticomunismo.

A lei Taft-Hartley (1947) foi o contragolpe mais danoso contra a coalizão negros-esquerda, pró-trabalho. Essa lei autorizava os estados a aprovar leis sobre "direito ao trabalho" que proibissem os sindicatos de exigir que todos, não só os membros, pagassem contribuições ao sindicato. Resultado direto dessa lei Taft-Hartley, o Congresso CIO abandonou seus esforços para organizar trabalhadores das indústrias têxteis no Sul, obrigado a focar-se em garantir a defesa dos interesses dos membros já sindicalizados, sobretudo homens brancos, empregados nas indústrias da manufatura pesada. A mesma lei Taft-Hartley também exigia que os sindicatos expulsassem todos os membros comunistas. Por força dessa lei e dos anticomunistas que havia na própria diretoria, o Congresso CIO expulsou seus sindicatos de esquerda, dentre os quais o International Longshore and Warehouse Union [de estivadores], International Union of Mine, Mill and Smelter Workers [de empregados em mineradoras e siderúrgicas], Farm Equipment Union [de empregados em indústrias de equipamentos para fazendas], Food and Tobacco Workers [de empregados na produção de alimento e tabaco] e International Fur and Leather Workers Union [empregados das indústrias de peles e couros].

A própria Comissão para Práticas de Emprego Justo também foi tomada como um dos alvos de ataque pela "Cicatriz Vermelha". Comparando implicitamente aquela Comissão para Práticas de Emprego Justo à União Soviética, o ex-defensor do New Deal e depois conservador convicto Donald Richberg associou a lei antidiscriminação a uma "política de estado" e à "principal bandeira da plataforma comunista." Strom Thurmond repercutiria esses sentimentos em sua campanha presidencial para os Dixiecrats, um dos muitos partidos segregacionistas a invocar o espectro do anticomunismo para bloquear os primeiros movimentos da luta pelos direitos civis.

Num discurso de 1955 intitulado "A verdade sobre a Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor" [ing. The Truth about the National Association for the Advancement of Colored People, NAACP]," o Advogado Geral da Georgia, Eugene Cook, alertava que a organização seria "frente inspirada em comunistas", que "engana[va] os intelectuais ingênuos, dedicados ao bem e padres desencaminhados de cabeça confusa." A retórica mostrou ser poderosa arma de marginalização. Efeito dos ataques de Cook e de outros segregacionistas, a NAACP tornou-se porta-voz empenhada de anticomunistas, iniciando uma campanha nacional para extrair os comunistas, para começar, das próprias fileiras. Mais tarde, um ex-secretário-executivo da NAACP Roy Wilkins escreveu sobre aqueles anos: "Só deus sabe! Se já era tão difícil ser negro, ninguém lá precisava ser também vermelho".

Mas as linhas pontilhadas a partir da Guerra Fria avançavam até bem além da NAACP. Um duradouro efeito da demonização incansável de destacados negros da Esquerda (como Paul Robeson e W.E.B. Du Bois) e do desmonte dos sindicatos de negros e da Esquerda participantes do Congresso CIO foi que pôs em quarentena todo o então efervescente movimento pelos Direitos Civis, afastando-o das instituições e dos recursos da velha Esquerda. Resultado, um movimento pró Direitos Civis enfraquecido, que só pôde realizar uma ínfima fração da visão dos negros radicais para a mudança social. 

A memória popular do movimento de Direitos Civis foi capada de todos os membros e projetos mais radicais – o socialismo democráticos de Martin Luther King Jr., por exemplo, passou a ser apresentado como versão não violenta da militância de Malcolm X. Mesmo assim, embora ativistas influentes dos direitos civis como King, Ella Baker e Bayard Rustin continuassem a fazer crítica forte, associando raça e classe, só podiam fazê-lo em ambiente hostil aos radicais e aos trabalhistas organizados. Por mais que as vitórias mais significativas do movimento – Brown v. Board of Education e as leis dos direitos civis de 1964 e 65 – tenham sido sem dúvida transformadoras, muitas das demandas econômicas mais radicais permaneceram esquecidas.

Dividir para Conquistar 

Apesar do golpe devastador que fora o McCarthyismo, ao final dos anos 1960s e primeiros anos da década seguinte, a classe trabalhadora conseguiu um repentino crescimento nos protestos. 

Em In Stayin’ Alive: The 1970s and the Last Days of the Working Class, o historiador Jefferson Cowie observa que as organizações trabalhistas insurgentes, como a Coalition of Labor Union Women9 to 5, a United Farm Workers, a Coalition of Black Trade Unionists e aLeague of Revolutionary Black Workers efetivamente desafiaram o establishment sindical em torno de questões de raça, de gênero e da burocracia. Igualmente importante foi a promessa que essas organizações cumpriam, de solidariedade inter-racial. As esperanças de uma nova coalizão encontraram eco no discurso de alguns políticos, com destaque para Bobby Kennedy, para quem a sobrevivência do Partido Democrata dependeria de preservar-se o firme compromisso com a justiça econômica. Em 1968, depois de sua vitória na primária de Indiana, Kennedy disse a repórteres que a vitória significava sua chance "para organizar uma nova coalizão de negros e brancos da classe trabalhadora" contra o "establishment do Partido."

O revide contra esse momento é mais bem conhecido. Contra esse levante do final dos anos 1960s/início dos 1970s, da organização trabalhista supra racialista, Richard Nixon e os Republicanos lançaram ataque coordenado para atrair eleitores trabalhadores brancos do Partido Democrata. Apelando a esse eleitorado, com questões como 'uso indevido' dos benefícios do bem-estar, necessidade de barrar o acesso universal a eles, percepção de recursos finitos e privilégios perdidos, a "Nova Maioria" de Nixon foi como o golpe de misericórdia contra a Coalizão Roosevelt.

Em seu livro From #BlackLivesMatter to Black Liberation, Keeanga-Yamatta Taylor diz que só o poder da organização inter-racial e da solidariedade operária durante esse período explica por que Nixon teve de mudar-se para uma estratégia de retórica 'sem cor', com apelos racistas fortemente 'codificados'. Por um lado, a força relativa do movimento de libertação dos negros havia tornado indefensável o racismo. Por outro, Nixon não podia declarar guerra aberta contra o estado de bem-estar de Johnson, porque também os trabalhadores brancos, e brancos pobres em geral, estavam sendo beneficiados pela Guerra contra a Pobreza. 

Assim começou um esforço organizado, do governo Nixon e, na sequência, também dos governos de Ronald Reagan e Bill Clinton, para dividir a classe trabalhadora entre negros e brancos, grupos com mais interesses investidos nos programas de bem-estar social. Servindo de linguagem sutilmente impregnada de racismo, Nixon arregimentou um exército de trabalhadores brancos que se organizaram contra o que apresentavam como excessos do liberalismo norte-americanos a favor de pobres "indignos" (i.e., negros). Nos anos 1990s, Clinton usou a mesma retórica para justificar a aprovação de sua lei de 'reformas', que cortava benefícios e criminalizava os pobres, especificamente os pobres não brancos.

Falsa escolha para lugar nenhum 

Assim chegamos ao que hoje se vê. Por mais que ao longo de anos o Partido Democrata tenha buscado políticas que racializavam o bem-estar, para se autodispensar de fazer reforma econômica significativa, nessa eleição houve algo de novo: muitos liberais enquadraram as políticas de bem-estar de modo a, no mínimo, não tomarem conhecimento da desigualdade racialista; e, no máximo, usando-as como instrumento de racismo. Essa narrativa separa as questões econômicas de qualquer consideração de raça e gênero, apresentando nossas políticas contemporâneas como luta de soma-zero [o lado que ganhar leva tudo] entre políticos machistas socialistas [orig. "brocialists"] de um lado; e mulheres, LGBTs e negros, de outro lado.

Essa retórica foi visível ao longo de toda a campanha presidencial. Nas semanas que antecederam à primária na Carolina do Sul, o Republicano clintonista Jim Clyburn divulgou crítica feroz ao plano de ginásio gratuito de Sanders, apresentando-o como ameaça a ginásios e universidades historicamente negros [ing. historically black colleges and universities (HBCUs)]. Nenhuma referência ao fato de que a vasta maioria dos alunos de HBCUs estudam em instituições que seriam cobertas pelo plano de Sanders, não nas "escolas privadas e ligadas a igrejas" que Clyburn tanto protege.

Hillary Clinton entregou-se também de corpo e alma a esse jogo. Em discurso de campanha, Clinton hipnotizava seus eleitores com coisas como "Nem tudo se reduz a uma teoria econômica, não é? (...) Se amanhã quebrarmos os grandes bancos – e assim farei, se eles representarem risco sistêmico –, por acaso teremos posto fim ao racismo? Por acaso as pessoas se tornarão mais dispostas a acolher imigrantes, da noite para o dia?"

Em discurso de político(a) Democrata que teve papel tão central na consolidação do consenso neoliberal, todos deveríamos receber essa retórica com muita desconfiança. A noção de que o racismo opera(ria) basicamente fora do território das estruturas econômicas empenha-se em ocultar a dura realidade que milhões de trabalhadores negros enfrentam, ao mesmo tempo em que empurra as questões econômicas e políticas para o território das escolhas pessoais e dos valores culturais. Por essa definição, o racismo seria basicamente problema de atitudes em sociedade. 

Nisso, Clinton segue o exemplo do presidente Dwight D. Eisenhower, que defendeu a sua abordagem gradualista dos direitos civis, com argumentos como "Ninguém pode mudar o coração das pessoas só com leis." É ideia não apenas redutora, mas muito perigosa, que desqualifica o racismo como problema insolúvel do 'coração', quando é problema que, sim, o Estado tem de superar e resolver.

Para responder à pergunta retórica de Clinton sobre os grandes bancos: reforma financeira séria e um torniquete que contenha a ganância das grandes empresas seria com certeza sinal de passo importante na luta contra o racismo. Para ter certeza, basta considerar o colapso do mercado de moradias nos EUA, ou os empréstimos predatórios orientados para tomadores latinos e afro-norte-americanos, ou as taxas e juros 'diferenciados' que os bancos impõem a afro-norte-americanos – o que o então funcionário do Departamento de Justiça Thomas Perez chamou de "sobretaxa racial".

Claro, nenhuma regulação sobre a indústria bancária conseguirá, só ela, remediar a devastação econômica que ameaça os trabalhadores pobres e os trabalhadores negros pobres. Por exemplo, também o direito à casa própria e o acesso desigual à acumulação de riqueza tiveram papel crucial na criação e na manutenção das disparidades raciais nos EUA, ao longo de gerações. A Esquerda tem de aprender com o Movement for Black Lives [Movimento pelas Vidas Negras], e também da longa tradição radical dos negros norte-americanos, e mobilizar-se contra as formas básicas da injustiça econômica – nas finanças, na moradia, nos empregos, na educação pública, na saúde pública e no sistema da justiça criminal.

Há via alternativa – que evita a falsa escolha entre as chamadas "políticas de identidades" e políticas de bem-estar social que insistem em não ver as difíceis questões criadas pelo racismo nos EUA. Essa via exige que se combinem (i) reforma econômica de base ampla e (ii) genuíno – não cenográfico – compromisso com a justiça social. Para tanto, é indispensável traçar e demarcar as conexões criticamente importantes que há entre racismo e capitalismo, e pôr fim, por exemplo, ao calvário para os negros e negras, que é o sistema judiciário municipal nos EUA, ou a relação simbiótica que há entre abundante financiamento para os departamentos de Polícia e a privatização da educação pública.

Se se ouvem os discursos de Clinton e do establishment do Partido Democrata, parecerá idealismo insistir nessa via, com um criptofascista na Casa Branca. Não há dúvidas de que vivemos tempos em que até as liberdades civis mais básicas estão sob assalto. Mas nos opor ao massacre mais próximo não significa fugirmos todos para o centro. – Se a Esquerda não quiser ceder ainda mais território ao fascismo, não nos bastarão as políticas de moderação defensiva.

O problema da desigualdade racialista jamais será confrontado se permanecer confinado no território da cultura e da identidade individual, separado de suas reais raízes econômicas. 

Fator decisivo nessa luta será disputar e alcançar, arrancando-o das mãos das elites econômicas, o controle da narrativa, sabendo sempre que aquelas elites farão o impensável, para preservar o status quo. O novo movimento deve investigar até compreender com clareza, em toda sua extensão e complexidade, uma longa e duradoura tradição, tanto da Direita como da Centro-esquerda, que sempre visou a fraturar a solidariedade de classe entre todos os homens e todas as mulheres.

Sobretudo, a Esquerda não pode abandonar nem por um instante seu compromisso com a luta maior – contra a ordem econômica – que nos deu já 40 anos de devastação racialista, e nos ameaça com mais do mesmo racialismo.*****

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