2/1/1994, Jas Gawronski, de La Stampa, entrevista Fidel Castro em entrevista exclusiva para o jornal Clarin, Buenos Aires, Argentina, pp 28-9 (esp.) Sem data, sem local noticiados. CopyrightCLARIN] / Em inglês, Universidade do Texas[Text] (texto aqui retraduzido ao português), no Blog Stalin's Moustache, 5/9/2018
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
[Gawronski] Cuba continua a falar sobre "revolução" e "socialismo" como se nada tivesse mudado no mundo. Em sua opinião, essas duas palavras continuam a ter o mesmo significado de antes, quando o senhor iniciou sua odisséia há 35 anos?
[Castro] Não, não podem ter o mesmo significado. Por duas razões. Primeiro, porque naquele tempo tínhamos programa ambicioso que foi implementado, em grande medida; segundo, a situação internacional passou por mudanças decisivas. Mas, sim, continuamos comprometidos com nossos ideais e nossos objetivos sociais e políticos.
[Gawronski] Mas o fato de o comunismo ter caído aos pedaços nos países nos quais esteve no poder não os levou a concluir que algo deveria mudar também em Cuba?
[Castro] Devo dizer-lhe que, na URSS o comunismo se autodestruiu, cometeu suicídio; e que não havia motivo algum que explicasse então ou explique hoje esse suicídio. Foi enorme surpresa, para nós e para vocês no mundo ocidental. Todos os valores que foram os fundamentos daquele grande país foram destruídos. Um país que prestou tão grande serviço à humanidade – porque creio que o compromisso que Lênin e a Revolução de Outubro assumiram são feitos extraordinários na história da humanidade. O papel da URSS na luta contra o fascismo foi crucial, decisivo; assim também o seu papel no processo de libertação das velhas colônias. O que quero dizer é que se o mundo mudou, mudou graças à contribuição decisiva da URSS. Mantenho que a URSS não deveria ter sido destruída, mas melhorada. E que o socialismo não deveria ter sido destruído, mas melhorado. Mas qual foi o resultado? O mundo atual unipolar em que vivemos, dominado pelos EUA. Grande setor do mundo sofre as consequências desse passo.
[Gawronski] Mas como aconteceu? O senhor acredita que se deva culpar Gorbachev?
[Castro] Não. Gorbachev defendeu o socialismo e falava de tornar o socialismo mais socialista, de melhorar o socialismo. Não falava de destruí-lo. Temos de procurar outros fatores, os fatores que destruíram o socialismo, e como é possível que o que nem Hitler conseguiu, com centenas de divisões e dezenas de milhares de aviões e tanques, foi alcançado sem guerra, sem divisões blindadas, aviões ou tanques. Alguns líderes soviéticos conseguiram o que nem Hitler conseguiu.
[Gawronski] Quais as consequências disso tudo para Cuba?
[Castro] O desaparecimento do bloco socialista foi duro golpe para nós. Contra o bloqueio pelos EUA, conseguimos nos beneficiar do comércio com países socialistas, o que serviu como base para o desenvolvimento de nossa economia. O bloqueio persiste, mas as bases sumiram. Estamos passando por uma das provações mais duras de que se tem notícia no mundo moderno. Mas nossa decisão de manter nossos ideais não enfraqueceu. Tudo prova que é insulto a Cuba dizer que somos satélite da União Soviética. Já o demonstramos que não somos satélite de ninguém. Somos estrela que tem luz própria. Mais que isso, por mais que seja fato que a União Soviética se autodestruiu, nem China nem Vietnã se autodestruíram. Falam tanto do desaparecimento do socialismo na União Soviética, mas por que ninguém fala do socialismo chinês?
[Gawronski] O senhor acha que a China é exemplo a ser seguido?
[Castro] É um experimento que tem de ser estudado. Até os chineses dizem que ninguém deve imitar automaticamente o que outros façam. Autocriticaram-se por ter aplicado lá, mecanicamente, o experimento soviético, nos primeiros anos. Mas se você quiser mesmo falar sobre socialismo, não esqueçamos o que o socialismo realizou na China. A China foi terra de fome, miséria, desastres. Hoje tudo mudou. A China pode alimentar, vestir, educar e assegurar boa saúde a 1,2 bilhões de pessoas.
[Gawronski] Mas embora a China tenha mantido um sistema político socialista, o país está tentando modificar a própria economia. Mas Cuba parece ainda ser solidamente socialista. Não é difícil ser a única nação socialista, quando tudo está em transformação?
[Castro] Entendo que a China é país socialista, e o Vietnã também é país socialista. E ambos insistem que fizeram todas as reformas necessárias para motivar o desenvolvimento nacional e continuar a buscar os objetivos do socialismo. Não há regimes ou sistemas 'puros'.
Em Cuba, por exemplo, temos várias modalidades de propriedade privada. Temos centenas de milhares de proprietários de fazendas. Alguns são proprietários de 110 acres (cerca de 150 hectares). Na Europa, seriam considerados grandes proprietários de terras. Praticamente todos os cubanos são donos da própria casa e, além do mais, consideramos bem-vindo o investimento exterior. Mas nada disso significa que Cuba tenha deixado de ser socialista. O que é evidente é que em nenhum caso cairemos no erro de destruir o país para começar algo 'novo'.
[Gawronski] Há quem diga que o socialismo em Cuba sempre se identificou pessoalmente com o senhor. O senhor já pensou sobre o que acontecerá ao socialismo quando o senhor deixar o poder?
[Castro] Não acho que o socialismo possa ser identificado comigo. Não aconteceu nem acontece assim. Claro, um ou outro indivíduo pode ter algum papel decisivo, num ou noutro momento da história, mas nunca me ocorreu que o socialismo pudesse ser identificado a mim, pessoalmente. Seria como privar os tais teóricos do socialismo dessa tão grande honra. Nenhum indivíduo consegue coisa alguma sozinho. Quem consegue é o povo. Só o povo pode conseguir seja o que for.
[Gawronski] Desde que o senhor assumiu o poder, já teve de lidar com oito presidentes dos EUA. Agora, é Clinton, o primeiro que é mais jovem que o senhor. As coisas parecem estar mudando. O senhor acha que haverá chance de mudança nas relações entre EUA e Cuba? Há possibilidade de se melhorarem as atuais relações?
[Castro] Veja, presidentes dos EUA são escravos de muitas coisas, dentre as quais as campanhas eleitorais. Durante as campanhas para serem eleitos, eles fazem declarações, assumem compromissos. E Clinton, infelizmente teve atitude hostil em relação a Cuba. Mas logo no primeiro mandato todos eles mudam, porque têm de ser cuidadosos, porque sonham com ser reeleitos. No segundo mandato, têm as mãos um pouco mais livres. Não defenderei Clinton. Não é meu amigo, nem meu inimigo. Só tento analisar de modo a conseguir avaliar objetivamente o homem. E dei-me conta de que Clinton é homem muito suscetível a pressões da direita, dos mais conservadores. Às vezes, adota uma posição e adiante muda, por efeito de pressões. Está acontecendo com ele o mesmo que aconteceu com Kennedy no início da presidência. Mas acho que Clinton está ainda aprendendo. Clinton também está limitado por coisas que herdou de Bush. A Somália, por exemplo. Mas lá também, um povo faminto e desorganizado resistiu contra uma invasão. Acho que Clinton aprendeu alguma coisa nessa experiência.
[Gawronski] O senhor está querendo dizer que, para melhorar as relações com os EUA, será preciso esperar que Clinton seja reeleito, de modo a conseguir escapar da pressão daquelas forças?
[Castro] Ninguém pode dizer o que será o amanhã. Por enquanto, Clinton parece focado em suas promessas de campanha e nos problemas internos dos EUA. Além do mais, sejamos honestos. Cuba é país muito pequeno. Não somos a China. E não acho que os EUA estejam muito preocupados com os EUA. O governo tem problemas que considera mais importantes.
[Gawronski] Comandante, para concluir, gostaria de satisfazer uma curiosidade pessoal. Por que o senhor sempre usa su uniforme de guerrilheiro? Já vão longe os dias de Sierra Maestra.
[Castro] São minhas roupas. Usei essas roupas durante toda a minha vida. São roupas confortáveis e simples. São baratas e nunca saem de moda. Mas tenho um terno, mais formal, com gravata. Perdoe-me, mas... quando senhor entrevistou o Papa, perguntou a ele por que nunca troca aquela roupa branca? [fim da entrevista].
China: presença revolucionária
4/10/2017, Ajit Singh, Telesur [excerto]
Impressionado com as realizações da China, Fidel declarou em 2004:
"A China tornou-se objetivamente a esperança mais realista e o melhor exemplo para todos os países do Terceiro Mundo". E "Xi Jinping é dos líderes revolucionários mais fortes e mais capazes que conheci em minha vida."
Com a crise do capitalismo que se aprofunda, os EUA tentam cada vez mais agressivamente defender a própria dominação unipolar sobre o mundo. A força mais poderosa dentre todas as que desafiam o imperialismo norte-americano é a China. Por isso os EUA definem a China como a "maior ameaça" que cresce contra eles. Por isso também os EUA são cada vez mais hostis contra a China [hoje, um ano depois de o artigo ter sido escrito, é ainda mais verdade (NTs)].
Assim sendo, o personagem "China" não é tema abstrato ou circunstancial, não necessário: é tema de importância imediata, crucial para todos quantos lutam por paz e justiça contra o capitalismo e o imperialismo. Ao compreender que a China é estado socialista revolucionário, temos de compreender também que a China é cabeça nessa luta e nação amiga, à qual todos devemos respeito e solidariedade revolucionários.*******
2 comentários:
IRREPARÁVEL!!!! Parece uma psicografia. Sensacional, mas só para patriotas.
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