quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Sauditas param de financiar o terror na Síria. Liga Árabe prepara-se para reatar relações com Damasco: ainda não é hora de retomar Idlib, por Elijah J Magnier



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



A data de 15 de outubro, como prazo final acertado entre Turquia, Rússia e Irã para que a Turquia evacuasse todo o armamento pesado e grupos jihadistas da área desmilitarizada demarcada por uma linha de 15-20km em torno de Idlib e a respectiva área rural, incluindo Latakia rural, veio e passou. E, apesar de pressão séria dos turcos para que deixem a Síria ou saiam da zona desmilitarizada para poupar Idlib de ataque iminente pelo Exército Árabe Sírio e Rússia, os jihadistas permanecem em seus acampamentos militares. Seja como for, Damasco e Moscou consideram o momento pouco propício para ataque em grande escala a Idlib. Assim sendo, novo adiamento foi acertado com a Turquia, para que insista nos esforços. Foi adiado qualquer ataque que estivesse em cogitações contra Idlib – primeira linha de defesa dos EUA na Síria.

Mas por que essa é a primeira linha de defesa dos EUA na Síria? Simplesmente, porque a Síria já está completamente libertada, e só as regiões das cidades de Idlib e al-Hasaka, ao norte (e uma pequena porção de Deir-ezzour a leste do Eufrates) permanecem ocupadas.

Em setembro, Rússia, Irã e Síria decidiram libertar todo o território sírio, a começar por Idlib e terminando em al-Hasaka, onde estão baseadas as forças de ocupação norte-americanas, sem dar sinais de quererem sair tão cedo. Por isso Washington vê Idlib como sua primeira linha de defesa e por isso os EUA quiseram atacar a Síria –, sob o falso pretexto de que teriam usado “armas químicas” – para impedir a libertação de Idlib por forças de Damasco. Moscou e Damasco compreenderam as intenções dos EUA e decidiram suspender todos os preparativos militares, para evitar um ataque dos EUA contra a Síria. Adiou-se a data de ataque em grande escala a Idlib; Síria e aliados decidiram parar e dar à Turquia a oportunidade para pôr-se entre os beligerantes. Essa decisão ajudou a evitar um possível confronto entre as duas superpotências, Rússia e EUA, com os respectivos militares cara a cara no Levante.

Enquanto isso, aliados da Síria prepararam três linhas de defesa: a primeira de frente para Tal el-Eiss; a segunda no “Projeto 3.000 apartamentos”; e a terceira na entrada da cidade de Aleppo. Receberam inteligência sólida de que al-Qaeda e outros jihadistas reuniram cerca de 10 mil homens e preparavam-se para atacar Aleppo. O acordo russo-turco deteve o ataque iminente. A Turquia ganhou mais tempo (não se sabe quanto tempo) para controlar Idlib. Síria e seus aliados esperarão pelo momento mais adequado para atacar a cidade, se os EUA recuarem da guerra na Síria e as circunstâncias tornarem-se mais propícias.

Fontes próximas dos tomadores de decisões na Síria disseram que “Não há dúvidas de que todo o território sírio retornará ao controle do governo sírio, inclusive Idlib e al-Hasaka. A passagem de Qunietra e Nasib entre Síria e Jordânia foi reaberta. Logo as fronteiras entre Síria e Iraque reabrirão, agora que há novo primeiro-ministro no Iraque”.

“O ministro de Relações Exteriores do Iraque Ibrahim al-Jaafari visitou a Síria, não só para reabrir a passagem de fronteira entre os países, mas também para trazer a Síria de volta para a Liga Árabe. O Iraque crê que Arábia Saudita e aliados não têm mais desejo de manter a guerra na Síria e cortaram o dinheiro para jihadistas e rebeldes. A Síria dará conta das duas forças ocupantes (Turquia e EUA) e porá fim a essa guerra” – disse a fonte.

Espera-se que o primeiro passo seja oficializado por Amã, interessada em retomar seu relacionamento pré-2011 com Damasco, enviando seus diplomatas à Síria nos próximos dias. Segundo a fonte, “o movimento da Jordânia foi aprovado pelo Golfo e por países ocidentais, na esperança de separar a Síria, do Irã”.

“Todos quantos abriram as respectivas fronteiras e aeroportos para que jihadistas de todos os cantos do mundo fossem lutar na Síria, e os que esvaziaram suas prisões para mandar todos os condenados criarem uma plataforma de terror no Levante, para assim ‘produzir’ um estado ‘falhado’, decidiram mudar de política e reatar laços diplomáticos com Damasco . Não nos opomos a esse movimento, mas não esquecemos que pagamos preço muito alto por causa desses “velhos amigos” que destruíram nosso país” – disse a fonte.

“Não há dúvida” – continua a fonte – “que o número de soldados aliados foi dramaticamente reduzido na Síria. O Irã cortou custos e reduziu a um mínimo o número de aliados em solo (afegãos, iraquianos, paquistaneses e outros). Contudo, ninguém pode forçar o Irã a sair do Levante em troca de apoio financeiro para reconstruir o país. Só idiotas creem que possamos trocar as relações entre Síria e Irã por dezenas ou centenas de bilhões, ou vender as Colinas do Golan seja pelo preço que for. Os laços estratégicos que unem sírios e iranianos são muito mais fortes do que as pessoas possam imaginar”.

Líderes no Oriente Médio e a Liga Árabe estão preparados para receber de volta, como um deles, o presidente sírio Bashar al-Assad, agora que já reconheceram que fracassou a operação de mudança de regime. 

A Turquia ganhou mais tempo e a libertação de Idlib foi adiada. Jihadistas e rebeldes ainda não estão convencidos de que a guerra acabou, e não se deram conta de que nenhum país continuará a lhes fornecer armas. Estão só tentando ganhar tempo, o destino deles está selado. Em al-Hasaka, militantes curdos acabarão por compreender que os norte-americanos não podem continuar lá por muito mais tempo. A base dos EUA em al-Tanaf será abandonada, principalmente porque o campo de refugiados al-Rukban r – de 80 a 90 mil refugiados mantidos pelos EUA e cercados pelos exércitos sírio e iraquiano – tornou-se um peso, e porque a passagem de fronteira al-Bu Kamal será reaberta em breve. É tempo de os curdos compreenderem que só poderão sobreviver se se entenderem com Damasco.*******

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