terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Por que o Hezbollah está na Síria e até quando?

25/1/2016, Elijah J M Blog, Iêmen

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


O Grande Aiatolá do Irã Sayyed Ali Khaminei descreveu nos seguintes termos a intervenção do Hezbollah na Síria e respectivos efeitos: "O Hezbollah mudou o destino. O Hezbollah impediu que o regime fosse derrubado e está mudando o curso da batalha, de grande derrota, para a trilha da vitória, sem se intimidar ante as perdas".


Palavras fortes, sobre o envolvimento do Hezbollah libanês na guerra na Síria, com referência a "mudar o curso" da batalha em curso e ao longamente esperado Imã Mahdi na ideologia xiita (que não aparece explicitamente clara na declaração de Kaminei), com as bênçãos do Irã.

Mas por que o Hezbollah está na Síria e até quando? O que Khaminei disse com "o Hezbollah mudou o destino"? Que destino? Fala exclusivamente do destino de Assad?


O envolvimento do Hezbollah na Síria em apoio ao regime sírio foi visto, e ainda é visto pela organização, como necessidade para a sobrevivência do próprio movimento e do regime. Em 2013, a batalha na Síria chegou a al-Abbasiyeen, o coração de Damasco. Até aquele momento, o presidente Bashar al-Assad recusara qualquer participação do Hezbollah além do front de Sayyeda Zaynab (irmã de um dos 12 imãs xiitas, o Imã Husein Ibin Ali Ibin Abi Taleb e sobrinha do Profeta Maomé), no subúrbio de Damasco, lugar sagrado para os xiitas. Os rebeldes eTakfiris haviam alcançado outro lugar sagrado dos xiitas, Sayyeda Ruqay’ya, ocuparam o santuário e demarcaram uma linha, com o santuário de Zainab. O próprio santuário foi bombardeado e começaram as baixas entre os combatentes do Hezbollah que protegiam os arredores.

Assad telefonou ao secretário-geral do Hezbollah, sayed Hasan Nasrallah, em março de 2013. São frequentes os encontros entre os dois líderes. Criou-se uma linha segura, por terra, entre os dois, e o contato era regular. Foi quando Assad solicitou um encontro, com urgência. Precisava que o Hezbollah assumisse pleno envolvimento na guerra.

Nasrallah, antes de viajar ao Irã para reunir-se com o Aiatolá Ali Khaminei depois de encontrar-se com Assad, pediu que o al-Majlis al-Jihadi, a mais alta instância militar da organização, estudasse a situação militar na Síria, em conjunto com comandantes militares sírios. Até aquela data, esse acesso, que o próprio Assad liberara pessoalmente na reunião com Nasrallah, não era permitido.

Nasrallah precisava de uma cobertura religiosa para os seus homens que cairiam ou seriam feridos naquele combate. Conforme a doutrina xiita do Hezbollah, de Welayat-al-Faqih, Nasrallah precisava de uma fatwa religiosa, de um clérigo de hierarquia mais alta que a dele, que declarasse a sua bênção e assumisse que todos são leais à doutrina.

Aquele desenvolvimento, naquele momento, ainda surpreendia os  comandantes militares do Hezbollah. "O senhor está pedindo a nossa intervenção, agora que Jabhat al-Nusra e outros rebeldes estão em Damasco?" – perguntou a Nasrallah um alto comandante do Hezbollah, não discutindo as ordens, mas para expor bem claramente a gravidade da situação. 

A decisão foi tomada, a bênção foi dada: o Hezbollah passava a considerar a luta contra os takfiris como prioridade superior à batalha contra Israel: os Takfiris declararam guerra contra todos os xiitas, homens, mulheres e crianças; e Israel só está em guerra contra o Hezbollah.

O objetivo do Hezbollah ao intervir não foi só salvar o regime de Assad. A intervenção do Hezbollah é ao mesmo tempo ideológica e existencial. 

Como resumo, em palavras do Hezbollah:

"É dever religioso; é continuação do fornecimento de serviços militares; é apoio a um aliado, no "eixo da resistência"; é proteção aos apoiadores no Líbano, afastando a ameaça de ato terrorista; é apoio, pela presença, como ator destacado, e elemento de equilibração, na luta contra Israel; e, finalmente é guerra antevista nas profecias, para pôr fim ao massacre de xiitas em Bilad al-Sham, Jabal ‘Amel (Líbano) e até a batalha final em al-Koufa (Iraque)."

A intervenção do Hezbollah na Síria não agravou a violência sectária no Líbano, mas acelerou o timing e a trouxe para a superfície. 


Entre os anos 2004 e 2005, esperava-se a eclosão de extrema violência no Líbano, disparada pela luta sectária. Foi adiada, por causa da guerra dos israelenses em 2006, mas, num determinado sentido, parece difícil de evitar. 

Para o Hezbollah, dar combate aos takfiris na Síria é menos custoso que enfrentá-los no Líbano e, sobretudo, em áreas do Líbano controladas pelos xiitas, se os takfiris já tiverem sido derrotados e controlados na Síria.*****