Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Julien Assange, sobre e-mails de Hillary (in Pepe Escobar, Facebook, 2/8/2016):
"É. Aqueles e-mails de Hillary Clinton, estão conectados entre eles e com os telegramas que já publicamos, também de Hillary Clinton. E criam uma rica imagem de como Hillary Clinton opera no governo, mas, mais amplamente, de como opera o Departamento de Estado dos EUA. Lá se vê, por exemplo a intervenção desastrosa, absolutamente desastrosa na Líbia, a destruição do regime de Gaddafi, a qual abriu caminho para que o ISIS ocupasse grandes porções do território da Líbia, o fluxo de armas para a Síria, que Hillary Clinton sempre promoveu, diretamente para jihadistas dentro da Síria, inclusive para o próprio ISIS, tudo isso está lá, bem claro, naqueles e-mails. São mais de 1.700 e-mails, na pasta Hillary Clinton, que já publicamos, e só sobre a Líbia!"
"É. Aqueles e-mails de Hillary Clinton, estão conectados entre eles e com os telegramas que já publicamos, também de Hillary Clinton. E criam uma rica imagem de como Hillary Clinton opera no governo, mas, mais amplamente, de como opera o Departamento de Estado dos EUA. Lá se vê, por exemplo a intervenção desastrosa, absolutamente desastrosa na Líbia, a destruição do regime de Gaddafi, a qual abriu caminho para que o ISIS ocupasse grandes porções do território da Líbia, o fluxo de armas para a Síria, que Hillary Clinton sempre promoveu, diretamente para jihadistas dentro da Síria, inclusive para o próprio ISIS, tudo isso está lá, bem claro, naqueles e-mails. São mais de 1.700 e-mails, na pasta Hillary Clinton, que já publicamos, e só sobre a Líbia!"
A história pode ser sensacional roteirista – atualmente oferecendo dilema desesperadamente angustiante, de vida ou morte ("O amor supera o ódio" [ing. "Love trumps hate"] vs. "Metam ela na cadeia!" [ing. "Lock her up!"]), não só para os eleitores norte-americanos, mas também para todo o planeta, que será afetado, diretamente ou indiretamente, pelo que resulte daquele dilema.
De um lado temos um Narciso pop mais que bilionário, codinome "cheeto-faced ferret-wearing shitgibbon" [intraduzível: alguma coisa como 'cara de [salgadinhos] Cheetos, almofadinha, idiota' (?!)] (obrigado, Escócia) e astro de reality-show de TV, que se autopromove como a única cura possível para uma distopia norte-americana pós Mad Max.
De outro lado, temos o que Bill – Explicador-em-chefe "Na primavera de 1971, conheci uma garota" – Clinton descreveu como a culminação da mina-trabalhadeira, tipo só faz-o-bem, a qual, além disso, também é neoliberal conservadora Excepcionalista dedicada a tornar o mundo mais seguro para todos e quaisquer interesses corporativos bem sujos, de Wall Street ao complexo industrial-militar-de- espionagem-mídia e segurança e do pessoal do AIPAC ("Israel-em-primeiro-lugar").
Nada menos que 68% – e subindo – dos norte-americanos pesquisados no início dessa semana absolutamente não confiam na garota que derreteu o coração de Clinton na primavera de 1971. No pé em que estão as coisas (ainda sem contar o salto da Convenção Nacional dos Democratas) – o tal Narciso pop, contra todas as expectativas, está à frente.
Caos contra caos
Ela pode ser a Queen of Chaos [Rainha do Caos], perfeita para reinar sobre o Empire of Chaos [Império do Caos], enquanto para o Narciso pop o doce odor do sucesso resume-se à tática de guerrilha sem trégua de usar o caos contra os fundamentos do Império do Caos, menos de 140 palavras de cada vez.
Até aqui, ele já conseguiu identificar claramente a ligação da garota com os dogmas do bipartidarismo com potencial para torná-la vulnerável – e está fuzilando todos, desde o livre comércio (especialmente o NAFTA) à construção da nação, e até a coisa de mudança de regime. No processo, ganhou a atenção de uma maioria trabalhadora silenciosa que está furiosa e já não aguenta mais. O Narciso pop claramente se refestela no papel de Republicano em ternos Brioni que se faz passar por inimigo do sistema.
Nem assim a máquina de Clinton – que mal e mal consegue surfar o tsunami de lama do escândalo do servidor subterrâneo de e-mails – captou a mensagem. E escolheu o senador Tim Kaine, da Virginia, para ser vice na chapa de Hillary: coroinha na igreja neoliberal conservadora de Wall Street, opositor de todos os direitos do trabalho e, como se poderia esperar do personagem "poodle corporativo", fã da Parceria Trans-Pacífico (TPP).
A oposição à TPP – possível candidato a Vietnã de Obama – pode ter sido incorporado no último minuto à plataforma do Partido Democrata. Mas ninguém sabe realmente se Hillary é a favor, contra, ou muito ao contrário. O senador por Virginia, terra da CIA livre e do bravo Pentágono também é garoto-propaganda a favor da perfuração em alto mar.
Pat Buchanan, que trabalhou para Nixon e Reagan e sabe lá umas coisinhas sobre corredores do poder, descreveu a ideologia do Narciso pop como "etnonacionalismo": um protecionismo/nativismo carregado de nostalgia/xenofobia. Mas com uma pitada diferente: a elite corporativa do Excepcionalistão é listada entre os inimigos.
E é que a coisa realmente acontece. Durante dias, entre as convenções nacionais Republicana e Democrata, o ciclo midiático foi monopolizado em níveis subsônicos de histeria pelo drama/slogan "Trump é agente de Putin". Troncos falantes neoconservadores disfarçados como conservadores respeitáveis dissecaram cada nuance do "bromance". Operadores de inteligência surtaram porque Trump passa a ter acesso aos briefings de segurança nacional. Ex-chefões da OTAN, feito o almirante aposentado da Marinha dos EUA James Stavridis, reclamaram de Trump falar contra a OTAN e a favor da Rússia, "minando a certeza europeia na confiabilidade dos EUA como aliado – especialmente em face do aventureirismo russo."
O simples fato de o Narciso pop não parecer inclinado a dar prosseguimento à Guerra Fria 2.0 contra a Rússia já bastou para condená-lo por crime de traição à pátria.
Fire walk with me / Ande comigo sobre as brasas
Os papeis de Hillary Clinton como estrela da trama, por seu lado, são sucessos arrasadores.
Aqui, ei-la como Garota de Ouro de Wall Street. Aqui, como moto-perpétuo de escavar ouro. Aqui, é uma Neo-Atena, Rainha da Guerra. E podem esperar que vem aí um Óscar para "A volta das Três Hárpias" que regerão os próximosJogos Vorazes: Hillary Clinton, de presidenta; Michele Flournoy, de chefa do Pentágono e – a expressão mais terrificante em inglês: "Secretary of State Victoria Nuland" (e em português do Brasil: "Secretária de Estado Victoria Nuland" [NTs]).
A CIA não conseguiu derrubar WikiLeaks. Hillary Clinton fará o diabo, para conseguir que alguém derrube. Fará o diabo para conseguir que o mote "agressão russa" seja santificado como alguma espécie de lema patriótico. Quando Hillary Clinton partiu para dar um "reset" nas relações EUA-Rússia, a expressão foi traduzida nas duas línguas, em inglês e em russo, como "sobrecarga" [ru. "peregruzka"; ing. "overload" (NTs)]. Lapso freudiano recebido com um sorriso pelo ministro Sergey Lavrov da Rússia, mas com mil piadas em toda a Rússia.
Enquanto Hillary é discípula fiel da doutrina do Pentágono, de Dominação de Pleno Espectro, Trump tem sido esperto o suficiente para manter-se completamente fora-do-espectro. E por isso se tornou tão atraente para multidões de Machos Brancos Zangados, norte-americanos sem formação acadêmica, que mal sobrevivem à falta de dinheiro, que se ressentem de tudo, a começar pelo comandante-em-chefe encarnado naquele "mulato magrelo com nome engraçado" e agora talvez – horror dos horrores – numa "Mulher de Poder (que-só-prestará-quando-eu- der-um-jeito-nela, Under My Thumb"). E a coisa é até mais fácil quando, para passar a mensagem, você só precisa de vocabulário minimalista.
Interesses poderosos por trás de Trump demarcam as três linhas chaves da agenda dele: pôr fim à imigração ilegal; reconstruir as forças armadas dos EUA; e combater a degradação da moeda – do Banco Central Europeu ao Japão (alívio quantitativo), mas também na China (sem desvalorização significativa do yuan) – como meio para trazer os empregos de volta para os EUA.
Alguns desses itens bem poderiam atrair o establishment norte-americano. Mas não. Virtualmente todo oestablishment, agora plenamente alistado sob comando da Rainha do Caos, vê um governo do Narciso pop como distopia populista, racista, cripto-fascista – completada por um muro estúpido, idolatria das AR-15s e total submissão à Testa-de-Ferro-em-Chefe [orig. "The Fixer-in-Chief"].
Ninguém sabe realmente como a Testa-de-Ferro-em-Chefe conduzirá a política externa. Nenhum presidente dos EUA conseguirá quebrar a espinha dorsal do consenso que mantém coeso o Partido da Guerra. No momento, os Democratas contam com pressionar na direção de uma perigosa triangulação. Há mais de dois anos, Hillary Clintonsimplesmente pôs lado a lado Putin e Hitler. Essa semana, vendendo Hillary Clinton à nação como sua sucessora, o presidente Obama disse que "no final, qualquer um que ameace nossos valores, sejam fascistas ou comunistas ou jihadistas ou demagogos nascidos aqui mesmo, sempre fracassarão."
No final, nada tem a ver com "valores". O caso é que fracassar nunca entra nas cogitações do Estado Profundo dos EUA. O lema do Estado Profundo pode bem ter sido cunhado por um personagem em Twin Peaks, de David Lynch: "Ande comigo sobre as brasas". Quem encarará a fogueira, Atena ou Narciso?*****
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