6/8/2016, Pepe Escobar, SputnikNews
Tudo começa com uma orgia entre wahhabistas e sionistas.
O ministro de Relações Exteriores saudita foi obrigado a entrar em hora extra de negar & negar a visita de uma delegação do seu país, chefiada pelo general aposentado Gen. Anwar Eshki, a Israel, dia 22 de julho.
Acontece que Eshki é íntimo do superastro da inteligência saudita e amigo, há tempos, de Osama bin Laden, o príncipe Turki bin Faisal, que recentemente teve encontro à vista de todos com os generais Yaakov Amidror e Amos Yadlin, ambos ex-membros do Exército de Israel ("Forças de Defesa de Israel", FDI).
Em Israel, Eshki reuniu-se com o diretor-geral do Ministério de Relações Exteriores Dore Gold, e com o major-general Yoav Mordechai, principal poderoso chefão do Exército de Israel na Cisjordânia.
É absolutamente impossível que a Casa de Saud não tenha autorizado essas visitas – em tão alto nível. Para os que não saibam, o Ministério na Arábia Saudita proíbe toda e qualquer viagem a Israel – e também ao Irã e ao Iraque.
Assim sendo, qual o grande negócio aí? Os israelenses noticiaram que os sauditas – representando a Liga Árabe – teriam oferecido uma normalização dos laços israelenses com o mundo árabe, sem exigir que Israel renuncie a qualquer de suas aspirações no front palestino. A única coisa que Telavive teria de fazer – não agora, mas muito adiante, é aceitar a Iniciativa Saudita para a paz árabe, de 2002.
Tudo isso é nonsense. Para começar, os sionistas de extrema direita que estão no poder em Telavive jamais aceitarão devolver as terras ocupadas e reverter às fronteiras de antes de 1967; nem reconhecer o estado da Palestina. O que "discutiram" foi com certeza algum não acordo, por mais que Telavive insista que "importantes estados árabes querem declaradamente nos abraçar, mesmo que não cedamos uma polegada da Cisjordânia e mesmo que a Mesquita Al-Aqsa continue sob nosso controle."
Se a Liga Árabe algum dia embarcar nesse tipo de acintoso não acordo, jogando os palestinos para sempre sob as esteiras de milhares de tanques e máquinas de demolição, o mais provável é que as oligarquias/petromonarquias em toda a extensão do espectro, comecem a se preparar para se mudar para Londres, ida sem volta.
Aquela aliança Moscou-Teerã-Ancara
Tudo isso considerado, sobre o que, afinal, conversaram realmente? Previsivelmente discutiram a possibilidade, com alta probabilidade, de a Dominatrix de Pleno Espectro afinal conseguir tomar a Casa Branca.
Ambos, Bibi Netanyahu em Telavive e o verdadeiro governante da Casa de Saud e Príncipe da Guerra Mohammad bin Salman em Riad foram reduzidos, no governo de Obama, ao status de proverbiais eufemisticamente ditos "aliados afastados". Entre eles são aliados de facto – ainda que não o possam admitir para a rua árabe. Os dois tem total certeza de que, em governo da Rainha da Guerra, haverá – e que mais poderia ser? – guerra. A questão a definir é contra quem.
Especulação bem-informada aponta para o inimigo comum de sauditas e israelenses, o Irã. É complicado. A estratégia conjunta sauditas/israelenses em todo o Oriente Médio está, isso sim, em frangalhos. Teerã não se deixou apanhar em armadilhas, nem na Síria nem no Iraque. ISIS/ISIL/Daech e "rebeldes moderados" sortidos – ocultamente apoiados pelo eixo sauditas/israelenses – estão em fuga, ainda que insistam que teriam deixado de ser "al-Qaeda". O príncipe da Guerra bin Salman meteu-se e deixou-se capturar, ele mesmo, numa guerra no Iêmen que jamais poderá vencer.
E há ainda aquele espetacular movimento do sultão Erdogan na Turquia, de pivô pós-golpe –, pelo qual, para todas as finalidades práticas, o sultão abandona aqueles sonhos complicadíssimos de zona aérea de exclusão, nos quais conseguiria anexar uma Síria pós-Assad ao seu cenário neo-otomano.
A Casa de Saud está lívida, agora que diplomatas turcos começaram a espalhar a seguinte notícia tipo arrasa-quarteirão: Erdogan propôs a Rouhani do Irã uma aliança abrangente com o presidente Putin, para finalmente resolver a charada do Oriente Médio.
Golpe turco em T-Shirt
Por errática que seja a agenda de Erdogan, um possível novo acordo quebra-gelo entre Moscou e Ankara será discutido de fato no próximo encontro cara-a-cara entre Putin e Erdogan. Todos os sinais geopolíticos no atual estágio apontam – embora só como tentativa – na direção de reviver uma aliança Rússia-Irã-Turquia, mesmo que uma Casa de Saud em pânico já esteja fazendo de tudo e mais um pouco para ganhar a confiança de Moscou, oferecendo "riqueza inimaginável" a Moscou, com acesso privilegiado ao mercado do GCC.
Como confirmado por alta fonte na inteligência ocidental "os sauditas estão com certeza mantendo abertas todas as vias de contato com o Kremlin. O rei saudita está em Tânger agora e lá encontrou enviados russos, gente que, se diz, faz. Mas Putin não abandonará Assad. Tem de haver concessões. Os dois lados precisam do acordo."
O presidente Putin está em situação privilegiada. Mesmo sem aceitar a oferta dos sauditas – que não passa de promessa, sem garantias firmes –, a Rússia tem as melhores cartas em jogo, numa ainda problemática mas, sim, possível e factível, aliança Moscou-Teerã-Ankara, que tem a ver completamente com a integração eurasiana (e um futuro assento para a Turquia, ao lado do Irã, na Organização de Cooperação de Xangai).
Por sua vez, uma aliança Sauditas-Moscou levaria inevitavelmente o governo da Rainha da Guerra na direção de – Hillary não conhece outra via! – mudança de regime em Riad, disfarçada de "responsabilidade de proteger" a população saudita. Pode-se já quase ver Samantha Powers, da gangue d'As Três Harpias de Hillary, fazendo a defesa apaixonada dessa 'solução', na ONU.
Tudo sempre tem a ver com as tais Três Harpias
Mesmo levando em conta os baixos instintos da Rainha da Guerra, todos os sinais apontam na direção do Irã.
O manual/projeto/mapa do caminho para as guerras de Hillary está, pode-se dizer, bem aí, nessa muito perigosa intersecção entre neoconservadores e neoliberais conservadores dos EUA. O think-tank CNAS é dirigido por uma terça parte (Michele Flournoy) do que chamei de "As Três Harpias", Hillary Clinton, Flournoy e a – a expressão mais apavorante da língua inglesa [e, hoje, também da língua portuguesa do Brasil (NTs)] "Secretária de Estado Victoria Nuland", o trio letal que, possivelmente, ficará encarregado da política exterior, num governo Clinton-3.
O 'projeto' não passa de um PNAC (Projeto para um Novo Século Norte-americano) superturbinado, com ecos do "Guia de Planejamento da Defesa dos EUA, de 1992 (orig. 1992 US Defense Planning Guidance) mascarado sob retórica melosa de hegemonia benevolente e "ordem internacional baseada em regras". Se a campanha de Trump conseguisse restringir sua máquina de fazer frases e/ou seus instintos de robô que produz tuítos, e se concentrasse exclusivamente na desgraça que será para os EUA e para todo o planeta seguir o tal 'projeto' de produzir guerras sem fim, Trump e seus assessores com certeza tocariam o âmago sensível de milhões de eleitores indecisos.
Apesar de toda a empáfia, e que alcançará níveis de histeria jamais vista, a Dominatrix de Pleno Espectro não é suficientemente doida para lançar guerra – que será inevitavelmente nuclear – nem contra a Rússia (com os Estados Bálticos como pretexto) nem contra a China (com o Mar do Sul da China como pretexto), as duas "ameaças existenciais"top, pelas contas do Pentágono.
Na Síria, por outro lado, em janeiro de 2017 os bandidos da al-Qaeda-sim/al-Qaeda-não antigamente chamados "rebeldes moderados" já estarão sob sete palmos de terra, praticamente todos.
Erdogan pode transformar em inferno a vida da OTAN na Turquia. Dado que a Rainha da Guerra está na gaveta doAIPAC, e considerando as hoje já remotamente passadas boas relações da Clinton Foundation com a Casa de Saud... o alvo da guerra terá de ser o alvo preferido dos sauditas-israelenses, além do que aliado de Damasco e com relações íntimas com ambas, Ancara e Moscou: Irã.
Mas o que iniciar a destruição? Uma avenida, que já está sendo explorada, é bombardear por todos os meios disponíveis – e não metaforicamente – o acordo nuclear iraniano. Campanha já ativada nos veículos da mídia-empresa dominante nos EUA já está trabalhando para enterrar todo o acordo; e até o Supremo Líder Aiatolá Khamenei – como já noticiado nos EUA – acaba de denunciar que Washington não merece confiança: "Dizem-nos 'Vamos conversar sobre questões regionais também'. Mas a experiência do acordo nuclear sugere que aí mora o veneno mais mortal; de modo algum, não se pode confiar nos norte-americanos".
Por tudo isso, deve-se esperar o proverbial compacto ataque do mais sórdido diz-que-disse 'jornalístico', obra da Equipe Clinton: acusações sem qualquer fundamento, e algum ataque sob falsa bandeira perfeitamente posicionado para empurrar Teerã para uma armadilha, do tipo, por exemplo, como indica o pensamento delirante-desejante dos neoliberais conservadores, fazer reviver o próprio programa nuclear. Claro que não acontecerá, mas uma barragem de fuzilaria de desinformação será usada pelo poderoso lobby anti-Irã no Congresso dos EUA para fazer parecer que a coisa aconteceu, mesmo que seja ilusão de ótica.
E tudo isso enquanto o Irã, dentre outros assuntos do desenvolvimento, está ocupado planejando um novo corredor de transporte que conectará o Golfo Persa ao Mar Negro (à Armênia, Geórgia e Bulgária, e posicionando o próprio Irã como entroncamento chave onde se conectarão o mundo árabe no sul e oeste; a Ásia Central no norte; e Afeganistão e Paquistão no leste, e todos esses diretamente à Europa. Mais uma vez, é a integração eurasiana em marcha.
Teerã tem miríade de razões para entrar em alerta vermelho, se a Dominatrix de Pleno Espectro puser as mãos nos códigos nucleares (é claro que ela é muito mais assustadora que Trump!). Hillary agirá como serva fiel absolutamente confiável da aliança sauditas-israelenses. O mapa do caminho está pronto. E neoconservadores e neoliberais conservadores, tanto uns quanto outros, mal podem conter a excitação, na espera de verem em ação "uma força que se pode aplicar em vários diferentes cenários de missões, e vence em todos".******
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