Ver também
24/5/2016, "Brasil-2016: República das Bananas dos Escroques Provisórios", Pepe Escobar, SputnikNews (trad. Blog do Alok)
28/8/2016, "Escroques do Brasil de banana à caça da Medalha de Ouro...", Pepe Escobar, Strategic Culture Foundation (trad. Patria Latina)
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Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Dilma Rousseff em parte final do debate e votação em que se julga seu impeachment. Brasília, Brasil, 29/8/2016, © Ueslei Marcelino / Reuters |
Dilma Rousseff chegou à tribuna e olhou calmamente para a plateia lotada de seus acusadores. Saiu de cabeça erguida, depois de exortar aqueles senadores a votar pela própria consciência.
A maioria dos políticos ali presentes provavelmente nem tem ideia do que seja "consciência"; não passam de meninos de recados, corruptos. Mas o inconsciente coletivo brasileiro – Jung que nos ajude – será marcado para sempre.
A presidenta Dilma Rousseff, em discurso detalhado, ocasionalmente emocionado, defendeu-se com honra e dignidade de acusações de que teria cometido um "crime de responsabilidade". Na verdade, nem falava diretamente àquela fossa cheia de políticos; falava, sim, ao "Anjo da História" bem-amado de Walter Benjamin. A história a julgará com respeito e gentileza.
Mas nada está acabado até que um político suspeito cante. No momento em que escrevo, Rousseff está a caminho de ser derrubada da presidência da 8ª maior economia do mundo, por um bando de políticos, mistura de escroques e covardes. Dilma disse que só teme "a morte da democracia". O impeachment de Rousseff significa, na prática, que uma eleição democrática numa das maiores democracias do mundo será cancelada por um golpe parlamentar comandado por controle remoto por interesses oligárquicos. Não se trata, como jamais se tratou, de justiça; trata-se da política mais suja.
Não há argumento tecnoburocrático que prove que a presidenta deva ser derrubada por impeachment, porque manobras no orçamento não fizeram correr um centavo, que fosse, para os bolsos dela, ou em detrimento do Tesouro – e, isso, em nação inacreditavelmente, espantosamente, infestada por corruptos e corrupção.
Se tivéssemos de eleger uma única sentença para explicar o golpe de 2016 no Brasil para público global, seria: O golpe parlamentar/institucional/do big business/big banking/mídia-empresa em curso no Brasil é a ferramenta usada pelos oligarcas brasileiros para esmagar o movimento rumo a distribuição mais justa de riqueza que se viu no Brasil desde o governo do presidente Lula, até a crise global do capitalismo que os EUA provocaram em 2008.
Os governos Lula e depois Dilma adotaram modelo muito chinês, de "ganha-ganha". Houve uma espécie de pacto não escrito entre as classes no Brasil: os ricos ficarão ainda mais ricos, mas os pobres ficarão menos pobres.
Então, a crise atingiu furiosamente o Brasil, país dos BRICS. Não havia Plano B – além de exportar commodities. O boomterminou, e traidores/conspiradores na oposição viram ali uma abertura para assaltar o poder (para obter mais poder), nas pegadas de uma investigação da corrupção chamada "Car Wash" e altamente 'seletiva'. E, sim, sendo o Brasil umaKafkaLândia, a encenação de impeachment contra Dilma é, de fato, tática diversionista para "controlar" a Operação Car Wash, de modo a garantir que nenhuma investigação chegue a políticos da direita controlada pelos oligarcas.
Os abutres e seu plano máster
Emir Sader, um dos mais respeitados sociólogos brasileiros, resumiu o que há pela frente: conflito social e político grave; repressão militar/policial; rompimento do contrato social; país reduzido a mero vassalo dos EUA; e governo não eleito, ilegítimo, sem autonomia e soberania e geopoliticamente marginalizado. "Governado" sempre pelo atual interino, mas presidente já coroado Michel Temer, tipo corrupto, medíocre, covarde que sequer teve coragem para aparecer na cerimônia de encerramento das Olimpíadas, porque sabia que seria vaiado por um Maracanã lotado.
Bem-vindos ao pós-golpe no Brasil: terra de crise permanente, com governo impotente, ilegítimo e corrupto, recessão econômica e desemprego. Nas palavras de Sader, "o golpe descartará tudo que o Brasil construiu de positivo nesse século".
Temer O Usurpador não pode aspirar nem a alguma grandeza Shakespeareana de personagem trágico… Já foi associado a quase $3 milhões em propinas. O atual ministro de Relações Exteriores, José Serra, quadro da Chevron, já foi acusado de ter recebido mais de $6 milhões, também em contas no exterior.
E acusações ainda mais sérias chegaram bem perto de acontecer contra políticos dos partidos de direita – devastação impressionante, que ceifaria no mínimo metade dos congressistas. Até que foram magicamente "desqualificadas", porque foram (planejada e deliberadamente) vazadas. Aí está o âmago da coisa: no atual cenário de Kafka, só os "vermelhos" – o Partido dos Trabalhadores" – podem ser criminalizado. Muito disso tudo será mostrado em, pelo menos, quatro documentários que estão sendo feitos hoje, no calor da hora, sobre essa saga lamentável.
Imediatamente depois de Dilma ser derrubada, o Senado planeja lançar o que bem se pode descrever como orgia fiscal – baseada em aumento de salário dos ministros da Suprema Corte; esses salários por lei regulam o teto das remunerações de todos os servidores públicos no Brasil. Lembrem-se que Dilma está sendo derrubada 'porque' teria cometido crime de "irresponsabilidade fiscal".
Ahora, Avenida Paulista de Sao Paulo: represión de Policía Militar a movilización contra el impeachment a @dilmabr pic.twitter.com/AI2blrDw26— Juan Manuel Karg (@jmkarg) August 29, 2016
Muitos escroques e urubus disputarão o espólio da democracia morta. O que interessa é que quem mais lucrará com oimpeachment será o Deus Mercado. Incluem-se aí o Big Business, a mídia-empresa (no Brasil, um monopólio de cinco famílias) e, claro, o Excepcionalistão. O mandato desses todos é bem evidente. A presidência é detalhe. Precisam controlar, isso sim, o Ministério das Finanças e o Banco Central.
As políticas deles estão prontas para serem implementadas: esmagar o incipiente estado brasileiro de bem-estar; manter os juros na estratosfera (para 'remunerar' bancos emprestadores); impor "ajuste fiscal" e permitir livre fluxo de capitais. São 'políticas' que só existem na vida real, em ditaduras.
Agora, reuniram o poder executivo, a ideologia neoliberal e todas as necessárias alianças políticas para fazer-acontecer. Acrescentem a isso ofensiva de vida ou morte contra o Partido dos Trabalhadores, como meio para 'responder' às acusações contra Temer O Usurpador e seu medíocre chanceler Serra.
O que mais acontecerá? O Congresso muito dividido, hiperconservador, se organizará como trincheira para defender os próprios privilégios e destruir qualquer ameaça que apareça contra eles. O advogado geral não cometerá a temeridade de investigar Temer O Usurpador e outros políticos. Por mais que haja séria evidência de corrupção contra eles todos, é impressionante o escudo jurídico/político/jornalístico impenetrável que blinda a galáxia dos escroques no Brasil. Pode-se falar de autoproteção em território de gangue de crime organizado.
No momento em que escrevo estão em andamento todos os tipos imagináveis de negócios por baixo dos panos. A única certeza inescapável é o assassinato de direitos democráticos e constitucionais e o desmonte dos programas sociais.
Como já detalhei [vide acima, "Veja também"], o plano máster do que virá é diretamente saído do manual de capitalismo de desastre; vender a preço vil as reservas de petróleo do pré-sal; vender todos os meios e ferramentas para desenvolvimento industrial do Brasil mediante a privatização mais hardcore; pôr fim a todas as proteções e defesas que zelam pela propriedade do know-how brasileiro em várias áreas; cortar fundo na educação, saúde, ciência e tecnologia. Ao mesmo tempo, a mais ensandecida "flexibilização" de direitos trabalhistas, que serão atacados por todos os lados; ataque regressivo contra as aposentadorias; sabotar o Mercosul – o mercado comum sul-americano – para ampliar a vassalagem e a subordinação a interesses nacionais norte-americanos.
No fim, Rouseff sairá de cabeça erguida. Quanto ao Anjo da História, não haverá piedade para os escroques.*****
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