segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Putin, sobre a tragédia de Paris: "É preciso saber quem movimenta os fantoches"

16/11/2015, orig. al. German Economic News, ing. Russia Insider[1]

Putin quer investigação real, mas o establishment 'ocidental' já decidiu que uso dar aos cadáveres.



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



Os ataques em Paris podem levar a massiva operação militar da OTAN na Síria. Muito logicamente, o presidente Putin pergunta hoje quem movimenta os fantoches. A pergunta tem a ver com os sucessos russos na Síria – e com os esforços de neoconservadores e agências de inteligência norte-americanos para colher rapidamente a oportunidade para escalar a guerra na Síria, o mais rapidamente possível.

Mais uma vez, o presidente russo Vladimir Putin é quem faz a pergunta certa: Quem movimentava as cordas que dão vida aos fantoches que atacaram em Paris? Putin, segundo matéria da TASS, ofereceu seu integral apoio para "solucionar esse crime e identificar tanto os que executaram diretamente como os que movimentavam as cordas que dão vida aos fantoches."

O que realmente se sabe?

Basicamente, sabemos muito pouco. Impossível não ver que, apesar de se mostrar completamente despreparados para evitar os ataques, os serviços de segurança francês, dia seguinte, já sabiam muitas das respostas. Todos sabiam que a culpa é da milícia terrorista que atende pelos codinomes de ISIL/ISIS/Daesh/Estado Islâmico. O presidente Hollande imediatamente declarou guerra ao famigerado ISIL/ISIS/Daesh/Estado Islâmico. 

Mas Charles Winter, da Quilliam Foundation, especialistas em Síria e "EI", diz que ainda não há nenhum tipo de prova que indique se os foram diretamente organizados ou apenas "inspirados" por esses terroristas. 

É bem possível que o EI, atualmente sob terrível pressão na Síria, tenha simplesmente 'declarado' a autoria, para reaquecer o espírito de luta e a moral de suas tropas. 

New York Times cita Bruce Hoffman do Center for Security Studies [Centro de Estudos de Segurança] da University of Georgetown: a organização dos ataques aponta, muito mais, para a Al-Qaeda. Hoffman relembra a mensagem de Osama bin Laden, que desafiava todos os terroristas do mundo a realizar ataques como o que foi feito em Mumbai – quer dizer, contra "alvos soft" dentro da população civil. 

A informação fornecida por investigadores franceses tem de ser tratada com cautela: teria sido encontrado um passaporte sírio num dos terroristas que se autodetonou. Nos círculos da segurança internacional, ninguém considera sequer possível, que um suicida-bomba levasse passaporte no bolso ao partir para sua ação extrema. 

Quanto ao mesmo detalhe, vêm à mente os ataques contra o semanário  Charlie Hebdo: daquela vez, os matadores, por coincidência, também esqueceram seus passaportes no carro em que fugiram. Até hoje não se sabe quem movimentava as cordas que deram vida àqueles fantoches, quem pagava os matadores. 

Ao mesmo tempo, o serviço grego de segurança garante que o matador entrou na Europa com levas de refugiados. Assim se alimenta o medo dos refugiados – que muito interessa à Turquia, que mais vai podendo inflar o preço da chantagem.

Putin quer cooperação mais próxima na Síria, de toda a comunidade mundial. Mas, detalhe importante: [assim como já propusera essa cooperação antes, no discurso da ONU, em agosto, antes de a Rússia ter-se envolvido nos combates (NTs)] Putin agora fala como principal força da oposição armada ao terrorismo na Síria, posição muito mais forte.

Depois de uma bem-sucedida ofensiva no sul de Aleppo, os sírios apoiados por Rússia e Irã estão agora a apenas poucos quilômetros de distância de Saraqib, a mais importante intersecção do caminho de Damasco e Lattakia até Aleppo.

Em poucos dias, os grupos de mercenários que os EUA reuniram para os ataques contra Damasco e Latakkia, onde está localizada a base militar russa, ao norte de Hama, a 50 km de Lattakia, estarão cercados.

São várias centenas de turcos e mercenários e instrutores militares pagos pelos EUA. Nas semanas passadas, a Turquia já extraiu vários combatentes do EI da zona de combate, salvando-os dos russos. Exemplo histórico desse tipo de retirada é o cerco dos Talibãs no norte do Afeganistão. 

Daquela vez, Bush aceitou que os paquistaneses retirassem daquela área, por avião, os principais comandantes e instrutores militares dos Talibã. – E no ataque que veio logo depois, morreram 5.000 combatentes. Destino semelhante espera agora o ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico, entre Kweires e Aleppo.

Mas por ali não há campo de pouso que possa ser usado. Essa é a razão pela qual os EUA precisam estar militarmente ativos, se quiserem impedir que seus mercenários e instrutores sejam varridos do mapa, por sírios e russos.

Por essa razão, os neoconservadores dos EUA e os generais de EUA e OTAN usaram os ataques de Paris para, em poucas horas, pôr o presidente Obama sob furiosa pressão (porque Obama quer tirar os EUA da Síria). Agora, à luz dos ataques de Paris, e pela 'ótica' dos neoconservadores e dos generais, sair da Síria será 'sinal de fraqueza'. 

O analista militar Jerry Hendrix do Center for a New American Century disse à revista Time: "Os ataques de Paris podem ser evento catalisador que sacudirá a comunidade internacional e a empurrará para a ação". William Kristol une-se às críticas à estratégia de Obama contra o ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico, em artigo publicado na Weekly Standard, em que clama por grampeamento mais duro – quer dizer, ataque com soldados em solo. Kori Schake do Hoover Institute escreve em Politico que "A estratégia de Obama para conter o EI é errada". E exige total extermínio do EI, não lhe basta apenas 'contê-los'. Essa é 'missão' que exigirá tropas em campo.

Jens Stoltenberg, secretário-geral da OTAN declarou-se pronto a intervir e conclamou Paris abertamente a invocar a ação da aliança, nos termos do Tratado. Se a França o fizer, os parceiros da OTAN ficam obrigados a agir militarmente na Síria. 

Bild-Zeitung, cuja posição parece bem semelhante à da OTAN, já indagou: "Depois do terror em Paris – devemos agora ir à guerra?" 

O presidente da Associação de Reservistas da Alemanha e deputado do CDU Roderich Kieswetter disse ao Bild-Zeitung, "É meu dever apoiar. Nós também temos de mobilizar nossas capacidades militares na Síria. Podemos apoiar os nossos aliados, enviando nossos Tornados de reconhecimento." O Bild-Zeitung resumiu os esforços da OTAN numa única manchete: "Aumenta a Prontidão para Guerra".

A Turquia pode ter papel significativo no deslocamento de soldados em solo. Há meses os turcos vêm fazendo sua própria guerra clandestina, contra a lei internacional, combatendo contra os curdos do PKK em território iraquiano e sírio. Erdogan diz que conhece por experiência pessoal o terrorismo e seus efeitos. 

Depois dos ataques de Paris – disse o presidente turco Recep Tayyip Erdogan –, todas as conversações têm de ser suspensas. E exigiu ataques aéreos massivos. A lógica do "meu terrorista é bom, o seu terrorista é mau" deixou de valer: "O terrorismo não reconhece religião, nação, raça, pátria." 

Problema é que, com exatamente as mesmas palavras, há poucas semanas em Bruxelas, Erdogan acusava a União Europeia de não dar suficiente apoio a ele, na luta contra o PKK.

O avanço dos russos na Síria traz algumas dificuldades para Erdogan: Ele precisa desesperadamente de alívio, para promover seus próprios interesses na Síria. Como território da OTAN que se põe caninamente com a França, os ataques podem dar-lhe alguma legitimidade para marchar contra a Síria com soldados em solo. Em qualquer caso, Erdogan pode mobilizar soldados mais rapidamente que os EUA, que têm de cumprir alguns procedimentos democráticos antes de poder mandar soldados para a Síria. Até que esses procedimentos sejam cumpridos, pode ser já tarde demais, por causa do rápido e bem-sucedido avanço dos russos.

Vladimir Putin é, ele próprio, homem de segurança; e entende a situação, portanto, em cada dado cenário. Os russos são a única força militar de facto que está lutando nesse momento contra o EI. 

Na reunião do G20 na Turquia com certeza haverá algum encontro de Putin e Obama. Muito ironicamente, Putin é o aliado mais próximo de Obama, acima de todos os neoconservadores e dos próprios generais do Pentágono. Na reunião do G20, com certeza se discutirá a crise dos refugiados – com a qual Erdogan chantageia a União Europeia e também a chanceler Merkel da Alemanha, que, nessa questão, foi completamente atropelada.

Os refugiados, como causa, têm papel subordinado, no máximo, no que tenha a ver com o terror em Paris. 

Fato é que terroristas que caminham com fuzis AK47 pelas ruas não precisam esconder-se nas procissões de refugiados. Contudo, com a divulgação de boatos de que dois dos matadores viajaram com os refugiados para a Europa, o medo da 'ameaça' dos refugiados é mais uma vez inflado dentro da UE. Nesse sentido, a UE pode ser forçada a concordar com uma campanha militar e autorizar Erdogan a operar como cabeça da sua avançada.

Agora é decisivamente importante se Putin e Obama chegam, ou não, a algum acordo sobre como proceder e se Obama consegue tirar os neoconservadores na sua garganta. John McCain particularmente acumulou pressão descomunal e, na 6a-feira, exigiu que o EI seja "destruído". O secretário de Estado John Kerry só fala de terroristas em termos genéricos e não mencionou o EI como culpado comprovado dos crimes em Paris, como analisa o New York Times.

Mas a demanda central de Putin – de que também os que manuseiam as cordas e dão vida aos fantoches sejam identificados e punidos – dificilmente levará a algum resultado dramático, na confusão da guerra na Síria. 

Lançar luz sobre o que verdadeiramente aconteceu em Paris, assim como sobre o ataque que derrubou o avião MH17, não é importante. Importante – imediatamente importante – é converter os crimes de Paris em 'ação' a ser utilizada para vantagem geopolítica do autodefinido 'ocidente'.*****




[1] O artigo q aqui se lê foi traduzido do alemão ao inglês, por David Norris; nós traduzimos dessa versão em inglês – o que não é procedimento tecnicamente recomendável. Mas era isso ou isso [NTs].

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