Livro sugere que, como resultado de nossas ações sobre o meio ambiente, estamos contemplando nossa própria extinção.
02.04.2017, Kieran Cooke - Climate News Network
Tradução de Ahut Wató
O livro de Clive Hamilton, “Defiant Earth – The Fate of Humans in the Anthropocene” (Terra desafiante – o destino dos humanos no antropoceno) não é para covardes. Basicamente, sua tese é que a Terra – e com ela, nós – está indo pro buraco.
Nosso exagerado e irracional uso do planeta e de seus recursos, nisso incluindo a exploração de combustíveis fósseis que transformam o clima, implica que estamos interferindo danosamente no funcionamento do sistema Terra que nos sustenta.
“Essa estranha situação, na qual nos tornamos poderosos o bastante para mudar o rumo da Terra embora pareçamos incapazes de mudar nosso próprio rumo, contradiz cada uma das crenças modernas sobre que tipo de criatura é o humano,” diz Clive Hamilton, professor de ética pública na Universidade Charles Sturt, na Austrália.
Dramática destruição
Nós – a geração do pós Segunda Guerra – temos grande responsabilidade nisso. Sim, o problema pode ser retraçado a partir do século XVIII, quando a Revolução Industrial começou no Reino Unido e fábricas começaram a vomitar carbono na atmosfera.
Mas o ritmo da mudança e da destruição de boa parte do sistema Terra foi dramaticamente acelerado nos últimos 70 anos – período que passou a ser conhecido como A Grande Aceleração.
Um estonteante rompante de crescimento econômico, acompanhado de exploração de recursos, perda da diversidade, inclusive com a extinção de inúmeras espécies e uma quantidade crescente de desperdício, acarretou uma profunda transformação na relação do humano com o mundo natural, diz Hamilton.
O Holoceno, período da história da Terra – uma época de 10 000 anos de clima constantemente ameno que permitiu o florescimento da civilização- está por terminar.
“Peritos já sugerem que as mudanças causadas pelos humanos são tão profundas e duradouras que não apenas entramos numa nova época, mas numa nova era – a era Antropozóica- comparável à ruptura na história do planeta trazida pelo surgimento da vida multicelular,” diz Hamilton.
A ideia do Antropoceno foi primeiramente avançada pelo prêmio Nobel Paul Crutzen, químico atmosférico, com o objetivo de apreender o que foi sentido como um momento inteiramente novo na escala geológica que segmenta a história da Terra.
O Antropoceno, diz Hamilton, é um termo que descreve uma rupture no funcionamento do Sistema Terra como um todo.
Há aqueles que dão boas-vindas à nova era: se a humanidade é capaz de alterar o sistema Terra de maneira tão profunda, ela pode certamente controlar o clima e regular a Terra através da geoengenharia e de outros métodos.
Hamilton rechaça os conceitos dos que ele chama de ecomodernistas. Estamos entrando em um território completamente desconhecido. As forças da natureza foram despertas de seu sono Holoceno, o sistema climático está ficando cada vez mais energético.
“Nunca dantes os humanos foram tão poderosos nem exerceram tanto domínio sobre a natureza,” diz Hamilton, “muito embora estejamos hoje vulneráveis aos poderes da natureza de uma forma jamais vista nos últimos 10 000 anos, desde a retração das grandes geleiras...”
Uma era imprevisível
Nesta nova, instável e impredizível era geológica, diz Hamilton, devemos enfrentar uma brutal realidade: como resultado de nossas ações, estamos comtemplando nossa própria extinção.
A Grande Aceleração continua, impulsionada pela busca do crescimento econômico acima de tudo.
“Mesmo agora, mesmo conscientes das terríveis consequências, tomam-se decisões que privilegiam fontes energéticas intensamente carboníferas,” diz Hamilton.
“Estão sendo desenvolvidos novos campos carboníferos, com novas fontes de poluição pelo carbono, como as areias betuminosas do Canadá.
Hamilton batalha para achar uma perspectiva positive. Ele aplaude o acordo climático de Paris de 2015, quando 195 nações se reuniram para produzir um acordo – um evento que ele descreve como sem precedentes na história da diplomacia.
Pode a humanidade ser salva? Hamilton não responde à pergunta que ele mesmo coloca.
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