Entreouvido na Vila Vudu:
Digam o que disserem os entendidos em
Digam o que disserem os entendidos em
'palavra do ano', "fake news" acaba de ser destronada.
A palavra de 2017 é "sado-austeridade".
Segura essa, D. Mírian Leitão!
Essa eleição foi feita, como disse Proudhon da revolução de 1848, sem uma ideia, além de proteger o poder para os Tories e blindá-los contra o revide pós-Brexit. A estratégia deles pressupunha que as pessoas não tivessem qualquer dúvida quanto à competência dos líderes do Partido, e que os eleitores só pensavam em Brexit, de modo q ninguém ter ideia alguma sobre tudo mais não faria diferença (apesar de o governo também não ter ideia alguma sobre Brexit). Disso nasceu o Manifesto Conservador.
O Instituto para Estudos Fiscais, ing. IFS, testou os números dos dois manifestos, dos Conservadores (Tories) e dos Trabalhistas (Labour). Como convém à sua neutralidade, o IFS deseja que a peste desabe sobre as duas casas, embora, como sugere o estudo, os Tories nem casa tenham para que se deseje peste sobre ela. No caso dos Tories, o IFS é obrigado a outra vez fazer projeções da política atual.
Alguns dados do IFS são interessantes de ler. O plano de gastos do Labour põe a Grã-Bretanha na metade inferior do rankingdas economias desenvolvidas no que tenha a ver com a razão gasto público/PIB, bem abaixo de distopias coletivistas como Islândia, França, Singapura, Nova Zelândia e Alemanha. O Labour aumentaria o gasto público em £81 bilhões, ou 3% do PIB, até 2021-22. Em cinco anos, quer ter eliminado o déficit de despesas correntes. Os Conservadores estão prometendo orçamento equilibrado 'à altura da metade da próxima década'; pelas projeções do IFS os Conservadores, como os Trabalhistas, ainda enfrentarão déficit no início dos anos 2020s.
Os Tories chegaram ao poder em 2010 prometendo que até 2015 o déficit estaria debelado; e a proporção do déficit em relação ao PIB estaria já diminuindo. Pois só faz aumentar, apesar de sete anos de muita sadoausteridade.
Muito da 'teoria' a favor da sadoausteridade de quando Cameron estava no poder vinha do trabalho dos economistas Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, que sugeriram que o crescimento engriparia quando a razão dívida/PIB ultrapasse 90%. Casava muito bem com a missão ideológica de Cameron de encolher o Estado. Estudos posteriores desacreditaram a tese de Reinhart e Rogoff; haviam subestimado o crescimento em níveis de dívida superiores a 90%. Mesmo assim a austeridade avança, apesar do colapso dos intelectuais q a conceberam, como avançam também os repetidos fracassos dos Conservadores que por nada no mundo conseguem domar a dívida. Pelo sim pelo não, em 2017 o Manifesto Conservador já nem especifica meta alguma para dívida alguma.
O IFS acha que os £25 bilhões/ano extras em investimento de infraestrutura do Labour podem ser alcançados sem ultrapassar a sua meta da dívida. Mas duvida, porém, que os aumentos de impostos sobre os ricos que o Labour planeja venham a gerar os £49 milhões de que fala o Manifesto Trabalhista, porque rico sonega e evade, em termos fiscais.
O elefante que não late nos dois manifestos é o Brexit, cujo efeito na renda nacional é imponderável. Estudo da London School of Economics ano passado sobre o impacto macroeconômico do Brexit descobriu que levará a PIB menor do que se o país permanecesse na União Europeia, mas não zero, nem haverá crescimento negativo.
O Labour planeja aumentar o investimento líquido do setor público, de 2% para cerca de 3% do PIB. É comparável com a média de 4% entre 1945 e 1979. O principal objetivo de investir em capital humano e outros é aumentar a produtividade – fraqueza notória da economia do Reino Unido, que não se deve, como reza um dos mitos da direita, à indolência do operário britânico, mas à correlação negativa entre produtividade e longos períodos laborais (operários no Reino Unido trabalham em média 300 horas por ano a mais que os operários alemães). Investir em produtividade promove o crescimento.
Diferente do Partido Trabalhista, que propõe taxas de impostos mais altas para os que ganham mais, os Tories permanecem fiéis na defesa intransigente dos que são obrigados a lidar com uns poucos milhões/ano. David Metter, CEO da empresa privada de finanças Skanska Innisfree, levou para casa não muito mais de £8 milhões em 2010; a empresa dele é principal credora de um contrato de financiamento privado [ing. PFI contract] de £7 bilhões, a ser liquidado até 2049, para construir em Bart e nos hospitais Royal London. O buraco nos fundos do Serviço Nacional de Saúde é em grande parte resultado do caríssimo, ruinosoPFI – o qual, verdade seja dita, é resultado dos anos Blair e Brown. Estima-se que só esse contrato contribua com cerca de £250 bilhões para a dívida (atualmente de £1,8 trilhão).
Independente do que digam Lynton Crosby e sua ensandecida ‘árvore mágica que dá dinheiro', como linha de ataque (imediatamente abraçada por Theresa May e Amber Rudd semana passada), e do que diga a imprensa militante de direita, os Trabalhistas estão oferecendo, sim, um bem calibrado programa de social-democracia atenuada.*****
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