sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Síria: Oficialmente, Obama joga a toalha (mas na clandestinidade...)

09/10/2015, Moon of Alabama



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


O postado anterior de MoA sobre a Síria concluía com:

EUA perderam o jogo. Devem pegar o que a Rússia oferece ou sair da mesa.


Apesar do bate-boca dos neocons suspeitos de sempre, o governo Obama está seguindo nosso conselho e oficialmente está jogando a toalha:

Conselheiros de Mr. Obama dizem que praticamente não há o que fazer, ou só há muito pouco que ainda possam fazer para mudar a situação no curto prazo. Algumas propostas estão sendo redigidas para reuniões nos próximos dias, mas Mr. Obama já disse claramente que não quer confrontar a Rússia e expor-se ao risco de uma escalada, nem tem qualquer estratégia alternativa para resolver o conflito ou derrotar o Estado Islâmico. 
"Não há solução a que eles possam chegar nesse turno dos acontecimentos", disse Michael McFaul, ex-conselheiro da Casa Branca de Mr. Obama, que depois serviu como embaixador na Rússia, antes de voltar para a Universidade Stanford. "Eles só continuarão a contenção."

O governo Obama está, no momento, desistindo do treinamento oficial para agentes de "mudança de regime" na Síria e é pouquíssimo provável que se empenhe em combates mais intensos contra o Estado Islâmico. Mas essa é apenas a posição oficial. Não oficialmente, se deve assumir com razoável certeza que a CIA e outras entidades obscuras do Pentágono prosseguirão no trabalho criminoso que desenvolvem na Síria e no Iraque.

Porém, graças aos russos, todos agora já viram que os EUA sempre mentiram no que tivesse a ver com combater contra o Estado Islâmico e sobre conter a al-Qaeda e outros grupos terroristas na Síria. Os EUA voaram um total de 137 ataques aéreos que se podem considerar sérios, em cerca de 13 meses; os russos, 148 ataques aéreos em apenas uma semana.

A opinião pública, como se vê claramente nos comentários às páginas da mídia-empresa nos EUA, afinal se convenceu de que os EUA nunca cogitaram seriamente de combater contra os terroristas, e é possível até que tenham deliberadamente incitado o crescimento do fenômeno de terrorismo dito "jihadista". Até Obama já admitiu essa evidência. Perguntado sobre por que os EUA não cuidaram de conter o avanço do Estado Islâmico quando ainda era pequeno,

"A causa", o presidente acrescentou, "de não termos iniciado os ataques aéreos por todo o Iraque logo que oISIL surgiu foi que ataques naquele momento teriam feito diminuir a pressão sobre [primeiro-ministro Nuri Kamal] al-Maliki."

Obama queria 'mudança de regime' no Iraque e conseguiu (apesar de Maliki ter alcançado número recorde de votos), ao deixar que o Estado Islâmico crescesse o bastante a ponto de ameaçar seriamente o estado iraquiano. Só depois disso os EUA intervieram, e só para explicar ao Estado Islâmico o quanto seria "autorizado" a crescer.

Mas esse "deixar crescer sem nada fazer" não foi o único meio pelo qual o governo Obama ajudou no crescimento doISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico. O Departamento do Tesouro está querendo saber de onde o Estado Islâmico teria recebido todas as picapes Toyota Hilux que usa como plataforma para suas armas. O Tesouro não precisa procurar muito longe. A resposta pode ser encontrada numa simples busca na internet, ou logo ali, no Departamento de Estado:

Recentemente, quando o Departamento de Estado dos EUA recomeçou a enviar ajuda não letal para rebeldes sírios, a lista de entrega incluiu 43 caminhões Toyota.  
As Hiluxes estavam na lista de desejos do Exército Sírio Livre. Oubai Shahbander, conselheiro da Coalizão Nacional Síria que tem base em Washington, é conhecido fã daquele tipo de veículo.
"Equipamento específico como as Toyota Hilux são o que chamamos de capacitadores de força para as forças da oposição moderada em solo" – acrescenta ele. Shahbander diz que as pick-ups fornecidas pelos EUA conduzirão tropas e suprimentos para as áreas de combate. Algumas das unidades dessa frota de veículos operarão como armas no campo de combate.

O governo britânico entregou equipamento similar , como também os turcos e os aliados dos EUA no Golfo. Adivinhem onde todos esses veículos foram parar! Agora, já parece que o chamado Exército Sírio Livre nunca passou de entreposto para transferência de armas e equipamento para o ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico e a al-Qaeda.

A entrega oficial de "ajuda não letal" que na sequência é convertida em "armamento no campo de batalha" pode talvez acabar, mas o programa 'não oficial' da CIA, de 10 mil mercenários muito provavelmente prosseguirá na guerras deles mesmos contra a Síria. Se por mais não for, porque a CIA, como o Pentágono, estão seriamentemordidos pelo modo sem cerimônias como os russos atropelaram o jogo deles:
@nancyayoussefEntreouvido no Pentágono: "No momento, somos para Putin como puta de cadeia."

Se o governo Obama fosse realmente deixar "que os russos façam o serviço lá", por que o secretário de Defesa de Obama [Carter] pôs-se a ameaçar a Rússia com ataques terroristas:
"Haverá consequências para a própria Rússia, que tem boas razões para temer ataques. Nos próximos dias, os russos começarão a sofrer baixas".
Como de praxe, a CIA esconderá suas práticas nefandas por trás de algum "aliado" que providenciará os surtos de terrorismo na  Rússia e aumentará a venda/entrega de armas aos seus mercenários "jihadistas" na Síria:
[O funcionário de alto escalão] disse que os grupos a receberem suprimentos não incluem nem oISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico  nem a Frente al-Nusra, que são, todos, organizações terroristas proscritas. Em vez disso, as armas irão para três alianças rebeldes – Jaysh al-Fatah ("Exército da Conquista"), Exército Sírio Livre e Frente Sul.
O mesmo "funcionário de alto escalão" fazia piada, mas o repórter da BBC provavelmente não quis entender. Como seria possível NÃO fornecer armas para a al-Nusra, mas só para Jaysh al-Fatah, se se sabe que a Frente al-Nusra éo elemento PRINCIPAL que compõe a aliança Jaysh al-Fatah?!

Até especialistas em Síria experts já admitem agora que o maior fluxo de armas fluía e continua a fluir na direção dos piores terroristas:
@joshua_landisProvavelmente 70% das armas que os EUA enviaram à Síria caíram em mãos da Nusra. Todas as armas fornecidas aos grupos Idriss, Hazm, & Company 30 foram capturadas.
E essa porcentagem só inclui armas entregues às claras, em programas oficiais. Não se aplica aos morteiros 120mm a mais, que o Pentágono ainda está planejando mandar para lá. Das armas entregues por cima da mesa, praticamente 100% foram vendidas aos terroristas, ou capturadas por eles. Os 500 TOWs que os sauditas dizem estar enviando agora com certeza podem causar grave dano a qualquer inimigo. Mas não há dúvida de que só ajudarão o ISIS/ISIL/Daesh/Estado Islâmico a ganhar ainda mais terreno do que restar dos "mercenários moderados".

E fluxo crescente de armas não é a única via pela qual a CIA e seus "aliados" continuarão a agitar os eventos:
@michaelh992Fontes dentro do #FSA dizem que os EUA têm-se comunicado com eles, informando-os de ataques russos iminentes (não confirmado)
Se isso for verdade – e tendo a crer que seja – o Pentágono e/ou a CIA continuam no serviço de dar aconselhamento tático aos terroristas sobre movimentos e posições dos russos e do Exército Sírio.

Dado que os sauditas disseram, pela mesma BBC acima citada, que aumentarão o fornecimento de armas antitanques à Síria, deve-se também esperar que o Qatar enviará para lá mais lança mísseis portáteis, como já fizeram em 2013, para derrubar alguns helicópteros russos. Mas, diferente do exército sírio, que perdeu helicópteros para os não esperados lança-mísseis portáteis, o exército russo está preparado para essa ameaça (superestimada).Vídeo mostra os helicópteros blindados russos Mi-24P voando baixo e rápido sobre a Síria, distribuindo fogo e espantando ou eliminando terroristas em pânico (vídeo).

As salas de operação da coalizão 4+1 em Bagdá, Damasco e no Líbano, comandadas por um tenente-general russo, não só coletam e avaliam inteligência, mas também constroem planos operacionais para a luta mais ampla contra o Estado Islâmico e outros terroristas. Uma das tarefas do comando é, com certeza, interromper, até fazer cessar, o fluxo de armas para os terroristas.

Até aqui, as armas fluem livremente pela Turquia e Jordânia, e nada foi feito para impedir o fluxo dentro desses países. Esse, na minha avaliação, foi dos maiores erros. 

Espiões "ocidentais", mercadores de armas e os líderes das várias milícias terroristas vivem em segurança nos seus hotéis em Gaziantep ou Amã. Isso terá de terminar e os comboios de armas terão de ser destruídos ou sabotados antes que cheguem à Síria e Iraque. Cada bala que cruza a fronteira pode vir a matar mais um soldado iraquiano, sírio ou russo, mais um general iraniano ou civis inocentes. Cortem o fluxo de fornecimento de munição, e a matança, com o tempo, também acabará.

Se Jordânia e Turquia não têm interesse ou não querem parar e desistir de fornecer armas e munição a terroristas e jihadistas, devem, no mínimo, sofrer algumas das dores que esse equipamento provoca. Os recursos e a vontade política de Jordânia e Turquia, assim como os dos sauditas, não são infinitos. *****

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