terça-feira, 20 de setembro de 2016

Obama paga a Israel maior 'ajuda militar' da história



Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu



O governo Obama assinou um pacto de 'ajuda militar' no valor de $38 bilhões, que o Departamento de Estado propagandeia como "o maior compromisso de ajuda militar bilateral da história dos EUA."

O negócio recorde garantirá a Israel $3,8 bilhões anuais durante dez anos, a partir de 2019, mais do que os $3,1 bilhões já pagos no contrato do negócio de 'ajuda militar' vigente.

Num momento em que o governo dos EUA supostamente não tem meios para garantir serviços básicos ao trabalhador norte-americano, como assistência universal à saúde – há cidadãos israelenses que gozam dos benefícios garantidos pelo governo Obama, e sempre há dinheiro suficiente para que Israel prossiga na operação de destruir a Palestina.

A candidata Democrata à presidência, Hillary Clinton, que se manifestou contrária ao atendimento universal à saúde nos EUA e a bolsas para universitários norte-americanos, declarou que o negócio com Israel seria "o acordo perfeito".

"O sen. [Tim] Kaine e eu aplaudimos o acordo sobre novo memorando de entendimento relacionado à segurança dos EUA, de assistência a Israel" – disse Clinton em declaração distribuída por sua campanha.

Clinton também usou o negócio como oportunidade para provocar o Irã, repetir que os EUA estariam em séria oposição militar ao ISIS e reiterar a disposição dela para combater o crescente ativismo social contra a conduta criminosa de Israel, que os israelenses chamam de "campanha de deslegitimação".

"O acordo ajudará a solidificar e demarcar um rumo para o relacionamento de defesa entre EUA e Israel no século 21, diante dos desafios comuns que enfrentamos, desde as ações de desestabilização provocadas pelo Irã até as ameaças do ISIS e do jihadismo radical, e esforços para deslegitimar Israel no cenário mundial" – disse Clinton, que reiterou a promessa que fez em janeiro de "levar nosso relacionamento com Israel a um nível superior". 

"Legado"

O presidente Barack Obama não era obrigado a fazer o que fez. Absolutamente não está pressionado a ponto de ter de acalmar o lobby israelense. Não é candidato a reeleição.

E os norte-americanos, especialmente os jovens Democratas da ala progressista do partido, cada dia mais se têm oposto às violações, por Israel, de direitos dos Palestinos.

De fato, a apenas poucos meses de ter de deixar a Casa Branca, Obama estaria em posição excepcionalmente confortável para usar o poder dos EUA e pressionar Israel a pôr fim à prática continuada de crimes contra os palestinos. No mínimo, teria o dever de resistir contra ampliar a ajuda militar que os norte-americanos dão a Israel.

Assim sendo, por que Obama estaria fazendo chover sobre Israel mais e mais armas?

"Os conselheiros de Obama recomendaram que ampliasse a colaboração com Israel antes do fim do mandato, considerando a ação como parte importante de seu legado. Os Republicanos criticam-no por não dar suficiente atenção à segurança de Israel, acusação que a Casa Branca nega enfaticamente" – noticiou a agência Reuters.

E que legado Obama deixará! 

Obama condenou os palestinos a uma década extra de sufocante repressão, a ações de 'limpeza étnica' e a massacres de tempos em tempos, nas mãos de um governo israelense cada dia mais densamente constituído de racistas, fascistas e entusiastas do genocídio.

A ideia de canalizar ainda mais armas para o ministro da Defesa de Israel Avigdor Lieberman, que quer legalizar o degolamento dos cidadãos israelenses de origem palestina por deslealdade ao estado de Israel, é assustadora.

Lieberman está atualmente executando uma campanha de castigo coletivo contra as famílias e vilas de palestinos acusados de crimes contra israelenses.

Lieberman trabalha com pessoas como Ayelet Shaked, indicado ministro da Justiça depois que apoiou um manifesto genocida a favor de assassinar mães palestinas antes do parto, de modo a impedir que deem à luz "cobrinhas palestinas".

Durante seu mandato, Obama reagiu com mais armas e cobertura diplomática a esse fanatismo crescente entre os mais altos funcionários do governo de Israel.

Com esse mais recente negócio de armas para Israel, Obama cuida de garantir que gente como Lieberman e Shaked tenham meios para levar adiante o projeto de genocídio, mesmo antes de ele deixar a Casa Branca. É o legado de Obama.

Contradições

A assinatura do negócio de fornecimento de armas, chamado "ajuda militar", acontece apenas dias depois de o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu ter acusado os que se opõem aos assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada – que lá estão em flagrante violação da lei internacional – de apoiarem "a limpeza étnica de judeus".

Num raro movimento dessa natureza, o Departamento de Estado reagiu contra a fala de Netanyahu, observando que é Israel quem está deslocando à força os palestinos que vivem na Cisjordânia, para criar espaços para mais assentamentos de colonos israelenses.

São preocupações que soam absolutamente ocas à luz no novo negócio, que não inclui nenhuma cláusula restritiva que considerasse violações de direitos humanos.

"Concessões"?

Veículos da mídia-empresa estão apresentando algumas cláusulas do novo acordo, que foi negociado durante dez meses, como "grandes" "concessões" que teriam sido feitas por Israel.

Contratos anteriores do mesmo tipo permitiam que Israel gastasse 26,3% da ajuda militar norte-americana para comprar armas da própria indústria bélica israelense. O novo memorando de entendimento reduz gradualmente essa porcentagem, até que Israel seja obrigado a comprar armamento exclusivamente de fabricantes norte-americanos. Na essência, é rendição incondicional à indústria "da Defesa" norte-americana.

Essa específica "concessão" dos israelenses não deterá a destruição da Palestina, mas é uma pequena derrota para a indústria bélica israelense, a qual já está prevendo centenas de milhões de dólares a menos nos seus ganhos, em consequência do novo negócio com os EUA.

"Nós, da indústria da defesa nos preparamos para prejuízos de $1,2 bilhão a $1,3 bilhão ao ano, incluindo os $500 milhões que o Congresso alocou para projetos especiais" – disse uma fonte da indústria bélica israelense ao Haaretz de Telavive, mês passado, em referência àquela medida.

O memorando também inclui uma cláusula pela qual Israel se compromete(ria) a pôr fim aolobby ativo no Congresso dos EUA e que pede dinheiro extra para um programa de mísseis de defesa, lobby que, nos últimos anos, conseguiu $600 milhões a mais dos EUA para Israel, anualmente, em fundos com destinação prescrita.

Mas há furos nas 'concessões'.

Essas 'concessões', para se tornarem vigentes, "devem ser requeridas em carta lateral ou anexo ao acordo", e "redigidas em termos suficientemente flexíveis para permitir exceções no caso de guerra ou de outras crises graves" – como noticia a agência Reuters.

Em todos os casos, vençam os fabricantes de armas dos EUA ou de Israel, os palestinos perdem.

Como escreveu Rebecca Vilsomerson, diretora-executiva de Jewish Voice for Peace [Voz dos Judeus pela Paz], "cada vez mais o pacote de ajuda militar recompensa o comportamento destrutivo de israelenses que violam há muito tempo a política oficial dos EUA e a lei internacional. Resultado é que os EUA estão subscrevendo efetivamente as políticas israelenses de ocupação e apartheid contra populações palestinas."*****





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